Estádio do Dragão, auditório José Maria Pedroto, uma primeira celebração de José Maria Pedroto na semana que marcará as quatro décadas sem um mítico Zé do Boné, a pessoa que inspirou aquilo que é o FC Porto que tem como casa o Estádio do Dragão. Na véspera dos 40 anos do desaparecimento do antigo técnico dos azuis e brancos, o clube apresentava em antestreia o documentário “José Maria Pedroto – Um Homem Superior”, um trabalho que conta a vida como jogador e treinador da antiga figura que marcou um período do futebol nacional e incutiu muito daquilo que é hoje o ADN FC Porto. O documentário vai ser exibido esta quarta-feira no Porto Canal (22h) mas, antes, várias personalidades incluindo família, amigos próximos e glórias dos dragões estiveram juntas para uma espécie de evocação de Pedroto… sem Pinto da Costa.
A ligação entre o antigo presidente e o técnico foi sempre estreita, muito próxima e deixou as sementes para a revolução do FC Porto em termos nacionais e europeus. Praticamente não existia uma comemoração em que o nome de Pedroto não fosse referido por Pinto da Costa como exemplo, algo que ganhou um redobrado peso durante as sete épocas de Sérgio Conceição no comando dos azuis e brancos. No entanto, os últimos anos vieram esfriar e muito as relações entre o ex-líder e a família do Zé do Boné, numa cisão que conheceu o seu período mais extremado durante a campanha eleitoral de 2024 quando a viúva de Pedroto marcou presença na apresentação da candidatura de André Villas-Boas e o filho Rui aceitou o convite para integrar os órgãos sociais que iam a sufrágio, neste caso na Direção como responsável da Fundação FC Porto.
Para a história ficou uma ligação a alguém que diziam ser uma espécie de “alma gémea” de Pinto da Costa na forma de pensar o FC Porto, não apenas nas conquistas desportivas mas também como bastião contra aquilo que era considerado como o centralismo que tentava reduzir o panorama nacionais aos dois clubes grandes de Lisboa. Pedroto, o primeiro treinador com curso superior em Portugal, ganhou dois Campeonatos, três Taças de Portugal e uma Supertaça com o antigo líder até ter de abdicar dos bancos por uma doença que então só era conhecida pelo médico, pela mulher e por Pinto da Costa, sendo que antes conquistara dois Campeonatos e duas Taças de Portugal como jogador depois das passagens por Leixões (onde fez a formação), Lusitano de Vila Real de Santo António e Belenenses. Como técnico orientou Académica, Leixões, Varzim, V. Setúbal, Boavista, V. Guimarães e Seleção entre duas passagens pelo comando do FC Porto
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“Sérgio Conceição e Pedroto? Acho que são os que têm características mais parecidas mesmo sendo diferentes. Um e outro viviam ou vivem o futebol 24 horas por dia. Eu cheguei a fazer férias no Algarve e, certa vez, fomos pescar para o mar e passámos a vida a fazer contas àquilo de que precisávamos e àquilo de que não precisávamos. No fim, a dona Cecília dizia: ‘Vocês só pensam no futebol, vocês sonham com o futebol!’. E nós respondemos: ‘Não, nós não sonhamos com o futebol, nós queremos é ganhar! E para ganhar, não podemos adormecer’”, contou Pinto da Costa por altura do 40.º aniversário na liderança.
“Ser do FC Porto é uma elevação que nos distingue. Gostava de citar uma frase de José Maria Pedroto: ‘As vitórias de um clube dependem sobretudo da capacidade de construir uma estrutura ganhadora, da capacidade e competência de construir ou manter essa estrutura ganhadora. E, existindo necessidade disso, não ter receio de reconstruir ou deixar que outros com uma visão de futuro assumam esse papel. A história não é benevolente com quem não reconhece a sua evolução e se mantém refém do passado’. Esta frase de 1979 plena de sabedoria parece mais atual do que nunca. Sim, somos eternamente gratos e estaremos para sempre gratos a Jorge Nuno Pinto da Costa. Será para sempre o presidente dos presidentes do FC Porto mas é tempo de mudança, de se lançar para uma nova fase da sua vida”, destacou Villas-Boas na parte inicial do discurso na Alfândega do Porto onde apresentou oficialmente a sua candidatura às eleições.
“É um prazer enorme para mim estar aqui, ver tantas pessoas que estão ligadas ao FC Porto e à sua história, pessoas que contribuíram também com José Maria Pedroto para o seu sucesso e para o sucesso do clube. Eu estava ali sentado com o Rui, olhava para aquelas notas do seu pai, e há ali duas que me chamaram a atenção. Uma delas é amar o futebol e a segunda é um jogo superior que se assemelha à arte. Acho que estas duas frases transmitem na perfeição o que era o seu pai, o seu amor pelo jogo, pelo desporto, os valores que nos deixou, valores que transcendem o tempo, que marcam a história do FC Porto. Gostava de começar com essa nota. Temos todos saudades do seu pai, o seu legado é eterno, do seu marido Cecília, do seu pai Isabel, o seu irmão que não está aqui”, começou por referir Villas-Boas na cerimónia, citado pelo O Jogo.
Antestreia de “José Maria Pedroto- Um Homem Superior”: A vida do Mestre em documentário ????
Estreia quarta-feira, às 22h ???? Porto Canal, App FC Porto e FC Porto TV pic.twitter.com/RTOTWbDnyZ
— FC Porto (@FCPorto) January 6, 2025
“O mestre não foi apenas um treinador inovador mas um líder visionário que marcou e continua a marcar profundamente a identidade portista. José Maria Pedroto não é uma figura do passado, ele continua a ser uma fonte de inspiração para o clube e para os seus sócios e adeptos. Tal como o seu FC Porto, José Maria Pedroto é maior que a vida e vive omnipresente através do legado que nos deixou. Amante do desporto, nele ouviu um campo não apenas de competição, mas de formação e de realização humana. É essa crença que entregou a sua vida, estudando-a, pensando-a, partilhando-a com os seus, colocando-a ao serviço da sua comunidade, transformando-a numa causa maior. Apaixonado pelo FC Porto, nele se embrenhou, defendeu-o, pensou-o com as suas gentes e tudo fez para dar vida, com mais sentido e fulgor, aos valores e princípios que o regem. Para ele não bastava ser do FC Porto, cada um de nós tinha de ser Porto”, destacou.
“Era um atleta completo, criativo, combinando qualidades defensivas e ofensivas com uma visão de jogo apurada e liderança dentro do campo. Um organizador nato, dono de uma superior visão estratégica e capaz de mobilizar os seus colegas. Foi uma personalidade única, que reuniu em si a capacidade de ser pensador, comunicador e obreiro. Os aforismos que dele brotavam naturalmente eram ditos olhos nos olhos, de forma franca, em salões ou em ruas, em tertúlias ou conferências, em conversas ou entrevistas. As suas palavras marcavam, transformavam e ganhavam vida ao domingo nos pés de Pavão, Oliveira, Gomes e de tantos outros que aprenderam a ouvir Pedroto. Tinha arte pelo poder da palavra e transformava essa essência em vitórias. Era um de nós. Nunca deixou de ser um de nós. Era a melhor versão de nós”, concluiu.
Documentário “José Maria Pedroto- Um Homem Superior” ????
???? 40 anos depois do seu desaparecimento, é legítimo dizer que para o futebol, e especialmente para o FC Porto, a época de Pedroto nunca acabou
Estreia 4ª feira⌚ 22h ???? Porto Canal, App FC Porto e FC Porto TV
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