“Políticos como ele, toda a gente os quer de volta.” A vontade de um regresso de Rui Tavares aos corredores do Parlamento Europeu é partilhada por vários dirigentes dos Verdes Europeus. Entre eles está Philippe Lamberts, co-presidente da família partidária europeia à qual o Livre se juntou como membro efetivo em junho de 2023. O eurodeputado belga descreve o porta-voz do partido português como “consensual” dentro da aliança política europeia e admite que a conquista recente, após quadruplicar a representação parlamentar em Portugal, é “refrescante” e um sucesso do antigo eurodeputado independente.

Vula Tsetsi, secretária-geral do grupo dos Verdes no Parlamento Europeu e representante dos membros do Sul da Europa, confessa igualmente que seria um prazer ter Rui Tavares de volta à sede da instituição, em Estrasburgo, a partir de junho. É uma opinião que partilha como “pessoal”, mas comum às boas memórias que o historiador deixou por lá. O cenário de um regresso não foi até agora negado pelo próprio e dentro do partido há quem admita que a decisão de se candidatar, ou não, ainda não está fechada.

No debate das Rádios, no primeiro dia da campanha eleitoral, o porta-voz do Livre foi confrontado com esta possibilidade, mas não desfez o tabu. “Creio que no dia 11 [de março] vamos ver o cenário que temos em cima da mesa e, portanto, não faz sentido falar do cenário das europeias agora”, respondeu. Tavares recordou que o partido adiou as eleições primárias para abril/maio, lembrando que é o único a decidir a ordenação das listas através de um ato democrático interno, ficando a sua candidatura dependente da disponibilidade interna que apresente.

“Neste momento estamos a batalhar para ajudar a esquerda a ganhar as eleições e ter uma maioria na qual o Livre participe”, respondeu a 26 de fevereiro. A maioria não aconteceu e, um mês depois, dentro do Livre há quem considere que o atual cenário pós-eleitoral pode deixar Tavares um passo mais próximo de uma candidatura europeia. Se tal vier a acontecer e o deputado fosse eleito, tomaria o seu lugar Patrícia Robalo, a número três por Lisboa, que tem surgido ao lado do porta-voz do partido durante e após a campanha eleitoral.

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“Coerente”, “trabalhador” e “um ativo importante”. Os elogios europeus a Tavares

Em declarações ao Observador, a partir da sede do Parlamento Europeu, em Estrasburgo, Vula Tsetsi, eurodeputada grega, elogia a capacidade de Rui Tavares em “criar maiorias” e a sua “coerência” inabalável. E não deixa de parabenizar os resultados do Livre nas Legislativas. “É fantástico o facto de ter conseguido uma estabilidade e crescimento tão grande do seu partido”, assinala.

“São muito boas notícias o facto de ser o único partido à esquerda do PS que ganhou votos num ambiente político tão polarizado e difícil”, aponta Vula, que descreve o Livre como um “partido pró europeu, social e comprometido com a justiça climática”. “Acho que isto é o reconhecimento dessa coerência, porque as pessoas precisam de políticos com esse tipo de características e Rui Tavares e o resto do partido mostrou isso mesmo ao longo dos anos”, aponta ainda. De olhos postos no futuro próximo, a representante dos membros dos Verdes Europeus do sul da Europa diz acreditar no potencial de crescimento do Livre nas europeias.

Mélanie Vogel, senadora francesa e dirigente dos Verdes Europeus, defende ao Observador que os resultados das eleições em Portugal mostram que o partido liderado por Rui Tavares “foi capaz de se desenvolver” e olha para esta conquista como um “sinal positivo” de que o partido venha a ter sucesso ao nível europeu. Ressalva que a família partidária “confia nos seus membros para fazerem as suas escolhas internas”, mas diz que o porta-voz do Livre sempre sempre foi, mesmo antes do partido se tornar um membro dos Verdes Europeus, promotor de uma “cooperação longa e estável“.

