Em vésperas da discussão e votação da cada vez mais provável aprovação de ataques aéreos britânicos ao auto-proclamado Estado Islâmico, o governo britânico divulgou uma moção de 12 pontos que devem reger essa intervenção militar.

No texto original, o conselho de ministros britânico, liderado pelo primeiro-ministro David Cameron, é evocada a resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas que classificou o Estado Islâmico como “uma ameaça sem precedentes para a paz e segurança internacional”. Além disso, é deixada a promessa de que a “ação militar contra o Estado Islâmico é apenas um componente de uma estratégia ampla para trazer paz e estabilidade à Síria” e também a garantia de que “o governo britânico não vai destacar tropas para combates no terreno”.

Depois da reunião do conselho de ministros, que durou uma hora, David Cameron tornou a deixar garantias quanto ao documento que amanhã será votado na Câmara dos Comuns: “A moção fala da necessidade de uma ação militar contra o Estado Islâmico na Síria e no Iraque, sim, mas é parte de uma estratégia mais ampla. É sobre política, diplomacia e ajuda humanitária, [vertentes] que temos de reforçar para trazer a paz à Síria e para garantirmos que protegemos o nosso interesse nacional,que é o de lutar contra esta organização terrorista repugnante“.

Para já, tudo indica que a moção será aprovada, sendo para isso necessários 326 votos a favor. No Partido Conservador, de David Cameron, a grande maioria dos deputados deverão votar ao lado do governo. No entanto, e mesmo com a disciplina de voto a ser ativada para esta questão, o The Guardian prevê que pelo menos 15 deputados conservadores vão votar contra.

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Mesmo assim, não será por isso que a moção de apoio aos ataques aéreos ao Estado Islâmico não deverá ser aprovada. Isto por causa dos votos que vão surgir dos outros partidos, nomeadamente da maior força da oposição, o Partido Trabalhista. A previsão parte do próprio líder do Labour, Jeremy Corbyn, que numa entrevista na segunda-feira à noite previu que 43% dos deputados trabalhistas (aproximadamente 100) estariam próximos de votar a favor dos ataques aéreos na Síria e no Iraque.

Trabalhistas que votarem a favor ficam sem “esconderijo”

Esta questão tem dividido o partido liderado por Corbyn, que é secretário-geral dos trabalhistas desde que venceu as eleições primárias em setembro deste ano. Tem sido, na verdade, o primeiro grande desafio ao recém-eleito líder, que encontra oposição dentro do seu próprio governo-sombra. Hilary Benn, o ministro-sombra dos Negócios Estrangeiros, tem sido a voz que mais se tem levantado dentro do Labour a favor da entrada do Reino Unido na coligação.

Tanto que foi de Benn que Corbyn falou numa entrevista a uma rádio da BBC, quando quis argumentar mais uma vez contra o início dos ataques aéreos britânicos: “A crença dele é a de que nos conseguiremos livrar do Estado Islâmico através de bombardeamentos. A resposta que eu lhe dou e a todos os que apoiam os bombardeamentos é: quando se bombardeia uma cidade como Raqqa [a principal cidade do Estado Islâmico, no Este da Síria] — onde vivem várias centenas de milhares de pessoas, que podem querer ou não viver lá, que podem querer ou não estar debaixo do controlo do Estado Islâmico, e muitos estão a tentar fugir de lá — vamos matar pessoas. Vamos matar pessoas nas suas casas com as nossas bombas. Eu acho que devemos ser muito cautelosos com isso”.

Na segunda-feira Corbyn anunciou que não vai impor disciplina de voto aos deputados trabalhistas, mas na mesma entrevista fez questão de dizer que “não há esconderijo” para os deputados que decidirem votar a favor.