As principais figuras do Bloco de Esquerda no arranque desta convenção são quase as mesmas que marcaram a anterior, há três anos. Não surgiram novas caras, mas a maioria afirmou-se e foi ganhando espaço mediático. Mas se os rostos não mudaram, o contexto já não é o mesmo. A reter: em 2018, o partido estava de contrato assinado com o governo PS na “geringonça”, mas votou contra o último Orçamento do Estado. Na altura o partido dizia estar preparado para ser Governo, mas agora parece mais interessado em ser oposição, mesmo que vá demonstrando disponibilidade para se entender com o PS. Continua a ser um partido de bandeiras, mas com casos pontuais (de assédio, violência no namoro e transfobia) a assombrarem essas causas. Nos críticos — mais fortes, mas ainda com pouca expressão numérica –há uma figura que se destaca e que já fez parte da bancada bloquista: Pedro Soares.

A estrutura de liderança do Bloco está bem oleada e, se fosse uma empresa (pública, claro), seria fácil de indicar quem seria a CEO, o chairman, a CFO, o COO e outros cargos que definem o organograma de uma empresa. Afinal, como é este Bloco, Ldta? Quem é quem na estrutura deste Bloco que hoje inicia mais uma Convenção (aparentemente) tranquila?

Catarina Martins (CEO). A líder segura por um PS minoritário

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Herdou uma responsabilidade pesada — agarrar a liderança do Bloco de Esquerda quando o fundador e mentor Francisco Louçã decidiu que o partido precisava de se renovar, em 2012 — e nos primeiros tempos levantaram-se sérias dúvidas sobre se seria capaz de levar a tarefa a bom porto. Mas terminada a experiência da liderança bicéfala ao lado de João Semedo, e no meio de uma guerra pela liderança que a opôs ao líder parlamentar, Pedro Filipe Soares, a atriz de profissão decidiu mesmo encarnar a solo o papel de protagonista no Bloco de Esquerda. Apostando numa preparação minuciosa para os debates políticos, acabou por se tornar uma das surpresas das eleições de 2015 e conseguir unir à sua volta um partido que estava dividido.

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Desde então, assinou os inéditos acordos de 2015 que deram início à geringonça, navegou por entre anos de acordos e tensões com o PS e em 2019 tentou uma geringonça 2.0, rejeitada pelos socialistas. No último Orçamento, apareceu nas televisões para anunciar que o Bloco votaria, pela primeira vez desde 2015, contra. Poucos meses depois, o partido sofreria um rombo eleitoral nas eleições presidenciais, mas os estilhaços parecem não ter atingido a líder: os bloquistas poupam Catarina, que continuam a considerar um dos grandes ativos políticos do BE e um fator de união entre as várias sensibilidades do partido. Sete anos depois de ter assumido a liderança a solo, Catarina parte sem concorrência para mais uma convenção nacional.

Há um desconforto que tem de enfrentar: o mais grave, um caso de violência no namoro, que envolve um deputado, um caso isolado de assédio e ainda um caso de transfobia nos jovens do Bloco. Podem não ser temas centrais da convenção, mas nas duas entrevistas que deu antes da reunião que arranca esta sexta-feira (à Antena 1 e Agência Lusa) o assunto foi um dos destaques. Só isso cria embaraço à líder.

Sendo certo que o timing para uma futura sucessão está longe de estar decidido, há no Bloco quem associe o ciclo Catarina ao ciclo do Governo minoritário de António Costa. Pelo menos, enquanto os resultados do partido forem satisfatórios. Se deixarem de ser, no Bloco como noutro partido qualquer, será expectável que a conversa sobre o futuro seja antecipada.

Francisco Louçã (chairman). O tutor que define onde termina o infinito

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Nove anos depois de ter deixado a liderança e aconselhado os nomes de Catarina Martins e João Semedo para a sua sucessão, Francisco Louçã continua a ser uma das figuras — talvez “a” figura — mais ouvidas e respeitadas no Bloco de Esquerda, onde foi o mentor de boa parte dos dirigentes que atualmente se encontram na linha da frente do partido.

Hoje em dia, a opinião de Louçã, que transmite em espaços regulares no Expresso e na SIC, pode não representar formalmente a opinião oficial do Bloco de Esquerda — Louçã já não desempenha cargos no partido — mas é sempre uma voz a ter em conta para perceber o rumo do BE, até porque são muitas as figuras do partido que mantêm contacto estreito com o fundador.

