A Hungria realiza este domingo um referendo sobre o sistema europeu de recolocação de refugiados, com o Governo do populista de Viktor Órban ativamente envolvido numa campanha de desafio à União Europeia e repudio aos refugiados.

Segundo as sondagens, a maioria dos 8,3 milhões de eleitores deve responder “não” à pergunta “A Europa deve ditar a instalação obrigatória de cidadãos não-húngaros na Hungria mesmo sem acordo da Assembleia Nacional?”. Para que o resultado seja válido, a taxa de participação tem de atingir os 50% mais um, o que não parece assegurado, com apenas 42% de eleitores a dizerem-se certos de que irão votar.

A campanha do Governo, considerada “tóxica” pela Amnistia Internacional, assentou em mensagens alertando para “o perigo” que representam “milhões de refugiados” desejosos de ir para a Hungria e associando diretamente refugiados e terrorismo islâmico.

A oposição socialista pediu um boicote, argumentando que “uma pergunta estúpida” só pode ter “uma resposta estúpida”, e a formação de protesto satírica “Partido do Cão com Duas Caudas” pediu aos eleitores para votarem “sim”, mas também “não”, e fazerem “um desenho bonito” no boletim, invalidando o voto.

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Até à data, a Hungria não apresentou qualquer plano para acolher refugiados e considera-se afastada de todas as obrigações nesse sentido, caso o referendo confirme as posições de Victor Orban. A Comissão Europeia lembrou, no entanto, esta semana, que o referendo não terá qualquer impacto jurídico nos compromissos assumidos.

Schulz alerta para “jogo perigoso” da Hungria

O presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, alertou para o “jogo perigoso” da Hungria. “A Hungria só vai acolher, segundo as quotas de refugiados, cerca de 2 mil. Organizar um referendo sobre isso é um jogo perigoso”, disse num artigo publicado este domingo pelo grupo de media alemão Funke.

Segundo o presidente do Parlamento Europeu, o primeiro-ministro húngaro, Victor Orban, está a brincar com “um princípio fundamental da União Europeia, põe em causa a legitimidade da legislação europeia, para a qual a Hungria contribuiu”. O dirigente social-democrata alemão apelou aos dirigentes dos outros estados-membros da União Europeia para que digam ao chefe do Governo húngaro que “a solidariedade não tem um sentido único”.