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Bastaram duas eleições em dois meses para confirmar o que já se adivinhava: o Partido Socialista francês é hoje uma força política pequena que corre o risco de ter um valor parlamentário meramente decorativo. Depois do quinquenato de François Hollande, os socialistas viram várias figuras do seu partido a caírem na primeira volta, quase sempre aos pés dos centristas liberais do República Em Marcha e d’Os Republicanos, de direita.
Ainda assim, este cenário não é único em França. Um pouco por todo continente, os partidos do centro-esquerda, sejam eles socialistas, social-democratas ou trabalhistas, têm sofrido fortes derrotas. Se outrora tinham maiorias absolutas e governavam com folga, durante vários mandatos, hoje alguns chegam a ter resultados abaixo dos dois dígitos. E até os menos fragilizados, como o Partido Trabalhista de Jeremy Corbyn, não conseguem vencer eleições. É o fim do mar de rosas?
Grécia. A pasokização original
A queda do PASOK foi tão grande e tão abrupta que, um pouco por toda a Europa, académicos, analistas e jornalistas introduziram um novo termo na Ciência Política: pasokização. O Collins Dictionary, um dicionário britânico, tem até uma entrada sobre esta palavra (pasokification, em inglês) na sua versão online: “Reduzir o principal partido social-democrata do país para o partido mais pequeno do parlamento, como resultado da subida de um partido de esquerda mais radical”.
Antes da pasokização, nas eleições de outubro de 2009, o partido socialista da Grécia conseguiu o seu quarto melhor resultado desde 1974 — 43,9%, com George Papandreou a primeiro-ministro, apoiado por uma maioria absoluta no parlamento. Era a confirmação de uma dinastia: antes de George, o avô Giorgios e o pai Andreas também se sentaram na cadeira de primeiro-ministro da Grécia.
Mas, pouco depois da vitória eleitoral de Papandreou, começaram a surgir os primeiros traços do que mais tarde viria a causar a pasokização. Logo depois das eleições, começaram os cortes. Depois, em abril de 2010, a Grécia assinava o primeiro memorando com a troika intensificando os cortes na função pública, nas pensões, na segurança social e em todas as áreas de intervenção do Estado. Em novembro de 2011, Papandreou demite-se e dá lugar a um novo Governo interino, chefiado por Nikos Papademos, um independente. Ainda assim, a pasta das finanças permanece com o socialista que já a detinha: Evangelos Venizelos. Naquela altura, foi como um beijo da morte.
Enfim, a pasokização. Em maio de 2012, quando a Grécia já está sob um segundo programa de resgate, são convocadas eleições antecipadas. O resultado não é simpático para os socialistas: a Nova Democracia, de centro-direita, vence com 18,9%; o Syriza, da esquerda radical, surpreende e sobe aos 16,8%; e o PASOK afunda para os 13,2%. Depois de semanas de infrutíferas conversações entre partidos para formar um Governo, são convocadas novas eleições, em junho. A ordem mantém-se, com o PASOK a fechar o pódio, mas com nova descida, para os 12,3%. Seguem-se novas rondas de negociações e o PASOK tem a sua última entrada num governo, coligado com a Nova Democracia e com o Dimar, de centro-esquerda.
Foi a última vez que o PASOK entrou no Governo. Em janeiro de 2015, houve novas eleições e o Syriza saiu vencedor, com 36,9%. Esse número foi, em grande parte, alimentado pelos votos de antigos eleitores do PASOK, que teve apenas 4,7% e passou a ser o partido mais pequeno do parlamento. Em setembro do mesmo ano, com novas eleições, o PASOK sobe ligeiramente, para 6,3%. Um fraco prémio de consolação para o partido de poder que viu a queda mais abrupta na História recente da Europa.
Enquanto isso, George Papandreou continua a ser presidente da Internacional Socialista, a organização que agrega os partidos socialistas do mundo. O político grego está à frente da organização desde 2006, altura em que sucedeu a António Guterres. Em março deste ano, foi reeleito com unanimidade.
Espanha. Em equipa perdedora não se mexe
José Luiz Zapatero ia no seu segundo mandato quando o crash de 2008 atacou um pouco por todo o mundo. Em Espanha, os efeitos não foram de somenos. Até essa data, os quatro anos de Zapatero à frente do Governo mantiveram a tendência de crescimento económico herdada do Governo de José María Aznar. Em média, antes do crash, a economia espanhola cresceu 3,7% anualmente sob os comandos do socialista. Mas, depois, as contas complicaram-se. A economia travou a fundo em 2008 e cresceu apenas 1,1%. E, em 2009, entrou em recessão, na ordem dos 3,6%.
