Insultos como “velha” e “feia”; múltiplas agressões — desde murros a empurrões e apertos no pescoço; e a proibição de falar com o próprio filho marcaram os quase 30 anos de casamento entre José Castelo Branco e Betty Grafstein. É o que relata o Ministério Público (MP) no despacho de acusação contra o socialite, em que lhe é imputado um crime de violência doméstica. O Ministério Público acredita que Castelo Branco “atuou com o propósito concretizado de maltratar Betty Grafstein, molestando-a no seu corpo e saúde psíquica” e que “agiu sempre de forma livre, voluntária e consciente”.
“Com a prática das condutas descritas, deu causa o arguido, de modo direto e necessário, a que a vítima Betty Grafstein se sentisse ansiosa e com medo, receando pelas atitudes que o arguido pudesse tomar em relação a si, nomeadamente que ofendesse a sua integridade física, a humilhasse, a intimidasse ou mesmo a matasse“, sublinha o MP no despacho de 11 páginas a que o Observador teve acesso.
No documento são descritos vários episódios de violência física e psicológica, como quando o socialite “apertou o pescoço da Betty Grafstein até ela sentir dificuldades em respirar” ou quando “desferiu um murro na cabeça da vítima”, insinuando depois “que não lhe tinha batido.”
A acusação de violência doméstica foi proferida esta segunda-feira, com Castelo Branco a reagir pela primeira vez esta tarde para afirmar: “DEUS É MINHA TESTEMUNHA.” Por esta altura, Betty Grafstein, que na quarta-feira completa 96 anos — e também 29 anos de casamento —, permanece internada num hospital de Nova Iorque, para onde foi transferida em junho.
Castelo Branco bateu em Betty, empurrou-a e apertou-lhe o pescoço “até ela sentir dificuldades em respirar”
“És tudo o que tenho.” Foi com estas palavras que, em novembro do ano passado, Castelo Branco assinalou os 28 anos de casamento com Betty Grafstein, partilhando no Instagram uma montagem com fotografias e vídeos dos momentos que viveram juntos. Um casamento que, diz agora o Ministério Público, desde o início foi marcado por vários episódios de violência.
“Desde o início do casamento (27-11-1996) que, por várias vezes, em datas não concretamente apuradas, quando estavam nos EUA e quando estavam em Portugal, na residência e no hotel, o arguido bateu em Betty Grafstein, desferindo murros por todo o corpo e empurrando-a“, pode ler-se no despacho da acusação. O MP descreve também que, “por várias vezes, em datas não concretamente apuradas, quando estavam nos EUA e quando estavam em Portugal, na residência e no hotel, o arguido apertou o pescoço de Betty Grafstein até ela sentir dificuldades em respirar“.
Também é relatado um episódio na residência do casal, em Nova Iorque, em que Castelo Branco “desferiu um murro na cabeça da vítima”, que “ficou assustada e com medo do arguido”. Nessa ocasião, acrescenta o MP, “o arguido disse que Betty Grafstein estava a imaginar, insinuando que não lhe tinha batido“.
O MP diz ainda que, com uma “frequência diária”, o arguido chamava à mulher “velha” e “feia”. Também lhe “gritava” para que se colocasse em pé e ficasse direita, “não obstante ele saber que ela tem bastantes dificuldades em fazê-lo.” Além disso, desde há pelo menos dois anos estaria também a impedi-la de falar com o filho, Roger Grafstein, afirmando que este “não quer saber dela”.
Na acusação também são descritos episódios mais recentes, após a deslocação do casal a Portugal em março deste ano. No dia 23, por exemplo, refere-se que Castelo Branco e Betty tinham marcado um jantar com amigos num restaurante em Lisboa, mas antes receberam no hotel em que estavam hospedados Marcella Fernandes, a quem a socialite pediu ajuda.
“Nessa ocasião, o arguido gritou com a Betty Grafstein e esteve a vesti-la, tratando-a como se fosse um boneco”, lê-se. Castelo Branco ainda tentou “forçá-la” a calçar uns sapatos, mas “a vítima chorava e queixava-se de dores, com o arguido a gritar em resposta ‘stop crying'” (em português, “pare de chorar”). Foi no momento em que desistiu e se afastou para buscar outros sapatos que Betty aproveitou para sussurrar a Marcella Fernandes: “Help me” (“Ajuda-me”).
