A cidade de Alepo, no norte da Síria, foi este sábado palco de intensos bombardeamentos por parte das forças armadas russas e sírias, que combatem os rebeldes do movimento salafista Hayat Tahrir al Sham e também outros grupos apoiados pela Turquia, que na sexta-feira lançaram um ataque surpresa contra o regime de Bashar al-Assad e conseguiram controlar algumas partes da cidade.
Na sexta-feira, a Rússia, aliada do regime de Assad, já tinha dito que estava a levar a cabo “bombardeamentos com rockets em equipamentos e membros dos grupos armados”. De acordo com a Reuters, este sábado havia já vários aviões de guerra russos e sírios a bombardear alvos nos subúrbios de Alepo. Um dos ataques aéreos causou vítimas na praça Basel, disse um morador à Reuters.
Para além de Alepo, as forças russas e sírias levaram também a cabo ataques aéreos contra vários bairros residenciais na cidade de Idlib, uma bastião das forças rebeldes. Nesta cidade, há registo de pelo menos quatro mortos.
Entretanto, duas fontes militares sírias disseram à Reuters que a Rússia prometeu ajuda militar extra a Damasco, que começará a chegar nas próximas 72 horas.
Trata-se da primeira vez desde 2016 que as forças russas e sírias bombardeiam Alepo, a segunda maior cidade da Síria, no contexto de uma guerra civil que já se prolonga desde a primavera árabe de 2011. Nessa altura, com o apoio da Rússia e de grupos ligados ao Irão, o regime de Assad recuperou o controlo de Alepo aos rebeldes, mantendo a cidade sob controlo desde então.
Ofensiva de rebeldes entra na cidade de Aleppo, controlada por forças de Bashar al-Assad desde 2016
Fações rebeldes tomaram aeroporto de Alepo
O Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH) explica que os rebeldes “tomaram o controlo da maior parte da cidade, dos edifícios governamentais e das prisões”, conseguindo capturar “metade da cidade de Alepo”. Além disso, as fações rebeldes tomaram o controlo do aeroporto de Alepo, e de locais estratégicos nas províncias vizinhas de Idlib e Hama, a mais de 150 quilómetros da segunda maioria maior cidade síria.
Uma boa parte das principais estradas encontram-se fechadas pelo regime sírio, numa tentativa de conter os acessos à cidade. No entanto, os rebeldes dizem que têm encontrada uma fraca resistência do regime de Al-Assad ao avanço das suas forças no terreno. Ainda assim, a coligação de forças anti-regime assume estar ainda a combater bolsas de resistência de forças governamentais na cidade.
Segundo um jornalista do New York Times que se encontra em Alepo, a população reagiu de formas diferentes ao avanço dos rebeldes na cidade. Uma parte permaneceu dentro de casa, temendo possíveis combates, e outra parte saiu à rua, abraçando os combatentes rebeldes anti-regime. Entretanto, os rebeldes decretaram um recolher obrigatório de 24 horas a iniciar-se às 17 horas locais (menos três horas em Lisboa).
Segundo o NYT, os soldados do governo sírio e as forças policiais abandonaram a cidade perante o avanço dos rebeldes. Foram encontradas vários veículos militares abandonados junto a uma das entradas na cidade, na zona oeste. Os rebeldes queimaram uma bandeira síria na rua e hastearam a bandeira da oposição, com uma faixa verde no topo (em vez de vermelha).
A aliança rebelde é liderada pelo movimento Hayat Tahrir al Sham, que esteve ligado à Al-Qaeda (mas que entretanto rompeu com o grupo terrorista), à qual se juntaram grupos apoiados pela Turquia — um dos principais países opositores ao regime sírio.
A ofensiva relâmpago dos grupos rebeldes é o mais violento desenvolvimento da guerra civil síria e põe fim ao período de relativa calma que se viveu no país nos últimos anos. A região de Alepo, atualmente nas mãos de Assad, fica junto à região de Idlib, no noroeste do país, o último grande reduto dos rebeldes no país.
Mais de 300 pessoas já morreram na ofensiva
De acordo com o OSDH, mais de 300 pessoas morreram nos combates dos últimos dias que culminaram na ofensiva relâmpago dos rebeldes, que conseguiram em poucas horas chegar às portas da cidade de Alepo. A Rússia e o Irão, fortes aliados do regime sírio, anunciaram de imediato o apoio a Bashar al-Assad no combate aos jihadistas.
Segundo a Reuters, além das forças russas que já estão no terreno a levar a cabo ataques aéreos contra posições dos rebeldes nos subúrbios de Alepo, Moscovo já prometeu enviar mais reforços militares para a Síria — que deverão chegar nas próximas 72 horas.