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A oposição sabia que Nicolás Maduro não ia aceitar uma derrota e tomaram as devidas precauções para obter e salvaguardar aqueles que dizem ser os verdadeiros resultados das eleições presidenciais venezuelanas. Quem o diz é María Corina Machado, num artigo de opinião publicado esta quinta-feira no Wall Street Journal.

“Estou a escrever isto escondida, a temer pela minha vida, a minha liberdade e a dos meus compatriotas, da ditadura liderada por Nicolás Maduro.” É assim que a líder da oposição venezuelana começa o seu artigo, intitulado “Posso provar que Maduro foi derrotado”, que tem como objetivo servir de chamada de atenção à comunidade internacional.

Machado descreve que, ao contrário do que o governo da Venezuela afirma, Edmundo González ganhou as eleições com 67% dos votos, contra os 30% de Maduro. “Sei que isto é verdade porque consigo prová-lo”, assegura.

Continua, acusando o governo de “ter feito de tudo para sabotar a campanha” da oposição. Os obstáculos começaram na recusa da própria Machado e da sua substituta, Corina Yoris, como candidatas a Presidente, tendo Edmundo González assumido o papel, de forma “corajosa”.

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“O regime nunca imaginou que o nosso movimento cresceria e ganharia a base de votos do chavismo. O povo pobre e rural alimentado pelo crescimento meteórico de Hugo Chávez estão agora desapontados e tomaram controlo do seu futuro”, descreve. “O nosso povo foi como um tsunami“, afirma.

Segundo Machado, o movimento contou com mais de um milhão de voluntários, com tarefas específicas para, no dia das eleições, assegurar que todos os votos eram devidamente contados.

Chegado domingo, dia 28 de junho, milhares de pessoas estavam como testemunhas nas mesas de voto, realizando sondagens à boca das urnas e assegurando “provas físicas dos resultados”. Para além disto, Machado enumera duas sondagens independentes que confirmam a contagem da oposição.

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A opositora venezuelana descreve, então, que, quando o regime se apercebeu da “vitória estrondosa” da oposição, anunciou “um resultado fraudulento” e procedeu a expulsar os voluntários das mesas de voto e “a tornar o seu trabalho impossível”.

Depois de uma noite inteira a proteger os documentos “com a própria vida”, a oposição começou a contar votos e na segunda-feira à tarde tinha garantido “uma certeza matemática da vitória”. Na terça-feira, os resultados foram publicados num website público.

“A prova desta fraude descarada foi fornecida a chefes de Estado de todo o mundo”, defende María Corina Machado, explicando como a fraude levou a protestos espontâneos na capital e um pouco por todo o país.

A venezuelana faz depois um ponto de situação do estado do país pós eleições, com mais de 20 pessoas mortas, 1000 detidos e onze pessoas forçadas a desaparecer, ela própria incluída. “A maior parte da minha equipa está escondida, os meus assistentes na embaixada da Argentina estão a ser protegidos pelo governo do Brasil. Eu posso ser capturada enquanto escrevo estas palavras”, descreve.

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A conclusão do seu artigo resume-se no subtítulo que lhe deu: “Os venezuelanos estão prontos para acabar com a ditadura. A comunidade internacional vai apoiar-nos?“. Machado deixa um apelo à comunidade internacional e “a todos os que rejeitam o autoritarismo e apoiam a democracia” que se juntem “ao povo venezuelano e à sua nobre causa”.

“Nós, venezuelanos, fizemos o nosso dever. Votámos fora o sr. Maduro. Agora, cabe à comunidade internacional decidir se toleram um governo comprovadamente ilegítimo. Não vamos descansar até sermos livres”, remata a líder da oposição venezuelana.

A luta de María Corina Machado por apoio internacional tem dado frutos. Dos Estados Unidos à União Europeia — Portugal incluído — passando pela maior parte da América do Sul e África inteira, são mais os países que se recusaram a reconhecer a vitória de Maduro do que aqueles que o fizeram. Entre estes contam-se a Bolívia, a Rússia, o Irão e a China.

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