Quase 100 depois, Rafa Mir estava de regresso à convocatória do Valencia. Foi a 31 de agosto que o avançado espanhol realizou a última partida pelos che, calvário que poderia terminar esta quarta-feira, na deslocação a casa do Ejea, na segunda ronda da Taça do Rei. Mir foi afastado depois de ter estado detido durante duas noite por suspeitas de agressão sexual a duas jovens, a 1 de setembro, mas regressa agora, numa fase em que o processo continua a ser investigado. Na última semana, o jogador teve a seu favor o depoimento de três polícias, que apoiaram a sua versão. Certo é que, desde o final de agosto e até agora, muito mudou no clube de Valência. No clube mas não no jogador: entrou aos 82′, marcou aos 90+1′ e fez o 3-1 final.
Rafa Mir, avançado do Valencia, detido por alegada agressão sexual a duas jovens
É certo que os valencianos não começaram bem a temporada e somaram três derrotas e um empate nas quatro primeiras jornadas, que tiveram Rafa Mir em ação. Contudo, os che marcaram em três desses quatro encontros, algo que deixou de acontecer sem o avançado. Os problemas ofensivos são notórios, há falta de opções e o treinador Rubén Baraja está, cada vez mais, numa situação complicada, que foi atenuada com a recente série de dois triunfos – ante Betis (Liga, 4-2) e Parla Escuela (Taça, 0-1). Ainda assim, o Valencia voltou a ceder no último desafio do Campeonato, em casa do Maiorca (2-1), e a contestação voltou.
No que a Mir diz respeito, as últimas semanas não foram fáceis para o internacional Sub-21 e olímpico espanhol. Para além do processo judicial, que continua incerto e levou à sua suspensão, o atleta de 27 anos sofreu uma lesão na coxa que o deixou debilitado desde o final de setembro. Com a lesão aparentemente solucionada, Baraja voltou a apostar em Rafa Mir para tentar tirar o clube do penúltimo lugar da tabela da La Liga. Com um plantel curto e praticamente sem recursos, o principal ponta de lança do Valencia foi mesmo uma mais-valia para a deslocação a casa do Ejea, seguindo-se a receção ao Rayo Vallecano, outro desafio em que a equipa não pode tropeçar.
⚽️ El murciano Rafa Mir vuelve con gol en la Copa del Rey
???? No jugaba desde el 31 de agosto
1️⃣ Primero de la temporada. Llevaba 1 asistencia en 4 partidos
— Punto Regional (@PuntoRegional) December 4, 2024
Como seria de esperar e ainda antes de a convocatória ter sido anunciada publicamente, Mir viajou com a equipa e, no aeroporto, teceu as suas primeiras declarações aos jornalistas. “Tenho muita vontade de voltar. Foram meses de recuperação e recaída e estou preparado para ajudar os meus companheiros. Acusação? Tudo será esclarecido e estou muito tranquilo”, partilhou à estação valenciana À Punt, recordando o processo contra si que continua na justiça e o obriga a comparecer junto das autoridades semanalmente até ao julgamento. Para além disso, Mir ficou sem o passaporte e está proibido de ausentar-se de Espanha.
A Marca acrescenta que, perante o caso, o clube tomou medidas internas, obrigando o jogador a pedir desculpa ao balneário, para além de lhe ter imposto uma pesada multa e de Baraja o ter afastado do grupo. A mesma fonte acrescenta que o caso abalou o plantel valenciano, depois de o treinador e Pepelu, um dos capitães, terem criticado publicamente a atitude de Rafa Mir. Com o pedido de reconciliação aceite, ainda em setembro, Baraja pretendia reintegrar de imediato Mir, mas a lesão acabou por afetar as suas opções. “É um jogador que veio com a intenção de reforçar o ataque e não tenho podido contar com ele. Temos de integrá-lo nesse processo. O que pretendemos dele é que marque golos”, explicou Baraja, na terça-feira, em conferência de imprensa, confirmando a reintegração.
????Rafa Mir parla abans del partit de hui en què torna a la convocatòria contra l’Ejea.
