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Ricardo Castelo/Observador

Ricardo Castelo/Observador

Álvaro Almeida: "Não tenho afinidades com o PSD porque não sou do PSD"

Álvaro Almeida, candidato do PSD à câmara do Porto, prefere dizer que tem "afinidades com princípios". Em entrevista, compara Moreira a Trump e até diz que coincidem nos negócios imobiliários.

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Quando Álvaro Almeida chegou à sede distrital do PSD/Porto — esta sexta-feira de manhã –, foi preciso recompor o cenário da entrevista ao Observador. O candidato independente do PSD à Câmara Municipal do Porto, professor universitário de Economia e antigo funcionário do FMI em Washington, pode ser desconhecido do grande público e não ter experiência política, mas preza o profissionalismo do ponto de vista da imagem: recusou sentar-se num sofá, por achar que ficava demasiado “afundado”, e preferiu um dos cadeirões que estavam preparados para os jornalistas.

Mais rígido na primeira metade da entrevista de 60 minutos e mais descontraído na segunda parte, este antigo presidente da Entidade Reguladora da Saúde — e depois da Administração Regional da Saúde do Norte –, assumiu que votou em Luís Filipe Menezes em 2013: “Votei no PSD, sim”. Passou, porém, parte da conversa a tentar explicar que concorda com os princípios do PSD, sem se comprometer com as opções ideológicas do partido: nunca disse se era mais social-democrata ou mais liberal. “Não tenho afinidades com o PSD porque não sou do PSD. Tenho afinidades com princípios”, chegou a dizer.

Durante a emissão em direto no site do Observador e no Facebook, comparou Rui Moreira a Donald Trump e até disse que ambos coincidiam nos negócios imobiliários: Álvaro Almeida acha que o presidente da autarquia tem agido mal no caso Selminho. O candidato propõe transportes especiais para idosos com fraca mobilidade, prefere baixar o IRS em vez do IMI, e defende uma aposta na cultura ligada à educação. Não se lembrou, no entanto, de qualquer livro que pudesse resumir o espírito da cidade do Porto.

“Não tenho afinidades com o PSD porque não sou do PSD. Tenho afinidades com princípios”

Como é um independente, vamos começar pelo seu posicionamento político. Em 2013 votou em Luís Filipe Menezes?
Votei no PSD, sim.

Achava que Luís Filipe Menezes ia ser um bom presidente de câmara, melhor do que foi Rui Moreira?
Difícil seria não ser melhor do que foi Rui Moreira. Certamente que sim, esperava isso. Como não conhecia o enquadramento político de Rui Moreira, sabia ou antecipava que ia ser uma governação orientada à volta de uma pessoa sem orientação política. Como tal, à mercê da vontade dessa pessoa. Isso era algo que não me satisfazia. E preferi votar numa lista com a qual podia contar, que era a lista onde o PSD estava incluído.

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Mas identificava-se com aquele estilo, com Luís Filipe Menezes e com as suas propostas?
Identifico-me com o PSD e votei no PSD por causa disso.

Portanto, votou no partido sem valorizar a pessoa que se estava a candidatar?
Não. Votei no PSD porque achei que das propostas disponíveis na altura era aquela que estava mais de acordo com a minha visão para o Porto.

E vota sempre PSD, por sistema, apesar de ser independente ou vai variado o sentido de voto?
Vou variando o sentido de voto em função das circunstâncias, em função das propostas que vão sendo apresentadas. Mas, nos últimos anos, as propostas que o PSD tem apresentado são aquelas que tenho aprovado.

Revê-se no modelo de campanha de Luís Filipe Menezes? Era capaz de o repetir?
O modelo de campanha podem ver qual é. É um modelo assente na divulgação de propostas para a cidade. Temos um projeto construído no Porto para as famílias, e aquilo que vamos fazer durante esta campanha é tentar passar essa mensagem aos portuenses para que eles percebam que no projeto da coligação Porto Autêntico, os portuenses estão em primeiro lugar. Garante um futuro melhor para os cidadãos do Porto coisa que não acontecerá se optarem pela continuidade deste executivo que, durante quatro anos, deixou o Porto e a câmara praticamente sem progresso. Não há nada significativo que tenha sido feito por este executivo e a prova disso é que se formos ver as principais promessas eleitorais de Moreira em 2013, tem um panfleto com uma lista de 22 promessas e dessa apenas uma foi cumprida na totalidade.

Concordava com aquelas várias travessias do rio que Luís Filipe Menezes queria fazer naquela altura?
O nosso programa eleitoral será divulgado brevemente e aí verá quais são as nossas propostas para o Porto.

Vai também também propor novas travessias do Douro?
Não sou o Luís Filipe Menezes. Não está a entrevistar o Luís Filipe Menezes.

Mas como disse que votou em Luís Filipe Menezes, presumo que também concordasse com o que ele propôs…
A minha proposta é para um Porto em que os portuenses estejam em primeiro lugar, onde os problemas da qualidade de vida dos portuenses estejam em primeiro lugar: no trânsito, a segurança…

Há uma frase que disse Paulo Rios, coordenador autárquico do PSD/Porto que, quando falou da sua candidatura, disse o seguinte: “Quando o PSD se desviou em 2013 do caminho da seriedade e do rigor, os portuenses deram-lhe um sinal”. Concorda com isto?
Se concordo com a frase do deputado Paulo Rios, é isso que me está a perguntar?

Se o PSD se desviou do caminho da seriedade ao candidatar Luís Filipe Menezes…
O que o PSD faz ou não faz é uma questão em que não vou interferir. Como começaram por dizer, não sou militante do PSD. Não interfiro na vida interna do partido. Fico muito satisfeito com o apoio que o PSD me tem dado. Fiquei muito satisfeito, quando estava a fazer o meu discurso de apresentação, ao olhar para a primeira fila e ver lá Pedro Passos Coelho, Rui Rio, Paulo Rangel, José Pedro Aguiar-Branco, Pedro Duarte, e uma série de outras personalidades do PSD. Fiquei muito contente com isso. Mas o que são as questões internas do PSD não me dizem respeito nem interfiro.

