Paulo Portas considera que a longa viagem do Papa Francisco pela Ásia é um “sinal inter-religioso” e demonstra que a Igreja Católica é “universal” e que “sempre teve inteligência de acompanhar o mundo”. “O epicentro de gravidade mundial está a deslocar-se para a Ásia e se olharmos para os sinais objetivos que acompanham os últimos papados, tanto do ponto de vista das viagens intercontinentais, como da criação de cardeais no topo da hierarquia, vemos que a Igreja está a acompanhar” esse movimento, afirma o antigo ministro dos Negócios Estrangeiros.

Em declarações à Rádio Observador, durante o programa Contra-Corrente, Portas recorda a “atenção inovadora” que o atual chefe da Igreja Católica tem dado à Ásia.”Se olharmos para a geoestratégia do conclave, há doze anos ainda havia uma maioria de cardeais europeus, hoje a proporção é 40-60, sendo a maioria extra europeia”, nota.

Viagem do Papa ao novo centro do mundo

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Para o democrata-cristão, as escolhas de viagem do Papa “nunca acontecem por acaso numa instituição como a Igreja”. “Esta viagem é o primeiro sinal de um apelo dramático, que não é o primeiro, à aproximação entre religiões e à recusa do extremismo”, assegura o antigo ministro, que recorda as deslocações do Papa João Paulo II ao Golfo e a Abu Dhabi.

O Papa Francisco tem como pontos de paragem na mais longa viagem apostólica do seu pontificado, a Indonésia, Papua-Nova Guiné, Timor-Leste e Singapura. Sobre a Indonésia, onde Francisco está agora, Portas nota que se trata de uma “potência média com grande dinamismo”, onde o Papa “emite um sinal da obrigatoriedade das grandes religiões terem um diálogo profundo e profícuo num mundo tão polarizado e violento”, recordando que o “catolicismo cresceu com a resistência na Indonésia”. “O sinal desta viagem também é que a Ásia e o Pacífico são terras de missão e evangelização“, acrescenta.

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“A Igreja tem sempre preocupação com cada ser humano que quer ter liberdade na sua fé. A Indonésia tem mais de 85% de muçulmanos, mas há cerca de 8 milhões de católicos e a Igreja acha que tem que fazer o que puder para que cada cristão possa viver a sua fé em liberdade ou, pelo menos, sem perseguição”, considera o antigo ministro.

Destaca ainda a proximidade geográfica dos países visitados pelo Papa em relação à China. “Não há dados que possam ser citados, mas o número de cristãos na China é ascendente”, nota, descrevendo a relação de “grandes paciências” entre a China e o Vaticano, sendo que o último é um dos poucos Estados que ainda reconhece Taiwan.

Já sobre o discurso do Papa Francisco em Singapura, onde vai estar de 11 a 13 de setembro, Paulo Portas diz-se expectante uma vez que se trata de um local tido como uma “espécie de radar do novo mundo”. Nesse e noutros discursos é provável que passe por questões permanentes, como as do “humanismo, pobreza, reféns, migrantes”, sendo de prever que dê um “enfoque grande às alterações climáticas”.