Uma queixa, subscrita por dezenas de personalidades, sobre a atuação da PSP no Martim Moniz (Lisboa) durante uma operação realizada em 19 de dezembro de 2024 foi entregue esta segunda-feira à provedora de Justiça.
Em declarações aos jornalistas no local, Filipa Bolotinha, responsável pela Associação Renovar a Mouraria espera que “este assunto não seja esquecido à velocidade do próximo furo mediático”. “A rua do Benformoso é uma rua de pessoas reais que vivem e trabalham lá e não foi só no dia 19 de dezembro que houve uma ação discriminatória e um atentado à sua dignidade e ao seu bem-estar”, garante.
A entrega da queixa estava marcada para as 10h00 e os promotores pedem à provedora de Justiça, Maria Lúcia Amaral, para averiguar e apurar a legitimidade e proporcionalidade da atuação policial na Rua do Benformoso.
A responsável da associação entende que “não podemos ter num dia os telejornais a dizer que Portugal precisa de 130 mil trabalhadores imigrantes e no dia a seguir um discurso e ações que inevitavelmente associam a imigração à insegurança, o que é falso”.
No texto da queixa, os promotores lembram que a operação incluiu a revista de dezenas de cidadãos encostados à parede, “perfilados e de mãos levantadas, sem qualquer indicação de suspeita de prática de crimes”.
[Já saiu o quarto episódio de “A Caça ao Estripador de Lisboa”, o novo Podcast Plus do Observador que conta a conturbada investigação ao assassino em série que há 30 anos aterrorizou o país e desafiou a PJ. Uma história de pistas falsas, escutas surpreendentes e armadilhas perigosas. Pode ouvir aqui, no Observador, e também na Apple Podcasts, no Spotify e no Youtube. E pode ouvir aqui o primeiro episódio, aqui o segundo e aqui o terceiro episódio]
“Tal atuação configura, a nosso ver, uma utilização de meios desproporcionais em relação aos fins anunciados: A forma como a operação foi conduzida fere o princípio da proporcionalidade previsto no artigo 18.º da Constituição da República Portuguesa e também os direitos fundamentais à dignidade da pessoa humana e à presunção de inocência”, consideram.
O texto defende que o que aconteceu no dia 19 de dezembro foi uma “atuação desnecessária e humilhante” por parte da PSP e que “a justificar-se uma intervenção na zona, esta nunca pode implicar uma atuação simbólica e individualmente vexante, quando a PSP tem ao seu dispor outros meios de atuação proporcionais e adequados”.
Entre os subscritores da queixa estão a deputada Joana Mortágua (BE), a deputada e ex-ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social Ana Mendes Godinho (PS), o encenador Tiago Rodrigues, o deputado e sociólogo historiador José Soeiro (BE), a promotora musical Maria Escaja e a líder parlamentar do Livre, Isabel Mendes Lopes.
Além da entrega da queixa, está também agendada uma manifestação para dia 11 de janeiro, que descerá a Avenida Almirante Reis, em direção ao Martim Moniz, em Lisboa.