Mas o PSD apresenta-o a si como a pessoa que volta pôr o PSD no caminho que devia ter sido o de 2013.
É a opinião dele. Terá de lhe colocar a ele essa questão.

Presumo que tenha conversado com ele sobre isso.
Fui convidado para realizar um projeto. Um projeto para o Porto. Não foi pedido para negar nenhum projeto nem para comparar com nenhum projeto. Tinha um projeto e foi com base nesse projeto que me candidatei. E foi esse projeto que o PSD decidiu apoiar.

"Posso é dizer: se achei que o PSD governou bem nos quatro anos em que esteve no poder, a resposta é sim"

Quer definir melhor essa afinidade ideológica que diz ter com o PSD? Em que PSD é que se revê? É num PSD mais social-democrata, numa vertente mais liberal?
É no PSD que representa os valores da ética, da liberdade, da dignidade dos cidadãos, da defesa do trabalho e do mérito.

Mas essa definição podia servir para todos os partidos…
Não podia servir para todos os partidos, não. Nenhum partido de esquerda defende estes princípios.

A questão é se está mais próximo de um PSD social-democrata e antigo, que até tinha grande implantação aqui no Porto, ou se tem mais afinidades com o PSD de Pedro Passos Coelho, mais recente e mais liberal?
Não tenho afinidades com o PSD porque não sou do PSD. Tenho afinidades com princípios. Se me quiser dizer dois ou três princípios e perguntar se estou de acordo com eles ou não, com certeza, terei todo o gosto. Mas não vou estar aqui a fulanizar estas questões que não me dizem respeito.

Não estava a fulanizar. Estava a perguntar se tinha afinidade ideológica com o PSD. Tem havido nos últimos anos uma tensão ideológica dento do PSD, entre duas vertentes. O que pergunto é se se sente mais identificado com uma ou com outra.
Mas quais vertentes? Se me disser quais são, posso explicar.

O PSD tem uma tradição social-democrata que vem da fundação do partido. Certo?
Com certeza. É um Partido Social Democrata. Com isso estou identificado.

Nos últimos anos, são públicas muitas posições em relação a isso, o PSD é tido como um partido mais liberal do que era anteriormente, em que era mais adepto da intervenção do Estado.
Mas qual é a alternativa?

O que lhe estou a perguntar é se se identifica mais com uma corrente do PSD ou outra.
Posso é dizer: se achei que o PSD governou bem nos quatro anos em que esteve no poder, a resposta é sim.

Então está mais próximo do PSD de Passos Coelho.
Não é estar mais próximo. Não falem em pessoas porque não sou do PSD. Não estou aqui para defender uma pessoa ou outra pessoa. Tivemos na nossa apresentação muitas pessoas do PSD que no passado tiveram posições diferentes e o facto de estarem lá todas satisfaz-me e é isso que me importa do ponto de vista do PSD.

"Os princípios da social-democracia, da dignidade do trabalho, do mérito, da liberdade são os princípios que o PSD defende e com os quais me identifico. Os partidos de esquerda não defendem os princípios do mérito. Defendem a igualdade a todo o custo. É uma diferença fundamental."

Foi o senhor que disse no discurso que fez na convenção autárquica que se associou ao PSD por “afinidade ideológica”.
Sim. Nos princípios da social-democracia, da dignidade do trabalho, do mérito, da liberdade. Esses são os princípios que o PSD defende e com os quais me identifico.

O PS ou o CDS não defendem isso?
Os partidos de esquerda não defendem os princípios do mérito. Defendem a igualdade a todo o custo. É uma diferença fundamental. Se pergunta se tenho alguma afinidade com o Partido Comunista, nunca estaria no Partido Comunista. Até porque o Partido Comunista tem diferenças em termos das questões fundamentais, acha que não devemos pertencer à União Europeia, e eu penso que sim…

Mas comparar o PSD com o PCP, toda a gente percebe a diferença. Mas esses valores de que falou, qualquer pessoa do PS diria isso.
Não sei sei se qualquer pessoa do PS diria isso. Porque o PS tem uma vertente muito mais estatizante do que tem o PSD e sempre teve. Dou um exemplo concreto. O Governo anterior tinha uma ideologia do ponto de vista da forma de prestar serviços de saúde que é uma área que domino. Que passou por devolver um conjunto de hospitais às Misericórdias porque se entendeu — e na minha opinião bem –, que assim se podia aumentar o acesso e a eficiência dos cuidados de saúde. O PS negou esse princípio.

O PS no Governo anterior também fez uma série de PPP e também concessionou hospitais a privados…
Mas o PS do Governo anterior não tem nada a ver com este. Essa é que é a questão. Quando me associei ao PSD foi em fevereiro de 2016. E nessa altura o único partido que defendia os princípios que eu defendo era o PSD. E por isso é que me associei ao PSD.

“Tenho as mesmas hipóteses de ganhar de Rio e de Moreira”

O que leva um independente com a sua carreira académica a candidatar-se a uma câmara importante como o Porto sabendo que mais ninguém no partido está disposto a fazer esse sacrifício?
Não sei se mais ninguém do partido está disposto. Porque é que diz isso?

O senhor é que é o candidato, está aqui. Mais ninguém do partido foi escolhido para ser candidato à câmara do Porto.
Porque me escolheram a mim.

Posso citar uma série de nomes que foram falados: Pedro Duarte, Paulo Rangel, Marco António, Bragança Fernandes…
Pedro Duarte é o candidato à Assembleia Municipal na candidatura Porto Autêntico.

"Sabe qual foi o resultado de Moreira na primeira sondagem de 2013? Foi de 8%. E ganhou. Sabe qual foi o resultado da primeira sondagem de Rui Rio em 2001? 15%. E ganhou."

Mas não à câmara. O que disse quando lhe perguntaram se queria assumir este risco?
Conversámos sobre o que queríamos para o Porto. E quando lhes disse o que queria para o Porto e eles concordaram. A partir desse momento aceitei porque achava e acho que era preciso apresentar uma candidatura forte para derrotar um executivo que tinha governado mal. O PSD achou que podia ser um bom candidato, estava de acordo com a minha visão para o Porto e naturalmente aceitei.

