A Rússia deve começar já no início de setembro a permitir que algumas bolsas de criptomoedas possam operar no país, ao abrigo de um novo regime limitado e experimental (supervisionado pelo banco central) que tem como objetivo ajudar as empresas russas a contornar as sanções internacionais. Para já, nessas bolsas apenas serão negociadas criptomoedas indexadas ao yuan chinês e às moedas de outros países dos BRICS, já que é no comércio com esses países que as empresas russas estão a ter maiores dificuldades em receber e enviar dinheiro.

A decisão surge poucas semanas depois de o Parlamento russo ter aprovado legislação que tornou legal o uso de criptomoedas para pagamentos (empresariais) transfronteiriços, além de dar novos passos na legalização das atividades de “mineração” – isto é, a utilização de centros informáticos gigantescos que se dedicam, 24 horas por dia, à obtenção de novas moedas (ajudando, ao mesmo tempo, no registo de todas as transações com criptomoedas feitas em todo o mundo).

Essa foi uma primeira inversão na política do Kremlin relativamente às criptomoedas, já que o próprio Presidente Vladimir Putin sempre manifestou um profundo ceticismo em relação a esses ativos digitais. Putin, que a 8 de agosto promulgou a nova legislação, alertou várias vezes para os “riscos” associados à “mineração” de criptomoedas, pelo dispêndio de energia que isso envolve. Por outro lado, o Kremlin também vê as criptomoedas com desconfiança pelo facto de poderem dificultar a supervisão financeira e a definição da política monetária por parte do banco central.

[Já saiu o quinto episódio de “Um Rei na Boca do Inferno”, o novo podcast Plus do Observador que conta a história de como os nazis tinham um plano para raptar em Portugal, em julho de 1940, o rei inglês que abdicou do trono por amor. Pode ouvir aqui, no Observador, e também na Apple Podcasts, no Spotify e no Youtube. Também pode ouvir aqui o primeiro, o segundo, o terceiro e o quarto episódios]

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Mas as dificuldades cada vez maiores sentidas pelas empresas russas que têm de fazer (e receber) pagamentos de outros países – sobretudo da China – terão levado o regime russo a suavizar a sua posição. E também terá contribuído para a mudança de posição da Rússia o facto de os EUA terem, em junho, alargado a interpretação daquilo que pode constituir colaboração com o regime russo, o que aumentou a pressão sobre alguns bancos internacionais que vêm trabalhando com empresas russas.

O jornal russo Kommersant já tinha noticiado que poderiam surgir duas novas bolsas de criptomoedas – uma sediada em Moscovo e outra em São Petersburgo – e, nesta segunda-feira, a agência Bloomberg confirmou que o plano deverá arrancar já no dia 1 de setembro.

Duas fontes próximas do processo disseram à agência financeira norte-americana que as primeiras transações experimentais vão utilizar o sistema nacional de cartões de pagamento, registando as conversões de rublos em criptomoedas. Esse é um sistema que, além de ter a infraestrutura necessária para processar as transações, já tem canais diretos de supervisão por parte do banco central.

De acordo com a informação do Kommersant, numa primeira fase essas novas bolsas irão permitir apenas a negociação de um tipo específico de criptomoeda que é conhecido por stablecoins – ativos digitais que, em vez de serem negociados livremente como a Bitcoin ou o Ethereum, têm a respetiva cotação indexada a outras moedas convencionais (e são, por isso, mais estáveis).

O plano poderá passar por criar uma stablecoin indexada ao yuan chinês e uma outra indexada a um conjunto de moedas dos BRICS (organização que além da Rússia inclui o Brasil, a Índia, a China, a África do Sul, o Irão, o Egito, a Etiópia e os Emirados Árabes Unidos). A negociação será apenas permitida a empresas (licenciadas) e não a particulares.

Ucrânia quer sanções para criptomoedas, aliados admitem avançar. Qual a importância das moedas digitais?