Três meses depois de ter saído do palacete de São Bento após uma demissão inesperada, António Costa regressou esta segunda-feira como presidente eleito do Conselho Europeu para um almoço com o primeiro-ministro que lhe sucedeu. Luís Montenegro aproveitou as declarações à imprensa para deixar a lista do que mais o preocupa no contexto Europeu nesta fase e também jurar compromisso com Costa. Em troca ouviu o reconhecimento do apoio que dado à eleição como presidente do CE e ainda uma promessa de “atenção” a partir de Bruxelas, agora sem precisar de tradução.

Costa chegou a São Bento a conduzir o seu próprio carro de onde saiu para receber um abraço breve de Montenegro e posar para a fotografia da praxe à porta da residência oficial onde ainda há bem pouco tempo era ele quem recebia convidados. Desta vez teve de dar a esquerda ao primeiro-ministro. Pouco depois, nas declarações aos jornalistas, no jardim do palacete, Costa prometeu a Montenegro poder “contar com toda a disponibilidade, colaboração e atenção. Terá sempre um interlocutor com quem não precisa de tradução”.

Também falou no “apoio e empenho” do Governo para que a sua eleição fosse possível, reconhecendo “o esforço que o primeiro-ministro fez para mobilizar os apoios não só do PPE, mas no conjunto do Conselho”. “É uma marca da qualidade da democracia”, disse Costa que reconheceu também empenho da diplomacia portuguesa e do ministro dos Negócios Estrangeiros no processo que culminou na sua eleição no jantar dos líderes europeus na quinta-feira passada.

“Sempre que um português desempenha funções no exterior é uma forma de valorizar o país”, disse António Costa que prometeu “honrar a confiança” que depositaram nele. Aproveitou o dia para exemplificar com a seleção nacional de futebol que, esta noite, “procurará também honrar o país”: “É com esse espírito que procurarei servir.”

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Para o futuro, Costa disse que vai estar focado em “contribuir para um consenso alargado em torno dos 27, exercer a representação externa da UE em termos de política externa e segurança comum e contribuir para executar a Agenda Estratégica [2024-2029] que o Conselho Europeu aprovou na sua última reunião”.

Da parte de Montenegro, houve uma clara pausa nas críticas às capacidades executivas de Costa — de que o primeiro-ministro tem usado nestes primeiros três meses em funções –, com um redirecionamento para as “características” que podem servir ao cargo que agora vai ocupar em Bruxelas. Disse ter testemunhado, na reunião do Conselho Europeu, que Costa tem a “confiança esmagadora” do líderes. “As características para exercer as funções têm consenso generalizado e auguram que o trabalho que vai desenvolver como Conselho Europeu será seguramente positivo”, elogiou, assumindo o compromisso: “Conte sempre com o Governo de Portugal”.

Para o primeiro-ministro eleito pela AD, “a disponibilidade do Governo português para a colaboração e cooperação serão totais”. Mas também deixou a lista das suas principais preocupações, apontando como primeiro objetivo de consenso em Bruxelas o alargamento, que terá “implicações grandes” do ponto de vista da “alteração das reformas das instituições”, mas também da Agenda Estratégica 2024-2029, a negociação de um novo quadro financeiro, “a manutenção das políticas de coesão” e também a “participação em projetos de financiamento para alavancar estados-membros”.

Falou ainda no “objetivo estratégico” da “política da água” e também do pilar da segurança e defesa, para afirmar que o país está e esteve “empenhado em garantir a ajuda à Ucrânia” e nos “contributos positivos” para a resolução da situação no Médio Oriente.

António costa só tomará posse em dezembro deste ano e a partir daí as reuniões em que os dois irão participar serão a outra mesa.