Já longe dos tempos em que protagonizava debates acalorados com José Sócrates (como o célebre “manso é a tua tia”, que ouviu do então primeiro-ministro) ou Paulo Portas no Parlamento, onde esteve durante treze anos, Louçã assumiu o papel de senador, sendo hoje professor catedrático e conselheiro de Estado. Mesmo assim, continua a ser uma das vozes que as convenções do Bloco param para ouvir: aconteceu há três anos, quando vaticinou, numa convenção marcada pelo desejo (em parte genuíno, em parte insuflado) do Bloco de fazer parte de um Governo, que o partido iria “até ao infinito e mais além”, citando Toy Story. Pela mesma altura fez outra previsão: que o BE “prepara ministros”. Um ano antes tinha sido mais específico ainda ao prever que Mariana Mortágua seria, no futuro, ministra das Finanças. O tempo dirá se as qualidades de vidente funcionam, mas é inegável que o fundador está bem atento à vida atual do partido e às camadas jovens (com Mortágua tem até dois livros publicados, “A dividadura” e “Isto é um assalto”).

Pedro Filipe Soares (COO): Licença para não avançar

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Esteve quase a ser líder, mas ficou no quase. Há sete anos foi a votos com uma moção, que tinha acoplada uma alternativa à liderança, contra a dupla Catarina Martins-João Semedo e o insólito aconteceu: um empate. Criou-se um imbróglio, com uma liderança-hydra, com seis cabeças, mas que acabou com Catarina Martins como porta-voz. Que acabou por se afirmar como número um do partido. A solução pôs fim a dois anos de liderança bicéfala.

A atual coordenadora vingou e Pedro Filipe Soares manteve-se líder parlamentar, cargo que ocupava desde 2012. É essa a função que ainda hoje mantém, embora esteja de licença de paternidade até junho (substituído temporariamente por Jorge Costa).

O equilíbrio de correntes do Bloco foi tido este hábito: com a liderança para o PSR e a bancada parlamentar para a UDP. Se Catarina Martins vem da corrente do socialista (do PSR, como Louçã), Pedro Filipe Soares é da corrente UDP, de Luís Fazenda, que foi precisamente seu antecessor na liderança da bancada parlamentar.

É ele que gere a bancada parlamentar e representa o partido nas conferências de líderes, sendo uma espécie de COO, chefe de operações. Se entre a saída de Louçã e a escolha de Catarina Martins como porta-voz única Pedro Filipe Soares tentou (e esteve perto de o conseguir) liderar o partido por duas vezes, perdeu entretanto essa pulsão. O líder parlamentar está perfeitamente alinhado com Catarina Martins e prova disso é que subscreve a mesma moção da líder. É também um dos negociadores do partido em acordos importantes ou em momentos-chave no Parlamento, como a negociação do Orçamento do Estado.

Assistiu à fundação do Bloco, tendo participado na primeira reunião do partido em Aveiro, mas só aderiu ao partido mais de três anos depois. Desde então fez um percurso consistente até ser considerado um potencial coordenador. Quando um dia Catarina Martins sair, não deixará de ser um nome a ter em conta, já que manteve as suas tropas e é uma figura respeitada pelas principais correntes (não só nos ‘UDP’s’ mas também nos ‘PSR’s’). Nessa altura, se decidir avançar, não deverá pedir licença a ninguém.

Mariana Mortágua (CFO): a ministra da pasta

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“É um bocadinho amadorismo para quem ganhou tantos prémios de melhor CEO do ano, melhor CEO da Europa e arredores, não é?”. As perguntas e comentários assertivos, por vezes irónicos, de Mariana Mortágua na comissão de inquérito ao colapso do BES, em 2015 — neste caso, interpelava o ex-presidente da PT Zeinal Bava — dirigiram os holofotes para a jovem deputada, então com 29 anos, que rapidamente se tornou uma das estrelas do Bloco. Apenas dois anos antes, tinha chegado ao Parlamento para ocupar o lugar de Ana Drago.

A ascensão foi rápida: se nessa ocasião falava com um CEO, nesta analogia Mariana Mortágua é Chief Financial Offer, ou diretora financeira, porque é nas áreas de Orçamento e Finanças que se destaca (esta semana, a audição parlamentar de Nuno Vasconcellos, um dos maiores devedores do Novo Banco, terminou mais cedo com Mortágua exasperada a anunciar que estava farta de “dar palco” ao interlocutor, num desabafo a fazer lembrar os tempos da comissão de inquérito do BES).

