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Walkie-talkies que acabaram por explodir no Líbano esta quarta-feira

AFP via Getty Images

Walkie-talkies que acabaram por explodir no Líbano esta quarta-feira

AFP via Getty Images

A "operação James Bond" de Israel que "humilhou" o Hezbollah e pode levar a uma guerra no Líbano

Timing dos ataques com pagers e walkie-talkies não foi "perfeito", mas Israel causou "pânico" nos militantes do Hezbollah. Israel quer regresso de populações ao norte mas guerra pode chegar ao Líbano.

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Num dia foram pagers, noutro walkie-talkies e até painéis solares. Equipamentos usados por simpatizantes ou membros do grupo xiita pró-Irão Hezbollah explodiram nos últimos dias, um pouco por todo o Líbano. Registaram-se dezenas de vítimas mortais e os feridos chegaram aos milhares. Ainda que os ataques nunca tenham sido reivindicados oficialmente, é quase certo que por trás estiveram os serviços de informações de Israel, mais concretamente a Mossad. O ministro da Defesa israelita, Yoav Gallant, anunciou que Telavive entrou numa “nova fase da guerra” e que o “centro da gravidade está a transferir-se” para o norte, perto da fronteira com o Líbano, em vez do sul, em redor da Faixa de Gaza.

Uma escalada no Médio Oriente parece estar iminente. Em resposta às autoridades israelitas, o Hezbollah já prometeu uma “punição especial”, de acordo com o líder do conselho executivo do grupo, Hashem Safieddine, que falou também numa “nova fase da confrontação”. Desde 7 de outubro de 2023, data em que começou a guerra entre o Hamas e Israel, tem havido disparo de rockets a um ritmo diário. Mas espera-se que a retaliação do grupo, considerado terrorista pelo Ocidente, seja desta vez mais intensa.

Os Estados Unidos da América (EUA), o maior aliado de Israel, temem uma escalada da situação no Médio Oriente. Um dirigente do Pentágono comentou ao Wall Street Journal que está “muito preocupado [com a possibilidade de] tudo isto poder sair do controlo”. Por agora, o Departamento de Defesa não vê indicadores que as Forças de Defesa israelitas vão começar uma invasão total no Líbano. Porém, existe o risco de haver uma operação mais rápida, ou que continuem estes métodos subversivos contra o Hezbollah — e haja uma forte retaliação.

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Funeral esta quinta-feira de um militante do Hezbollah morto na sequência dos ataques

Anadolu via Getty Images

No governo israelita, ainda assim, a convicção é que talvez seja necessário entrar num conflito contra o Hezbollah. O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, atualizou os objetivos da guerra no início desta semana, acrescentando uma finalidade: o regresso a casa dos cerca de 60 mil israelitas retirados do norte, junto à fronteira com o Líbano, devido ao disparo de rockets. “Israel continuará a tomar medidas práticas ativas para atingir este objetivo”, prometeu o chefe de executivo, que não detalhou de que forma o fará.

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Ao mesmo tempo, começaram as explosões nos aparelhos no Líbano e até na Síria. Para Rex J. Brynen, professor de Ciência Política e especialista na política do Médio Oriente na Universidade de McGill em Montreal, no Canadá, o que aconteceu com os pagers e os walkie-talkies vai “certamente aumentar as tensões” entre Israel e o Hezbollah, diz ao Observador. E o grupo “sentirá necessidade de responder de certa forma”.

Israel quis apenas “humilhar” o Hezbollah ou quer declarar guerra ao Líbano?

Uma hipótese que Rex J. Brynen aponta para Israel ter levado a cabo este ataque prende-se com uma questão mais logística do que propriamente estratégica. O docente universitário ressalvou que “não se sabe o suficiente” sobre o que levou à “decisão israelita”, mas “existem alguns indícios de que talvez o Hezbollah estivesse prestes a descobrir o plano”. Assim, “Israel sentiu que tinha de fazer explodir” os dispositivos neste momento, ou então “perderia” essa oportunidade.

Como milhares de pagers explodiram em simultâneo nas mãos de militantes do Hezbollah?

