Maria José Fernandes, Procuradora-Geral Adjunta, critica a “utilização em excesso” das escutas a políticos. “As escutas de cinco anos, ou de tanto tempo, parecem mais escutar às portas e não uma solução processual de recolha de provas”, afirmou esta quarta-feira em declarações à Antena 1. Questiona ainda “o que há detrás e se há outros interesses” na divulgação de escutas, como aconteceu esta terça-feira, no âmbito da operação Influencer que envolve António Costa.

A representante do Ministério Público considera que existe uma banalização do mecanismo e recorda: “As escutas estão previstas com estrita excecionalidade”. Levanta também dúvidas em relação à necessidade de “manter escutas durante quatro ou cinco anos. No seu entender, parece estar em causa a manutenção da escuta pela possibilidade de “ouvir algo escandaloso” ou “cobrar o que as pessoas dizem em privado”.

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As declarações surgem um dia depois de a CNN Portugal ter divulgado escutas entre o ex-ministro das Infraestruturas, João Galamba, e o antigo primeiro-ministro, António Costa, que terá decidido demitir a presidente executiva da TAP na sequência do caso Alexandra Reis.

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Entretanto, o Ministério Público abriu inquérito à divulgação das escutas. Foram ainda divulgadas fotografias que mostravam a forma como 75.800 euros em notas estavam escondidos na sala do Palácio de São Bento onde trabalhava o então chefe de gabinete de António Costa, Vítor Escária, um dos cinco detidos no âmbito deste processo, em novembro passado.

Ministério Público abre inquérito a divulgação de escutas envolvendo António Costa

Em novembro, a Procuradoria-Geral da República determinou a instauração de um processo especial de averiguação a Maria José Fernandes, no âmbito de um artigo de opinião que assinou no jornal Público, intitulado “Ministério Público: como chegámos aqui?”.

Neste contexto, em declarações ao Observador, a procuradora afirmou que a PGR parecia querer fazer frente ao poder político. A adjunta não acusou os colegas de atuarem “para marcarem posição relativamente ao poder político” mas assumiu que, por vezes, as “atitudes processuais e as diligências que tomam” parecem propositadas, já que, com “políticos ou poderosos”, os comportamentos são “incompreensíveis”.

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