Foi do Alvito, onde cresceu, a Londres, onde fez o doutoramento em Economia na School of Oriental and African Studies, e daí — e já com três livros publicados, dois deles em parceria com o mentor Francisco Louçã — saltou diretamente para o núcleo duro do Bloco. Por tudo isso, Mortágua é frequentemente apontada como uma das figuras que podem almejar a uma futura liderança — mas não é certo que a deputada alimente essas ambições.

Marisa Matias (Diretora de Relações Internacionais): as mazelas de janeiro

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Apontada com alguma insistência à sucessão de Catarina Martins, a eurodeputada é uma das figuras mais respeitadas dentro e fora do partido. A aventura presidencial de 2015 catapultou-a para um patamar de enorme popularidade: teve 10% e tornou-se a mulher mais votada de sempre. No aplaudómetro da Convenção é sempre das figuras mais aplaudidas e acarinhadas pelos camaradas de partido.

Confirmou a lei não escrita de que nunca se deve voltar a um lugar onde se foi feliz. As presidenciais de 2021 foram um desastre, Marisa só chegou aos 3,95% e ficou atrás de ambos os candidatos da esquerda. Pelo meio, travou-se de razões com André Ventura, num debate onde tentou fugir ao registo que lhe é natural, e nem a onda de solidariedade das redes sociais “vermelho em Belém” fez com que descolasse.

O excesso de exposição política e mediática — cabeça de lista às europeias em 2014, presidenciais em 2015, primeira figura do partido nas europeias de 2019 e presidenciais de 2020 — pode ter sido uma fatura demasiado pesada para a bloquista. Chega a esta convenção num ciclo político menos positivo e pode ter comprometido o capital político que tinha amealhado. Perdeu espaço para liderar o partido, embora nunca tenha dado mostras de estar interessada na sucessão de Catarina Martins.

José Manuel Pureza (diretor secção de Compliance): a nona figura da Nação

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Se o Bloco fosse uma empresa, o sociólogo José Manuel Pureza teria mais do que os pergaminhos necessários para assegurar que a conduta no interior do BE,Lda. era correta e, sobretudo, transparente. É com estas áreas que Pureza ocupa boa parte do seu tempo: no Parlamento, não só é coordenador e vice-presidente da Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias como coordena os trabalhos do partido na Comissão da Transparência e na da Revisão Constitucional, tendo ainda o cargo de vice-presidente na Comissão Eventual de Verificação dos Poderes dos Deputados Eleitos.

A posição de maior prestígio que ocupa é, ainda assim, a vice-presidência do Parlamento, onde substitui Ferro Rodrigues durante os plenários sempre que é preciso. A este propósito, em tempos, chamavam-lhe “anona” no partido, por ser na lista de precedências do protocolo do Estado a nona figura da Nação. Mas o prestígio de Pureza sente-se sobretudo no interior do partido onde está desde a fundação, sendo uma voz ouvida e acarinhada (faz parte da Mesa Nacional, uma espécie de direção alargada do partido).

Amigo próximo do antigo líder João Semedo, foi a ele, que morreu em 2018, que dedicou os passos vitoriosos que o partido foi recorrendo na despenalização da eutanásia (Pureza e Semedo eram os autores do projeto do BE). A proposta acabou por ser aprovada este ano, embora tenha entretanto sido travada pelo Tribunal Constitucional. Se acabar por ser confirmada no Parlamento, será certamente uma das maiores vitórias no currículo de Pureza.

Jorge Costa (Analista financeiro): mini-Louçã com influência máxima

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É uma espécie de Louçã júnior, mas muito sénior nas funções que ocupa no partido. Esteve no PSR com Louçã e com ele seguiu para o Bloco de Esquerda, onde está desde a fundação. É um dos estrategas do Bloco de Esquerda e, se a sua influência pode ter estado muitas vezes na sombra, a bancada já nem esconde o seu papel de líder: vice-presidente há vários anos, assume até ao início de junho as funções de líder parlamentar na ausência de Pedro Filipe Soares.

