Gouveia e Melo acredita que “não era qualquer militar” que fazia aquilo que ele fez durante a task force da vacinação na pandemia da Covid-19. Nas IV Jornadas de Defesa + Saúde Militar, na Fundação Gulbenkian, o almirante que é apontado como candidato às eleições presidenciais recordou o “sucesso no processo de vacinação” e sublinhou que os militares são “úteis” para a sociedade, recusando que haja “uma sociedade civil e uma sociedade militar”.
“Não, aquilo não foi só logística, não foi só uma folha de Excel e não era qualquer militar que fazia aquilo”, justificou Gouveia e Melo, contrariando os comentadores que dizem que a campanha de vacinação “foi só logística”.
“Quando, às vezes, vejo certos comentadores falarem sobre o processo de vacinação, passado este tempo, dá a sensação de que há uma tentativa ou uma vontade de menorizar o papel que as Forças Armadas tiveram nesse processo. Essa menorização é muito injusta, muito injusta. As Forças Armadas foram essenciais nesse processo. Nós somos os mentores e os criadores de uma célula de coordenação de emergência dentro do próprio Ministério da Saúde”, justificou o almirante.
Durante o discurso, recordou a primeira reunião com o Governo depois de ser escolhido para coordenar a task force, e disse que optou por falar em “quatro grandes tópicos”, entre eles a “moldagem psicológica do campo de batalha”, e teve a “sensação” que “ninguém estava a perceber” — quando apareceu fardado todos perceberam, concluiu, argumentando que aquela atitude foi “essencial para a vitória“.
E assegurou que os militares foram também importantes para combater interesses instalados durante todo o processo, apontando a “muitas capoeiras com muitos galos“, o que o levou a sublinhar que também aí a autoridade da farda ajudou.
Henrique Gouveia e Melo aproveitou para falar sobre os militares na sociedade — até porque, agora que parece mais próximo de uma candidatura a Belém depois de ter anunciado que não pretende ser reconduzido no cargo de Chefe do Estado-Maior da Armada, há quem tenha levantado questões sobre um militar na Presidência da República —, dizendo que não gosta da “designação ‘Civil-Militar’, porque parece que há duas sociedades” — “Não há uma sociedade civil e uma sociedade militar. Nós somos uma única sociedade até porque não há uma designação Civil-Bombeiros, Civil-Forças de Segurança”, explicou.
Por outro lado, o chefe de Estado-Maior da Armada referiu-se à postura perante à comunicação social na passagem das mensagens, tendo admitido que o uso do camuflado ajudou a passar mensagens de liderança.
“Estes aspetos sobre liderança incluíram a parte mediática, a condução psicológica do campo batalha e lembro-me que quando fui fazer a primeira apresentação ao governo logo que fui coordenador referi quatro grandes tópicos e o primeiro era ‘moldagem psicológica no campo de batalha’ e a sensação que tive era de que ninguém estava a perceber o que eu estava a dizer”, recordou.
Afirmando que apesar de a então ministra da Saúde Marta Temido ter “percebido” a mensagem, o almirante revelou que continuaram a existir alguns momentos de incompreensão.
“Uma semana depois telefona uma assessora de imprensa da ministra a perguntar se eu podia dar dez pontos defensivos para eles poderem usar na comunicação social. Eu disse: ‘minha senhora não sei do que está a falar porque eu sou submarinista e só sei atacar. Se é para pontos defensivos sou incapaz. Mas já agora como nós estamos com a mão no volante não meta a mão no volante porque atrapalha a condução porque a senhora está a tentar conduzir uma coisa que já estamos a conduzir’”, contou.
O almirante Gouveia e Melo concluiu que este “conjunto de incidentes” acabaram por ser construtivos e criar resultados.