Álvaro Almeida, fotografado esta sexta-feira na sede distrital do PSD/Porto. Créditos: Ricardo Castelo/Observador

Consegue garantir que foi a primeira escolha do partido?
Mas o que é que isso importa? Sei que fui votado pelos órgãos do partido. Isso sei.

Esta é uma candidatura de risco?
Em que sentido?

No sentido em que parte para a campanha sabendo que as suas hipóteses de ganhar são ínfimas.
São as mesmas que tinham Rui Rio em 2001 e Rui Moreira em 2013. E ganharam.

Parte de uma base de 22% e as sondagens são claras e dão uma vantagem muito grande Rui Moreira…
Sabe qual foi o resultado de Rui Moreira na primeira sondagem de 2013? Foi de 8%. E ganhou. Sabe qual foi o resultado da primeira sondagem de Rui Rio em 2001? 15%. E ganhou.

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Trabalhou no FMI. Prefere Christine Lagarde ou Strauss-Khan?
Não há grandes diferenças em termos de políticas. Em termos pessoais sim. Dominique Strauss-Khan esteve envolvido num escândalo sexual que ninguém pode aprovar.

Quando esteve em Washington e em Londres o que o fez sentir mais saudades do Porto?
Do mar, da Foz. De estar a tomar café me frente ao mar.

Quando está fora, sente mais falta de uma francesinha ou de umas sardinhas assadas?
Claramente da francesinha.

É mais Ribeira ou mais Foz?
Gosto muito de estar em frente ao mar na Foz, o que não quer dizer que também não goste da Ribeira. Quando estava fora e vinha ao Porto, geralmente ia para a Foz.

O que é que o Porto tem que Lisboa não tem?
Tanta coisa. Tem os portuenses, as ruas do Porto, a Foz, o rio, que é totalmente diferente do rio em Lisboa. Do Porto vê-se Gaia e de Gaia vê-se o Porto, coisa que em Lisboa não acontece. Tem o FC Porto. Tem francesinhas, Tem a minha família, todos os meus amigos, uma série de razões. Nunca vivi em Lisboa, a não ser durante o serviço militar em que era obrigado a isso.

E que tem Lisboa tem que o Porto não tem?
O poder político. Tem uma série de empregos que no Porto não existem. Tem duas agências europeias e quer ter uma terceira, quando o Porto tem todas as condições para ter a Agência Europeia do Medicamento.

Sérgio Conceição ou Nuno Espírito Santo?
Qualquer um que faça o Porto ganhar. Espírito Santo não trouxe nenhuma vitória, espero que se for Sérgio Conceição, que isso nos permita voltar a ganhar.

Sentiu-se um lesado de Espírito Santo?
[Ri-se] Senti-me muito triste durante os últimos três anos, mas mais até com Lopetegui do que com Espírito Santo.

Regionalização: sim ou não?
Sim, absolutamente. Sempre achei eu Portugal tinha um problema sério em termos políticos que era a falta de um poder político intermédio entre o município e o Governo Central. Mas um poder político efetivo, eleito e não uma delegação dos ministérios centrais.

Passos ou Rio?
Não sou militante do PSD por isso não entro nessas questões internas do partido. Agora tive o apoio dos dois na minha apresentação e fiquei muito contente.

Diga um livro que pudéssemos ler para perceber melhor o Porto?
É uma pergunta complicada para responder rapidamente. Não lhe sei dizer assim de repente.

E uma música?
Porto Sentido, claramente.

Para si um bom resultado…
É ganhar.

E se tiver um resultado um pouco melhor do que o PSD teve em 2013 para si é um bom resultado ou não?
Não. Na medida em que um bom resultado para mim é conseguir que a câmara do Porto mude de rumo. Se conseguir isso é um bom resultado. Se não conseguir não é.

Chegou a dizer: “Não sou militante nem tenho histórico de atividade partidária. Não tenho as características de um candidato”…
…De um candidato tradicional.

Como está a tentar colmatar essas lacunas, de não ter as características de um candidato?…
…Tradicional. Não quer dizer que sejam lacunas. Até podem ser vantagens. Acho que são vantagens.

Pode então explicar?
A vantagem é que tenho uma visão diferente dos problemas porque não passei muitos anos nestas atividades partidárias. Portanto, tenho uma visão de quem analisou a política portuguesa vários anos, mas sem participar. Isso permite-me ter uma perspetiva diferente sobre os problemas, o que pode ser uma vantagem face aos que estão nisto há mais tempo.

Quando anda nas ruas do Porto, as pessoas reconhecem-no?
Sim.

Tem um défice mediático face aos outros candidatos…
Défice mediático no sentido de eles terem muito mais tempo de antena, isso tenho. A atenção dada aos outros candidatos não é a mesma que me é dada. Isso é um problema, mas vamos tentar colmatar isso.

Como?
Trabalhando muito. Falando com as pessoas, andado na rua. É isso que vamos fazer.

Mas admite que os outros candidatos são mais conhecidos.
Sim. Agora são. Na altura, quando se candidataram pela primeira vez, não eram. Toda a gente alguma vez não foi conhecida antes de se candidatar.

Ofende-o que no próprio partido digam que é um “candidato para perder”?
Se achasse que ia perder não estava aqui.

Não o ofende essa designação?
Também Rui Rio era um candidato para perder. Rui Moreira era um candidato para perder e ganharam os dois.

Sente que se houvesse mais probabilidades de o PSD ganhar esta câmara havia uma luta interna maior para decidir quem seria o candidato à câmara do Porto?
Não sei. É uma questão que não me preocupa. O que me interessa é que eu sou o candidato e é nesse sentido que vamos trabalhar.

Estratégia de Moreira é parecida a Trump e “são os dois promotores imobiliários”

Acredita que o apoio falhado do PS a Rui Moreira favorece o resultado que irá ter ou prejudica?
Não sei. Já fui analista político, nessa altura certamente teria uma opinião muito sólida sobre isso. Agora, como estou envolvido diretamente, tenho alguma dificuldade em fazer análise política, mas não me preocupa. Para ganhar, tenho sempre de ter os mesmos votos.