Isto tudo aconteceu ao mesmo tempo que o Governo de Zapatero congelava e depois cortava salários da função pública e gastava dinheiro a salvar a banca. Enquanto isso, o desemprego crónico em Espanha começou a subir descontroladamente. A taxa de desemprego passou dos 8,6% no último trimestre de 2007 para, no período homólogo de 2011, quando Zapatero saiu do poder, bater nos 22,6% — e continuaria a subir, até a um máximo de 26,9%, já com Mariano Rajoy.
Mas havia ainda outro número no desemprego que viria a tornar-se um duro golpe para o PSOE: o desemprego jovem, que nos últimos dias de Zapatero chegou aos 48,1%. O número viria a subir ainda mais nos anos seguintes, já com Rajoy no poder, e com ele nasceram dois fenómenos. Primeiro, o movimento dos indignados, em 2012. Depois, a partir deste, o Podemos, em 2014.
O primeiro verdadeiro teste a nível nacional já deixava antecipar o que outros (eleições europeias e depois autonómicas) já deixavam antever para o PSOE, que entretanto tinha na liderança Pedro Sánchez. Chegadas as eleições legislativas de 2015, o Podemos chegou aos 20,7% e o PSOE teve o pior resultado da sua História, com 22% dos votos e 90 deputados. Meio ano de impasse depois, em novas eleições, o PSOE repetiu a dose — apesar de subir para 22,6%, perdeu deputados e ficou-se pelos 85.
Neste momento, o PSOE acaba de sair de um período de grande conturbação a nível interno. Depois do fracasso de 2015 e a confirmação do mesmo nas eleições de 2016, os barões do partido uniram-se contra Sánchez, que acabou por se demitir. Entre as figuras de proa do partido, Susana Díaz era a eleita para subir à liderança dos socialistas espanhóis. Foram convocadas eleições primárias e Sánchez decidiu ir a jogo. Se o ditado diz que em equipa vencedora não se mexe, os militantes socialistas quiseram não mexer em equipa perdedora e deram 50,3% de votos a Sánchez.
Recentemente, o PSOE apareceu na sondagem da Metroscopia / El País em segundo lugar, depois de ter sido ultrapassado pelo Podemos. Está agora com 22,8% das intenções de voto, o valor mais alto que aquela sondagem lhe prevê desde setembro de 2015 — e, já agora, superior ao que obteve nas duas últimas eleições. Mas não são subidas decimais que vão esconder um facto: com valores assim, muito dificilmente o PSOE ganha umas eleições.
Holanda. A “sociedade participativa” que dizimou os socialistas
Nas eleições legislativas de 2012, o Partido Trabalhista holandês (PvdA) estava vetado ao fracasso. As sondagens chegavam a prever 14% para o partido então liderado por Diederik Samsom, o que representaria o seu pior resultado desde a fundação, em 1946. No entanto, uma campanha de sucesso levou a um resultado surpresa: 24,8% e um segundo lugar, pouco atrás do VVD, de centro-direita, do primeiro-ministro Mark Rutte, que conquistou 26,6% dos votos.
Até às eleições de 2012, o VVD estava no poder e o PvdA estava na oposição. Mas, depois de quase dois meses de negociações, os trabalhistas concordaram formar um governo de coligação com Mark Rutte a liderar. No executivo, os trabalhistas contavam com algumas pastas de relevo. Foi o caso do vice-primeiro-ministro, Lodewijk Asscher, e do ministro das Finanças, Jeroen Dijsselbloem. Este último, provou ser um presente envenenado.
Ao contrário do que o PvdA defendera na campanha eleitoral, o Governo que formou com o VVD acabou por seguir duas máximas: cortar e liberalizar. Muitas destas ideias saíam da cabeça, ou eram anunciadas pela boca, de Dijsselbloem, que em 2013 passou a ser também presidente do Eurogrupo.
Ao lado de medidas de austeridade (aumento para 385 euros da fasquia anual a partir da qual os seguros pagam os cuidados de saúde, subida da idade de reforma para 65 anos, aumento dos impostos para as classes baixa e média) o papel do Estado foi aliviado nalgumas áreas (como a transferência de competências de órgãos centrais para os seus congéneres regionais e municipais ou o financiamento da aposta nas energias renováveis através de uma taxa na eletricidade e não por investimento estatal). Naquela altura, falava-se no início do “sociedade participativa” e do enterro do Estado Social.
Com tudo isto, o eleitorado do PvdA começou a fugir-lhe das mãos. A primeira prova disso foram as eleições autárquicas de 2014, onde perdeu bastiões como Nijmegen, Groningen e até Amesterdão, que era trabalhista desde 1949.