Ao Washington Post, um antigo membro da Mossad, Oded Eilam, reconheceu que otiming não foi perfeito”. Àquele jornal, outro dirigente dos serviços de informações com conhecimento da operação assumiu que não foi uma “movimentação estratégica” por parte de Israel.

O jornal norte-americano Axios também dá conta dessa hipótese. Segundo apurou a publicação junto a fontes dos Estados Unidos, era “agora ou nunca” para Israel fazer explodir os equipamentos. Mais além do que isso, o objetivo israelita passava por semear o caos entre os escalões do Hezbollah, num movimento que marcaria o começo de uma guerra total. No que seria talvez o início de uma invasão, o grupo islâmico ficaria paralisado e sem resposta, enquanto as Forças de Defesa de Israel aproveitar-se-iam desse desnorte. Como escreve o Washington Post, poderia ser um momento “Pearl Harbor”.

Porém, o grupo islâmico terá desconfiado de que os pagers tinham sido alvo de operação subversiva e isso motivou Israel a avançar esta terça-feira. Cerca de 24 horas depois, num momento em que o Hezbollah ainda estava a tentar perceber o que se estava a passar, as autoridades israelitas terão feito explodir walkie-talkies. O Axios escreve que se devem ao facto de poder estar em curso investigações aos pagers que comprometessem as detonações daqueles equipamentos e o efeito surpresa.

Depois dos pagers, os walkie-talkies. Centenas de aparelhos de comunicação do Hezbollah explodem no Líbano e causam 20 mortes

Mesmo que tenha sido antecipado, Rex J. Brynen não tem dúvidas de que é um “aviso de Israel” e é um “modo de semear confusão” dentro do funcionamento do Hezbollah. A organização militar e também política xiita pode interpretar estes ataques como uma “preparação de um ataque maior por parte de Israel” e como o prenúncio de uma “operação terrestre de grandes proporções”. 

O antigo líder da Mossad, Danny Yatom, considerou igualmente ao Washington Post que esta operação efetivamente “causa pânico, stress e choque” entre os militantes do Hezbollah. Mas que, por si, dificilmente motivará uma reação forte do grupo xiita.

Já o cientista político na King’s College of London, Ahron Bregman, está “à espera de uma retaliação do Hezbollah”. Ao Observador, o especialista sublinha que Israel não apenas “causou danos” ao grupo islâmico ao “matar os seus ativistas e criar disrupções às suas comunicações”. Fez algo inconcebível para o grupo islâmico: “Humilhou-o” e explorou as suas fraquezas. 

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Restos de um walkie-talkie que explodiu esta quarta-feira no Líbano

AFP via Getty Images

No entender de Bregman, “não é totalmente claro” por que motivo os israelitas “embarcaram nesta campanha dos pagers“, conjeturando várias opções. Por um lado, pode ser para “provocar” diretamente a guerra contra o Hezbollah, o que, tendo em conta as declarações de Yoav Gallant sobre a “nova fase da guerra” ou do novo objetivo do conflito anunciado por Benjamin Netanyahu, poderia fazer sentido, segundo o especialista.

Por outro, caso este “passo dramático” seja apenas para “provocar o Hezbollah e não causar uma guerra”, Ahron Bregman não entende esta movimentação, já que é certo que Israel sabia que escalaria a situação. “Se a guerra acaba por acontecer, os historiadores do futuro, ao olhar para trás, vão acabar por considerar esta campanha dos pagers irresponsável.”

Entre todas estas hipóteses, o especialista inclina-se a acreditar que esta “operação do estilo de James Bond” deixa o Médio Oriente “mais perto de um cenário de guerra total”. “Aumenta a tensão a um nível que qualquer erro de cálculo de qualquer um dos lados pode levar a uma guerra”, acredita Bregman. A tensão aumentou inevitavelmente na região, mas o desfecho ainda é imprevísivel.

Ação de Israel "aumenta a tensão a um nível que qualquer erro de cálculo de qualquer um dos lados pode levar a uma guerra."
Cientista político na King’s College of London, Ahron Bregman

Na lógica desta “guerra total” entre o Hezbollah e Israel, esta quinta-feira o chefe das Forças de Defesa de Israel, Herzi Halevi, aprovou os planos de combate para a frente norte, perto da fronteira com o Líbano. Num discurso, o secretário-geral do grupo xiita, Hassan Nasrallah, também declarou que Israel “cruzou todas as linhas vermelhas”: “É uma declaração de guerra? Pode chamar-se como quiser”.