Qual a estratégia para ir recuperar o eleitorado que passou do PSD para Rui Moreira?
Mostrar que temos um projeto melhor e que Rui Moreira durante quatro anos nada fez de relevante. A prova que nada fez de relevante é quando perguntamos às pessoas na rua — e faço isso várias vezes, mesmo às que dizem estar satisfeitas com a governação de Rui Moreira –, pergunto-lhes: “Mas então o que é que ele fez de positivo?” E é uma total incapacidade. Ando há três meses a fazer a pergunta e ninguém me respondeu. Não há uma resposta que tivesse tido.

"Como as pessoas gostam de viver no Porto, há lá uma pessoa na câmara que supostamente manda no Porto e associam a imagem do Porto, que é positiva, que é excelente, à imagem do presidente da câmara".

As pessoas gostam então de Rui Moreira porquê? É uma questão de imagem e não da obra?
É muito fácil de explicar. Qualquer presidente da câmara do Porto terá sempre uma boa imagem. E porquê? Porque o Porto é uma cidade fantástica. As pessoas gostam de viver no Porto. E, portanto, como gostam de viver no Porto, há lá uma pessoa na câmara que supostamente manda no Porto e associam a imagem do Porto, que é positiva, que é excelente, à imagem do presidente da câmara. Mas isso é verdade para qualquer presidente da câmara. Diga-me um presidente da câmara do Porto que não tivesse boa imagem nos últimos 20 e tal anos…

E isso não é uma grande dificuldade para os concorrentes? Até porque nunca um presidente da câmara do Porto perdeu o segundo mandato.
É uma dificuldade, certamente. Mas se me perguntam: qual é a maior dificuldade que sinto? Não tenho a certeza absoluta que vou ganhar? Mas acho que vou ganhar. Não sei se vou conseguir mostrar a todos os portuenses aquilo que eles sabem, mas que alguns ainda não refletiram que é: aquilo que o Porto tem de bom não tem nada que ver com a ação desta câmara. Pelo contrário. Há alguns aspetos em que a câmara devia ter agido, como o trânsito, e nada fez para melhorar a qualidade de vida dos cidadãos do Porto. Essa é a única dificuldade que vou ter: é uma dificuldade importante, que reconheço, mas não impede que no final, a 1 de outubro, tenhamos um bom resultado.

Álvaro Almeida, independente, diz que é possível acabar com os sem-abrigo no Porto durante um mandato. Créditos: Ricardo Castelo

Disse na convenção esta frase sobre Rui Moreira: “Um independente deste tipo, sem enquadramento político e ideológico, não é confiável. Como os eleitores que nele votaram já se aperceberam e mais recentemente o PS veio a perceber”. No seu caso, é um independente com enquadramento político e ideológico por encabeçar a lista de um partido? É mais confiável por isso?
Fiz essa intervenção na convenção autárquica nacional do PSD e durou seis minutos. Durante cinco minutos, falei do nosso projeto para a cidade do Porto. E, de facto, durante um minuto fiz uma análise política de onde essa frase foi extraída fora de contexto. Estava a fazer uma reflexão política sobre movimentos políticos assentes na personalidade, no culto da personalidade, assentes numa pessoa. Naturalmente, aplica-se ao caso do movimento de Rui Moreira. Mas não estou a falar da pessoa. Estou a falar do movimento. É uma diferença importante. Não falei sobre Rui Moreira, falei do movimento em que ele está inserido.

Mas quando diz centrado numa personalidade é Rui Moreira.
Sim. Mas é o movimento que é centrado na pessoa. Se perguntar: qual é a linha política do movimento Rui Moreira? Ninguém sabe dizer. Só sabe dizer que é apoiar Rui Moreira. O que acontece nesses movimentos é que depois, quando assumem o poder, governam conforme lhes apraz sem orientação política, a não ser o princípio de que quem tem o poder tem a razão. Ora, esse princípio é errado.

O que descreve é o culto do chefe.
Exatamente. Mas é exatamente isso. É o culto do chefe porque se perguntar: qual é a linha política de Rui Moreira? Não sabe dizer. Não sabe porque ninguém sabe.

"É um pouco o que acontece num movimento semelhante [ao de Rui Moreira], que é o movimento que levou à eleição do presidente Donald Trump nos Estados Unidos. Também era centrado na pessoa". 

Mas a nível autárquico, noutras cidades, isso é muito diferente?
Olhe, dou-lhe uma diferença importante: discutimos há pouco o que era estar associado ao PSD e falámos numa linha ideológica, falámos de determinados princípios, da social-democracia… Não sei quais são os princípios de Rui Moreira. Ninguém sabe. Porque ele não diz. A única coisa que ele diz é: “O meu partido é o Porto”. Isso é daquelas frases que não tem conteúdo. Não sabemos, quando votamos nele, o que ele vai fazer. Prometeu uma série de coisas e não cumpriu. Aquilo que ele disse que ia fazer, não fez. É um pouco o que acontece num movimento semelhante, que é o movimento que levou à eleição do presidente Donald Trump nos Estados Unidos. Também era centrado na pessoa. E agora todos os dias o mundo inteiro acorda a ver o que ele vai fazer desta vez. Foi essa inconstância, essa dependência da pessoa, que critiquei.

Voltando à convenção, até foi mais longe quando disse: “A isso chamo populismo, aliás, se forem ver ao dicionário podem ver que essa é uma definição de despotismo. Não é por acaso que tem trazido para o debate o regresso da ditadura a Portugal”. Rui Moreira é populista, déspota e quer uma ditadura?
Não me estou a referir a pessoas. O que estou a dizer é que qualquer pessoa inserida num movimento deste tipo, teria um comportamento desse género. Não estou a falar de personalidades, não estou a falar de carácter. Não ponha essas palavras na minha boca porque não as disse. Falei da forma de governar.

Está a falar de uma pessoa.
Não. Estou a falar do modelo de governação.

