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As 94 mensagens que mostram como foi combinado o ataque à academia Alcochete. E as provas contra Bruno de Carvalho

Os 44 suspeitos do ataque à Academia do Sporting, entre eles Bruno de Carvalho, combinaram tudo via WhatsApp. A juíza que os vai julgar autorizou que trabalhem e estudem, mesmo em prisão domiciliária.

Os 43 adeptos do Sporting e o ex-presidente do clube, Bruno de Carvalho, acusados de invadirem a academia do Sporting em Alcochete e de agredirem jogadores e equipa técnica, começam esta segunda-feira a ser julgados, no Tribunal do Monsanto. O ataque foi planeado através de grupos de mensagens de WhatsApp que os comprometem, como se pode ver nas 94 que publicamos de seguida. Apesar da gravidade dos crimes, a juíza autorizou que alguns deles trabalhem ou estudem fora de casa, mesmo estando em prisão domiciliária e tendo em conta a gravidade dos crimes.

Foram vários os pedidos de arguidos e a juíza Sílvia Pires, numa decisão pouco comum, não encontrou argumentos para rejeitá-los. “As exigências cautelares da obrigação de permanência na habitação não são incompatíveis com o exercício da atividade estudantil” ou “laboral”, respondeu consoante o caso. Só dois dos 44 arguidos permanece em prisão preventiva (Mustafá e Aleluia). Depois da decisão instrutória, conhecida a 1 de agosto, a maior parte passou para prisão domiciliária. (Aleluia chegou a ficar em domiciliária, mas já está preso preventivamente outra vez).

Bruno de Carvalho vai a julgamento acusado de ter ordenado o ataque à Academia do Sporting

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O arguido António Catarino, por exemplo, foi um dos que pediu para continuar a estudar, o que a juíza permitiu desde que só saia de casa para ir para a Universidade. O mesmo foi estabelecido para os arguidos Bruno Jacinto e Gustavo Tavares, sendo que este último tem um trabalho que o obriga a deslocar-se por vários locais, uma vez que entrega encomendas, apurou o Observador junto de uma fonte do processo. Na decisão, a magistrada advertiu, no entanto, não admitir “incumprimentos”, caso contrário reverterá a decisão.

MÁRIO CRUZ/LUSA

Ao que tudo indica a maior parte dos arguidos deverá prestar declarações logo nas primeiras sessões agendadas para as próximas semanas. Só o arguido Emanuel Calças, que vive em Leiria, pedirá dispensa depois por causa dos gastos de deslocação para Lisboa, num julgamento que se prolongará certamente por alguns meses: para já há sessões marcadas até janeiro.

Bruno de Carvalho vai requerer uma reconstituição do crime na Academia, mesmo que seja acusado apenas como autor moral do crimes, e arrolou várias testemunhas conhecidas, entre elas Marcelo Rebelo de Sousa.

Invasão à Academia de Alcochete. Sete episódios de uma instrução atribulada

A posição da juíza Sílvia Pires terá sido a primeira vitória de alguns destes arguidos que ao longo da fase de instrução tentaram com vários artifícios impedir que o caso chegasse julgamento. Por quatro vezes tentaram afastar o juiz de instrução, fazendo esta fase decisiva para o processo ser adiada três vezes. A defesa apresentou também diversos requerimentos na tentativa de anular a investigação, por estarem em causa crimes de terrorismo e o caso não ter transitado para a PJ. Também tentaram inviabilizar as provas recolhidas nos telemóveis dos arguidos. Mas nada foi aceite pelo juiz de instrução, Carlos Delca.

Grande parte dos arguidos foi detido logo após o ataque

CARLOS SANTOS/LUSA

As conversas apanhadas nos telemóveis dos arguidos

No despacho de pronúncia que assinou, o magistrado explica porquê. E o grosso das provas que apresenta, e que o levaram a decidir que estes arguidos deviam seguir para julgamento, assenta numa série de mensagens trocadas em vários grupos de WhatsApp, alguns que já existiam antes, outros criados para prepararem o ataque à Academia do Sporting em Alcochete. Estas mensagens foram pesquisadas e encontradas nos telemóveis que foram apreendidos aos arguidos. O Observador reproduz 94 de uma série que foram trocadas nos dias anteriores e naquele em que tudo aconteceu.

Mais de um mês antes daquele 15 de maio de 2018, quando um grupo de adeptos irrompeu na academia do Sporting e agrediu jogadores, treinador e equipa técnica, os ânimos no clube já andavam exaltados. Na altura Jorge Jesus era o treinador da equipa, e Bruno de Carvalho o presidente do clube. Mas os resultados dos jogos não estavam a corresponder às expectativas: uma derrota frente ao Atlético Madrid levou presidente do clube a criticar os jogadores através de publicações nas redes sociais. Um mês depois, o rastilho para o que se seguiria, aconteceu na Madeira, quando o Sporting perdeu com o Marítimo.

Nessa noite de derrota os jogadores foram insultados por dezenas de adeptos quando abandonavam o estádio e tiveram que ser escoltados pela polícia até ao autocarro. Um dos capitães da equipa, o guarda-redes Rui Patrício, viu-se mesmo obrigado a dar explicações aos adeptos. Mas os ânimos já estavam demasiado exaltados para serem travados.

Já no aeroporto houve mais insultos filmados pelas câmaras das muitas estações de televisão presentes no local. E a noite não serenou os ânimos nem fez ninguém refletir melhor sobre o caso. Já de madrugada, em Lisboa, alguns jogadores foram alvo de tentativas de agressão nas garagens do estádio de Alvalade, como foi o caso concreto de Rui Patrício, quando se preparava para regressar a casa.

