O filho do Presidente dos EUA foi declarado, esta terça-feira, culpado dos três crimes de que estava acusado. Hunter Biden estava a ser julgado por ter mentido, em 2018, quando comprou uma arma de fogo e indicou que não sofria de qualquer dependência de drogas. Na verdade, como o próprio Hunter Biden viria a reconhecer no seu livro de memórias, nessa altura sofria de uma grave dependência de cocaína crack.

Em outubro do ano passado, Hunter Biden declarou-se inocente em tribunal. Se tivesse optado por assumir-se como culpado, poderia ter assinado um acordo extrajudicial e evitado o julgamento — o que poderia, por seu turno, ter evitado um embaraço ao pai, o Presidente dos EUA, atualmente em campanha para ser reeleito nas eleições deste ano.

Hunter Biden foi considerado agora culpado de ter comprado, em 2018, a um vendedor licenciado, uma arma de fogo sem revelar toda a verdade sobre as suas circunstâncias. Biden teve de preencher um formulário em que afirmou não sofrer de qualquer dependência de drogas ou álcool, nem de qualquer doença do foro mental.

O Presidente dos EUA, Joe Biden, já tinha confirmado, na semana passada, que iria aceitar o desfecho do caso e não teria qualquer interferência. Se o filho fosse considerado culpado, Biden não usaria a prerrogativa presidencial de perdoar o filho.

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Como explica o The New York Times, Hunter Biden foi condenado justamente por aquilo que escreveu no seu livro de memórias Beautiful Things, editado em 2021. Nesse livro, o filho de Joe Biden lembrou a sua dependência das drogas e chegou mesmo a escrever: “Toda a minha energia girava em torno de fumar drogas e em arranjar forma de comprar drogas, de alimentar o monstro.” Contudo, em outubro de 2018, quando se dirigiu a um armeiro para adquirir uma arma de fogo, Hunter Biden respondeu “não” a uma pergunta, incluída num formulário oficial do governo cujo preenchimento é obrigatório para comprar armas, relativamente ao consumo de drogas.

“É um utilizador ilegal de, ou viciado em, marijuana ou qualquer droga depressiva, estimulante ou narcótica, ou qualquer outra substância controlada?”, lê-se nesse formulário. Durante o julgamento a equipa de defesa de Hunter Biden procurou argumentar que os termos “utilizador” ou “viciado” não estavam adequadamente definidos no formulário e que, na verdade, a pergunta se encontra formulada no presente — o que influenciaria a forma de responder à questão. “Alguém como Biden que tinha acabado de completar um programa de reabilitação de 11 dias e que vivia, depois disso, com uma companheira sóbria, podia certamente acreditar que não era um utilizador ou viciado no tempo presente”, lê-se na defesa apresentada pelos advogados de Hunter Biden.

Contudo, o tribunal considerou que Hunter Biden não foi sincero nessa resposta, já que, no seu livro de memórias, surgem relatos detalhados sobre o período mais intenso do seu uso de drogas, que inclui justamente o período em que Biden adquiriu a arma. No dia seguinte à aquisição da arma, Biden encontrou-se com o seu dealer de droga e escreveu mesmo que esteve a “dormir num carro a fumar crack” em Wilmington.

Esta terça-feira, Hunter Biden conheceu apenas a decisão do júri de o considerar culpado. Biden tinha acalentado a esperança de ser considerado inocente, até pelo historial dos elementos do júri, que têm familiares com histórico de consumo de drogas, mas acabou por ser mesmo condenado. A pena a que será condenado só vai ser conhecida mais tarde. Ainda não foi agendada a leitura da sentença, mas deverá ocorrer no prazo de 120 dias.

Os jornalistas presentes no local testemunham ainda que Hunter Biden saiu do tribunal depois de ouvir a condenação juntamente com Jill Biden, a primeira-dama dos EUA, que esteve presente numa grande parte das sessões do julgamento.