O pai e a madrasta de Sara Sharif, uma menina de dez anos encontrada morta em casa, foram condenados esta terça-feira a prisão perpétua pelas agressões e morte da criança. Sara foi encontrada morta num beliche, na casa da família em Surrey, em Inglaterra, em agosto de 2023.
A condenação concluiu um julgamento de oito semanas. Urfan Sharif, de 43 anos, terá de passar no mínimo 40 anos na prisão. Já a madrasta, Beinash Batool, de 30 anos, terá de ficar presa no mínimo 33 anos. O tio paterno da menina, Faisal Malink, de 29 anos, foi condenado a 16 anos de prisão — na altura do crime, vivia com a família e a justiça inglesa considerou que permitiu a morte da criança.
BREAKING: Urfan Sharif and Beinash Batool have been jailed for a minimum of 40 years and 33 years respectively for the murder of 10-year-old Sara Sharif. pic.twitter.com/onRGiS20Ee
— Talk (@TalkTV) December 17, 2024
O juiz John Cavanagh descreveu uma campanha de anos de abusos à menina, falando mesmo em “tortura” e criticando o facto de o pai e a madrasta da menina não terem demonstrado “um pingo de remorso”, cita o The Guardian.
Sara Sharif foi encontrada morta num beliche em casa da família, a 10 de agosto de 2023. O casal matou-a dois dias antes e fugiu para o Paquistão, com o tio de Sara e os cinco irmãos da menina. Só a partir de Islamabad é que o pai ligou à polícia a confessar o crime.
“Matei a minha filha”, confessou, com o homem a dizer que espancou “demasiado” Sara por ter sido “endiabrada”. Urfan Sharif, um taxista, deixou uma “confissão” escrita à mão perto do corpo totalmente vestido. “Juro por Deus que a minha intenção não era matá-la. Mas perdi [o controlo]”, segundo a imagem divulgada pela polícia de Surrey.
Em agosto de 2023, a polícia do Paquistão recebeu um pedido de ajuda da Interpol para tentar encontrar os familiares de Sara. O pai, a madrasta e o tio paterno da menina foram detidos a 13 de setembro de 2023, no aeroporto de Gatwick, quando tentavam regressar ao Reino Unido. Foram formalmente acusados de matar Sara a 15 de setembro de 2023.
Um exame ao corpo concluiu que a criança tinha 71 ferimentos externos, incluindo nódoas negras, queimaduras e marcas de dentadas humanas. O pai negou ter mordido Sara e a madrasta recusou-se a fornecer o registo dentário. Além disso, Sara tinha pelo menos 25 fraturas, 11 delas na coluna.
“Este tratamento a uma criança de dez anos não é nada menos que horrível”, continuou o juiz. “Os tribunais de Old Bailey já viram muitos casos de crimes horríveis, mas poucos podem ter sido tão horríveis como o tratamento dado a esta pobre criança, que o júri neste caso teve de suportar.”
O procurador do caso, William Emlyn Jones KC, relatou que Sara foi sujeita a violência grave desde que tinha pelo menos seis anos. A menina tinha aulas em casa desde abril de 2023, depois de, em junho do ano anterior, a escola primária reparar numa nódoa negra no olho esquerdo da menina. O caso foi sinalizado mas, segundo a BBC, os serviços sociais decidiram não avançar com nenhuma ação em março de 2023.
O juiz relatou que Sharif tinha “uma satisfação sádica” com a violência recorrente e que tinha feito de tudo para evitar as consequências das ações. Cavanagh descreveu Sara como uma “menina corajosa e com atitude”, que “não era submissa”, como o pai queria. “Ela fazia-lhe frente”, continuou o juiz, durante a leitura da sentença.
A investigação concluiu que, em alguns casos, a menina foi espancada à frente dos irmãos, algo que teve um “efeito brutal” nas crianças — os irmãos de Sara ficaram no Paquistão. Nas semanas que antecederam a morte, a menina foi castigada “de forma grotesca”, impedida de usar a casa de banho e torturada. “Foi queimada com um ferro e água a ferver foi derramada nos seus tornozelos.” Segundo o juiz, uma das queimaduras da menina deixou-a desfigurada de forma permanente.
A madrasta Batool foi acusada de ter encorajado e ajudado o pai nas agressões à criança, com o juiz a mencionar que muitas das agressões a Sara eram um “trabalho para duas pessoas”.
A mãe de Sara, Olga Domin, de 38 anos, que vive na Polónia, acusou o pai e a madrasta da menina de serem “sádicos”. Em 2019, após uma disputa entre o ex-casal, foi decidido que Sara deveria viver com o pai e a madrasta, apesar do risco que o homem representava e do historial de violência.
A mãe de Sara acusou em 2007 o ex-marido de maus tratos. Além disso, Sharif já tinha sido detido por suspeitas de agredir outras duas mulheres polacas, em casos que não estavam relacionados.