Dois dias depois do assalto na secretaria-geral do Ministério da Administração Interna, o cenário na rua de São Mamede, onde se localiza o edifício, continua igual. A janela por onde os ladrões terão entrado, no 6.º andar, continua com o vidro partido e a segurança não foi reforçada, encontrando-se esta sexta-feira um agente da PSP à porta deste organismo do Ministério da Administração Interna, como é habitual — tanto durante o dia, como durante a noite.
Tal como o Observador avançou, durante a madrugada desta quarta-feira — acredita-se que o assalto tenha acontecido por volta das 5h —, vários gabinetes, incluindo os dos principais responsáveis, foram remexidos e foram levados oito computadores portáteis. Um desses computadores era utilizado por Teresa Costa, secretária-geral adjunta e outro pertencia ao responsável pela área informática.
A investigação está agora a cargo da Divisão de Investigação Criminal da PSP e, segundo apurou o Observador na rua de São Mamede, esta polícia já pediu as imagens da câmara ao único restaurante da rua que conta com vigilância. Esta informação poderá ajudar a revelar quem são os assaltantes, sendo que a câmara deste estabelecimento só filma uma das saídas da rua — o que significa que, caso os assaltantes tenham optado por fazer o caminho inverso, a sua imagem não foi captada.
PSP e MAI em silêncio sobre reforço de segurança
Pela rua de São Mamede passam dezenas de turistas e são poucos os portugueses que por ali vivem. E os restaurantes desta rua já estavam fechados quando os assaltantes conseguiram entrar no edifício. Aliás, a proprietária de um dos cafés vive ao lado da secretaria-geral do Ministério da Administração Interna e garantiu ao Observador não ter ouvido qualquer barulho durante a madrugada desta quarta-feira.
Tal como o Observador avançou — e o Ministério liderado por Margarida Blasco confirmou horas mais tarde –, os assaltantes, cujo número ainda está por apurar, terão conseguido entrar através dos andaimes que estão colocados no prédio contíguo, que está em obras. Subindo através dos andaimes, conseguiram chegar até ao sexto andar da secretaria geral, partiram parte do vidro da janela, conseguindo abri-la.
O Observador questionou a PSP sobre o reforço da segurança naquele local, para saber o que foi feito depois do assalto e se a câmara de vigilância já está em funcionamento, mas esta polícia recusou prestar mais esclarecimentos, tendo apenas dito que está “a investigar o caso em apreço e não prestará mais declarações além da informação que já foi avançada”. E a mesma resposta foi, aliás, dada pelo Ministério da Administração Interna, quando questionado pelo Observador sobre o reforço de segurança, se a câmara de vigilância já está a funcionar ou quando é que o vidro partido será substituído. “O MAI não comenta investigações policiais”, referiu este ministério, remetendo para o comunicado — único até ao momento — enviado ao final do dia desta quinta-feira.
Apesar do silêncio da PSP e do Ministério da Administração Interna, o deputado do PSD António Rodrigues esclareceu à Rádio Observador que as câmaras de vigilância estão a funcionar. “As câmaras não estão avariadas, as câmaras funcionam”, disse esta tarde no programa Tira-Teimas.
Informações dos computadores ainda são desconhecidas
Um dos mistérios que ainda não foi esclarecido pelo Ministério da Administração Interna é precisamente a informação que está dentro dos oito computadores levados pelos assaltantes. O ministério liderado por Margarida Blasco referiu em comunicado que foram “furtados alguns computadores”, sendo que alguns deles “ainda não tinham tido uso, já que são de reserva/substituição”.
Ainda assim, um dos computadores, apurou o Observador, pertence a Teresa Costa, secretária-geral adjunta deste organismo do MAI, que tem a seu cargo pastas como gestão de pessoal, a divisão de documentação e arquivo, a divisão de informação e relações públicas e ainda a divisão das contraordenações. Ao Observador, um antigo ministro da Administração Interna revelou que podem estar no computador informações sobre segurança privada e sobre contratos que estão a ser executados, e outro antigo ministro considerou que poderão não estar informações sensíveis do ponto de vista de segurança, uma vez que essas matérias deverão estar no próprio Ministério da Administração Interna.
De acordo com a informação disponível no site da secretaria-geral da Administração Interna, é também aqui que estão informações relativas aos processos eleitorais, na divisão da administração eleitoral, e é também aqui que está o Centro de Operações e Gestão do Sistema Integrado das Redes de Emergência e Segurança de Portugal — o SIRESP.
Ainda sobre o tipo de informação que pode estar nos computadores, o deputado social-democrata António Rodrigues garantiu à Rádio Observador que “Os computadores não guardam informação, os computadores acedem a uma rede que só com username e password é que se tem acesso à informação que estão guardadas” e que “em princípio, não foi furtada qualquer tipo de informação”. “Garantiram-me que não havia qualquer tipo de risco de acesso a informação de contratos ou qualquer documento sensível”, acrescentou.
PS quer ouvir ministra no Parlamento sobre “situação misteriosa” com urgência
Esta sexta-feira, o PS anunciou que vai pedir uma audição parlamentar para ouvir Margarida Blasco, ministra da Administração Interna e considerou que este assalto tem “contornos absolutamente misteriosos”.
As palavras são do deputado socialista Pedro Vaz, que falou aos jornalistas à margem da Academia Socialista, em Tomar: “Isto levante preocupações e o PS, perante a situação e a falta de explicações até ao momento, irá requerer a presença da senhora ministra”. Os socialistas querem “primeiro perceber como é que é possível que, num edifício do Ministério da Administração Interna, que tem vigilância policial 24 horas, ocorra furto de equipamentos informáticos” e depois saber “o que é que continha a informação nesses computadores”.
“Tudo isso são informações que têm que ser esclarecidas e nós vemos com muita preocupação o facto de o Governo ter desvalorizado a situação e isso para nós é algo que não é aceitável”, acrescentou Pedro Vaz.