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ANTÓNIO JOSÉ/LUSA

ANTÓNIO JOSÉ/LUSA

Cheia de dívidas, "sem pernas para andar", mas com visitas do poder. As "cambalhotas" que a Dielmar deu até à insolvência

A Dielmar, que entrou agora em processo de insolvência, teve fortes ajudas do Estado e foi palco de discursos de vários governantes e chefes de Estado ao longo da última década. Não foi suficiente.

Chegou a exportar para perto de 30 mercados, participava nas maiores feiras internacionais de moda, vestiu a seleção nacional e os três grandes do futebol português, foi visitada por altos responsáveis políticos (muitas vezes em vários governos), mas, desde o período da Troika, os problemas financeiros nunca largaram a Dielmar.

A pandemia deu uma machadada — que pode ser a final —, depois de a administração da empresa ter apresentado, na última sexta-feira, o pedido de insolvência. E o Estado acaba com uma fatura de 8 milhões de euros nas mãos, depois de todos os apoios dados ao longo da última década.

O ministro da Economia, Pedro Siza Vieira, já disse que vai tentar salvaguardar os 300 postos de trabalho que estão em causa — chegaram a ser 400 há poucos anos —, mas deixou poucas dúvidas a quem o ouviu: ninguém vai salvar a Dielmar.

“Mais cedo ou mais tarde isto ia acontecer”

Quando soube da notícia do pedido de insolvência, Justina Lopes, que trabalha na Dielmar há 31 anos, até pensou “que fosse mentira”, porque não foi dada “nem uma palavra aos trabalhadores e aos representantes dos trabalhadores”.

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Só que, na verdade, até já estava “mais ou menos à espera”. É que “aquilo não tinha pernas para andar”, lamenta a sindicalista ao Observador. “Com o trabalho que a gente fazia e a orientação que lá andava, a gente sabia que não ia longe, mais cedo ou mais tarde isto ia acontecer. A empresa com esta administração tem estado cada vez pior em todos os aspetos”, considera. “Já andava há muito tempo às cambalhotas, até que se deu esta situação”.

Justina Lopes considera que “o problema maior foi sempre a administração” de Ana Paula Rafael, filha de um dos fundadores (o alfaiate Hélder Rafael), que conduz os negócios da empresa desde 2008. “Quando começou a haver mais doutores e engenheiros que não percebiam nada, não sabiam pegar num casaco, não sabiam se estava bem ou se estava mal, as coisas começaram a desmoronar”, considera Justina Lopes.

António Costa ao lado Ana Paula Rafael, numa visita à Dielmar, em 2017, onde o primeiro-ministro anunciou medidas de apoio a empresas de mão de obra intensiva

LUSA

Para a sindicalista, a reestruturação significaria “pôr lá pessoas em condições”, que conseguissem “perceber como se faz um casaco do princípio ao fim” e que “pusessem uns bons líderes”. Os que existiam “foram saindo para a reforma” e os que os substituíram “não eram competentes”, na opinião da trabalhadora. “Toda a gente manda e ninguém se entende, ninguém percebe nada do assunto”.

E quando é que teve a certeza que a empresa não ia durar muito tempo? “Foi agora”, nos últimos meses, quando Ana Paula Rafael “começou a refazer o guarda-roupa dela todo, de inverno e de verão — como é a patroa, mandou fazer muita roupa para ela própria”.

A sindicalista garante que Ana Paula Rafael encomendava roupa “sempre que queria”, mas que “agora havia muito mais coisas”, em tempos de pandemia, quando parte dos trabalhadores esteve em lay-off. “Todos os administradores que por cá passaram, quando queriam roupa, fazíamos roupa para eles”. Depois, deixaram as linhas de produção “completamente vazias”, um sintoma de que “alguma coisa se passava”.

O Observador tentou falar com a presidente da empresa, mas não obteve, até ao momento, qualquer resposta.

A fatura pesada deixada ao Estado

A pandemia veio acentuar as fragilidades da empresa, mas os problemas não eram de hoje e obrigaram o Estado a dar ajudas mais do que uma vez. Numa reação, em comunicado, às notícias do pedido de insolvência, o Ministério da Economia fez questão de referir que a Dielmar está “há vários anos, com graves problemas financeiros, apresentando muitas dificuldades a nível comercial e registando quebras significativas do seu volume de vendas”.

Uma situação que se prolongou “pelos últimos 10 anos” e que obrigou, neste período, várias entidades públicas a injetarem aproximadamente 5 milhões de euros na empresa e a garantirem mais de 3 milhões de dívida. No total, se o processo de insolvência for o fim de linha para a Dielmar, os contribuintes ficam na mão com uma fatura de 8 milhões de euros.

