Muito mudou desde aquele dia em que Cristiano Ronaldo foi lançado por Luiz Felipe Scolari, conseguiu um golo de cabeça mas não evitou a derrota de Portugal no encontro de estreia do Euro-2004 frente à Grécia no Estádio do Dragão, que teria depois um remake no Estádio da Luz na final. Mudou todo o seu trajeto entre Manchester United, Real, Juventus e Al Nassr, com cinco Champions e cinco Bolas de Ouro à mistura.
Mudou o rumo das equipas portuguesas na principal prova europeia, sendo que não mais uma formação nacional conquistou a Liga dos Campeões como o FC Porto de José Mourinho (que, já agora, se tornou o Special One). Mudaram as figuras dos Jogos Olímpicos, que há duas décadas tinham Michael Phelps como principal expoente e conheceram entretanto Usain Bolt e Simone Biles. Mudou a história do ténis, com o advento dos Três Mosqueteiros Roger Federer, Rafa Nadal e Novak Djokovic. Mudou o mundo do ciclismo e a imagem daquele que era o seu principal herói, Lance Armstrong. Mudaram os telemóveis, mudaram as redes sociais, mudaram os hábitos. Mudou quase tudo menos a linha ascensional do avançado.
O Campeonato da Europa é um exemplo paradigmático disso mesmo desde essa estreia em 2004 com 19 anos depois da primeira temporada ao serviço do Manchester United na Premier League. Aliás, ainda antes do início deste Euro-2024, Ronaldo tinha uma série de registos que o colocavam no topo da prova.
- Mais minutos jogados em fases finais de Europeus: 2.033
- Mais jogos realizados em fases finais de Europeus: 25
- Mais titularidades em encontros em fases finais de Europeus: 23
- Mais jogos a marcar em fases finais de Europeus: 10
- Mais encontros a bisar em fases finais de Europeus: 4
- Mais vitórias alcançadas em fases finais de Europeus: 12
Agora, era uma questão de tempo para o número de recordes aumentar. Havia um quase impossível de obter nesta fase final: os dez golos de Michel Platini numa só edição da prova. Ah, e ainda um outro que no mínimo seria sempre complicado de alcançar agora e que era um hat-trick num jogo (algo que conseguiu no Mundial de 2018, no empate a três da primeira jornada da fase de grupos com a Espanha em Sochi). No entanto, as marcas por atingir não se ficavam por aí, sendo que a primeira e mais “natural” chegava logo no minuto 1 da partida de estreia com a Rep. Checa: Ronaldo tornou-se o primeiro jogador a participar em seis fase finais do Campeonato da Europa, isolando-se nesse particular do ex-guarda-redes espanhol Iker Casillas.
[Já saiu o sexto e último episódio de “Matar o Papa”, o novo podcast Plus do Observador que recua a 1982 para contar a história da tentativa de assassinato de João Paulo II em Fátima por um padre conservador espanhol. Ouça aqui o primeiro episódio, aqui o segundo, aqui o terceiro, aqui o quarto episódio e aqui o quinto episódio.]
A partir daí, e estando em campo, seguiam-se outras metas mais “alcançáveis”, recordadas pelo El Español antes do encontro num trabalho sobre “o último baile de CR7 no Euro”, mediante aquilo que se fosse acontecendo não apenas contra os checos mas ao longo de todo o Europeu, que se seguia à fase final menos conseguida do avançado no Campeonato do Mundo do Qatar de 2022 onde marcou apenas um golo de grande penalidade antes de ser relegado para o banco de suplentes depois da polémica substituição no jogo com a Coreia do Sul que fechou a fase de grupos com Portugal a garantir em primeiro.
- Em caso de golo, passaria a ser o primeiro a marcar em seis edições de Europeus
- Em caso de golo, passaria a ser o mais velho a marcar em Europeus (superando Ivica Vastic)
- Em caso de assistência, igualaria Poborsky como jogador com mais passes para golo em Europeus (8)
- Em caso de ser MVP, passaria a ser o jogador com mais distinções em Europeus (7, superando Iniesta)
- Em caso de Portugal chegar à final, passaria a ser o primeiro jogador com três decisões em Europeus
Ponto de partida para tudo isso? O trajeto do português em fases finais do Campeonato da Europa, entre 2004, 2008, 2012, 2016 e 2020. Ao todo, Ronaldo levava até esta sexta edição um total de 25 encontros, 14 golos e sete assistências, com a particularidade de ter marcado metade dos golos de pé direito, mais cinco de cabeça e apenas dois de pé esquerdo. Esta noite, apesar de ser o mais rematador frente à Rep. Checa, ficou em branco, não assistiu e também não foi o MVP. No entanto, essa é a lista que tem ainda à espera.
Os 14 golos de Ronaldo em fases finais do Campeonato da Europa
- Fase de grupos de 2004, Grécia (1-2, D): cabeça, na área, após canto de Luís Figo
- Meias de 2004, Países Baixos (2-1, V): cabeça, na pequena área, após canto de Deco
- Fase de grupos de 2008, Rep. Checa (3-1, V): pé direito, na área, após assistência de Deco
- Fase de grupos de 2012, Países Baixos (2-1, V): pé direito, na área, após assistência de João Pereira
- Fase de grupos de 2012, Países Baixos (2-1, V): pé direito, na área, após assistência de Nani
- Quartos de 2012, Rep. Checa (1-0, V): cabeça, na área, após assistência de João Moutinho
- Fase de grupos de 2016, Hungria (3-3, E): calcanhar pé direito, na área, após assistência de João Mário
- Fase de grupos de 2016, Hungria (3-3, E): cabeça, na área, após assistência de Ricardo Quaresma
- Meias de 2016, País de Gales (2-0, V): cabeça, na área, após canto curto de Raphael Guerreiro
- Fase de grupos de 2020, Hungria (3-0, V): pé direito, na área, na sequência de um penálti
- Fase de grupos de 2020, Hungria (3-0, V): pé esquerdo, na área, após assistência de Rafa
- Fase de grupos de 2020, Alemanha (2-4, D): pé esquerdo, na pequena área, após assistência de Jota
- Fase de grupos de 2020, França (2-2, E): pé direito, na área, na sequência de um penálti
- Fase de grupos de 2020, França (2-2, E): pé direito, na área, na sequência de um penálti