Mas diz “ele”. “Ele” é Rui Moreira.
Aquilo que estava a referir é uma das características do despotismo: governa-se apenas assente na vontade de quem tem o poder. E isso é uma característica do despotismo. Foi a isso que me referi. Estava a fazer um comentário do tipo em que há muitos autores de Ciência Política. Por exemplo, [Alexis] Tocqueville falava em democracia despótica. O que é uma democracia despótica? Exatamente uma democracia onde elegemos um Governo e depois, a partir daí, o Governo governa apenas com base na sua vontade. E aplica-se neste caso.

Mas quando diz que ele tem trazido para o debate o regresso da ditadura a Portugal acha que isto é uma crítica justa? E esta é apontada à pessoa.
Sim. Essa é apontada ao facto de ele ter feito essa declaração.

Mas não acha injusta? O que ele disse foi que se houvesse populismos — no fundo ele até estava a concordar com o que está a dizer — havia o risco de haver uma ditadura.
Mas ele está a concordar exatamente porque percebe que uma democracia assente neste tipo de princípio, assente na personalidade, corre esse risco de resvalar para a ditadura.

Faz várias vezes declarações no sentido que o discurso de Rui Moreira é vazio, inócuo.
Não. Nunca falei no discurso. A ação é que é vazia, é que é uma inação.

Portanto, considera que o discurso do presidente da câmara tem substância?
Não estou a falar de discurso, estou a falar de ação. A câmara do Porto, ao longo deste mandato nada fez de relevante para melhorar a qualidade de vida dos cidadãos do Porto. Isso sim, é o que digo e isso é fácil de demonstrar. Basta comparar a ação dele com as promessas de campanha. Ele não cumpriu quase nada daquilo que prometeu. Vou admitir que, quando se candidatou em 2013, as promessas que fez eram projetos que achava importantes. Se ele não cumpre sequer aquilo que achou importante é porque não tem capacidade de agir. E é isso que critico.

Não é o candidato tradicional, mas tem noção que, ao longo desta entrevista já comparou o mesmo estilo de movimento de Rui Moreira ao de Donald Trump? Revê-se na defesa da ideia de que o movimento através do qual Rui Moreira chegou ao poder e a estratégia que ele utiliza para ficar lá é parecida com a de Donald Trump?
É. É parecida, no sentido em que nos dois casos toda a estratégia é assente não no conjunto de ideais e de princípios, mas numa pessoa. Aliás, tem outra coisa em comum: os dois casos são promotores imobiliários. Até esse aspeto têm em semelhança.

Já que está associado a um partido, como avalia o fenómeno Rui Moreira no Porto e o enfraquecimento dos partidos e como os partidos podiam aprender com isso. Como é independente, como vê esta questão de fora?
A principal lição das eleições de 2013 é que as pessoas provavelmente quereriam políticos diferentes. E se querem políticos diferentes, não têm mais diferente do que eu, que não tenho sequer um passado de atividade partidária. Tenho um passado de intervenção pública tão transparente que o jornal Público conseguiu fazer uma página inteira com o meu pensamento sem falar comigo. Bastou ver o que estava registado no site da Rádio Renascença. Portanto, claramente não sou o político tradicional e esse é um dos aspetos que será o mais forte nesta candidatura.

Explique-me só como consegue convencer as pessoas que um independente candidato numa lista de um partido é mais independente que um independente que concorre num movimento de independentes?
Não quero convencer que sou mais independente. A questão não é ser mais ou menos independente, a questão é se as pessoas querem um político tradicional, que toda a vida sempre fez política ou se querem uma pessoa que tem uma vida à margem da política e que por dever de cidadania decidem colaborar com a sociedade candidatando-se a um cargo público.

Mas Rui Moreira também não tem um percurso partidário.
Mas, desse ponto de vista, acho que satisfaço essas condições, como Rui Moreira satisfazia em 2013. Não estou aqui a fazer um concurso de independência.

“Como já houve descida do IMI, privilegiaria a descida do IRS”

Temos aqui perguntas de leitores. Ana Silva, de 27 anos: “Procuro casa na cidade do Porto e os preços são cada vez mais altos e não permitem que um jovem consiga instalar-se na cidade. A meu ver o Porto tem perdido muitos jovens e muita da sua identidade nos últimos anos e este executivo nada tem feito nesse sentido. Qual é a sua opinião sobre este assunto?”
A câmara do Porto, durante estes quatro anos, ignorou os efeitos negativos de algo extremamente positivo. O turismo é fundamental para a cidade. Não devemos fazer nada que ponha em causa a contribuição do turismo para o desenvolvimento da cidade, mas também não podemos enfiar a cabeça na areia e assumir que não tem consequências. Tem consequências. O turismo tem consequências na qualidade de vida dos cidadãos. O turismo contribui, por exemplo, para aumentar o trânsito e, por causa disso, os portuenses perdem mais 30 horas no trânsito do que perdiam em 2011. Dados da TomTom, que mostram que, entre 2011 e 2016, o tempo perdido no trânsito pelos portuenses aumentou 30 horas por ano. Ora, isso é um impacto na qualidade de vida enorme, que foi causado em parte pelo turismo. Depois, outro impacto é esse, que essa leitora do Observador refere: teve um impacto no preço da habitação e, também aí, a câmara nada fez para atuar sobre isso. O que propomos fazer nesse domínio é incentivar a reabilitação urbana em toda a cidade. Não é só na baixa do Porto, é em toda a cidade.

Mas com rendas controladas?
Não. Há um princípio básico da economia que nos diz: se a oferta aumentar, os preços baixam. E, portanto, o que nós temos de fazer é aumentar a oferta de habitação de qualidade no Porto. Porque isso vai, só por si, condicionar a subida dos preços. Para aumentar a oferta de habitação na cidade do Porto temos de reabilitar as centenas ou milhares de edifícios que estão abandonados ou que estão em más condições. E é por aí que temos de atuar: alargar as áreas de reabilitação urbana a toda a cidade, para que toda a cidade beneficie das vantagens fiscais associadas à reabilitação, coisa que esta câmara não fez.

"Dados da TomTom, que mostram que, entre 2011 e 2016, o tempo perdido no trânsito pelos portuenses aumentou 30 horas por ano. Ora, isso é um impacto na qualidade de vida enorme, que foi causado em parte pelo turismo".

