É uma estrela em ascensão na política russa. Anna Tsivileva foi recém nomeada secretária de estado do Ministério da Defesa. Tem uma ligação forte a Putin. De acordo com uma investigação feita pela Agentstvo em 2022, é prima do Presidente da Rússia, Vladimir Putin.

A investigação ao seu passado começou há uns anos. Em declarações à Current Time, agência de notícias sediada em Praga, o autor da investigação, Mikhail Rubin, revelou que o interesse na história sobre a prima do líder russo surgiu pela governação do oblast de Kemerovo. A região, conhecida pela vasta quantidade disponível de carvão, era governada por Sergei Tsiviliev, marido de Anna e atual ministro da Energia. Oficialmente, Anna não tinha qualquer cargo na administração da região. Porém, várias fontes revelaram a Rubin que tinha um papel muito mais ativo do que aquele que era publicamente descrito, estando presente em reuniões, dando ordens e ainda presidindo a um dos conselhos, mas tudo de uma forma discreta para a população.

Com as suspeitas, Mikhail Rubin procurou obter mais informação sobre a sua vida, com rumores sobre uma possível ligação a Vladimir Putin. Muita pesquisa foi feita. E, numa biografia “meio-oficial” de Putin, havia várias fotografias de familiares. Numa delas, estava a fotografia da prima Anna que apresentava parecenças com a mulher do então governador de Kemerovo. Putin não fala sobre a família.

Fotografia de família de Vladimir Putin, com a sua prima Anna, nova secretária de estado da defesa russa

Vladimir Putin (fila de cima) e Anna Tsivileva (fila de cima, na ponta direita), em foto da família publicada na Biografia de Vladimir Putin por Oleg Blotsky

Ainda sem certeza que a prima Anna e Anna Tsivileva pudessem ser a mesma pessoa, a investigação passou pelas origens deste ramo familiar de Putin. Descobriu que tinha nascido em Ivanovo, num apartamento registado em nome de seu pai, Yevgeny Putin. Um fator que levantou ainda mais suspeitas foi o facto de Anna não ter o mesmo apelido dos seus pais, segundo o registo na sua terra natal. Perceberam que Anna Loginova, como estava registada, não era, no entanto, o seu nome de solteira, tendo tido um primeiro casamento com Lev Loginov, que permitiu a Anna esconder o seu último nome verdadeiro — Putina.

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Confirmada a sua identidade e grau de parentesco com o Presidente, a vida de Anna começou a ser olhada de uma forma diferente, começando pelo seu cargo na presidência da Kolmar, uma das maiores empresas de mineração de carvão em todo o país. Em 2o12, os Tsivilevs tornaram-se acionistas maioritários da empresa, apesar de nenhum dos membros do casal ter experiência na indústria do carvão. Anna trabalhava, então, como psiquiatra. Além disso, não apresentaram os rendimentos necessários (em 2012, a empresa estava avaliada em cerca de 400 milhões de euros) para poder efetuar tal investimento.

Desde então, a empresa, que tinha sido colada a “enormes dificuldades financeiras”, passou a receber ajudas do estado, assegurando o seu funcionamento, com o Kremlin a contribuir com mais de 11 mil milhões de rublos (cerca de 107 milhões de euros). Daqui, foram elevadas as suspeitas sobre a origem dos ativos de Anna, com os investigadores a acreditarem no envolvimento direto de Putin, existindo já um historial de cargos presenteados a familiares do Presidente.

Em junho de 2024, Putin ofereceu a Anna o cargo de vice-ministra da Defesa. Uma contratação polémica por ser a primeira familiar do líder russo numa posição oficial no Kremlin. Neste cargo, Anna tornou-se responsável por supervisionar apoios sociais e à habitação de militares.

Segundo a Bloomberg, o cargo de Anna não correspondia à influência que tinha no círculo interno de Putin, tendo um “acesso mais direto do que muitos dos seus superiores no Ministério da Defesa“. Apesar de não ter um rótulo de maior significância no panorama político, muitos no Kremlin já a consideravam uma “figura política séria“.

Com os recentes avanços da Ucrânia em território russo, em Kursk, Putin terá começado a recorrer a “pessoal de maior confiança”. Desta forma, dois meses depois de ter entrado no Kremlin, Anna foi “promovida” a secretária de estado da defesa, tornando-se na principal interlocutora entre o ministério e o parlamento para toda a legislação relativa a assuntos militares, ficando ainda com o controlo da “máquina burocrática” da defesa russa.

Agora, o seu peso político, além da relação com Putin, é reforçado pela sua veia mediática, sendo a primeira responsável do Ministério da Defesa a ter o seu próprio canal no Telegram e a garantir aparições regulares na televisão russa. Anna Tsivileva é uma das pessoas sob as quais recaem sanções do ocidente. 

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