A conclusão com sucesso das negociações entre o Irão e as seis potências mundiais sobre o programa nuclear do regime de Teerão podem estar em risco devido à incerteza em torno da posição do líder supremo, o Ayatollah Ali Khamenei, que pode não assinar as concessões necessárias exigidas pelas potências mundiais para se conseguir um acordo, noticia o Wall Street Journal.

Chegam hoje ao fim 18 meses de negociações entre os dois blocos. O Irão quer que as sanções económicas que o ocidente lhe impôs sejam removidas, insistindo que o seu programa nuclear é pacífico. As seis potências do outro lado da mesa – Estados Unidos, Reino Unido, França, Alemanha, China e Rússia – querem garantir um controlo apertado do programa nuclear iraniano e aumentar o período mínimo que em teoria levaria ao Irão para conseguir construir armamento nuclear de dois meses para um ano.

As negociações nunca foram fáceis e os prazos já foram alargados por duas vezes, mas desta vez o Irão já garantiu que não aceitará mais extensões. Mas nesta altura há um grande senão em cima da mesa e chama-se Ali Khamenei.

O líder supremo do Irão pode estar a influenciar o curso das negociações e a impor uma posição intransigente aos negociadores que se encontram em Lausana, na Suíça, segundo alguns dos envolvidos nas negociações, citados pelo Wall Street Journal.

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O ayatollah terá limitado a margem de manobra aos negociadores para negociar os pontos sensíveis que ainda estão em cima da mesa, como a capacidade dos reatores, assim como o tempo que o Irão abdica de desenvolver um programa nuclear para fins militares, o acesso dos inspetores internacionais às centrais nucleares e o ritmo a acordar para que as sanções sejam removidas.

Uma das exigências que tem sido feita publicamente por Ali Khamenei é a retirada das sanções imediatamente mal qualquer acordo ser alcançado, algo rejeitado pelas seis potências, que querem uma retirada faseada, também para começarem a ver os progressos antes de abdicarem do maior trunfo que têm nesta altura sobre o regime de Teerão. Ou seja, à medida que Teerão for cumprindo, as sanções vão sendo removidas.

“Isto vem do líder supremo… por isso está a vir do topo do sistema deles”, disse um responsável europeu, citado pelo jornal, adiantando que esta posição “está a colocar uma grande pressão sobre [o ministro dos Negócios Estrangeiros Javad] Zarif e a sua delegação”.

Javad Zarif nega qualquer divisão na liderança iraniana sobre a condução das negociações e diz que é o outro lado da mesa (o das seis potências) que tem de se unificar e encontrar a vontade política para fechar o acordo.

O secretário de Estado norte-americano, John Kerry, responsável máximo pela diplomacia externa dos EUA, liderou as negociações desta segunda-feira com Javad Zarif, o quinto dia consecutivo de negociações com a delegação iraniana, juntamente com os ministros dos Negócios Estrangeiros da Rússia, China, França, Reino Unido, Alemanha e a alta representante para a política externa da União Europeia, Federica Mogherini.

John Kerry, citado pela CNN, disse na noite de segunda-feira, durante uma pausa nas negociações, que ainda há questões delicadas para resolver, mas que já via “mais alguma luz”.

Mesmo que se consiga chegar a um acordo na Suíça, este será apenas um primeiro passo e um enquadramento para o desenvolvimento de trabalhos técnicos. Antes de junho nunca haveria qualquer acordo preto no branco, segundo a administração norte-americana.

Mudanças de última hora nas cedências que cada parte está disposta a fazer também estão a causar alguma consternação. Na noite de domingo foi a vez de o Irão dizer que não aceitava que uma boa parte do seu stock de urânio enriquecido fosse enviado para a Rússia para ser transformado em combustível apenas passível de ser usado no único reator nuclear comercial do Irão.