O exemplo de Lisboa não diz isso. Diz que houve reabilitação e depois os edifícios foram ocupados por plataformas como Airbnb e acabou por afastar também as pessoas da cidade.
Não vou discutir o caso de Lisboa porque não conheço. Sou do Porto. Sempre vivi no Porto e quando não vivi no Porto, vivi no estrangeiro. O que aconteceu no Porto? É que, de facto, houve reabilitação, mas apenas na zona da Baixa. Se sair do centro do Porto, vê que há uma cidade enorme que não beneficiou em desse processo. E temos é que fazer com que Campanhã, Paranhos, Ramalde, beneficiem desse processo de reabilitação. Coisa que até agora não aconteceu.

A questão do alojamento local não está também a distorcer o mercado de arrendamento no Porto?
O alojamento local aumenta a procura, mas a forma de resolver é de aumentar a oferta ao mesmo nível. Se a oferta de habitação aumentar, certamente que os preços não sobem tanto. Temos de garantir que isso aconteça. Temos de confirmar que há mais oferta de habitação, para que os preços não subam.

Antigo quadro do FMI, Álvaro Almeida viveu em Washington e compara Rui Moreira a Donald Trump, até nos negócios imobiliários. Créditos: Ricardo Castelo

Temos dois leitores que perguntam pela descida do IMI. Concorda com a proposta do PS de diminuir o IMI de 0,324% para 0,3%, a taxa mínima?
A partir do momento em que as contas da câmara estejam equilibradas, e já o estavam em 2013, não devemos sobrecarregar os portuenses com carga fiscal desnecessária. Desde que haja folga orçamental, devemos baixar os impostos dentro do rigor orçamental. Dito isto, como já houve uma descida do IMI, privilegiaria uma descida do IRS, porque beneficia mais pessoas que o IMI.

O nosso leitor João Sarmento pergunta: o Porto não é só o centro histórico. O que fazer com o escândalo urbano que reina nas cidades?
Não sabendo exatamente a que se refere o nosso leitor, podemos estar falar do escândalo de centenas de edifícios degradados que não estão a ser devidamente aproveitados. E isso é de facto um escândalo. A recuperação de edifícios degradados será uma prioridade do nosso mandato.

Caso Selminho: “Há um conflito de interesses com o qual o presidente da câmara não soube lidar”

Em entrevista ao Observador, Manuel Pizarro referiu-se ao caso Selminho, imobiliária da família Moreira. O candidato do PS diz que a câmara deve fazer tudo para ficar com a posse dos terrenos em questão. Concorda?
Claro. Sendo um originalmente um terreno da autarquia, acho que seria imoral o presidente da Câmara beneficiar de um terreno que é de todos.

Qual deveria ser a atitude de Rui Moreira neste caso?
Mal houve conhecimento de que o terreno era originalmente da câmara, a autarquia deveria ter tomado todas as medidas para garantir que tomava posse desse terreno.

Mas como é que avalia a atuação de Rui Moreira em todo o processo?
Não me parece que seja uma forma de agir correta.

Acha que Rui Moreira está a proteger os seus próprios interesses?
As motivações não vou discutir. Aquilo que vou discutir é que a câmara nada fez para defender os seus interesses…

Mas as motivações são importantes neste caso. Não pode dizer que é um candidato que vem para trazer a ética e depois ficar no ar a suspeição em torno de Rui Moreira. É isso que queremos saber: qual é a sua posição sobre todo o processo?
Sou muito claro: há aqui um conflito de interesses com o qual o presidente da câmara não soube lidar. Rui Moreira devia ter garantido publicamente aos eleitores, logo em 2013, que ia criar todas as barreiras para que o processo seguisse sem nenhuma interferência. Era isso que Rui Moreira deveria ter feito. E não fez.

“Serei responsável pelo meu resultado. Não deve ter reflexos na vida interna do PSD”

Está disponível para fazer um acordo pós-eleitoral com o movimento de Rui Moreira?
Se o PSD ganhar sem maioria absoluta, teremos de encontrar uma solução de governo, o que passará por trabalhar com os vereadores eleitos e teremos de ver quem são os vereadores e se estão disponíveis para criar um projeto para o Porto que seja alinhado com aquilo que propomos.

E se perder, está disponível para fazer acordos com Rui Moreira?
Se não ganhar, dentro da razoabilidade só há duas alternativas: ou ganhou o Rui Moreira ou ganhou o PS. Em qualquer dos casos, acho que será natural que, depois de quatro anos de governação conjunta, é natural que continuem o projeto. Aliás, eles tinham esse projeto. Nessas circunstâncias, estou convencido que se vão aliar os dois e, nesse caso, a minha posição é clara: não vou colaborar com um governo da câmara com o qual não concordo. Candidatei-me para mudar o rumo. Não vou colaborar com a continuidade.

Não pode ficar isolado? Há quatro anos, dos três vereadores que o PSD elegeu, dois acabaram por ficar ao lado de Rui Moreira…
Não tenho problemas em ficar isolado. Contrariamente a outros, não acho que quem tenha o poder tenha a razão. Eu tenho razão, tenho um projeto para o Porto e é esse projeto que vou defender. Se para o defender tiver de estar na oposição, é isso que farei.

Consegue garantir que os seus candidatos a vereadores não vão fazer depois um acordo com Rui Moreira?
A lista do “Porto Autêntico” terá um acordo e todos aqueles que participaram na lista têm de subscrever uns princípios… Nessa altura veremos que princípios serão.

Esses princípios contemplam não apoiar o executivo sem autorização do partido ou do candidato?
Com certeza. Se eles são eleitos numa lista do “Porto Autêntico” terão de ser coerentes com as posições que essa lista tomar.

Que palavra tem na escolha da lista para concorrer à câmara?
Uma palavra importante. Mas isto não é uma lista pessoal. É uma lista de uma coligação entre o PSD e o PPM. Como candidato, terei uma palavra a dizer, mas a lista será o resultado de um processo que envolve muita gente.

Mas quer levar pessoas de confiança para a sua lista que não terão que ver com o partido…
Naturalmente. Como disse, terei uma palavra a dizer, mas a decisão será da coligação “Porto Autêntico”.

