É num fragmento de 11 por 5 centímetros com 13 linhas em letras gregas que se pode ler a história do “segundo milagre” de Jesus, quando ainda era criança. A descoberta foi feita por dois investigadores e divulgada no espanhol ABC.

Num sábado, estava Jesus à beira rio a brincar, a moldar doze pardais de barro quando o seu pai, José, o repreendeu por não estar a guardar este dia para descansar. Jesus bate as palmas e os pardais voam. É esta a história do “segundo milagre” do menino Jesus, relatada no Evangelho apócrifo de São Tomé.

Parte deste relato foi agora descoberto num manuscrito egípcio por dois investigadores, Lajos Berkes e Gabriel Nocchi Macedo, da Universidade Humboldt de Berlim e da Universidade belga de Liège, respetivamente. O documento data do século IV ou V e está arquivado na Biblioteca Carl von Ossietzky, na Universidade de Hamburgo.

De acordo com o espanhol ABC, que divulgou a descoberta, o documento que remonta ao Antigo Egito mede 11 por 5 centímetros e contém restos de 13 linhas em letras gregas. “A primeira coisa em que reparámos foi na palavra ‘Jesus’ no texto”, relatou o investigador Lajos Berkes. Depois, o documento foi decifrado “letra a letra” e comparado “com muitos outros manuscritos digitalizados”.

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Rapidamente os investigadores se aperceberam “que não se tratava de um documento do quotidiano”, afirma Berkes. Isto porque, anteriormente, o manuscrito tinha sido desvalorizado. Investigadores achavam que este documento era apenas um texto banal, como por exemplo uma lista de compras, porque a letra parecia demasiado descuidada, algo que os especialistas conseguem agora explicar.

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Os investigadores suspeitam que este documento é uma cópia que foi feita num mosteiro ou colégio, por alguém inexperiente, servindo como forma de treinar a escrita. A teoria é sustentada pelo facto de as letras estarem desenhadas no lado errado do manuscrito. Mas também porque o nome de Jesus está escrito por extenso e não de forma abreviada (como era hábito), e porque se nota a eliminação de várias letras depois de serem escritas, como uma espécie de correção.

A origem do manuscrito não foi ainda decifrada, mas os investigadores acreditam que terá chegado à Alemanha antes da Segunda Guerra Mundial, que se iniciou em 1939. A sua teoria tem por base a forma como as diferentes letras foram desenhadas, como é o caso da letra grega Y, tendo por base de comparação outros manuscritos.

O investigador Nocchi Macedo salientou ainda que esta descobertas “confirmam a teoria de que o Evangelho da infância de Jesus segundo Tomé foi originalmente escrito em grego”. De acordo com a ABC, estes textos foram retirados dos Evangelhos (e mais tarde proibidos no século V) por descreverem Jesus como uma criança por vezes mal-humorada.