O internamento e a proibição de visitas. Betty “tem medo de que o arguido a mate”
O Hotel Inglaterra, no Estoril, era um dos destinos procurados por José Castelo Branco e Betty Grafstein quando viajavam de Nova Iorque para Portugal. Era este o hotel onde estavam hospedados em abril de 2024, antes de a socialite dar entrada no Hospital CUF Cascais. José Castelo Branco já se pronunciou longamente sobre esse momento. “O que aconteceu não foi nada de mais. Betty já tinha as mazelas, qualquer toque é uma nódoa negra”, disse à CNN Portugal já depois do interrogatório por suspeitas de violência doméstica.
Em entrevista, Castelo Branco afirmou que estava sozinho e que Betty caiu três vezes, o que o levou a ligar para uma amiga a pedir ajuda. “Não quis ligar para o 112 porque seria um alarido”, explicou. Uma versão muito diferente da que se lê na acusação: “Entre os dias 18 e 19 de abril de 2024 (…), no interior do quarto onde estavam hospedados, o arguido empurrou a vítima Betty Grafstein, fazendo-a cair no chão.”
Da queda resultaram ferimentos e hematomas num braço, na perna, na anca e a fratura da bacia. Apesar das lesões, diz o Ministério Público que só no dia 20 de abril é que Castelo Branco levou Betty ao hospital, onde ficou internada até 4 de junho. Nessa altura, foi transferida para o Lenox Hill Hospital, em Nova Iorque, onde continua internada.
Durante o internamento em Lisboa, José Castelo Branco visitou Betty diversas vezes, gravando inclusivamente alguns vídeos da socialite que publicou nas redes sociais. O MP cita um episódio em que insistiu com a mulher para se levantar da cama do hospital e sentar-se num cadeirão para gravar um vídeo, “não obstante ter sido alertado pelos profissionais de saúde que tal era desaconselhado, atento o estado de saúde da vítima”.
O Ministério Público acrescenta que Betty acabou por confessar aos profissionais de saúde do hospital que “não queria ficar sozinha no quarto com o arguido e queria a porta do quarto aberta enquanto ele ali estivesse”. Teria sido o próprio hospital a denunciar ao MP o crime de violência doméstica, classificado como crime público, segundo avançou o jornal Expresso em maio.
Betty chegou mesmo a “pedir aos profissionais do Hospital que não permitissem a entrada do arguido no seu quarto”. Nessa altura, Castelo Branco tentou forçar a entrada e “teve de ser agarrado e impedido pelos seguranças do Hospital”. “A vítima Betty Grafstein tem medo que o arguido a mate”, acrescenta o MP.
Castelo Branco têm negado agressões a Betty desde que esta foi internada. “Um dia somos bestiais, e no outro dia querem fazer de nós bestas? Não, de mim ninguém vai fazer besta. A minha preocupação agora é a minha Betty ficar boa, ficar cheia de saúde e comemorar com ela os 100 anos”, afirmou durante uma chamada telefónica em direto no programa Casa Feliz, da SIC. Já esta quinta-feira escreveu no Instagram: “Eu vou sobreviver! DEUS É MINHA TESTEMUNHA.”
O Ministério Público defende que se mantenham as medidas de coação aplicadas a Castelo Branco, que (se o juiz de instrução validar essa proposta) continuará impedido de deixar o país. O procurador rejeita “qualquer atenuação das exigências cautelares no que concerne ao perigo de fuga e, por via deste, aos perigos de continuação da atividade criminosa e de conservação ou veracidade da prova”, defendendo a importância de “debelar tais perigos”, refere o despacho de acusação.
O advogado de Betty Grafstein também já reagiu à acusação do MP e revelou que a cliente admitiu estar “mais descansada” com os desenvolvimentos do caso. Em entrevista à CMTV, Alexandre Guerreiro indicou que na primeira interação com a cliente esta lhe disse: “Só espero que o senhor me consiga ajudar.” Para o advogado, “isto diz tudo sobre a gravidade daquilo que a senhora Betty Grafstein passou”.