????️“Preparat per a donar-ho tot”
????️“Estic centrat” pic.twitter.com/MHq2Mnj66F— À Punt Esports (@apuntesports) December 4, 2024
De recordar que Rafa Mir pertence aos quadros do Sevilha, equipa à qual chegou em agosto de 2021, numa transferência que valeu 16 milhões de euros aos cofres do Wolverhampton. O jogador está emprestado ao Valencia até ao final da presente temporada e, de acordo com a avaliação do Transfermarkt, o seu valor de mercado está no milhão de euros.
O caso Rafa Mir: da noite da festa ao depoimento da polícia
O caso judicial que envolve Rafa Mir remonta ao primeiro dia de setembro, altura em que o avançado organizou, na sua casa em Valência, uma festa. Nessa ocasião, o jogador foi acusado de ter agredido sexualmente uma mulher de 21 anos, num caso que envolve outro alegado agressor, que é acusado de agredir uma jovem de 25 anos. Ambas as mulheres necessitaram de assistência médica no hospital, apresentaram queixa e contaram ainda com o testemunho de uma amiga, de 21 anos, que também estava presente na festa e que terá assistido a tudo.
No dia seguinte, Mir foi detido e passou duas noites na esquadra para interrogatório. Presente no Tribunal de Instrução de Llíria, em Valência, o advogado do jogador de 27 anos alegou que as relações sexuais foram consentidas e contestou a queixa por dupla agressão sexual. Em comunicado, o Valencia reagiu e manifestou-se disposto a “colaborar em tudo com a justiça”, apesar de não possuir “detalhes sobre a detenção” do seu jogador, instaurando um processo disciplinar a Mir, que foi também afastado do plantel.
Na semana seguinte, a Guarda Civil espanhola defendeu a prisão do futebolista espanhol, considerando que o testemunho da vítima “não deixa qualquer tipo de dúvidas” e a investigação tomou como certa a acusação e os atos praticados pelo jogador. A investigação considerou como fidedigna a versão dos factos apresentada pela alegada vítima. No entender da Guarda Civil, os detalhes sobre o lugar, as pessoas e a descrição dos factos relatados, bem como a sua cronologia, indiciam que a acusação é verdadeira, tal como a existência de “hematomas” nos braços da jovem, que apontam para o uso de violência por parte de Rafa Mir.
“A vítima tinha medo de expor o caso e o jogador Rafa Mir devido à exposição mediática a que o atleta está sujeito” e que, por esse motivo, também ela se iria sujeitar, acrescentou a força policial. Em resposta, a defesa de Rafa Mir insistiu que as relações sexuais foram consentidas, acrescentando que, quando a jovem pediu para parar, o jogador parou.
Passados três meses, o caso continua a fazer correr tinta na imprensa espanhola, enquanto a investigação prossegue. Segundo a Marca, o depoimento de uma das alegadas vítimas confirma que as jovens estiveram com Mir e que o tinham conhecido numa discoteca de Valência. Esta versão acrescenta que os abusos começaram num táxi que os transportava para casa do jogador. No carro, Rafa Mir terá começado a incomodar as mulheres com “toques”, o que levou as raparigas a pedirem ao motorista para parar de modo a trocarem de lugar. Já em casa, Mir terá levado a jovem “para a casa de banho e trancou a porta”.
O relato acrescenta que a alegada vítima ficou “em choque” e começou “a chorar, pedindo-lhe para que ele a deixasse sair”. O jogador não aceitou o pedido, “sentou-a em cima do lavatório e começou a introduzir-lhe os dedos na vagina sem tirar a saia”. A rapariga terá voltado a pedir para “sair” porque o seu pai ia buscá-la, mas o avançado terá continuado até a alegada vítima tê-lo empurrado e saído da casa de banho.
Na última semana, várias testemunhas depuseram no Tribunal de Instrução número 8 de Valência, entre os três agentes guardas e um polícia que foram chamados por um vizinho até à casa de Rafa Mir. O polícia revelou que encarou aqueles acontecimentos “como um assunto de menor importância” após falar com as jovens, revelando que o jogador mentiu sobre a identidade do amigo, tendo mudado o nome quando as autoridades chegaram ao local. Ainda assim, segundo o Lecturas, considerou que a versão de Mir está próxima de ser verdadeira.