Pedro Nuno Santos e Marta Temido juntos nas ruas, Luís Montenegro ao lado de Sebastião Bugalho e André Ventura a assumir uma posição de destaque, com António Tanger-Corrêa a ficar na sombra. Mariana Mortágua esteve no Mercado do Bolhão com Catarina Martins e Rui Rocha com João Cotrim de Figueiredo nas ruas de Caminha. Paulo Raimundo esteve com João Oliveira num comício da CDU e Inês Sousa Real acompanhou Pedro Fidalgo Marques em visitas a associações de proteção de animais. A união entre os líderes e os respetivos cabeças de lista às eleições europeias tem sido transversal à maioria dos partidos. Com exceção do Livre, com a ausência de Rui Tavares a ser notória.

Rui Tavares é o único líder que (ainda) não esteve na campanha do cabeça de lista do seu partido às europeias, que levam os portugueses às urnas no próximo dia 9 de junho. A estreia está para breve: o porta-voz do Livre vai estar ao lado de Francisco Paupério já este sábado, no Porto, numa ação dedicada a uma “Europa feminista e livre”. Até lá, a ausência é notada e até já foi questionada, mas Paupério aparentou desvalorizar e disse não se sentir “abandonado”. “Tenho aqui muita gente e estarei com muita gente na campanha, com todos do Livre. Estamos unidos e, certamente, vão ver isso no sábado”, afirmou.

Ao ser questionado, esta quinta-feira, acerca da ausência do rosto mais conhecido do Livre na campanha, o candidato sublinhou que “Rui Tavares é uma inspiração” e um “ativo muito importante” para o partido. “É um dos fundadores principais, é uma das caras do Livre e temos muita honra em tê-lo como representante do Livre. Vai aparecer na campanha e vai dar essa força”, garantiu Paupério.

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A não comparência de Rui Tavares a ações de campanha aumentou as dúvidas acerca do apoio da direção do Livre ao cabeça de lista, depois de umas eleições primárias internas atribuladas e após o porta-voz também não ter acompanhado Francisco Paupério ao Tribunal Constitucional para a entrega da lista de candidatos às europeias. Em declarações à agência Lusa, o candidato do Livre tentou mostrar que as dúvidas não se justificam: “A seguir às primárias, quando aprovámos a lista, unimo-nos em torno dessa lista e fomos para a campanha. Foi normal o que aconteceu e vai ser normal esta campanha em que vai estar toda a gente empenhada em dar a representação ao Livre que merece no Parlamento Europeu.”

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A falta de “parabéns” a Paupério e a resposta genérica de que a “equipa tem de funcionar”

A escolha de Francisco Paupério como cabeça de lista do Livre às europeias foi feita através de eleições primárias internas, que permitiram que cidadãos não filiados pudessem ser candidatos. O processo gerou polémica e não foi pacífico, com suspeitas de “viciação” da “parte de votos de não membros e apoiantes do Livre” e com o partido a querer mudar as regras a meio do jogo para que, na segunda volta, apenas votassem os seus membros e apoiantes. No final, todos tiveram autorização para votar, numa eleição que terminou com vitória para Paupério.

A reação de Rui Tavares à eleição foi, de certa forma, uma não reação. Não parabenizou o vencedor, optando por deixar uma mensagem à forma como o candidato foi eleito — com vários eleitores a votarem somente o seu nome (sem ordenarem a restante lista). “Nas primárias do Livre, o objetivo é ordenar listas e construir equipa. E é esta equipa que agora vai trabalhar em conjunto para levar a estas eleições as ideias do único partido da esquerda verde europeísta em Portugal”, escreveu, na rede social X.

O tema ‘eleições primárias internas’ voltou a ser colocado em cima da mesa no início de maio. No dia 9 desse mês, em vésperas do arranque do congresso do Livre, Francisco Paupério disse que, após a polémica, sentia o “partido unido” e adiantou que estava “em contacto com a direção, a equipa de campanha e a maioria dos candidatos”. Em entrevista ao jornal Expresso, afirmou que “o que aconteceu já sucedeu noutras primárias, em que não há guerra, mas uma crispação interna, porque cada um tem as suas preferências, o que é normal”. “As pessoas não têm de me eleger a mim, têm de eleger as mensagens do Livre e aquilo [por] que o partido luta”, acrescentou.

Questionado sobre se já tinha pedido conselhos a Rui Tavares, que ocupou o cargo de eurodeputado entre 2009 e 2014 (eleito como independente integrado nas listas do Bloco de Esquerda), Paupério respondeu que tinham falado desde a sua eleição “mas não sobre o Parlamento Europeu em si”. Ainda assim, mostrou ter uma certeza: “Sei também que o Rui Tavares estará sempre disponível para me ajudar numa luta que não é minha, mas do partido.”

Foi também o partido que Rui Tavares escolheu enfatizar, dias depois, em entrevista ao Observador. Ao ser questionado sobre se o Livre estava unido em torno de Paupério, uma vez que a lista de candidatos às europeias foi aprovada com mais abstenções do que votos a favor (18 abstenções, 13 votos a favor e seis contra), o porta-voz deu uma resposta genérica. “O que acho é que a partir do momento em que há uma equipa, essa equipa tem de funcionar.”

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Oito dias depois, a 20 de maio, Francisco Paupério foi confrontado, também pelo Observador, com a resposta do líder do Livre, mas desvalorizou a referência genérica. “Não sou eu que preciso de apoio, é a equipa que precisa de apoio. Confio no Rui Tavares e confio em toda a direção e em todas as pessoas do Livre”, salientou, acrescentando que foi eleita “uma equipa” que está “unida, pronta para eleger”.

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Nas últimas eleições europeias, em 2019, o cabeça de lista pelo Livre foi Rui Tavares. O partido não foi além de 1,83% dos votos, o equivalente a 60.575 boletins, não tendo conseguido eleger nenhum candidato ao Parlamento Europeu. Agora, cinco anos depois, Francisco Paupério tem o desafio de conseguir um melhor resultado, sendo que já disse que ambiciona “tentar eleger dois eurodeputados”. Um objetivo que acredita ser “possível” face aos resultados das últimas eleições legislativas (o Livre conseguiu formar um grupo parlamentar ao eleger quatro deputados) ou à “forma corajosa” como considera que a mensagem do partido “está a passar”.