A polémica não é nova, mas a criação de emprego financiada pelo Estado voltou ao debate na audição parlamentar do ministro da Economia, Pires de Lima, que se está a realizar esta quarta-feira.

A deputada do Bloco de Esquerda voltou a denunciar a relação entre os estágios pagos e a redução do desemprego, concluindo que o mercado do trabalho está a evoluir de forma artificial. Mariana Mortágua realça ainda a relação entre o final dos estágios financiados pelo Estado e o sobe e desce das estatísticas do desemprego.

Pires de Lima diz-se verdadeiramente espantado com a identificação entre estágios e emprego artificial. Refere mesmo que é uma “tese revolucionária” que ilustra as diferentes visões (do governo e do Bloco) sobre o emprego. “Para si, o emprego real é numa empresa pública, mesmo quando esse emprego não é necessário e acha que um estágio que dá oportunidade aos jovens para entrar no mercado de trabalho é artificial.”

A resposta não tardou e com números. “70 mil pessoas desempregadas a desempenhar funções permanentes no Estado, para o qual são necessários, é sim redução artificial do desemprego. Está a pegar em desempregados a retirá-los das estatísticas. 65 mil pessoas a fazer estágios em empresas financiados pelo Estado é criação artificial de emprego. São desempregados que saem das estatísticas, mas não são empregados. Prove que 80% ficam no mercado de trabalho”, desafiou a deputada do Bloco.

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Afinal é 70%, corrige Pires de Lima, a taxa de jovens que fica no mercado de trabalho depois dos estágios do IEFP, destes 30% ficam nas empresas que lhes deram o estágio.

Apesar de sublinhar as melhorias ao nível do investimento e da criação de empresas e emprego, o ministro admite que o desemprego ainda é demasiado alto (da ordem dos 13%), prometendo não descansar enquanto a taxa não for reduzida para, pelo menos, um dígito (menos de 10%). “Falei na boa onda do empreendedorismo, não falei do país das maravilhas. Estamos no bom caminho para superar as dificuldades, mas estamos a trabalhar com um nível de desemprego alto”.

“Vai ter de puxar mais pela cabeça para me confundir”

Mariana Mortágua citou ainda dados sobre a criação de empresas, que é mais expressiva em setores não transacionáveis (imobiliário, comércio e serviços), para questionar o modelo de desenvolvimento seguido pelo governo “que não difere assim tanto do de Sócrates”

Depois de uma troca de argumentos sobre as datas dos inquéritos do INE com as perspetivas de evolução do investimento para 2015, Pires de Lima reconhece que Mariana Mortágua “é uma deputada muito inteligente e hábil, mas vai ter de puxar mais pela cabeça para me confundir”Garante que a balança comercial portuguesa é positiva e revela dados que apontam para a revisão em alta do investimento, salientando novamente o maior investimento estrangeiro e em alguns setores produtivos. A deputada contrapõe que as perspetivas mais negativas para o investimento verificam-se nos setores da indústria transformadora e exportações.

“Muito mais importante do que os inquéritos é a realidade e convido-a a aceitar a realidade”, responde o ministro que repete que o investimento (formação bruta de capital fixo) cresceu mais de 8% no primeiro trimestre. “Sou o ministro da economia real e não dos inquéritos”.

Sobre as privatizações e venda de empresas estratégicas a investidores internacionais, tema colocado pelo deputado socialista Paulo Campos, Pires de Lima assegura: “sinto me bem quando o capital estrangeiro escolhe Portugal para os seus investimentos. Espero que esse capital estrangeiro não seja beduíno (de passagem), – a expressão tinha sido usada pelo deputado comunista Bruno Dias – mas de longo prazo”.

Sobre a auditoria do Tribunal de Contas que aponta para a não salvaguarda dos interesses estratégicos nas vendas da EDP e a da REN, o ministro recorda que estas empresas começaram a ser vendidas pelos governos do PS. E acrescenta que o “saldo estratégico das privatizações só o tempo vai permitir analisar. O saldo financeiro é claramente positivo”.

A última audição a Pires de Lima nesta legislatura termina, mais de seis horas depois de ter começado.