Governo do Líbano teme conflito e EUA desaconselham Israel a começar guerra

As autoridades libanesas, que não estão diretamente controladas pelo Hezbollah, temem uma escalada da situação. Ainda que integre o parlamento do Líbano, o grupo xiita não governa diretamente o país do Médio Oriente, pelo menos da mesma forma como o Hamas controla a Faixa de Gaza. Mas no sul, perto de Israel, é a presença do movimento islâmico é mais preponderante.

À CNN internacional, o ministro dos Negócios Estrangeiros libanês, Abdallah Bou Habib, enfatizou que “não há dúvidas” que o país vive “um momento assustador”. “Temos medo de uma guerra, não queremos uma”, sinalizou o chefe da diplomacia libanesa na entrevista.  Reconhecendo que tem existido “escaramuças” na fronteira com Israel nos últimos meses, o responsável sublinhou que o que está em causa agora é mais grave — é o “início de um guerra”. Não seria a primeira: as forças armadas israelitas já invadiram território libanês cinco vezes no passado (1978, 1982, 1993, 1996 e 2006).

epa09929674 Lebanese Foreign Minister Abdallah Bou Habib speaks to the media during the parliamentary elections taking place outside Lebanon at an operation room to observe the voting process through screens at the Ministry of Foreign Affairs in downtown Beirut, Lebanon, 06 May 2022. Lebanese parliamentary elections for Lebanese citizens residing outside Lebanon will be held on 06 and 08 May 2022, expatriates are expected to take part in legislative elections in nearly 60 countries. Lebanese parliamentary elections in Lebanon are scheduled for 15 May 2022.  EPA/WAEL HAMZEH
"Somos contra um guerra no Líbano. O governo do Líbano não quer uma guerra e nem sequer quer fogo cruzado no sul do Líbano."
Abdallah Bou Habib, ministro dos Negócios Estrangeiros do Líbano

“Somos contra um guerra no Líbano. O governo do Líbano não quer uma guerra e nem sequer quer fogo cruzado no sul do Líbano”, continuou Abdallah Bou Habib, que pediu ajuda às “Nações Unidas” e ainda aos Estados Unidos. “Precisamos deles para restabelecer algum tipo de paz no sul do Líbano”, afirmou o chefe da diplomacia.

Os Estados Unidos da América também já garantiram publicamente que não querem uma guerra no Líbano. Desde o primeiro momento, Washington indicou que nada teve a ver com os ataques de pagers ou walkie-talkies — e as autoridades norte-americanas não terão sido informadas de antemão. “Não sabíamos desta operação e não estivemos envolvidos”, sinalizou o porta-voz do Departamento de Estado, Matthew Miller, na terça-feira.

Ao que apurou o jornal Axios, o secretário da Defesa, Lloyd Austin, recebeu uma chamada do seu homólogo israelita apenas minutos antes de a explosão de pagers ter começado. Telavive não queria apanhar os Estados Unidos desprevenidos, mas Washington não considerou isso como um aviso, já que Yoav Gallant não terá pedido o aval norte-americano.

epa11436563 Israeli Defense Minister Yoav Gallant (L) and US Secretary of Defense Lloyd Austin (R) observe the playing of the national anthem of Israel by a US military band during an honor cordon at the Pentagon in Arlington, Virginia, USA, 25 June 2024. US Secretary of Defense Lloyd Austin met with Israeli Defense Minister Yoav Gallant at the Pentagon and discussed the ongoing situation in Gaza and Israeli military operations in the region.  EPA/MICHAEL REYNOLDS

Ministro da Defesa de Israel (à esquerda) terá apenas avisado o seu homólogo norte-americano, Lloyd Austin, minutos antes das detonações dos pagers

MICHAEL REYNOLDS/EPA

Num momento em que o secretário de Estado Antony Blinken se encontra no Cairo a negociar um acordo de cessar-fogo entre o Hamas e Israel, o chefe da diplomacia norte-americana pediu que “não haja uma escalada do conflito” e aconselhou todas as “partes” a evitarem envolver-se em ações provocativas.

