Este mês volta a ser um período particularmente duro para o ator Kevin Spacey, que foi considerado inocente nas nove acusações de crimes sexuais e que teriam ocorrido no Reino Unido entre 2001 e 2013, em julho de 2023. Desta vez, a trama que envolve suspeitas de má conduta sexual por parte Spacey reacendeu, devido à estreia de um documentário de investigação do canal brintânico, Channel 4: Spacey Unmasked.

Spacey Unmasked, de Katherine Haywood e produzido por Dorothy Byrne e Mike Lerner, é um documentário que vai mais longe e explora novas alegações de assédio sexual, desta vez, no grande ecrã. 10 homens foram entrevistados e relatam vários episódios com contornos de má conduta da estrela de cinema, com quem tiveram contacto no ensino secundário, no teatro Old Vic, que geriu durante 11 anos, e mais recentemente, nos sets de Hollywood. O programa está dividido em duas partes, que estrearam em duas noites, a 6 e 7 de maio.

O documentário está em alta e já chegou, esta segunda-feira, ao streaming nos EUA, na plataforma Max e Investigation Discovery. Até ao momento, não se sabe se chegará a mais países, incluindo Portugal.

10 homens acusam Kevin Spacey de ser um “monstro sem alma”

Os acontecimentos terão também ocorrido nos EUA e Reino Unido e até antes de Spacey ser famoso. Apenas um dos 10 homens que participaram no documentário esteve relacionado com as anteriores acusações a Spacey, de 64 anos, que foi ilibado.

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Kevin Spacey ilibado das acusações de crimes sexuais no Reino Unido

As acusações seguem, mais ou menos, o mesmo jogo de palavras, comum a todos os testemunhos: Spacey seria um homem influente e teve comportamentos indesejados com eles, mas não teriam condições ou se sentiam capazes, na altura, para denunciar.

Além disso, as declarações mais fortes são de um dos entrevistados que refere que, durante as alegadas agressões, sentia que estava a “olhar para um monstro sem alma”. O documentário inclui ainda declarações do irmão de Spacey, Randy Flower, que já tinha alegado ter sido abusado sexualmente pelo pai, realçando que o ator “não teve uma infância normal”. Apesar de alegadamente o ator não ter sido vítima.

Ao longo do documentário, de duas partes, não é a apresentada a versão do ator, através de uma resposta formal. No entanto, desde o início, é realçado que foi ilibado de todas as acusações de agressão sexual no julgamento de 2023.

“Não vou ficar calado e continuar a ser atacado”

Dias antes da estreia do documentário, na rede social X, antigo Twitter, Spacey esclarece que pediu mais tempo ao canal televisivo para “refutar quaisquer acusações feitas” contra ele, além de “detalhes suficientes para investigar”, já que algumas remetem para há 48 anos. “Não vou ficar sentado e e continuar a ser atacado por um ‘documentário’ unilateral”, afirma.

O ator critica o programa que apresenta novas alegações sobre os seus comportamentos, diz que decorre de “uma rede em extinção” e deixa claro que é fruto de “uma tentativa desesperada de obter audiências”. Reforçando, assim, a mensagem de negação face a possíveis crimes, seja dentro ou fora dos muros de Hollywood.

Em comunicado, um porta-voz do Channel 4 diz que é importante para “dar voz aos que não se conseguiram manifestar antes”, uma vez que “explora o equilíbrio de poder e o comportamento inadequado num ambiente de trabalho”.

Aliás, de acordo com o jornal The Guardian, o ex-chefe de notícias e assuntos atuais do canal de televisão, Dorothy Byrne, terá dito ao Observer que tinha a expectativa de que o documentário seja o primeiro passo para se iniciar “um movimento #MeToo para os homens”.

Será que Kevin Spacey estará de regresso ao cinema? Celebridades avançam com uma campanha de reabilitação

Depois de ter sido afastado da série House of Cards e do filme All the Money in the Word, o vencedor do Óscar de melhor ator no filme American Beauty, em 1999, esperava-se o seu regresso à ribalta, dado que já se passaram sete anos desde as primeiras alegações e quase um ano da ilibação de todos os crimes de que era acusado.

