894kWh poupados com a
i

A opção Dark Mode permite-lhe poupar até 30% de bateria.

Reduza a sua pegada ecológica.
Saiba mais

i

Jason Merritt

Jason Merritt

A adolescente, a destemida, a amante e a torturada: as eras de Taylor Swift em 11 álbuns

Sete álbuns na última década, 11 desde que começou, a artista escreve e grava a um ritmo desenfreado e procura a reinvenção na mesma medida. Dias antes dos concertos, recordamos a música.

    Índice

    Índice

Durante anos, havia quem fosse à procura de Taylor Swift pelas controvérsias e nunca ficasse pela música. Da mesma forma, apesar de ser a maior estrela pop da atualidade, também há quem pense na americana como cantora country. Não foi óbvio para Taylor descolar-se dos rótulos e passar grande parte dos seus vinte anos em constante reinvenção, sem se atropelar, avançando e refinando a escrita de canções, a voz e o gosto em arriscar.

Pode parecer impossível, dada a dimensão da empreitada, mas a Eras Tour começou em mistério. Poucos acreditavam que a cantora ia dar dezenas de espectáculos com mais de três horas cada. Não só conseguiu concretizar a tarefa como continuou a reeditar a própria discografia (as chamadas “Taylor’s Version”), estreou um filme-concerto da digressão atual e lançou um novo álbum, The Tortured Poets Department, que entra no alinhamento dos concertos, fazendo alterações numa tour que já estava planeada e ultra produzida.

A Eras Tour é uma digressão diferente das outras. Por um lado, é uma jogada artística e económica para fazer de Taylor Swift a maior artista pop da atualidade e a maior empresa do showbiz, protagonizando ao mesmo tempo um desafio para indústria. Este é um momento que define uma época: pode criar um novo padrão ou, então, ser o expoente da megalomania e forçar um reset. Não sabemos, mas há que apreciar o momento por aquilo que é — uma artista no topo das suas capacidades.

Tanto a carreira de Taylor Swift como esta digressão estão assentes nos álbuns (são eles que marcam as tais “eras”). Assim sendo, recordemo-los por ordem cronológica. Desde a ingenuidade da estreia homónima de 2006, passando pelo génio disruptivo de 1989, os dois discos lançados durante a pandemia ou o mais recente, lançado há cerca de um mês.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“Taylor Swift”

2006

Quando o álbum é editado, em outubro de 2006, Taylor Swift ainda tem dezasseis anos. Tendo em conta que já se passaram quase duas décadas, parece injusto dizer que há aqui ainda algo que persegue a cantora, mas nestas origens está o estigma de durante muito tempo ter sido visto como a típica cantora country-pop norte-americana. Cresceu fascinada com esse universo, um que requer treino e trabalho, como se fosse uma modalidade desportiva.

Taylor passou por isso, mas de forma diferente daquela que outras artistas que a antecederam desde finais da década de 1990 protagonizaram. Talvez por isso o álbum homónimo seja tão ingénuo e adolescente. Ao sê-lo, é também muito genuíno, com referências e imaginários que acabariam por marcar presença nos álbuns seguintes. Há boas canções, como o primeiro single Tim McGraw, A Place In This World ou Our Song, e não há problema em admitir que algumas envelheceram mal. Este álbum não faz parte da Eras Tour, mas a cantora tem interpretado alguns temas aqui e ali nas secção surpresa do concerto.

[Já saiu o segundo episódio de “Matar o Papa”, o novo podcast Plus do Observador que recua a 1982 para contar a história da tentativa de assassinato de João Paulo II em Fátima por um padre conservador espanhol. Ouça aqui o primeiro episódio.]

