Para os familiares e conhecidos, a notícia de que Shamsud-Din Bahar Jabbar fora capaz de matar 15 pessoas num atropelamento violento e intencional na Bourbon Street, em Nova Orleães, nos EUA, foi surpreendente. O homem de 42 anos, natural de Beaumont, no Texas, interrompeu as celebrações de passagem de ano e foi abatido pela polícia depois de disparar contra os agentes.

As autoridades encontraram uma bandeira do Estado Islâmico dentro da carrinha Ford e estão a investigar o assunto como um caso de terrorismo. Nas proximidades do local, foram encontradas geleiras com explosivos improvisados, mas nesta quinta-feira o FBI adiantou que não está a investigar mais ninguém, focando-se apenas no “caminho para a radicalização” de Shamsud-Din Bahar Jabbar.

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O veterano do exército que trabalhava na Deloitte

Ao New York Times (NYT), Jabbar foi descrito como um veterano do exército dos Estados Unidos, que estudou tecnologias de informação e que tinha um trabalho estável, na consultora Deloitte. A empresa confirmou que Jabbar era um funcionário da consultora desde 2021. “Estamos chocados com os relatos sobre o indivíduo identificado como suspeito ter qualquer associação à nossa empresa”, disse um porta-voz à ABC News. “Como toda a gente, estamos ultrajados por este ato de violência sem sentido e estamos a fazer de tudo para ajudar as autoridades na investigação.”

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Jabbar nasceu numa família cristã, mas há vários anos que se tinha convertido ao Islamismo, segundo o irmão mais novo, Abdur Jabbar, de 24 anos. “Do que eu sei, ele foi muçulmano a maior parte da sua vida. O que ele fez não representa o Islão. Isto é mais um tipo de radicalização, não de religião”, declarou ao NYT.

Sham, como era conhecido pelos amigos, era “pacato, reservado e mesmo, mesmo inteligente”, notou Chris Pousson, um veterano da Força Aérea, que estudou com o norte-americano no liceu. Pousson relatou que Jabbar ingressou no exército em 2007, à procura de alguma “disciplina” na vida. Começou pela área dos recursos humanos e depois transitou para as tecnologias de informação. Saiu do exército em 2020.

Esteve destacado no Afeganistão entre 2009 e 2010

O suspeito do ataque esteve destacado no Afeganistão, de fevereiro de 2009 a janeiro de 2010. Antes de entrar para o exército, serviu durante um mês na Marinha dos EUA.

Após a saída da vida militar, em julho de 2020, trabalhou durante algum tempo como agente imobiliário. Jabbar terá ficado com dívidas de 28 mil dólares por tentar criar uma empresa de imobiliário, a Bluew Meadow Properties.

Há cerca de um ano, Jabbar mudou-se para uma unidade num parque de caravanas predominantemente muçulmano, no norte de Houston, no Texas. Segundo o New York Post, o homem mudou-se para o local devido à situação financeira débil, com pelo menos 16 mil dólares em dívidas de cartão de crédito, referiu o NYT. 

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Jabbar foi casado duas vezes — o primeiro casamento, do qual nasceram duas filhas de 15 e 20 anos, terminou em 2012, com um processo para o pagamento de pensão de alimentos. O segundo divórcio aconteceu em 2022, com a CNN a citar documentos em que a ex-mulher disse que o casamento chegou ao fim “por discórdia insuportável ou um conflito de personalidades”. Tinha um filho de seis anos dessa relação.

A descrição feita ao NYT era a de um homem que ficava maioritariamente em casa. O irmão mais novo de Jabbar afirmou que nunca mencionou quaisquer planos para ir até Nova Orleães, a cerca de 560 quilómetros de distância do local de residência.

Comportamento errático e vídeos sobre radicalização

Nos últimos tempos quem estava mais próximo de Jabbar apercebeu-se, no entanto, de algumas mudanças. A primeira ex-mulher, Nakedra Charrlle Marsh, proibiu as filhas de ver o pai devido ao comportamento “errático” que apresentava.

Numa conta de X, agora apagada, o NYT descobriu tweets de 2021 em que o homem também expressou um interesse por armas de fogo.

À CNN, um vizinho do atacante, Mumtaz Bashir, disse que viu Jabbar a carregar a carrinha com “coisas leves” na manhã de terça-feira. Depois de lhe ter oferecido ajuda — que Jabbar não quis — e perguntado qual a razão da viagem, o atacante disse-lhe que iria mudar-se para o Louisina por causa de um trabalho novo, “relacionado com tecnologia”.

Bashir acrescentou que Jabbar era uma pessoa reservada e “simpática”, mas que convivia pouco com quem o rodeava e que nunca o tinha visto na mesquita mais próxima — tendo Jabbar explicado que rezava em casa.

O FBI confirmou a existência de uma série de vídeos de Jabbar, que terão sido gravados e publicados nas redes sociais durante a deslocação entre o Texas e o Louisiana. Nas imagens, reveladas à CNN por fontes ligadas à investigação, o homem mencionou o divórcio e afirmou que começou por ter planos para matar os familiares e amigos.

Terá inclusivamente referido uma “celebração” para juntar o maior número de familiares e matá-los, segundo contaram duas fontes à CNN. Jabbar terá dito nos vídeos que mudou de planos e que se juntou ao Estado Islâmico: segundo o FBI, acreditava que se optasse por matar amigos e familiares não ficaria clara a referência que queria fazer à “guerra entre crentes e não crentes”. O homem mencionou “vários sonhos” que o terão levado a juntar-se ao grupo terrorista, e deixou claro que já tinha um testamento preparado.