Há quem vá ao Coreto, no NOS Alive, porque quer ver uma banda ou um artista em concreto, mas é provável que a maioria dos que por lá param o façam por curiosidade. No fim dos concertos é costume estar uma multidão à volta do mais pequeno dos palcos do festival, que é também o que mais surpresas pode guardar. Era difícil ter um palco mais distante do caminho que fazem muitos dos milhares que visitam o Passeio Marítimo de Algés por estes dias, mas é por ali que a maioria das danças menos óbvias acontece (e às vezes as mais contagiantes). Este ano, a aposta no Coreto é ainda maior. A agência Arruada assumiu a tarefa de programar os três dias. Quisemos saber o que vale este palco, o que o transforma num desafio e o que dali pode sair. Palavra de Pedro Trigueiro, um dos culpados disto tudo.
O site The Line of The Best Fit escolheu 10 projetos portugueses para ver no NOS Alive. Metade deles, estão no Coreto Arruada. Qual a razão?
Definir música portuguesa é vago, mas se pensarmos em tipo de música que surge de Portugal como tendo características muito específicas, então conseguimos encontrar um ADN muito definido. Exemplo disso é o caso do trabalho que a Enchufada tem feito nesta última década. E essa consistência destaca-se pela originalidade e pertinência. Outro exemplo é a Mai Kino, que teve a estreia no EP no Pigeons & Planes. Alguma coisa tem de especial, certamente. O Filho da Mãe não tem língua. Tanto é percetível por um japonês como por um alemão que ouve uma composição dele num disco da Cristina Branco. O que tem de se fazer é dar luz nestes trabalhos.
É importante o trabalho de curadoria em festivais desta dimensão?
Absolutamente pertinente criar satélites e tubos de ensaio para as edições de 2018, 2019, 2020, etc.. Scúru Fitchádu atua no dia 8 no Coreto, mas o caminho do projeto há-de ser o de uma festa de arromba no palco Clubbing em 2018, e quiçá um palco maior em 2020. As curadorias servem para conectar trabalho de artistas, agências, personalidades e apresentar o crédito dessas figuras com uma escolha criteriosa de música que as pessoas não devem perder do seu radar.
Que critérios são esses? Pessoais ou de outra dimensão?
Recorro a um exemplo que nos é próximo na Arruada: o Branko. Desde a existência de Buraka Som Sistema que o Branko sempre teve esse cuidado de trabalhar curadorias, fosse em festivais como o Sonar (Barcelona), no Dour (Bélgica) e em Portugal, com o NOS Alive, mas também festivais como o Bons Sons (Cem Soldos), Lisboa Dance Festival ou o Vodafone Paredes de Coura. Inclusivamente, os radio shows que já teve na BBC Radio 1 e agora na NTS (UK), em que tem o programa “Enchufada Na Zona”, também estes contribuem para fundamentar critérios. Essas curadorias servem para apresentar e espalhar uma mensagem, uma música, uma ideia. Parece-me que ele não se saiu mal.
O que é possível destacar nos 3 dias entre 15 artistas?
Tudo, seria genial. Não sendo possível, é convidar as pessoas para se organizarem no dia 6 a passar pelo Coreto e perceberem o que é isso do “som de Lisboa”, feito por alguém que o trabalha detalhadamente há mais de 10 anos (Enchufada). No dia 7 há imenso talento de vários quadrantes, da Fábia Maia, que conhecemos através de versões ultra-emotivas de originais do Regula, até ao reconhecimento que a Mai Kino tem tido. No último dia, além dos referidos Scúru Fitchádu e Filho da Mãe, há música indie para consumir.
Há continuidade preparada para 2018?
Como diria o Sven Goran Eriksson nos seus primeiros anos de Benfica, com uns Vs trocados por Fs: “Famos Fer”.