“Fearless”

2008

Ao ver a versão em filme de The Eras Tour, é evidente como as canções de Taylor Swift encaixam bem, apesar da atitude ser bastante diferente de álbum para álbum. Esta não é bem uma digressão de Greatest Hits ou uma victory p. É, isso, sim uma forma de se ligar todos estes momentos e provar que fazem sentido, que formam um imaginário evolutivo que pode ser compreendido sem ser necessário seguir exatamente uma ordem. Ao segundo álbum, Taylor escreveu uns quantos clássicos — incontornáveis são os casos de Love Story, You Belong With Me, Fearless e The Way I Loved You — e mostrou que conseguiu sair da ingenuidade do álbum homónimo.

Fê-lo ainda a escrever canções adolescentes, vigorosas e povoadas pelas fantasias norte-americanas — dos ritos de passagem aos mitos da ficção — que consegue colocar facilmente o ouvinte no lugar de protagonista — virtude, aliás, que até hoje domina.

“Speak Now”

2010

Talvez o álbum mais dúbio da carreira, Speak Now dá o salto da adolescência para a idade adulta e, com isso, as inevitáveis dores de crescimento. Por exemplo, a saída do capítulo country-pop e o virar de página para a pop acontece com canções muito cheias, assoberbadas com a própria tentativa.

Hoje torna-se fácil classificá-las como barrocas em relação à restante discografia. Speak Now é um grito, mas um que complementa e refina o passo dado em Fearless, ao invés do desejado salto para fora de pé — isso viria quatro anos mais tarde, com 1989. Ainda assim o tema homónimo é uma grande canção. Pontos extra para Enchanted, Mine, Sparks Fly, The Story Of Us ou até Dear John.

“Red”

2012

Abre com a melhor primeira canção de um álbum de Taylor Swift, State Of Grace e é o verdadeiro álbum da maioridade de Taylor Swift. Aquele em que concretiza as intenções de sair do berço onde foi criada para começar a escrever a canções mais distantes da adolescência, sem negar o que está para trás: não porque o respeitinho é bonito, mas porque Taylor gosta de manter um fio de continuidade. Além do habitual produtor Nathan Chapman, Taylor convida Max Martin, Jacknife Lee e Shellback para trabalharem algumas canções, como We Are Never Ever Getting Back Together, 22 e I Knew You Were Trouble.

A eletrónica que serviu de visita especial em Speak Now, existe aqui com um propósito e concretiza o sonho pop-rock que vinha sendo anunciado noutros temas. E, lá pelo meio, uma ótima canção criadora de mitos, de histórias e teorias da internet, All Too Well. Consta que é sobre a sua relação com Jake Gyllenhaal, mas mais importante do que isso, reza a história era para ter sido um épico de vinte minutos. No álbum original entrou uma versão de quase seis, mas quando Swift gravou a “Taylor’s Version”, incluiu como bónus uma versão de dez minutos, que é a que toca na Eras Tour.

“1989”

2014

Após anos de desgaste por ser um centro de atenções, pelo escrutínio das suas relações, pela sensação de que o talento era secundarizado face à vida privada e de que teria de ser — para os media e para a América — uma espécie de modelo exemplar que nunca quis ser, nasce 1989. Red era atrevido, mas 1989 atira-se de cabeça para a pop com muito menos vergonhas. Max Martin e Shellback escrevem e produzem a maioria dos temas com Taylor e, lá pelo meio, surge Jack Antonoff, ainda a dar os primeiros passos como o produtor que é hoje. 1989 é conhecido por uma série de canções que não param de tocar desde então, seja Blank Space, Shake It Off, Style, Bad Blood ou Out Of The Woods, mas é muito mais do que isso.

Álbum de rutura estética e conceptual, onde Taylor continua a falar dela própria, mas através de personagens que cria para encararem certos cenários. Uma fuga da realidade, onde é irónica e ataca, levando essa postura até para as entrevistas de promoção, chegando a ser demasiado teatral para si mesma nas aparições televisivas. Hoje é evidente que algo não estava bem — a própria fala disso no documentário Miss Americana — e é desse lugar que sai o seu melhor álbum. Há dez anos, 1989 deveria ter sido suficiente para ganhar o epíteto de “maior estrela pop”. Corajoso, com alguns dos melhores momentos autodepreciativos, paranoicos e, por consequência, megalómanos da pop deste século. Resulta na perfeição, sólido de uma ponta à outra e com a fibra certa para se aguentar durante décadas.

