A celebração deste ano da Hajj — a peregrinação que leva milhares de muçulmanos até à sua cidade santa, Meca —  está a ser  marcada pelas temperaturas elevadas que mataram pelo menos 14 pessoas. 

Estes cidadãos da Jordânia deslocavam-se para as celebrações religiosas, mas acabaram por morrer por insolação, informou no domingo à noite o Ministério dos Negócios Estrangeiros saudita, que dá ainda conta do desaparecimento de outros 17 peregrinos. O consulado da Jordânia já está a coordenar com “as autoridades sauditas competentes o transporte dos corpos ou o seu funeral”, acrescentou ainda o governo num comunicado divulgado na rede social X.

“O stress com o calor é o maior desafio”, afirmou Mohammed Al-Abdulaali, porta-voz do Ministério da Saúde saudita, citado pela AP. Segundo Al-Abdulaali, só no domingo 2.760 pessoas tiveram de ser auxiliadas devido a casos de insolação. As autoridades sauditas puseram em prática medidas para fazer frente às temperaturas extremas como zonas climatizadas e distribuição de água. Mas deixam avisos aos peregrinos para se manterem hidratados e evitarem a exposição solar entre as 11h00 e as 15h00.

No domingo, as temperaturas no oeste da Arábia Saudita – onde fica Meca – chegaram aos 47ºC. A maior parte das cerimónias da Hajj realiza-se ao ar livre, o que dificulta o trabalho das autoridades. Foi neste dia que se realizou um dos eventos centrais da celebração: o “Apedrejamento do Diabo”, em que os fiéis atiram sete pedras a três pilares, que simbolizam o diabo.

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Do Irão, chegam igualmente relatos de mais mortes. O Crescente Vermelho iraniano, citado pelo The Guardian, afirma que cinco cidadãos iranianos também morreram durante a Hajj. No entanto, não confirmaram que estas também tenham sido por causa do calor.

Apesar das dificuldades físicas, os peregrinos falam de contentamento espiritual. “É fisicamente extenuante, mas é muito profundo espiritualmente”, diz um peregrino canadiano citado pela BBC. Outro, egípcio, citado pela AP, diz que “Graças a Deus, (o processo) foi alegre e bom. Ninguém quer mais do que isto”.

A Hajj é um dos cinco pilares do Islão: todos os muçulmanos, que tenham meios financeiros e capacidade física para tal, devem cumprir a peregrinação a Meca pelo menos uma vez na vida. Este ano, 1,83 milhões de muçulmanos participam no ritual. Segundo o ministro saudita Tawfiq bin Fawzan al-Rabiah, este é um número ligeiramente menor que os 1,9 milhões de peregrinos registados em 2023.

Mas as 14 mortes deste ano não são a primeira desgraça a ensombrar a celebração. Já no ano passado morreram 240 pessoas, muitas também devido ao calor. E em 2015, 2.070 pessoas morreram, esmagadas pela multidão. A sucessão de catástrofes durante a Hajj levou as autoridades sauditas a repensar alguns dos eventos, tornando-os mais simbólicos, para impedir ajuntamentos demasiado grandes.

Texto corrigido na quarta-feira às 15h46 acerca do nome da peregrinação: Hajj e não Haji, que significa um peregrino da mesma.