Os independentes vão ter uma representação forte na lista do Porto?
(Risos). Para mim, essa questão não é relevante. Sou independente, a questão de me filiar no PSD nunca se colocou. O PSD decidiu apoiar-me tal como sou, como sempre fui. A lista da coligação “Porto Autêntico” será aquela que entendermos que é a melhor.

Já se reuniu várias vezes com Pedro Passos Coelho. O que é que ele lhe pediu?
Para ganhar a Câmara do Porto.

Tendo em conta o estado do PSD, sente que se o seu resultado for pior do que seria de esperar pode estar a contribuir para a fragilização de Pedro Passos Coelho? Sente essa responsabilidade?
Não sinto essa responsabilidade. Sinto que esta candidatura do “Porto Autêntico” uniu o partido, como o partido nunca tinha estado unido nos últimos anos. Serei responsável pelo meu resultado, qualquer que seja. Não é um resultado que deva ter reflexos na vida interna do PSD. Mas repito: a vida interna do PSD não me diz respeito.

Vai haver bandeiras do PSD na sua campanha? Isso preocupa-o?
Nada. Absolutamente nada. É certamente algo com que me identifico.

“Desde que Moreira tomou posse, o FC Porto nunca mais ganhou… trouxe azar”

Temos aqui mais perguntas dos leitores e notando que trouxe uma gravata azul, vou fazer-lhe a seguinte pergunta do leitor Paulo Gomes: “Qual é a sua relação com o Futebol Clube do Porto”?
Sou sócio do Futebol Clube do Porto há muitos anos. Tenho lugar anual no Estádio do Dragão desde que o Estádio do Dragão foi fundado. O mesmo desde sempre, desde 16 de novembro de 2003, e sofri muito nos últimos quatro anos. Aliás, em tom de brincadeira, deixe-me dizer que um dos aspetos piores da governação de Rui Moreira é que, desde que ele tomou posse, o Porto nunca mais ganhou um troféu. Aliás, o último troféu que o Porto ganhou foi dois meses antes da tomada de posse de Rui Moreira.

Portanto, trouxe azar?
Pelos vistos, trouxe azar e isso custa muito.

Se o FC Porto for campeão, faria aquele ritual de levar os jogadores à varanda da câmara?
O FC Porto é uma das principais instituições da cidade. É aquela que mais leva o nome da cidade pelo mundo fora e, naturalmente, a cidade tem de estar orgulhosa de tudo aquilo que o FC Porto fizer. E, nesse sentido, deve comemorar os feitos do FC Porto, como os do Boavista, como os do Salgueiros.

Tem uma boa relação com o presidente?
Não o conheço pessoalmente. Conheço-o porque é o presidente do meu clube de futebol.

Outro leitor, Pedro Santos, coloca uma questão que faz lembrar um debate antigo, do tempo do Rui Rio que é: “Como pretende combater a problemática dos sem-abrigo no Porto?”
Essa é uma questão que nos preocupa bastante. E acho que há condições para que não haja ninguém a dormir nas ruas do Porto dois ou três anos depois de tomar posse. Essencialmente, aquilo que vamos fazer é criar uma estrutura própria dentro da câmara para coordenar a atividade das instituições que já estão no terreno. Não vamos criar uma estrutura para fazer coisas, vamos criar uma estrutura para ajudar quem já está no terreno. Tive oportunidade, há umas semanas, de acompanhar várias instituições de solidariedade social que prestam apoio aos sem-abrigo. E há muito voluntário cujo trabalho tem de ser reconhecido e a câmara de Porto tem de coordenar esse trabalho, fomentar esse trabalho, ajudar naquilo que for possível e, com isso, colaborando com estas instituições, creio que será possível que em 2019/2020 não haja ninguém a dormir nas ruas do Porto. Podemos ter todos os casos de sem-abrigo com uma resposta.

Já falou várias vezes no seu mote, que é “O Porto para as famílias”. Isso é uma coisa muito vaga. Pode explicar?
Falamos em Porto para as famílias porque queremos melhorar a qualidade de vida dos cidadãos todos, desde os avós, passando pelos pais, até aos netos. Temos uma cidade que está a envelhecer rapidamente. Como todo o país, mas o Porto mais rapidamente que o resto do país. Isso é ótimo por ser sinal de que todos estamos a viver muito mais tempo, mas o Porto tem de saber responder aos desafios que esse envelhecimento levanta. Um dos desafios, por exemplo, é criar mecanismos de mobilidade para quem tem dificuldades de se mover. Vamos criar um sistema de transporte porta a porta para pessoas com problemas de mobilidade, identificadas pelas juntas de freguesia. A ideia é haver um veículo que transporte quem tem problemas de mobilidade da sua casa até à paragem do transporte público. Portanto, não é para se substituir ao transporte público, é para levar os 200/300/500 metros que os separam da paragem de transporte público mais próximo e, dessa forma, permitir que as pessoas não fiquem em casa por falta de mobilidade.

A pessoa se é transportada de casa até ao transporte público. Se tem problemas de mobilidade depois como é que vai do transporte público ao local onde deseja ir
Porque esse sistema existirá pela cidade toda. E depois, quando sair do transporte público, haverá outro veículo, noutra zona da cidade.

Isso tem algum modelo estudado, sabe de outra cidade em que seja aplicado?
É um modelo que existe muito nas cidades americanas. Todas têm sistemas de mobilidade porta-a-porta para quem tem dificuldades de locomoção.

Uma das suas questões é o caos no trânsito. Como e resolve? Criando dificuldades à entrada de carros ou fazendo obras para facilitar circulação?
A solução do trânsito no Porto não é uma solução simples. Não é única. É um conjunto de intervenções em que todas juntas vão contribuir para reduzir o trânsito. Dou dois exemplos: o primeiro é a criação a incentivos a que os carros não entrem na cidade. Para isso teremos de ter parques nos limites da cidade, para que quem vem de fora deixe as viaturas nesses parques e depois utilize o transporte público para se dirigir ao centro da cidade. A segunda é fazer uma coisa que Rui Moreira prometeu mas não fez: na zona ocidental do Porto, criar uma linha de metro que tire todos os dias das ruas quase 50 mil viaturas que sobem a rua do Campo Alegre e a Avenida da Boavista. Se houver uma linha de metro, defendida há muitos anos pelo cidadão Rui Moreira, se ela for construída, certamente que os problemas da zona ocidental ficam muito aliviados.

