As alterações climáticas estão a levar a encontros mais frequentes entre ursos polares e humanos. Foi isso que aconteceu a John Ussak que estava a cuidar da sua rede de pesca, em Rankin Inlet, no Canadá, quando um amigo o alertou da presença de um urso polar por perto.

Após o aviso, John Ussak comentou a situação com a sua mulher que, no dia seguinte, viu o urso solitário a pouco mais de um quilómetro dos seus utensílios de trabalho.

Preocupados com a proximidade do animal, John pegou na sua arma e disparou uma série de tiros para o afastar, mas o urso não se mexeu. “Foram necessários 20 tiros antes de ele se afastar”, lê-se no The Guardian“Eu nunca tinha visto isto antes.”

Já no início do mês, um funcionário da Nasittuq Corporationque opera vários radares no Ártico para o governo canadiano — morreu após ter sido atacado por dois ursos polares quando trabalhava na ilha de Brevoort. A empresa falou de “trágico incidente”, lê-se no comunicado emitido.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

O avistamento dos ursos polares em zonas habitadas por humanos está a tornar-se cada vez mais comum, o que começa a preocupar os especialistas que dizem que as alterações climáticas estão a levar a uma alteração do habitat e das fontes de alimento dos ursos polares.

No passado, raramente víamos ursos polares aqui. Mas agora tivemos pelo menos dois nas últimas semanas. Parece que há mais ursos naquela zona e eles não parecem ter medo das pessoas”, lê-se.

Apenas alguns dias depois de Ussak ter avistado o urso polar é que a mãe e a cria foram vistas, conta ao The Guardian.

Andrew Derocher, professor de biologia na Universidade de Alberta, suspeita que tenham aparecido devido a uma mudança nos padrões do gelo no verão que fez com que os ursos fossem levados para terras mais a norte do que o habitual.

[Já saiu o quarto episódio de “Um Rei na Boca do Inferno”, o novo podcast Plus do Observador que conta a história de como os nazis tinham um plano para raptar em Portugal, em julho de 1940, o rei inglês que abdicou do trono por amor. Pode ouvir aqui, no Observador, e também na Apple Podcasts, no Spotify e no Youtube. Também pode ouvir aqui o primeiro, o segundo e o terceiro episódios]

O biólogo admite que “os ursos polares são imprevisíveis e que, com todas as mudanças ambientais que estamos a viver, vão tornar-se cada vez mais imprevisíveis.”

Em toda a região do Canadá o gelo desempenha um papel fundamental, uma vez que, os ursos polares utilizam-no para ter acesso a alimentos. A cobertura e a espessura do gelo são fatores essenciais para a reprodução das focas — o principal alimento destes predadores.

Ursos polares estão a ficar sem comida à medida que o gelo do Ártico recua

Os depósitos de lixo a céu aberto atraem os animais para perto das comunidades. Derocher afirma que frequentemente ouve pessoas a dizerem coisas como: “Temos aqui lixeiras a céu aberto que estão a atrair ursos polares para as cidades. Precisamos de ajuda com o nosso lixo. Temos ursos polares a entrar nas nossas comunidades a meio do inverno e a meio do verão. Precisamos de ajuda”.

Os ataques destes animais a humanos continuam a ser raros, considerando o número de ursos existente, mas um artigo do Wildlife Society Bulletin refere que entre 1870 e 2014, foram relatados 73 ataques.