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André Ventura, logo após a demissão de António Costa, apareceu com discurso moderado
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André Ventura, logo após a demissão de António Costa, apareceu com discurso moderado

(Rui Oliveira/Observador)

André Ventura, logo após a demissão de António Costa, apareceu com discurso moderado

(Rui Oliveira/Observador)

André Ventura contido e sem ostracizar o PSD: Chega muda estratégia a pensar no pós-eleições

Chega virou a agulha no dia em que o Governo caiu. André Ventura viu nas eleições antecipadas a esperança de chegar mais cedo ao poder, mas há um gigante obstáculo pelo caminho: o "não é não" do PSD.

Diz-se na gíria que a necessidade aguça o engenho e André Ventura é especialista em jogar as peças do tabuleiro a seu favor. Foi o que fez no dia da demissão de António Costa quando, de um momento para o outro, vestiu o fato do regime, prometeu que o país não ficará sem alternativa e que tudo fará para que um novo governo entre em funções o mais rapidamente possível. A estratégia está definida: não ostracizar o PSD, ser moderado e contido e esperar que o resultado torne o Chega numa peça indispensável.

Esta é uma história de altos e baixos, de aproximações e fugas. As linhas vermelhas e cercos sanitários ao Chega foram sendo levantados partido a partido, com o auge a ser atingido como o “não é não” de Luís Montenegro. E André Ventura, tantas vezes encostado às cordas, foi usando os ventos da maneira que achava mais favorável: ora se aproximava do PSD e esticava a mão a Luís Montenegro, ora se afastava com estrondo, muitas vezes de forma quase desrespeitosa para os sociais-democratas, como aconteceu no dia em que, em pleno debate com o primeiro-ministro atirou: “Às vezes penso que deveria liderar o Chega e o PSD ao mesmo tempo.”

Agora, o plano é outro porque o objetivo mudou. O Chega há muito que alimenta a ideia de que sem os seus votos é impossível haver um governo de direita em Portugal e, com as sondagens a darem cada vez mais força à teoria, Ventura sabe que é preciso contenção para os dois cenários que vai desenhando. No núcleo duro do partido conservador acredita-se que se Ventura conseguir moderar o tom agressivo e histriónico que o caracteriza, pelo menos até ao dia das eleições, crescem as possibilidades de o PSD aceitar negociar com o partido no dia seguinte à ida às urnas. Por outro lado, está a fazer um caminho paralelo em que apela ao voto do Chega em detrimento do PSD — e também aí sabe que precisa de fazer passar uma ideia de moderação.

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Do lado do PSD, já se sente a mudança de ventos vinda do Chega. Dirigentes sociais-democratas ouvidos pelo Observador desconfiam que esta é uma mudança de atitude ponderada por parte André Ventura.

Um Ventura em tom moderado

Pouco tempo depois de António Costa se dirigir ao país para apresentar a demissão de chefe de Governo, André Ventura apareceu em público com um discurso institucional, reconheceu que este era o momento para dar um “sinal de confiança” ao país, recusou fazer “declarações políticas e propagandísticas” num tempo que era do Presidente da República. Além disso, uns tons abaixo do habitual, chamou a atenção para a necessidade de dar uma “alternativa ao país”, admitindo que tem havido “divergências” à direita, mas sublinhando que, por parte do Chega, tudo será feito para que Portugal tenha “um governo em funções o mais rapidamente”.

O Observador sabe que a mudança de tom não só é ponderada como assenta na estratégia apontada às eleições legislativas antecipadas. De um momento para o outro, caiu no colo do Chega a possibilidade de voltar a ir a votos — quando tem visto o seu crescimento sustentado eleição após eleição — e, desta vez, com uma das mais importantes bandeiras do partido a serem o centro da narrativa: a corrupção. E Ventura não está disposto a perder a oportunidade.

O próprio líder do Chega tem pontuado o discurso com referências ao caso (“Estamos prontos para ser alternativa e acabar com a governação socialista e com o lastro de corrupção que tem invadido o país”) e acusou António Costa de estar a condicionar a justiça (“Faz declaração que interfere sobre o processo dizendo que não é sobre o processo, mas que toda a gente sabe que é sobre o processo”), mas longe do tom do passado. Em declarações ou entrevistas na televisão foi mantendo sempre uma atitude mais soft do que é sei apanágio.

"Há alguma hipótese de o PSD formar governo sem o Chega? Não e, com esse cenário, a nossa atitude é fazer parte da solução."

Para lá das reações imediatas a cada momento, também à saída da audiência com Marcelo Rebelo de Sousa, nomeadamente sobre a data das eleições, Ventura conteve-se em pedir o ato eleitoral o mais rápido possível. Fez por se comportar como um adulto na sala, sugerindo que por muito que possa haver à direita quem não entenda o posicionamento, é preciso dar tempo ao PS para arrumar a casa por não ser um processo que se completa em poucos dias.

E, pelo caminho, ainda se disse “sensível” ao argumento da discussão orçamental para apelar a um “juízo de ponderação” e acrescentou que o partido estava disponível para qualquer solução que garanta que há instrumentos orçamentais para começar o ano e com rapidez suficiente para não deixar o país no marasmo político que não interessaria a ninguém”.