“Reputation”

2017

Com Reputation quebra-se o ciclo de um novo álbum de dois em dois anos, e acontece o mesmo que já tínhamos visto com Speak Now: é o álbum barroco que marca o fim de uma fase e a passagem para outra. Contudo, aqui a coisa resulta, por ser menos ambígua. Em Reputation, Taylor Swift sabe exatamente onde quer estar, continua a trabalhar com os mesmos produtores dos álbuns anteriores — sedimentando a relação com Antonoff — e avança sem medo para instrumentais maximalistas, cheios, habitados por graves, distorção e ritmos que se colam a subgéneros do hip hop.

É o álbum mais vigoroso e sujo de Taylor Swift, uma espécie de bad boy numa discografia bem comportada. O ato, contudo, é propositado, queria avançar para lá do que tentou em 1989, ambicionava controlo, queria provocar e assumir uma atitude em tudo distante da vitimização. Com canções mais musculadas e vistosas, para muitos Reputation representa a melhor era desta Tour.

“Lover”

2019

Do preto e branco de Reputation, salta-se para as cores de Lover, as mesmas que abrem esta Eras Tour. Foi a digressão que acabou interrompida pela pandemia (e que a traria a Portugal em 2020). Programa adiado, ficaram as canções que cresceram durante estes anos todos.

Cruel Summer, o single que nunca foi single e que se tornou numa das canções favoritas dos fãs, ou Lover, vencedora na simplicidade (“Can I go where you go? / Can we always be this close forever and ever? / Take me out, and take me home“), pela entoação e encadeamento e por ser capaz de encaixar um mundo de emoções em cinco segundos. O ”I am so sick of running as fast as I can“ de The Man procura encapsular o mesmo, mas nunca o conseguiu com tanto efeito; Miss Americana & The Heartbreak Prince, Death By A Thousand Cuts, London Boy e The Archer reforçam um bom momento criativo e, outra vez, um à-vontade para lançar os dados e voltar a mudar.

“Folklore”

2020

No final do primeiro confinamento Taylor Swift surpreende tudo e todos com um álbum gravado num processo criativo partilhado com Aaron Dessner (dos The National), Jack Antonoff e com o namorado de então, o ator Joe Alwyn. A mudança de rumo também poderia ser uma surpresa, tal como este álbum de verão, não se estivesse já habituado a isso.

Folklore e, posteriormente, Evermore reforçam as qualidades enquanto escritora de canções e o exemplar talento de construir momentos através do banal, tornando-o reconhecível e partilhável, sobretudo naqueles tempos incertos, apesar dos tons indie e intimistas. Folklore revelou-se enquanto álbum quente, num processo de constante auto-análise, sem parecer demasiado expositivo, como era habitual até Lover. Cardigan, My Tears Ricochet, August, Illicit Affairs, This is Me Trying e Betty são canções que entrariam em qualquer best of.

“Evermore”

2020

Um álbum surpresa? E que tal dois? Editado ainda antes do final do ano 1 da pandemia, Evermore saiu em dezembro e continuava o processo criativo de Folklore, com a mesma equipa. Evermore consolida a ideia de que Taylor Swift criou um mundo e um imaginário para estas canções, deixando uma certa fantasia entrar. Willow é a apresentação deste universo, que prossegue com Champagne Problems, Tolerate It, No Body No Crime, Long Story Short e Marjorie.