O tom dos dirigentes norte-americanos foi bem mais categórico na segunda-feira. Amos Hochstein, enviado especial da Casa Branca para as negociações entre Israel e Líbano, teve uma reunião com Benjamin Netanyahu e desaconselhou-o a começar um conflito alargado contra o Hezbollah. O responsável norte-americano realçou, segundo o Axios, que uma guerra contra o grupo libanês não terá efeitos práticos e não ajudará a trazer os residentes do norte de Israel para as suas casas. Com outra agravante: o conflito poder-se-á expandir e o Irão poderá intervir diretamente.

Os argumentos não tiveram grande aceitação por parte o primeiro-ministro israelita. Num comunicado tornado público esta segunda-feira, o gabinete de Benjamin Netanyahu fez saber que deixou “muito claro” a Amos Hochstein que “não será possível que os habitantes regressem sem uma mudança fundamental na situação securitária no norte”. “O primeiro-ministro Netanyahu disse que, apesar de Israel apreciar e respeitar o apoio dos EUA, fará, em última instância, o que for necessário para salvaguardar a sua segurança e o retorno dos residentes até ao norte.”

epa11419420 Senior Advisor to the US President, Amos Hochstein, speaks at a press conference following his meeting with Lebanese Parliament Speaker Nabih Berri (not pictured) in Beirut, Lebanon, 18 June 2024. Hochstein is in Beirut on an official visit to meet with Lebanese officials and in an attempt to ease tensions between Israel and Hezbollah, which are threatening to spiral into a full-scale war across the Lebanese border.  EPA/WAEL HAMZEH

Amos Hochstein, enviado especial da Casa Branca para negociações entre Israel e o Líbano, teve uma reunião com Benjamin Netanyahu e desaconselhou-o a começar um conflito alargado contra o Hezbollah

WAEL HAMZEH/EPA

No entanto, esta quinta-feira, Hassan Nasrallah desvendou qual é a condição do Hezbollah para que os israelitas possam voltar a morar junto à fronteira com o Líbano: “Ninguém vai regressar às suas casas, a menos que haja um cessar-fogo em Gaza”, disse o secretário-geral, frisando: “O objetivo do ataque [de Israel] é a desconexão entre a frente libanesa e a frente de Gaza. A nossa resposta a Netanyahu e a Gallant é que isso não acontecerá. A frente libanesa não irá render-se até que os combates em Gaza cessem”.

A história dos ataques disruptivos da Mossad

Não é a primeira vez que os serviços de informações israelitas levam a cabo ações disruptivas para surpreender o inimigo. Neste caso, para o ataque, a Mossad terá utilizado pagers da marca Gold Apollo, uma empresa de Taiwan que entretanto já veio negar responsabilidades sobre o caso, garantindo que os equipamentos foram produzidos por uma empresa húngara com sede em Budapeste, a BAC, que tinha autorização para comercializar a marca asiática. Contudo, as autoridades magiares asseguraram que aquela empresa seria apenas uma intermediária e que os aparelhos em causa não tinham passado pela Hungria.

Por seu turno, os walkie-talkies terão sido comprados pelo Hezbollah à marca japonesa ICOM. O modelo em causa encontra-se, no entanto, descontinuado. Num comunicado, a empresa confirmou que os exportou para o “Médio Oriente de 2004 a outubro de 2014”, mas que há dez anos que não o faz. Segundo a Associated Press, a Mossad terá colocado explosivos — que se detonariam com um sinal de rádio — antes de os aparelhos chegarem às mãos dos militantes do grupo xiita.

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Grupo de homens assiste ao discurso de Hassan Nasrallah, secretário-geral do Hezbollah, desta quinta-feira

AFP via Getty Images

Uma operação deste género terá demorado bastante tempo, uma vez que requer, como explica a AP, um grande trabalho de fundo. Primeiro, é necessário aceder aos equipamentos antes de eles serem vendidos para estudar como funcionam e em que parte é que se devem colocar os explosivos. Depois, é preciso desenvolver tecnologia que funcione e, seguidamente, colocá-la nos aparelhos. E, em último lugar, é imperativo confirmar que os pagers e os walkie-talkies são mesmo usados pelos alvos definidos inicialmente. 