Chegados às eleições de 2017, o VVD e o PvdA foram cada um para o seu lado. Se o primeiro-ministro, Mark Rutte, estava concentrado em tentar impedir uma sangria de votos para a extrema-direita do PVV, de Geert Wilders, o candidato dos trabalhistas, Lodewijk Asscher, preocupou-se em não perder eleitores à esquerda. Em campanha, prometeu uma subida de impostos para as empresas e uma coleta 60% para quem ganhasse mais do 150 mil euros anuais — tudo coisas que não pôs em prática durante o mandato que terminava, mesmo com a pasta das Finanças na mão.
Na noite de 15 de março, as piores expectativas do Partido Trabalhista confirmaram-se: o seu eleitorado fugiu em debandada. Dos 24,8% e um segundo lugar em 2012, os trabalhistas passaram para 5,7% e um sétimo lugar.
França. A queda vertiginosa de Hollande, o anti-Merkozy
“Os franceses estão a revoltar-se.” Foi assim que o Nobel da Economia Paul Krugman reagiu, em 2012, à eleição de François Hollande para Presidente de França, dizendo que era o fim do “Merkozy”, isto é, da dupla Angela Merkel e Nicolas Sarkozy à frente da Europa. A partir dessa altura, afiançou o economista, a Alemanha ia “deixar de contar com o apoio incondicional do Palácio do Eliseu”.
François Hollande, no seu discurso de vitória, foi bem claro: “A austeridade não pode continuar a ser inevitável”.
Aos poucos, esta convicção foi caindo um pouco por toda a esquerda e centro-esquerda. Pouco depois de ser eleito, François Hollande deparou-se com um défice de 4,4% que teria de ser reduzido para os 3% ditados pelo Tratado Orçamental.
Não demorou muito até serem aprovadas as primeiras medidas de austeridade. À semelhança do que outros países faziam na altura, foram aumentados os impostos para a classe média e para os mais ricos — o caso mais badalado foi o da taxação a 75% do rendimento daqueles que fizessem mais de 1 milhão de euros anuais, uma medida que acabou por ser abandonada por ser pouco eficaz — e também subiram os impostos sobre as empresas. Além disso, os salários da função pública, congelados desde 2010, só viriam a ser aumentados em 2016.
Além disso, o Governo de François Hollande foi responsável pela aplicação de medidas que permitiram liberalizar o mercado de trabalho e a economia — esta última, através de um conjunto de medidas conhecido como “Lei Macron”, já que foram idealizadas por Emmanuel Macron, então ministro da Economia.
E estas medidas surgiram a troco de que resultados? O balanço é negativo. O défice diminuiu mas continua acima dos 3%; o crescimento da economia não foi para lá de anémico; apenas na fase final do Governo de Hollande a taxa de desemprego conseguiu baixar dos 10%, fixando-se mais recentemente nos 9,3%.
Ao mesmo tempo que os números punham à prova o Governo de Hollande — que contou com três primeiros-ministros em apenas cinco anos —, a França dava de caras com um problema que viria a marcar o país de forma profunda: o terrorismo islamista. Basta referir os três atentados de 2015 e 2016 (Charlie Hebdo e ataques de Paris a 13 de novembro e o atropelamento mortal de 86 pessoas em Nice, no verão passado) para entender o problema. A estes, juntaram-se ainda incidentes isolados, igualmente reivindicados por organizações terroristas, a maioria o Estado Islâmico. O mais recente foi a 20 de abril, em Paris, quando um homem, radicalizado e com um passado criminal, matou um polícia a tiro.
Foi neste cenário que o Partido Socialista se preparou para as eleições presidenciais de abril e maio de 2017 — e foi nele que fracassou de maneira inédita. Em dezembro de 2016, com uma taxa de aprovação de 4%, um mínimo histórico para um Presidente, François Hollande anunciou que não se candidatava. Seguiu-se um processo de eleições primárias no Partido Socialista, onde duas visões entraram em choque. De um lado, estava Manuel Valls — o segundo primeiro-ministro de François Hollande e um homem da ala direita do Partido Socialista (PS), do qual chegou a querer mudar o nome. Do outro, estava Benoît Hamon — defensor de um PS à esquerda e antigo ministro de François Hollande, que bateu com a porta depois de este se aproximar à direita. No final de contas, venceu Benoît Hamon.