Sem a pandemia, estas canções poderiam ter existido de outra forma, mas como a criação é fruto de uma época, Taylor usou isso a seu favor (sem cinismos) e recriou-se mais uma vez, sem destoar do corte que já existia em Lover, mantendo o processo de extinção de excesso e procurando formas mais simples, uma calma que até então não existia na sua discografia.

“Midnights”

2022

Lover foi a elevação da relação criativa entre Taylor e Antonoff, Midnights é a depuração desse processo-rebuçado-pop interrompido pela pandemia e os dois álbuns que gravou em 2020. Não é um passo atrás, antes a incorporação da calma — e até do vazio — de Folklore e Evermore num território mais pop. Swift e Antonoff levaram ambiências, sensações e estados que trabalharam nesses dois álbuns e para o disco mais noturno da cantora. Mais uma vez, comunica os seus problemas, as suas dúvidas e inseguranças de uma forma universal.

Canções como Anti-Hero servem de panfletos naturais facilmente murmurados e, depois, decorados pela combinação de um beat perfeito e uma mensagem cuiada ao detalhe. O tema de abertura, Lavander Haze, coloca-nos logo numa certa dormência, que prossegue com Moroon e se estende até em momentos mais desenvoltos como Karma ou Bejeweled. Falta-lhe o fator “murro” de 1989, mas as atmosferas de Midnights — e a forma como se consolidam ao longo do tempo — são frescas e inovadoras. O tempo dirá como se aguentam, Midnights tem aquele ADN de “álbum-que-será-mais-apreciado-daqui-a-uns-anos”.

“The Tortured Poets Department”

2024

Com uma digressão como Eras Tour a decorrer e no topo do mundo, Taylor Swift decide editar o seu álbum mais longo até à data — a versão completa tem mais de duas horas — ao mesmo tempo que procura espelhar o problema do excesso (enquanto a digressão que protagoniza faz da abundância e da quantidade valores prioritários). Na era do streaming e da criação da indústria musical do superfã que tem de dar sempre os passos extra para justificar a sua dedicação a uma causa (tradução: gastar dinheiro), um álbum como The Tortured Poets Department parece, à luz de hoje, abuso de poder.

Taylor escreve muito — e bem — e desde que tem total controlo criativo daquilo que faz que se rege pela ideia de more is more, ou more is better: mais é mais, mais é melhor. Até aqui, desculpavam-se alguns descuidos — Lover seria muito melhor álbum com menos quatro ou cinco canções —, mas The Tortured Poets Departament parece o primeiro passo em falso. Jack Antonoff e Aaron Dessner surgem, novamente, como aliados, mas revela-se o desgaste. Continuam a existir ótimas canções, mas também há muitas ideias às voltas, repetições e falta aquele killer instinct que vimos e ouvimos antes. Um ato de megalomania que lhe é permitido, claro, mas que talvez esteja a bater no vermelho.

Ofereça este artigo a um amigo

Enquanto assinante, tem para partilhar este mês.

A enviar artigo...

Artigo oferecido com sucesso

Ainda tem para partilhar este mês.

O seu amigo vai receber, nos próximos minutos, um e-mail com uma ligação para ler este artigo gratuitamente.

Ofereça até artigos por mês ao ser assinante do Observador

Partilhe os seus artigos preferidos com os seus amigos.
Quem recebe só precisa de iniciar a sessão na conta Observador e poderá ler o artigo, mesmo que não seja assinante.

Este artigo foi-lhe oferecido pelo nosso assinante . Assine o Observador hoje, e tenha acesso ilimitado a todo o nosso conteúdo. Veja aqui as suas opções.

Atingiu o limite de artigos que pode oferecer

Já ofereceu artigos este mês.
A partir de 1 de poderá oferecer mais artigos aos seus amigos.

Aconteceu um erro

Por favor tente mais tarde.

Atenção

Para ler este artigo grátis, registe-se gratuitamente no Observador com o mesmo email com o qual recebeu esta oferta.

Caso já tenha uma conta, faça login aqui.