A Organização Não-Governamental (ONG) Save the Children alertou esta sexta-feira que “centenas de milhares” de crianças no Níger, Nigéria e Mali foram obrigadas a fugir de casa antes do início do ano letivo devido às inundações.

“Centenas de milhares de crianças enfrentam doenças, fome causada pela destruição das culturas e a interrupção da escolaridade, com escolas agora ocupadas por famílias em fuga ou danificadas pelas inundações”, avisou a ONG, apontando que as chuvas torrenciais e as inundações da últimas semanas obrigaram cerca de 950 mil pessoas a procurar refúgio – 649.184 no Níger, 225.000 na Nigéria e 73.778 no Mali.

No Níger, cujo território foi totalmente afetado, 273 pessoas morreram e mais de 700 mil foram afetadas desde o início da estação das chuvas em junho, segundo o Governo.

Na vizinha Nigéria, 29 dos 36 estados do país, principalmente no norte, foram afetados pela subida das águas do rio Níger e do seu afluente Benue, os dois maiores rios do país, causando a morte de mais de 200 pessoas, incluindo crianças, segundo a Save the Children.

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“Mais de 115.265 hectares de terras cultivadas também foram danificados”, afirma a ONG, que cita dados governamentais e estima que ‘uma criança em cada seis passou fome entre junho e agosto deste ano – um aumento de 25% em relação ao mesmo período do ano passado’.

Por último, no Mali, onde o Governo declarou o estado de catástrofe nacional depois de as inundações terem provocado dezenas de mortos, quase metade dos desalojados são crianças, “muitas das quais procuram abrigo nas escolas, arriscando-se a atrasar o início do novo ano escolar previsto para outubro”, lamenta a ONG.

“Este tipo de condições meteorológicas extremas está a tornar-se mais frequente e mais severo devido à crise climática”, comenta a Save the Children.

Além disso, “estes países já são devastados por conflitos e insegurança, o que torna a resposta ainda mais difícil”, comentou a diretora regional de comunicação da Save the Children para a África Ocidental e Central, Vishna Shah-Little.

Os alertas da ONG surgem na mesma semana em que o relatório “Estado do Clima em África 2023”, da Organização Mundial Meteorológica (OMM) sobre os custos das alterações climáticas em África, foi publicado, dando conta que “em média, os países africanos estão a perder 2% a 5% do PIB e muitos estão a desviar até 9% dos seus orçamentos para responder aos fenómenos climáticos extremos”

Apresentado na 12.ª Conferência sobre Alterações Climáticas para o Desenvolvimento em África (CCDA), em Abidjan, o relatório apontava para que o custo da adaptação climática na África subsariana se vá situar entre 30 e 50 mil milhões de dólares (cerca de 27 a 45 mil milhões de euros) por ano durante a próxima década, ou seja, 2% a 3% do PIB da região.