O dia 22 de maio começou como qualquer outro para Islam Khalilov, um estudante de 15 anos a viver em Moscovo. Há mais de um ano a trabalhar em part-time no bengaleiro da sala de espetáculos Crocus City Hall, na capital, estava de serviço na sexta-feira, dia em que estava previsto subir ao palco a banda rock Picnic, quando homens armados invadiram o espaço a disparar armas automáticas.
Muito familiarizado com o espaço, Islam Khalilov e vários dos seus colegas conseguiram ajudar quase uma centena de pessoas a sair do edifício em segurança na noite do atentado, entretanto reivindicado pelo Estado Islâmico. Imagens capturadas por um telemóvel mostram o jovem a correr ao longo de uma fila de dezenas de espectadores em pânico. “Todos por ali!”, diz várias vezes, enquanto corre.
Quando o tiroteio começou, os jovens não perceberam imediatamente o que se estava a passar. Primeiro, viram algumas pessoas em fuga e só uns segundos depois começaram a ouvir distintamente o som de disparos. “Eu percebi que se não fizesse algo, então ia morrer e muitos à minha volta também. Para ser honesto, estava muito assustado”, disse Islam ao jornal russo Moskva.
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O jovem explicou ainda que ele e os outros funcionários da sala de espetáculos tinham recebido formações sobre como agir em situações de emergência, conhecimentos que o ajudaram a conduzir a retirada em segurança. Vendo as pessoas a correr para um zona sem saída, ele e outros funcionários da sala de espetáculos encaminharam a multidão para uma porta que só podia ser aberta com cartão de acesso.
“Quando estava no meio da multidão e a mover-me em direção à porta para a abrir, eu pensei que alguém pudesse vir das escadas e atirar uma granada ou começar a disparar. Graças a Deus que não aconteceu e consegui abrir a porta a tempo para deixar toda a gente sair”, recordou.
Na Rússia, Khalilov tem sido descrito como um “herói”, ainda que o próprio não se veja desse modo. “Era simplesmente parte do meu trabalho. É melhor sacrificarmo-nos do que deixar centenas de pessoas morrer”, disse ainda o jovem em entrevista à Ruptly.
Segundo o Moscow Times, o jovem está a ser recompensado pela sua coragem durante o atentado. Morgenshtern, um rapper russo muito conhecido, ofereceu a Khalilov um milhão de rublos (cerca de mil euros) em agradecimento. Já a equipa de futebol Spartak convidou o jovem para conhecer os jogadores e ofereceu-lhe um passe para assistir aos jogos na Rússia.
Artyom Donskov, também de 15 anos, foi outro dos jovens que colaborou na retirada de civis da sala de espetáculos. “Tentámos garantir que todos saíam e que não deixávamos ninguém para trás”, afirmou num vídeo publicado no Telegram, citado pelo jornal Gazeta.Ru.
O jovem explicou que além dele e Islam, outros dois colegas, Nikita Ivanov and Vika, foram os últimos a sair do edifício, encaminhando os civis para o parque de estacionamento, o metro e um centro comercial próximo. Só depois de garantir que todos estavam bem ligou à mãe para a descansar e relatar o que se passara.
O rapaz também foi recompensado pela sua atitude durante o ataque e recebeu dinheiro para comprar um computador novo. O Moscow Times acrescenta que Artyom e Islam também receberam uma carta de agradecimento do governo, enviada pela comissária russa dos Direitos das Crianças.
Segundo as autoridades russas, pelo menos 137 pessoas, incluindo três crianças, foram mortas quando vários homens invadiram a sala de espetáculos.