Este tipo de operações sofisticadas relacionadas com meios de comunicação já foi feito no passado por Israel. Em 1972, como retaliação pelos onze israelitas mortos que foram sequestrados (e depois mortos) durante os Jogos Olímpicos de Munique, a Mossad assassinou o representante em Paris da Organização para a Libertação da Palestina, Mahmoud Hamshari. As secretas israelitas conseguiram entrar na casa do responsável e colocar explosivos no telefone. Ao mesmo tempo, alguém que fingia ser um jornalista italiano marcou uma entrevista telefónica com o responsável. Com um timing perfeito, quando o palestiniano atendeu a chamada, o telefone explodiu e acabou por morrer.

Em 1996, a Mossad também colocou explosivos no telefone de um membro do Hamas, Yahya Ayyash, conhecido por fabricar bombas. Acabou por morrer em circunstâncias idênticas a Mahmoud Hamshari.

E há casos ainda mais engenhosos. Segundo Ronen Bergman, jornalista especializado nas operações da Mossad e autor do livro Ergue-te e Mata Primeiro (ed. Temas e Debates), as secretas israelitas terão sido responsáveis pelo assassinato de Wadie Haddad, um dos líderes do Exército de Libertação da Palestina, em 1978. Como? Substituindo a sua pasta de dentes por uma que continha uma substância tóxica.

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Funeral de Yahya Ayyash, um dos líderes do Hamas assassinado pela Mossad

Corbis via Getty Images

Estes ataques sofisticados e bem-sucedidos contra um inimigo de Israel podem ser interpretados como uma vitória para a Mossad e até para o governo israelita, mesmo que estrategicamente o timing não tenha sido perfeito. Ao Observador, Rex J. Brynen destaca que “certamente fortalece politicamente o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu”.

Após os falhanços no 7 de Outubro, a habitual eficácia dos serviços de informações de Israel começou a ser questionada. A maneira como militantes do Hamas entraram na Faixa de Gaza, sequestraram mais de 200 pessoas e mataram mais de mil ainda continua presente na memória coletiva israelita (e na dos adversários de Telavive), principalmente a três semanas do primeiro aniversário da guerra.

Como escreve num artigo de opinião a diretora-executiva da Chantham House Bronwen Maddox, estes ataques, por causa da sua “natureza teatral”, podem ser vistos como uma “maneira de as secretas de Israel recuperarem alguma da sua reputação”, inevitavelmente abalada pelos ataques do Hamas e que causaram baixas em território israelita. “Desde 7 de Outubro, existe uma falta de confiança nas Forças Armadas e nos serviços secretos” por parte da população.

epa10409075 David Barnea Director of Mossad during a change of Command honor guard ceremony at the Ministry of Defense headquarters in the Kriya base in Tel Aviv, Israel, 16 January 2023. Herzi Halevi has been promoted from the rank of Major-General to the one of Lieutenant-General and sworn during a festive ceremony in presence of Prime Minister Benjamin Netanyahu. Halevi replaced ex Lieutenant-General Aviv Kochavi who retired after four years as the head of the Israel Defence Forces (IDF) and 40 years as soldier.  EPA/ABIR SULTAN

Atual líder da Mossad, David Barnea

ABIR SULTAN/EPA

Em termos estratégicos, esta detonação de explosivos em pagers e walkie-talkies pode até não ter surgido no momento perfeito e pode não ter causado tantas repercussões como a Mossad tinha planeado no melhor dos cenários. Contudo, é certo que embaraça o Hezbollah, semeia a desconfiança nos militantes do grupo xiita e recupera prestígio aos serviços de informações israelitas. O governo israelita até pode capitalizar com a situação.

Em contrapartida, o conflito que há mais de onze meses se mantém reduzido à Faixa de Gaza pode abrir uma nova frente. Se Israel insistir no retorno da população à fronteira com o Líbano, e usar a força para alcançar esse objetivo atacando o Hezbollah (ou se o grupo xiita retaliar com força), o Médio Oriente pode entrar numa guerra regional em que os civis libaneses podem ser as principais vítimas.

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