O cabeça de lista às eleições europeias pela Iniciativa Liberal considerou que o partido tomou a atitude certa ao não se coligar com a Aliança Democrática nas eleições legislativas de março. “O que se prova é que tivemos razão em ir sozinhos em eleições e em não chegar a entendimento com a AD para formar um Governo pós-eleitoral”, disse na noite desta quarta-feira em entrevista à CNN.
Cotrim de Figueiredo lembrava nomeadamente o Programa Mais Habitação, discutido esta quarta-feira no Parlamento, e sobre o qual o PSD, um dos três partidos que compõe a AD, se absteve. “No passado tinha mostrado grande desagrado com o pacote Mais Habitação, agora não aproveitou a oportunidade para o revogar e absteve-se“, apontou.
“O balanço que nós fazemos é sobretudo dar razão ao que a Iniciativa Liberal disse, que este Governo não tinha a pulsão reformista suficiente para nos convencer que valia a pena ser parceiro do Governo desta AD”, afirmou, acrescentando que o partido assume agora uma posição de “oposição construtiva”.
Cotrim de Figueiredo foi ainda questionado sobre uma possível aliança PS e Chega, que esta semana permitiu acabar com portagens nas ex-SCUT. “Não entro no coro dos que acham que há uma coligação entre o PS e o Chega, exceto que coincidem em certos objetivos: destabilizar ao máximo a governação porque podem ter interesse em encurtar esta legislatura“, referiu.
Aliança entre PS e Chega impõe primeira derrota ao Governo no IRS. Ainda falta metade do jogo
Tomando o exemplo do fim das portagens nas ex-SCUT, Cotrim de Figueiredo reiterou que o PS teve um comportamento “inarrável”, ao fazer na oposição “o que não fez no Governo durante anos consecutivos”. Por outro lado, também criticou o Chega por usar a “tácita habitual” de encontrar “assuntos populares, populistas até” para agradar a todos. “Provando assim que se alguma vez chegar perto do poder será um dos partidos mais irresponsáveis que pode alguma vez ter poder de decisão em Portugal”, defendeu. Sobre as dificuldades do Governo em fazer vingar as suas propostas, apontou que Luís Montenegro quando assumiu que ia formar Governo minoritariamente sabia o que o esperava. “É a cama onde se deitou.”
IL quer eleger um eurodeputado: “Se houver um mau resultado, deve-se a mim”
No plano europeu, e estando cada vez mais próximo o início da campanha para as eleições europeias, Cotrim de Figueiredo recordou que o objetivo da Iniciativa Liberal é eleger um eurodeputado. Se essa meta lhe parece possível, já conseguir eleger mais do que um representante em Estrasburgo é hipótese que afasta. “Tivemos eleições há dois meses e nesses eleições a IL teve 5% dos votos e para eleger dois deputados teríamos de ter cerca de 8% dos votos”, notou.
O cabeça de lista da IL às europeias disse que se o partido tiver um mau resultado nas urnas irá ele próprio assumir a derrota. “Se houver um mau resultado, deve-se a mim”, sublinhou, acrescentando que os “candidatos devem assumir méritos e responsabilidades”.
Num dia em que o Presidente da República voltou a lançar o ex-primeiro-ministro António Costa para um cargo europeu, Cotrim de Figueiredo foi confrontado com o facto de o partido não apoiar o antigo secretário-geral do PS. “Gostamos demasiado do projeto europeu para nos deixarmos influenciar pela nacionalidade da pessoa que presidirá ao Conselho Europeu”, explicou.
No âmbito da União Europeia, que nos últimos anos se viu a braços com vários desafios e conflitos, apontou que “a Europa mostrou que era capaz de lidar melhor com as crises do que com a gestão do dia dia”. “Isto parece uma coisa boa, mas não é”, alertou.
No tema da defesa, Cotrim de Figueiredo explicou que a IL defende não a criação de um exército europeu, mas um reforço do pilar europeu da NATO e o cumprimento da meta que estabelece que os países devem chegar ao 2% de gastos do PIB em defesa. “A UE e a NATO têm uma coincidência de membros bastante grande, dos 27 membros da UE, há 23 que são membros da NATO”, lembrou. A nível nacional, lembrou que o partido é contra a reinstituição do Serviço Militar Obrigatório, referindo que a resposta para as necessidades dos exércitos atuais passa por um elevado nível de especialização e não um serviço forçado.
A imigração foi também um tema em cima da mesa na entrevista, depois de uma semana em que foram noticiadas agressões à população imigrante no Porto. “Um liberal nunca porá em causa o direito de alguém procurar uma vida melhor noutro sitio (…) De um liberal nunca ouvirá recomendações para limitações à imigração”, sublinhou, criticando as ideias veiculadas por setores populistas. “Quando olhamos para dados de criminalidade, utilização abusiva de sistemas de saúde e habitação, tudo indica que não é verdade que sejam os migrantes a causar esses desequilíbrios”, afirmou.