“Os Presidentes da República (e candidatos) dizem defender todos os portugueses mas, paradoxalmente, nenhum se insurgiu” nos últimos anos, quando “se atacou o direito à greve dos profissionais da Educação, Enfermeiros, Estivadores, Motoristas”, nem quando o “acesso à saúde, transportes, justiça, cultura e habitação de qualidade” se tornaram exclusivos de “quem consegue pagar”. André Pestana quer ir a votos nas próximas presidenciais e, além de uma carta de intenções, também já tem um site de candidatura, que tornou público esta quarta-feira.
O objetivo do professor e coordenador do Sindicato de Todos Os Professores (STOP) é dar-se a conhecer (assim como ao seu projeto) e criar uma plataforma que lhe permita juntar as 9 mil assinaturas requeridas por lei para legalizar a sua candidatura à Presidência da República.
Pestana diz apresentar-se a votos para “defender a escola e saúde pública”, para garantir o direito à greve e manifestação, “lutar contra os baixos salários e pensões” e também a “precariedade, racismo e machismo”, protegendo os direitos da comunidade LGBT. Decidiu também candidatar-se, diz ainda, para lutar por um “planeta ecologicamente sustentável”, diminuindo a diferença entre “os muito ricos e muito pobres”. Para o líder sindical, “tudo é política” — não só a Educação, a sua área de partida —, e é por isso que no dia 21 de dezembro apresentou a sua candidatura à Presidência da República.
Parte da longa carta que publica no site já fazia parte do texto que André Pestana enviou aos sócios do STOP, quando anunciou que tinha sido avançar com a candidatura a Belém.
Na plataforma onde se dá a conhecer, o líder sindical pede “mais ideias e contributos” daqueles que o apoiam, deixando claro que recolher as 9 mil assinaturas para legalizar a sua candidatura é uma missão de todos. Para tal, é disponibilizado um email onde qualquer cidadão pode pedir folhas de assinatura, de forma a poder contribuir para esta demanda.
Apesar de a sua candidatura ter sido apresentada recentemente, André Pestana já vai reunindo alguns apoios. Um deles é José Augusto Ferreira da Silva, antigo vereador da Câmara Municipal de Coimbra (cidade onde o professor de Biologia estudou e começou a descobrir a política e o sindicalismo). O antigo vereador foi candidato pelo Movimento Cidadãos por Coimbra, ainda que André Pestana faça questão de ir sublinhando a ideia de que a sua candidatura se define como apartidária.
[Já saiu o quarto episódio de “A Caça ao Estripador de Lisboa”, o novo Podcast Plus do Observador que conta a conturbada investigação ao assassino em série que há 30 anos aterrorizou o país e desafiou a PJ. Uma história de pistas falsas, escutas surpreendentes e armadilhas perigosas. Pode ouvir aqui, no Observador, e também na Apple Podcasts, no Spotify e no Youtube. E pode ouvir aqui o primeiro episódio, aqui o segundo e aqui o terceiro episódio]
Os 50 nomes que lançaram o desafio. Um quinto, dirigentes do STOP
No site, ao longo do desenrolar da candidatura, serão divulgados outros apoiantes. Esta quarta-feira à noite, quando o Observador consultou a lista, juntavam-se ao vereador José Augusto da Silva apenas os 50 “ativistas sociais” que incentivaram o sindicalista a candidatar-se a Belém.
Nessa mesma lista, encontra-se apoiantes de várias áreas sociais: da Banca aos CTT, passando pela Saúde, Transportes e Resíduos Urbanos. Tendo em conta apenas os nomes da área da Educação, é possível encontrar pelo menos oito professores sindicalizados no STOP e pertencentes à direção: Ana Bau (tesoureira), Daniel Martins (secretário), Ana Rita Batista, Ana Rita Machado, Isabel Correia, Isabel Pessoa e João Rodrigues (vogais) e Lucelinda Machado (suplente). Contudo, ao Observador, esta última garante que o seu apoio é a André Pestana e não ao coordenador do sindicato, assegurando que acredita nas capacidades e versatilidade do professor de Biologia.
No Manifesto assinado por estes 50 ativistas lê-se que as “pessoas não querem mais do mesmo nem aprofundar injustiças e opressões”. E é lançada a crítica a Marcelo: “Durante o mandato do atual Presidente Marcelo Rebelo de Sousa ocorreram os maiores ataques ao direito à greve dos Profissionais da Educação, dos Motoristas de Matérias Perigosas, dos Estivadores de Lisboa e Setúbal, dos Enfermeiros, etc. Nem o Presidente da República (que no seu ato de posse jurou ‘defender, cumprir e fazer cumprir a Constituição da República Portuguesa’), nem nenhum partido com assento parlamentar, se insurgiu contra esses graves ataques a quem trabalha.”
Esta meia centena de apoiantes critica ainda a incapacidade da esquerda parlamentar de “apresentar uma alternativa de mudança ao estar prisioneira de acordos e estratégias de unidade com a chamada ‘esquerda governativa'” e também o crescimento da extrema-direita à boleia da “justa contestação popular” que se tem visto no país.