O The Guardian destaca esta quarta-feira o homem no “centro de uma guerra cultural mordaz por causa de um novo e aparentemente inofensivo logótipo para o governo português”. Eduardo Aires, o designer que assinou o controverso símbolo governamental encomendado pelo último executivo de António Costa, afirmou ao jornal inglês que os críticos do design simplista e que o comparam com uma criação infantil “são ignorantes” e garantiu estar a receber “ameaças de morte”.
“A nossa missão era dar uma nova cara ao logótipo do Governo e redesenhá-lo para a era digital, e foi o que fizemos”, afirma Aires, que critica a alteração imediata da imagem assim que o novo Executivo, liderado por Luís Montenegro, tomou posse. O designer afirma ainda que a marca que criou tornou-se uma “arma de projétil” para os líderes de direita – que transformaram a indignação “patriótica” em verdadeiro poder político.
“As pessoas estão a dizer que uma criança de cinco anos poderia fazer uma simulação no Microsoft Paint”, acrescenta Aires, que ressalva que essas são pessoas “que ignoram totalmente o design”. “Em última análise, todo o design é uma questão de síntese”, aponta o designer. O jornal inglês recorda a simplicidade gráfica característica de Aires, que se revelou central para o redesenho da marca da cidade do Porto em 2014, que ganhou vários prémios internacionais.
Nas declarações ao jornal inglês, Eduardo Aires afirma mesmo que não concorda com a ideia de que as bandeiras nacionais são intocáveis. “Considero que as bandeiras podem ser revistas, porque não?”, questiona, referindo que “se um país como a Holanda pode mudar o seu nome para Países Baixos, porque não pode uma nação como a nossa repensar a sua bandeira”.
O The Guardian recorda, na mesma peça, que, à medida que a política em toda a Europa se torna mais polarizada, “também os símbolos nacionais se tornam cada vez mais politizados”. Aponta o caso da Alemanha, onde a Adidas recebeu críticas públicas pela utilização do cor-de-rosa na nova camisola da seleção nacional de futebol, com críticos conservadores a condenarem a decisão. No Reino Unido, a reação pública contra a Nike pelo seu ajuste “lúdico” na cor da bandeira da nova camisola de futebol da Inglaterra para o Campeonato do Mundo também gerou controvérsia.
“Essa briga [sobre o logótipo] definitivamente não é uma questão de design. Tem tudo a ver com o momento geopolítico em que vivemos e com as perceções de poder”, afirmou ainda Sérgio Magalhães, arquiteto e designer português, que entende que os críticos recorreram a uma “retórica nacionalista e populista”, que retrata os desígnios anteriores do Governo como os “corretos” e simbólicos daquilo que “mais representa o nosso passado”.
O jornal inglês conclui ainda que o facto de o PSD, de centro-direita, ter feito da proibição de um logótipo o seu anúncio inaugural, “pode ser explicado pela rápida ascensão da extrema-direita em Portugal”. Destaca o crescimento do Chega em Portugal e até o facto de André Ventura afirmar “usar cuecas com a bandeira portuguesa impressa”.