Em 2023, Stacey já tinha regressado aos palcos para encarnar, numa cena da peça de teatro de William Shakespeare, Tímon de Atenas, a propósito de uma palestra relacionada com a cultura de cancelamento, mas foi sol de pouca dura.

Kevin Spacey aplaudido de pé no regresso aos palcos, após ter sido ilibado de abusos sexuais

Segundo o jornal The Telegraph, Spacey, que luta para encontrar trabalho, estará em risco de perder a sua casa, em Baltimore, nos EUA.

Celebridades e atores insistem que Spacey deveria regressar aos palcos e grande ecrã, tendo, para isso, lançado uma campanha para promover a sua reentrada na carreira, avança ainda o jornal.

Mas como? Sharon Stone, Liam Neesson, F. Murray Abraham e Stephen Fry foram alguns dos atores que, nos últimos dias, falaram, pela primeira vez, em público, sobre o caso de Spacey.

A gota de água terá sido a estreia do documentário. Agora, manifestam apoio ao ator, insistem que está na lista negra de Hollywood e deve ser reintegrado, uma vez que consideram que é um dos maiores atores da sua geração e, acima de tudo, foi ilibado dos crimes sexuais.

Sharon Stone, em declarações feitas ao The Telegraph, sugere que a celebridade foi vítima do próprio sucesso e deixa claro a sua admiração: “Mal posso esperar para ver o Kevin de volta ao trabalho. Ele é um génio”. Além disso, afirma que todos os jovens atores “queriam e querem estar perto dele”.

Da mesma forma, Liam Neeson, estrela do filme A Lista de Schindler, garante que Stacey é “um bom homem e de caráter”. “Pessoalmente falando, a nossa indústria precisa dele e sente muito a sua falta”, reiterou.

Já F. Murray Abraham, ator de série The White Lotus, declara: “Quem são estes abutres que atacam um homem que assumiu publicamente a sua responsabilidade por determinados comportamentos, ao contrário de outros?”. Nesta perspetiva, fica do lado de Stacey e remata: “Ele é um bom homem, eu estou do lado dele, e quem não tem pecados que atire a primeira pedra”.

Por outro lado, o também ator Stephen Fry assente que Spacey tenha sido “tanto ‘desajeitado’ como ‘inapropriado’ em muitas ocasiões”, porém, “colocá-lo entre pessoas como Harvey Weinstein” — produtor americano cuja alegada conduta esteve na origem do movimento #MeToo, em 2017, que no mesmo ano se estendeu a Kevin Spacey, sendo das primeiras grandes celebridades norte-americanas a ser acusada de crimes sexuais — e “continuar a assediá-lo e a persegui-lo, dedicar-lhe um documentário que simplesmente não se soma aos crimes (…) Como é que isso pode ser considerado proporcional e justificado?”. Desta forma, sai em defesa do ator e contra o lançamento do documentário, afirma que a sua reputação já foi “destruída” e entende que “é errado continuar a destruir a reputação com base na afirmação e na retórica, em vez das evidências e provas”. Por fim, reitera que “a menos que esteja a faltar alguma coisa”, Stacey já pagou o preço pelas acusações.

Antes era um dos atores mais aclamados, resta agora saber quando e se estará de regresso ao cinema. Já que, este mês, Kevin Stacey também regressou aos tribunais, não pelas acusações apresentadas no documentário, mas devido a uma ação civil separada no Tribunal Superior de Londres, referente ao caso de 2022 — por um homem, que não pode ser identificado por razões legais, mas que alega que terá sido vítima de Spacey, em 2008.

Significa que vai ser novamente julgado, devido a um erro dos advogados que não apresentarem a defesa dentro do prazo. A decisão terá sido tomada um dia depois da estreia do documentário.