O Ministério da Cultura (MC) considera que é possível reabrir o Cinema Monumental como cinema e por isso decidiu negar o requerimento de afetação das salas no Edifício Monumental a uma atividade de natureza diferente, confirmou o Observador junto da tutela.

“O ministro da Cultura decidiu pela não desafetação do edifício uma vez que foi possível verificar a existência de interessados na exploração do Cinema Monumental, capazes de apresentar propostas com elevada qualidade, pelo que não se encontram esgotadas as possibilidades de reativação da exibição cinematográfica naquele espaço”, avançou, por e-mail, o gabinete de Pedro Adão e Silva.

A 31 de julho, o Observador noticiou que o cinema no Saldanha, em Lisboa, encerrado desde 2019, não teria viabilidade para reabrir, segundo a Merlin Properties, atual proprietária do edifício. Em agosto, o MC quis ouvir várias entidades do setor cinematográfico sobre a possibilidade de encontrar soluções para reabrir o espaço como cinema. Em outubro, soube-se que a imobiliária espanhola recebeu propostas para reativar o cinema, mas que estava a considerar ceder, a custo zero, o edifício para um centro tecnológico de ensino, o Tumo Lisboa, tendo para isso feito um pedido de desafetação do espaço à atividade cinematográfica. Para que o Monumental possa ter outro uso que não o de cinema é exigida uma autorização do ministro da Cultura, como estipulado pelo decreto-lei 23/2014, que deixa no Ministério a última palavra quando está em cima da mesa a demolição ou mudança de atividade de um recinto de exibição cinematográfica.

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Na base da decisão do ministro, comunicada esta quarta-feira às entidades representadas na SECA – Secção Especializada do Cinema e do Audiovisual do Conselho Nacional de Cultura, e confirmada esta sexta-feira ao Observador, estão também a tendência de políticas culturais e os números de espectadores de cinema. “Uma eventual desafetação iria em contraciclo com as políticas culturais, em Portugal e na União Europeia, atualmente orientadas para apoiar a atividade de exibição cinematográfica em sala”, justifica o texto que anuncia a decisão de Pedro Adão e Silva, que lembra o “esforço que tem sido feito em diversos pontos do país, e com bons resultados, de reabrir salas de cinema em áreas nobres do espaço público”, dando como exemplos “o Cinema Trindade e o Cinema Batalha”, no Porto.

Monumental: a história e o legado de um cinema “sem viabilidade”

Além disso, “os dados disponíveis relativos à exibição cinematográfica não permitem concluir que o negócio tenha deixado de ser comercialmente viável. Embora o período decorrido após o fim da pandemia de Covid-19 seja ainda relativamente curto para que se tirem ilações definitivas, as receitas de bilheteira de cinema em 2023 confirmam um ciclo de recuperação global, que se verifica também no nosso país”.

O cinema Monumental, que abriu ainda enquanto teatro, em 1951, e foi durante décadas uma das salas de espetáculos de referência em Lisboa, está vazio desde o início de 2019, quando a Medeia Filmes, de Paulo Branco, abandonou a exploração das salas, considerando que não era economicamente viável.