Mas, nas presidenciais, o candidato socialista esteve longe de convencer. O PS foi esvaziado por várias frentes. Em parte, pela extrema-esquerda de Jean-Luc Mélenchon. Por outro, pela extrema-direita de Marine Le Pen. Mas, sobretudo, os socialistas foram esvaziados por Emmanuel Macron, o centrista liberal que acolheram no seu Governo. Tudo isto foi incomportável para Benoît Hamon, que nunca foi visto como um possível inquilino do Eliseu. A prova ficou dada no dia 23 de abril, quando o PS francês teve o seu pior resultado numas presidenciais: 6,36%, sem passagem à segunda volta.
O fracasso voltou a confirmar-se nas eleições legislativas deste domingo, onde o PS, aliado nalguns círculos ao Partido da Esquerda Radical, não conseguiu passar dos 9%, segundo as projeções. Além da dureza dos números, há algumas derrotas simbólicas, como a de Benoît Hamon (que voltou a não conseguir passar a uma segunda volta) ou de Jean-Christophe Cambadélis (o primeiro secretário do PS, que também não vai além da primeira votação). O resultado de tudo isto, segundo as sondagens da urna, dizem que o PS vai ter entre 30 e 40 deputados na próxima Assembleia Nacional. Isto é: vai passar de uma quase maioria absoluta de 280 para ser uma gota num oceano de 577 deputados.
Reino Unido. Uma meia vitória no bolso, mas sem chegar ao poder
Houve uma altura em que, tal como Margaret Thatcher, o Partido Trabalhista parecia imortal. Eram os anos de Tony Blair, que sempre que foi a eleições conseguiu sair com uma maioria absoluta — em 1997, dominava 63,4% da Câmara dos Comuns; em 2001 passou a ter 62,5% e em 2005 fixou-se nos 55%.
Foram os anos do New Labour, ou Third Way (Terceira Via), em que os trabalhistas britânicos saíram de um ciclo de quatro derrotas eleitorais seguidas (entre 1979 e 1993, perderam três vezes contra Margaret Thatcher e uma contra John Major) ao descolarem da esquerda e aproximarem-se do centro. Ali, foram hábeis a conquistar o eleitorado indeciso e centrista, que durante tanto tempo lhes escapara.
Ainda assim, em 2010, esse ciclo terminou. Nesse ano, o conservador David Cameron venceu as eleições com uma maioria simples, mas conseguiu formar Governo graças aos Liberais Democratas, que aceitaram entrar numa coligação. Os trabalhistas passavam, pela primeira vez em 13 anos, para a oposição.
Sentados numa cadeira da qual pouco conheciam, os trabalhistas foram chamados a escolher uma nova liderança. Em 2010, a escolha acabou por ser entre uma espécie de continuação do New Labour ou uma aproximação à esquerda. A escolha acabou por ser feita entre dois irmãos. Tratava-se de David Miliband — ex-ministro de Tony Blair, de quem era próximo, e de Gordon Brown — e de Ed Miliband — também ele ex-ministro daqueles dois trabalhistas. Nas eleições primárias, Ed Miliband acabou por ganhar, apenas por 1,30%.
Nos anos que se seguiram, Ed Miliband passou a ser apelidado pela oposição e pela imprensa tabloide, maioritariamente de direita, como Red Ed — ou seja, o Ed Vermelho. A ideia era colá-lo a uma esquerda radical, mas a imagem que ele mais passou foi a de falta de força, ou contraponto, perante o Governo de David Cameron e Nick Clegg. A prova disso ficou dada nas eleições de 2015, nas quais David Cameron conseguiu uma maioria absoluta — deixando de precisar dos Liberais Democratas, que se afundaram à custa da promessa não cumprida de não subir as propinas no ensino superior — e Ed Miliband levou o Partido Trabalhista ao seu pior resultado desde 1983.
Depois deste período, um veterano do fundo da bancada parlamentar do Partido Trabalhista saltou para a linha da frente: Jeremy Corbyn, um dos deputados mais à esquerda e que menos seguiam a disciplina de voto do partido, decidira avançar. Prometendo um regresso ao socialismo, com aumento de impostos aos mais ricos e nacionalizações de setores que outrora pertenciam ao Estado, Jeremy Corbyn surpreendeu todas as sondagens e previsões ao vencer as primárias do Partido Trabalhista — ainda para mais, as primárias mais participadas do partido.
No entanto, o que se seguiu esteve longe de ser um mar de rosas. Dentro do partido, os menos esquerdistas viraram-lhe as costas. Depois do referendo do Brexit, houve trabalhistas que acusaram Jeremy Corbyn de não ter feito uma boa campanha a favor do “Remain”. Como tal, Owen Smith, membro do governo sombra de Corbyn, desafiou-o para primárias. E perdeu.