“É uma voz pró-europeia e verde que é sempre precisa no panorama do debate europeu. Qualquer que seja o papel que ele venha a ter nesta eleição, será para nós um ativo importante“, aponta Mélanie, que espera que Portugal possa eleger eurodeputados que integrem os Verdes Europeus. O PAN é, para já, apenas membro associado da família europeia. O partido “Os Verdes” é membro fundador e efetivo do grupo de partidos.

Philippe Lamberts, que divide a liderança da família europeia com Terry Reintke, recorda o passado, quando Rui Tavares ocupava o lugar de eurodeputado e falava em criar o Livre. Descreve-o como um “excelente colega, muito trabalhador e uma pessoa de convicções muito fortes”. Não tem dúvidas da sua consensualidade entre os partidos de génese ecologista e progressista e admite que “toda a gente sente a sua falta”. “Se ele voltasse seria excelente e se conseguisse trazer alguém consigo seria perfeito”, revela.

Crescimento do Chega é visto com “preocupação”

Não seria uma estreia para Rui Tavares no órgão legislativo europeu — em 2009, foi eleito deputado ao Parlamento Europeu como independente integrado nas listas do Bloco de Esquerda. Em 2011, abandonou a delegação europeia do Bloco, após entrar em rutura com Francisco Louçã.

Em junho de 2013, foi mandatado, enquanto eurodeputado, a apresentar um relatório sobre as preocupações constitucionais húngaras, facto recordado por Vula Tsetsi e pelo qual Rui Tavares é conhecido em Bruxelas e Estrasburgo. “Foi o primeiro a denunciar o que se passava na Hungria”, referiu a eurodeputada, destacando o uso que deu ao artigo 7.º — o mecanismo previsto no Tratado da UE para responsabilizar os governos cujas ações ameaçam o Estado de Direito, os Direitos Humanos, e os princípios democráticos do bloco europeu.

As mensagens de felicitação aos membros efetivos — Livre e Verdes — e para o PAN, membro associado da família política europeia, surgiram também de Terry Reintke, vice-presidente dos Verdes Europeus, no X, antigo Twitter. Parabenizou os três partidos pela “campanha de sucesso no alcance de um Portugal sustentável, democrático e social” nas recentes eleições.

A seguir à nota positiva, não deixou de fora a “mensagem clara” transmitida pelas eleições de 10 de março. “A extrema-direita não pode tornar-se kingmaker (elemento decisivo) no Governo. As forças democráticas têm de segurar um cordão sanitário”, apela. Rui Tavares continua a segurá-lo e é por causa disso que continua a insistir para que Montenegro esclareça o que incluí o “não é não” que a Aliança Democrática deu e continua a dar ao Chega.

Em declarações ao Observador, Vula Tsetsi mostra a mesma preocupação. “Isto é extremamente assustador e preocupante. Esse partido ter crescido tanto são más notícias para Portugal, mas também más notícias para a Europa”, afirma e aponta a tendência generalizada da extrema-direita aumentar em vários Estados-membros. “Precisamos todos de perceber porque é que as pessoas estão a ir nesta direção. Este é um voto de protesto? Mas, como é que conseguimos convencer este eleitores que existem alternativas e que eles não devem subestimar o resultado devastador do populismo e da extrema-direita?”, questiona.

A eurodeputada espera que as eleições europeias, marcadas para junho, não sejam prejudicadas devido aos resultados polarizados agora obtidos. “Precisamos de democratas e progressistas para conseguir fazer avançar uma agenda que é de justiça e equidade para toda a gente”, assegura, garantindo que no polo posto está a extrema-direita com “partidos que não dão soluções” e “dão apenas problemas para os cidadãos, a democracia, os direitos das mulheres e das minorias”. A parlamentar espera que a voz de “Rui e do Livre, bem como dos outros partidos parceiros, mostre que existe alternativa”.