Catarina Martins definiu-o em 2016 como um “todo-o-terreno” e isso é fácil explicar o epíteto, uma vez que é um homem dos sete ofícios: faz parte da equipa que negoceia os orçamentos, é o especialista em energia e a sua formação é em comunicação social. Põe as valências ao serviço do partido e, como o próprio confessou ao Público em 2019, no arranque do BE foi durante três anos o “gabinete de imprensa do partido”.

Na geringonça 1.0, a que funcionou, foi uma das peças-chave para o sucesso das negociações, nomeadamente para fazer a ponte do PS. No outro lado, nos Assuntos Parlamentares, estava alguém que conhece, como admitiu na Vichyssoise na última sexta-feira, “há 30 anos”: Pedro Nuno Santos. Não deixou de ser traído quando a bancada do PS, a propósito das rendas das renováveis, votou uma coisa à sexta e, após pressões de cima, mudou tudo à segunda-feira.

Esteve na fundação, é influente e um dos ativos do partido para utilizar quando for necessário. Faz uma espécie de tripla: é o passado, o presente e o futuro do partido. Falta saber se seguirá as pisadas de Louçã. Como diria a música que escolheu quando foi à Vichyssoise há uma semana: “É dificil”. Mas não impossível.

Moisés Ferreira (posto médico): o homem que trata da Saúde

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Se um dia o Bloco de Esquerda fosse Governo, Moisés Ferreira seria o ministro da Saúde. E se o BE já não parece tão interessado em ser ser Governo, o deputado — que acompanha esta área praticamente desde que entrou há seis anos no Parlamento — ganhou destaque durante a pandemia. Era ele (e é) o rosto do Bloco de Esquerda nas célebres reuniões do Infarmed entre a elite política e os especialistas.

É psicólogo de formação e defensor indefectível do Serviço Nacional de Saúde. Faz parte da geração de jovens do Bloco de Esquerda que se destacaram a partir do Parlamento. É respeitado no partido na área que coordena e é uma voz incómoda para Marta Temido que, não raras vezes, ataca no hemiciclo.

Joana Mortágua (Departamento de formação): autarca e ‘ministra’ da educação

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As irmãs Mortágua são gémeas, parecidas na aparência, partilham o mesmo partido, são ambas deputadas, mas têm percursos distintos dentro do Bloco de Esquerda. Com as tendências que emanaram do PSR e da UDP numa coexistência pacífica no partido, esbateram-se as diferenças, mas Mariana e Joana são de lados opostos da barricada interna.

Mariana Mortágua é mais próxima da linha de Louçã e Catarina Martins, enquanto Joana Mortágua sempre alinhou pelo lado UDP, tal como Pedro Filipe Soares. Joana foi mesmo presidente da Associação UDP e, nessa qualidade, defendeu que o objetivo desta tendência seria sempre defender a continuidade da inspiração marxista no partido.

Joana é, no entanto, muito mais do que a gémea da mediática Mariana. É, desde logo, vereadora em Almada desde 2017 e será novamente candidata autárquica ao município pelo Bloco de Esquerda nas eleições deste ano. Na autarquia é oposição à socialista Inês de Medeiros, com quem se recusou a coligar-se, forçando o PS a um acordo com o PSD no município. Além disso, Joana Mortágua é também o rosto da Educação do Bloco de Esquerda. Se Moisés fosse o ministro da Saúde, Joana Mortágua seria a ministra da Educação.

Fazenda e Rosas (Conselho de Fundadores): os avôs senadores

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Francisco Louçã é, dos fundadores, aquele que continua a ter mais tempo de antena, através de intervenção pública. Faz parte de uma espécie de Senado invisível do partido, onde também está Fernando Rosas. São dois avôs, que os filhos e os netos bloquistas gostam de ouvir e com quem se aconselham.

Os fundadores parecem também esforçar-se por explicar a encruzilhada do partido que está entre não descolar da ponta esquerda do espectro político, mas ao mesmo tempo querer influência da governação (que se faz tradicionalmente com aproximações centro). Fernando Rosas quer o melhor de dois mundos.  Em entrevista ao Diário de Notícias esta sexta-feira o fundador admitiu que o desejo do Bloco de Esquerda continua a ser um “entendimento com o PS”, mas que esse entendimento não é possível precisamente porque o PS se está a deslocar para o centro para ocupar um espaço deixado vago por um PSD que — no entender bloquista — se encosta cada vez mais à direita.