Desde o início, Jeremy Corbyn procurou fazer aquilo que Bernie Sanders tentou, em grande parte, no Partido Democrata e nos EUA em geral. De forma resumida, o objetivo era falar à esquerda, esperando que essa mensagem fosse suficientemente forte para atrair um novo eleitorado, mais jovem, que pudesse compensar a perda de apoio daqueles que estão indecisos e ao centro — em suma, aqueles que Tony Blair soube conquistar.
Esta estratégia foi apanhada de surpresa em abril de 2017, quando a primeira-ministra Theresa May decidiu convocar eleições antecipadas depois de acionar o Artigo 50, que dá início formal ao Brexit. Ao início, as sondagens davam uma vantagem de 20% a Theresa May e uma maioria absoluta ao estilo de Margaret Thatcher nos anos 1980. Porém, depois de uma campanha desastrosa da conservadora, Jeremy Corbyn conseguiu chegar a um resultado que, dentro do Partido Trabalhista, arrancou alguns sorrisos. Com 40% dos votos e apenas menos três pontos percentuais do que Theresa May, os trabalhistas sentiram-se relançados na busca pelo poder. E Jeremy Corbin acabou a madrugada a sorrir, percebendo que os meses conturbados, em que a sua liderança esteve sempre no fio da navalha, tinham acabado.
Mas, olhando para o número de deputados, as contas não são assim tão favoráveis — um total de 261, aquém dos 317 do Partido Conservador. E, mesmo que estes números representem o melhor resultado dos trabalhistas nas últimas três eleições, a festa parece menos animada quando vista de um ângulo mais amplo: nas 20 eleições que se seguiram à Segunda Guerra Mundial, só em cinco é que o Partido Trabalhista teve tão poucos deputados.
Por outro lado, este pode ser o início do caminho para que os trabalhistas chegem de facto à vitória numas eleições próximas (e ninguém arrisca dizer quão próximas estarão, dada a fragilidade de um governo de coligação com os unionistas da Irlanda do Norte e com o Brexit em cima da mesa). Os jovens votaram em massa em Jeremy Corbin; exatamente o oposto aconteceu junto do eleitorado mais velho. Um país geracionalmente dividido, os conservadores fragilizados: haverá um futuro cor-de-rosa à espreita?
Hungria. Como perder tudo às mãos de Viktor Orbán
Em 2006, o Partido Socialista da Hungria (MSZP) conseguiu ser reeleito com 43,2% dos votos e 190 deputados, o que o deixou à beira de uma maioria absoluta. Em 2014, as últimas eleições legislativas, foi a votos numa coligação com outros quatro partidos, ficou-se pelos 25,6% e apenas 29 assentos parlamentares. Que abanão foi este, que praticamente dizimou os socialistas húngaros?
Resumidamente, esse abanão responde pelo nome de Viktor Orbán, primeiro-ministro da Hungria. Orbán está longe de ser uma cara estranha nos corredores do poder da Hungria. Em 1998, foi eleito primeiro-ministro pela primeira vez, funções que ocupou até 2002, ano em que, apesar de vencer as eleições, os socialistas conseguiram somar esforços e fazer uma coligação que chegou ao poder.
Seguiram-se anos de governação socialista-liberal, em que foram criadas propinas para o ensino universitário, taxas moderadoras nos hospitais e pagamento de consultas médicas nos hospitais públicos. A estas medidas, o Fidesz, de Viktór Orbán, respondeu com a convocatória de um referendo em março de 2008, onde esses três pagamentos eram postos em causa. Em cada uma delas, mais de 80% dos eleitores votaram a favor da sua extinção.
A coligação entre socialistas e liberais acabaria por ruir e pouco depois o primeiro-ministro Ferenc Gyurcsány cederia o seu lugar a Gordon Bajnai, um independente nomeado pelos socialistas. Bajnai governaria até 2010, ano em que Orbán conseguiria a sua maioria parlamentar de dois terços, que lhe permitiu alterar a Constituição húngara ao ponto de a Comissão Europeia pôr em causa o seu compromisso com a democracia.
Enquanto isso, o MSZP entrou num processo lento de desintegração, com algumas figuras do partido a saírem para darem início a novas formações políticas, ainda com menor expressão política.
As próximas eleições legislativas húngaras deverão acontecer em 2018. As sondagens apontam para um crescimento dos votos no Fidesz, de Orbán, e para um maior afundamento do MSZP, que dificilmente passará dos 20% e poderá ser ultrapassado pelo Jobbik, o partido de extrema-direita que se orgulha de treinar e orientar milícias paramilitares.