Com um país sem governo e umas eleições antecipadas marcadas, o Chega está disposto a moderar-se para se aproximar do PSD, com a presença no executivo a ser apontada como meta.

A tentativa de proximidade ao PSD

Dirigentes do Chega ouvidos pelo Observador confessam que, perante umas eleições inesperadas, houve uma adaptação quase imediata da postura do líder, tendo em conta os dados que estão em cima da mesa. Um dos membros da direção assenta a teoria nas sondagens que têm apontado para um crescimento do partido e resume: “Há alguma hipótese de o PSD formar governo sem o Chega? Não e, com esse cenário, a nossa atitude é fazer parte da solução.”

Aliás, o dirigente do partido recorda até que já houve outros momentos em que o Chega procurou moderar-se em nome de uma aproximação ao PSD e que lhe foram cortadas as pernas. Nessa fase, o tom “mais ameno” de Ventura não surtiu efeito e o partido optou por dar um passo atrás e voltar a apontar ao eleitorado descontente onde tem conseguido impor-se nos últimos anos — com os resultados das eleições a demonstrarem que o Chega tem sido capaz de aumentar a votação a cada ato eleitoral.

Agora, o timing e a hipótese de os sociais-democratas chegarem ao Governo — em particular quando o calendário e as prioridades de Montenegro se alteraram por completo — merecem uma aceleração da mudança de comportamento do Chega. Com um país sem governo e umas eleições antecipadas marcadas, o partido liderado por André Ventura está disposto a moderar-se para se aproximar do PSD, com a presença no executivo a ser apontada como meta. A verdade é que se o presidente do PSD cumprir a palavra e o “não é não”, o Chega não terá qualquer forma de atingir o objetivo — mais ainda quando o próprio André Ventura afastou a ideia de um apoio parlamentar, depois da má experiência da geringonça de direita nos Açores.

Por outro lado, e sem a tal ostracização, André Ventura — sabendo que há a hipótese de continuar a receber um cartão vermelho do PSD — também não tem deixado de tentar roubar eleitorado aos sociais-democratas, alertando que este é o tempo em que “os portugueses têm de escolher se querem o PSD a governar ou o Chega”.

Em entrevista à SIC Notícias, no dia em que a sondagem da Aximage para a TVI e CNN dava 17% ao Chega e 25% ao PSD,  André Ventura entrou em pré-campanha, assumindo que o partido que lidera pode ambicionar “ser governo” e que terminaram os tempos em que se candidatava a segundo ou terceiro lugar. Assumiu com todas as letras que quer vencer as eleições e, com base nas subidas em sondagens, colou-se ao PS e PSD (nesta sondagem com 26 e 25%, respetivamente), dizendo estar entre os três partidos que podem alcançar o primeiro lugar — estando mais perto dos 20% e do segundo lugar do que dos partidos que estão a disputar o quarto, nomeadamente o Bloco de Esquerda e Iniciativa Liberal.

A dificuldade em manter o tom e um obstáculo chamado Pedro Nuno

Ainda que em público, e entre um sorriso, André Ventura o negue (“não me vou moderar para agradar a outros partidos”, como disse em entrevista à SIC Notícias), o Observador sabe que o caminho está traçado, “o registo de sentido de Estado” ativado e sem ostracizar o PSD — o Chega vai para a estrada focado na assertividade da linguagem e na contenção.

A grande incógnita está no tempo em que é possível tirar de André Ventura aquela que tem sido uma das suas imagens de marca. Dirigentes ouvidos pelo Observador acreditam que o líder do Chega vai tentar manter o tom moderado o máximo tempo possível, mas reconhecem que em tempo de campanha pode ser mais difícil.

Aos olhos de elementos do núcleo duro de Ventura, a dificuldade na moderação aumenta se o candidato do PS for Pedro Nuno Santos. A postura política mais “popular e populista” do possível candidato socialista a primeiro-ministro é vista como um obstáculo, já que, se se vai afastar de atacar Luís Montenegro, pode virar a agulha para Pedro Nuno Santos e usar um tom que lhe é mais familiar. Internamente, olha-se para esse ponto como um motivo de alerta, porém também há a consciência de que o tema da corrupção associado ao motivo que levou à queda do Governo possa servir de explicação para as vezes em que Ventura seja mais Ventura e menos moderado.

Ora, no pensamento dos mais próximos de Ventura, há quem resuma que “a estratégia passa por fazer o que é mais certo para o partido e para o país”, deixando para trás os tempos em que “foi preciso gritar”, mas com uma certeza: “Não podemos mudar radicalmente” com receio de que o eleitorado acabe por cobrar nas urnas a um partido que se assume como antirregime. Se Ventura vai ou não aguentar a estratégia nos próximos meses — em particular se continuar a ser colocado de lado por Luís Montenegro –, é uma questão para outros capítulos — até porque o presidente do Chega ferve em pouca água e as agulhas estão sempre a ser mudadas dependendo das circunstâncias que o podem favorecer.

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