Há várias áreas onde diz que Rui Moreira tem feito pouco, como o Bolhão, Campo Alegre, Palácio de Cristal. São essas as suas prioridades ao nível de intervenção da cidade?
As minhas prioridades são que a câmara do Porto contribua para o progresso da cidade. No caso do Palácio de Cristal, não é que seja um grande fã da solução de Rui Moreira, mas não sou fã é que o Palácio nos últimos quatro anos tenha estado ao abandono. Isso é que não pode acontecer. A primeira questão é que há uma série de infraestruturas públicas que precisam de intervenções que têm de ser efetuadas e não podemos estar a perder tempo, de cada vez que muda o presidente da câmara, de voltar tudo ao princípio. Foi isso que Rui Moreira fez. Por causa disso, o Palácio de Cristal está hoje como há quatro anos, o Bolhão está como estava há quatro anos. Durante quatro anos nada se fez. Temos de ter uma câmara que recupere e intervenha nos equipamentos públicos. Não uma câmara que passe quatro anos a discutir projetos.

No âmbito da segurança, uma questão que já foi politicamente mais forte, é a favor das câmaras de videovigilância nas cidades?
Em determinadas zonas, sim. Há um problema na segurança. Se calhar, a razão pela qual não se fala agora, é porque não interessa a quem está no poder. Os dados objetivos que temos é que a segurança na cidade do Porto piorou no último ano face ao anterior. Os crimes contra o património aumentaram 4% no Porto quando na região Norte caíram 12%. Há um problema no Porto que não está a ser devidamente tratado pelos poderes políticos. É uma pena que não se discuta isso.

Cultura: “Não pode passar por importar espetáculos de fora”

Na promoção da cultura na cidade, está mais perto de Rui Rio ou de Rui Moreira? Numa entrevista ao Público parecia mais perto do atual presidente.
Estive fora da política durante 50 anos. Por isso tenho uma visão diferente de outros políticos. Colarem-me a um ou a outro é sempre forçado. A minha visão para a cultura é que a câmara tem de ter uma política cultural, mas não pode passar por importar espectáculos vindos de fora. A política cultural em de ser promover a cultura que é feita na cidade do Porto. A câmara tem infraestruturas, deve colocá-las ao serviço das instituições que fazem cultura no Porto.

Se houver necessidade de apoios para essas instituições a câmara estará disponível?
Apoios no sentido de entregar cheques, não. Apoios no sentido de criar condições para que desenvolvam a sua atividade, certamente que sim. E apoios no sentido de encontrar públicos para essas atividades. Uma das questões fundamentais é que a cultura tem de estar associada à educação. Temos de fazer com que a cultura seja parte do processo educativo e incentivar os jovens tenham acesso a eventos culturais e a câmara do Porto tem o papel de facilitar esse acesso.

A Cultura tem de ser sustentável?
Não tem de dar lucro. Tem de fazer parte da educação, tem de ser formativa, contribuir para que os cidadãos progridam em termos intelectuais e culturais. Portanto, o que não concordo é que a câmara gaste dinheiro a financiar espetáculos que veem de fora para serem vistos por meia dúzia de pessoas. Com isso não concordo. Agora, que a câmara invista na formação e educação de públicos, na educação dos jovens e de outros menos jovens mas que ainda podem aproveitar esses benefícios da cultura, isso sim.

Quando liga cultura com educação, isso pressupõe uma avaliação do que são os conteúdos?
Por parte da câmara, não. Isso é uma questão que é a diferença entre estar associada ao PSD e ao PCP. Não podemos formatar ninguém, não queremos impor conteúdos, mas permitir que as pessoas desenvolvam o sentido crítico e que tenham acesso à cultura para poderem desenvolver esse sentido crítico.

Disse que não estava disponível para financiar eventos que vêm de fora, Rui Moreira Pôs-se de fora da candidatura ao festival da Eurovisão. Foi uma boa decisão?
Pôs-se de fora porque o Porto não tem uma sala para isso. Provavelmente o que ele não quis foi que se discutisse o facto de não se ter uma sala. Porque uma das salas que podia ter sido utilizada era o Palácio de Cristal.

Mas a justificação financeira não é argumento?
Se trazer o festival da Eurovisão implicasse o município ter de suportar uns milhões de euros, estaria completamente contra. Mas não quer dizer que seja assim. Se me disserem que a única solução é a câmara pagar, aí não.

Tendo em conta a sua experiência da Entidade Reguladora da Saúde e na Administração Regional e Saúde. Nesse campo o que faz falta ao Porto?
O Porto tem muito boas infraestruturas em termos de saúde. Tem os melhores hospitais da região bons centros de saúde, mas ainda há um ou dois que precisavam de ser melhorados: Ramalde e Campanhã. Quando eu estava na ARS Norte tentei resolver essas questões com o presidente da câmara — que se esqueceu que tinha tido uma reunião comigo para resolver essa questão. É preocupante. É sinal de que ele não estava preocupado com esses temas. Falta resolver essas questões.

Admite uma taxa turística para o Porto?
Admito desde que satisfaça três condições. Tem de gerar uma receita significativa, a segunda questão é que essa receita não ponha em causa a atratividade do Porto para os turistas. Tem de ser de modo a que nenhum turista deixe de vir por causa da taxa. Não pode ser exageradamente alta.

Por exemplo um euro, como em Lisboa?
Até pode ser dois. A última condição é que a taxa turística tem de ser não para aumentar a despesa da câmara mas para reduzir a carga fiscal dos cidadãos do Porto. Portanto, todas as receitas da taxa turística têm de ser compensadas por uma redução fiscal e uma redução que beneficie os cidadãos do Porto nomeadamente no IRS.

Pode ver aqui a entrevista na íntegra:

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