No caso de Luís Fazenda há uma pequena nuance: dos três fundadores vivos é o único que continua a fazer parte da Mesa Nacional do Bloco, o órgão máximo entre convenções. Já não é deputado há alguns anos, mas continua a ser dirigente nacional. Mais do que influência no aparelho (que também a terão, nem que seja de forma indireta) os fundadores são conselheiros da direção e guias espirituais do partido. O que dizem é ouvido pela direção.

José Soeiro (diretor de recursos humanos). O jovem veterano

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Com 36 anos é um dos jovens quadros do partido ainda que seja deputado desde 2005, o que faz dele um veterano na bancada parlamentar. É, também, um dos bloquistas que têm a pasta mais ingrata do partido: numa ‘geringonça’ que sempre foi manca na área laboral — António Costa nunca quis voltar aos tempos pré-troika –, é José Soeiro quem tem a pasta do Trabalho no partido, o que o deixa mais vezes em rota de colisão com os socialistas do que o contrário.

Sociólogo de formação, líder da distrital do Bloco/Porto, ativista há bem mais tempo — em 2006, por exemplo, esteve na linha da frente dos protestos contra Rui Rio a propósito do Teatro do Rivoli –, é uma das figuras mais respeitadas dentro do partido. Na última convenção, acabou aplaudido de pé depois de ter feito um discurso centrado na defesa dos direitos dos trabalhadores ao levar uma luva, como símbolo das trabalhadoras da limpeza, uma pedra, em homenagem à luta dos trabalhadores das pedreiras, e uma t-shirt alusiva aos cuidados informais.

José Gusmão: Subdiretor de Relações Internacionais

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É uma figura em ascensão no Bloco de Esquerda, ainda que esteja na linha da frente do combate político há mais de uma década. Depois de uma experiência como deputado (2009-2011), rumou ao Parlamento Europeu para ser assistente de Miguel Portas. Agora, a par de Marisa Matias, é o rosto do partido na Europa, palco que tem aproveitado para se bater pelo levantamento das patentes das vacinas para a Covid-19.

Ex-militante comunista, irmão do comentador Daniel Oliveira, que lhe frustrou a primeira tentativa de entrar no partido (Oliveira perdeu a ficha de inscrição) é um dos muitos discípulos de Francisco Louçã no partido. No caso de Gusmão, a condição é literal: no ISEG, teve o antigo líder do partido como professor e foi colega de curso de Pedro Nuno Santos, com quem chegou a fazer trabalhos de grupo em conjunto.  Aliás, quando, em fevereiro, veio à Vichyssoise do Observador, assumiu sem grandes hesitações que preferia ser parceiro de coligação de um PS liderado por Pedro Nuno Santos do que por Fernando Medina.

Peça importante nas negociações da ‘geringonça’,  sportinguista ferrenho, conhecido pelo talento para a bola, também sabe bater o pé noutros palcos: em 2019, ano em que entrou no Parlamento Europeu como deputado, assumiu ter experimentado o tango e o forró, e prometia fazer uma incursão pelo lindy hop.

Pedro Soares (delegado sindical). O rosto dos críticos

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Pedro Soares é o rosto dos críticos. Não se pode dizer que a maior corrente crítica da direção tenha crescido, uma vez que na última convenção não apresentou a moção. Mas a corrente do movimento Convergência (moção E) conseguiu 19,2% dos votos dos delegados e quer fazer crescer a representação nos órgãos do partido.

O antigo deputado do BE viu-se envolvido no caso das moradas falsas, tendo declarado a sede do BE de Braga em vez da sua habitação para efeitos de recebimento de subsídios. Em 2019 já não foi eleito deputado e tem-se afirmado como crítico da atual liderança.

Pedro Soares disse ao Observador que o Bloco se deve afirmar-se “através da radicalidade”, com um “programa próprio” cujas bandeiras — leis laborais, renegociação da dívida, reforço dos serviços públicos, regionalização — chocam de frente com o PS, avisa. É altura, avisa, de deixar o “geringoncismo” para trás. Além disso, o antigo deputado critica a falta de “pluralidade interna”, falando em “hegemonia” da atual direção. Há outras moções alternativas à maioritária (a A, com 233 delegados), mas as outras três moções juntas (a C, a N e a Q) têm apenas um terço do delegados (22) dos eleitos pela moção E (66).