Por aqueles dias, viriam a descobrir as autoridades, o ex-líder da Juve Leo, Fernando Barata Mendes telefonou, a partir do Funchal, várias vezes ao presidente Bruno de Carvalho. O presidente também falou ao telefone com Nuno Mendes, o então líder da principal claque do clube, conhecido por Mustafá — com quem, dizem os jogadores, mantinha uma relação próxima, apesar de não o ter demonstrado em tribunal. As provas destes contactos estavam num telemóvel apreendido a Bruno de Carvalho aquando da busca à sua casa.

Além dos registos telefónicos, há também um testemunho prestado em interrogatório pelo arguido, que era à data oficial de ligação dos adeptos. Bruno Jacinto contou que na manhã de 14 de maio, quando encontrou Mustafá no aeroporto, após a noite da derrota frente ao Marítimo, ele lhe disse. “Já falei com presidente e ele disse-me: desta vez façam o que quiserem aos jogadores”.

Na convicção do juiz que conduziu a instrução do processo, a ordem estava dada. Carlos Delca, na decisão instrutória que assinou, diz mesmo que o presidente foi instado várias vezes a explicar estas chamadas telefónicas com o ex-lider da claque, mas que se esquivou sempre às respostas, justificando que “não falava nem gostava” daquele arguido. Tal como o Observador então noticiou, Bruno de Carvalho afirmou mesmo ao juiz que nem sequer sabia dos confrontos com os jogadores após o jogo com o Marítimo, na Madeira.

“Não digam nem escrevam que não quis responder, era uma conversa sobre questões internas da Juventude Leonina a que não liguei nada”, justificou.

Durante a fase de instrução do processo nunca se viu, de facto, Bruno de Carvalho cumprimentar sequer Fernando Mendes, que enfrentava um problema de saúde e que acabou por ser libertado por causa dos tratamentos.

Mas a decisão instrutória acabou por confirmar aquilo que o Ministério Público já tinha concluido no despacho de acusação. Que o presidente da Juve Leo, Mustafá, e os outros adeptos mais próximos dele, como Tiago Silva, Valter Semedo, Bruno Monteiro, Hugo Ribeiro, Emanuel Calças e Joaquim Costa incentivaram, com os seus comportamentos, os restantes adeptos a criar “um ambiente de profunda hostilidade contra os jogadores e elementos da equipa técnica e persuadir, como persuadiram, quer os elementos das claques, quer o ex-presidente do clube, Bruno de Carvalho, à tomada de medidas drásticas contra os jogadores e elementos da equipa técnica, por forma a afastá-los do clube”.

Plano que, concluiu o juiz de instrução Carlos Delca, “há muito” que era difundido com as publicações que fazia no Facebook deixando recados à equipa. “Bruno de Carvalho manifestava sentimentos de desprezo contra todos os jogadores da equipa principal de futebol, designadamente contra os jogadores Rui Patrício e William Carvalho, contra os quais manifestava elevada agressividade verbal, por considerar que os mesmos não eram bons profissionais de futebol”, lê-se na decisão instrutória.

Além disso, existem no processo provas de que Bruno de Carvalho se reuniu com os membros da claque na sua sede — a Casinha — as instalações de que dispõem no estádio de Alvalade. Nessa reunião estavam Mustafá, Tiago Silva, Valter Semedo e vários chefes de núcleo. Compareceram também André Geraldes (ex-diretor desportivo do clube) e o presidente sportinguista que lhe terá dito que os jogadores eram “uns meninos mimados” e que a partir daquele momento “poderiam falar com os jogadores à vontade”.

Os arguidos que vão estar a partir desta segunda-feira em julgamento no Tribunal de Monsanto são acusados de terem usado vários grupos de WhatsApp para por em prática o plano para atacar a equipa. A 14 de maio de 2018, pelas 22h03, criaram o grupo “Academia Amanhã”. Emanuel Calças era um dos administradores.

Através desse grupo, os arguidos combinaram um ponto de encontro em Lisboa e outro no Montijo, com informações do horário do treino da equipa e de como deviam entrar na Academia. Para a acusação, os autores morais do ataque são o então oficial de ligação das claques ao clube, Bruno Jacinto, o ex-presidente Bruno de Carvalho e o líder da Juve Leo, Nuno Mendes, que nada fizeram para o impedir.

Já perto da Academia, os arguidos estacionaram os carros um terreno de terra batida e seguiram em grupo, a pé, alguns de cara tapada com balaclavas, outros não. E com bastões nas mãos.

Entre os adeptos, como provaram as conversas apreendidas nos telemóveis dos arguidos, havia também membros do Casuais, a quem foram apreendidas conversas nos telemóveis no grupo “New School – “NS”.

O arguido Hugo Ribeiro disse em interrogatório, em outubro de 2018, que tinha sido adicionado também ao grupo “Exercito Invencível” por Tiago Silva, mais conhecido por Bocas, e número dois da claque, grupo onde há igualmente mensagens comprometedores. Estava igualmente no grupo “Academia Amanhã”, ao qual disse que foi Emanuel Calças que o adicionou. E não escondeu que se sentia frustrado com a prestação da equipa.

alcochete

A partir desta segunda-feira, os 44 arguidos sentam-se no banco dos arguidos do Tribunal do Monsanto, pelos crimes de terrorismo, ameaça agravada, sequestro, ofensa à integridade física qualificada, ameaça agravada e, nalguns casos, posse de arma proibida e tráfico de droga. A maior parte deles quer prestar declarações.

(Artigo corrigido: em vez de um arguido em prisão preventiva estão dois. Derrota com o Atlético de Madrid e não com o Real Madrid)

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