“Quando começou a haver mais doutores e engenheiros que não percebiam nada, não sabiam pegar num casaco, não sabiam se estava bem ou se estava mal, as coisas começaram a desmoronar."
Justina Lopes, sindicalista

A primeira intervenção do Estado na Dielmar remonta aos tempos da Troika. O Ministério da Economia lembra que o Estado ajudou a empresa, entre 2011 e 2013, com 2,7 milhões de euros. O apoio, em capital, suprimentos e leasing imobiliário, foi dado através do Fundo Autónomo de Apoio à Concentração e Consolidação Empresarial (FACCE), instrumento criado para apoiar a atividade económica e o emprego.

Na sequência de uma reestruturação financeira, houve ainda, em 2017, a aquisição de imóveis no valor de 2,5 milhões de euros, por via do Fundo Imobiliário Especial de Apoio às Empresas (FIEAE), que serve para o Estado sanear e estabilizar empresas economicamente viáveis que estejam em dificuldade.

E não ficaria por aí. “Uma parte muito substancial da dívida da Dielmar” tem garantias públicas, lembrou o ministro da Economia, esta segunda-feira, em declarações registadas pela RTP. “Mais de 3,2 milhões de euros de dívida são garantidos pelo Estado.”

A Dielmar “não tem salvação”

Só que esses tempos em que o Estado injetava dinheiro na Dielmar chegaram ao fim. “Não vale a pena pôr dinheiro fresco em cima de uma empresa que não tem salvação“, atirou Pedro Siza Vieira, que diz, no entanto, querer salvaguardar postos de trabalho.

O ministro reconheceu ainda que, “se calhar, o Estado não vai recuperar” esses apoios públicos. E não deverá ser o único. Segundo o ministério, a Dielmar, que “apresenta resultados negativos desde há vários anos”, tem ainda uma dívida à banca de cerca de 6,1 milhões de euros, dívidas a fornecedores de cerca de 2,5 milhões, “vencidos na sua quase totalidade”, e à Segurança Social de 1,7 mil milhões.

O dinheiro injetado foi tanto que até a sindicalista Justina Lopes entende que “o Estado fez mais do que devia” pela Dielmar: “Já há muito tempo que se devia ter posto a milhas e não devia ter injetado tanto dinheiro como injetou“.

Dielmar chegou a exportar para perto de 30 mercados

EPA

Pelo caminho, as diferentes soluções procuradas para resolver o problema não surtiram o efeito desejado. “Com esta gestão não foi possível assegurar a salvação da empresa“, criticou Siza Vieira, que diz ter acordado “sucessivamente” com a administração “a possibilidade de serem alienados determinados ativos ou de ser assegurada uma gestão mais profissional”, mas que “isso não foi possível”. Além disso, adianta que o Governo tentou encontrar investidores que estivessem interessados em entrar no capital da empresa. O elevado endividamento não o permitiu.

O Ministério da Economia indica ainda, em comunicado, que o recurso às verbas injetadas “pressupunha a realização de um conjunto de medidas necessárias à reestruturação”, lamentando a falta de colaboração da administração da Dielmar. As equipas de gestão dos fundos públicos ainda nomearam um consultor, em 2018, para que a empresa tentasse dar a volta, mas muitas das medidas defendidas “não foram aplicadas”. Por essa razão, o fundo público que injetou dinheiro há 10 anos “voltou a solicitar contratualmente a alienação de ativos imobiliários”. Também aqui “a administração da empresa nunca concretizou”.

A agravar a situação, já então delicada, “várias divergências entre as direções e a administração da empresa levaram à saída, em 2018, de vários quadros superiores”, indica o ministério. O Observador sabe que essas divergências tiveram origem em quezílias das famílias que controlavam então a Dielmar. Três diretores acabariam por sair em choque com a administração de Ana Paula Rafael.

Uma empresa com “os mais tradicionais processos de alfaiataria”

A Dielmar, que, em 2014, chegou a estar presente em 28 mercados, com destaque para Espanha, França, Brasil e Inglaterra, começou em Alcains, nos arredores de Castelo Branco. Em 1965, os irmãos Hélder e Ramiro Rafael juntaram-se a dois outros colaboradores da alfaiataria do pai e criaram a Dielmar — um acrónimo com as iniciais dos sócios Dias, Hélder, Mateus e Ramiro. “Entendemos que chegava a hora de em Portugal começar a industrializar esta arte, dado que lá fora já estava a acontecer”, disse Ramiro Rafael, numa entrevista ao Jornal do Fundão concedida há 15 anos.

“(...) várias divergências entre as direções e a administração da empresa levaram à saída, em 2018, de vários quadros superiores.”
Ministério da Economia

Para que a intenção se materializasse procuraram conhecer a indústria no estrangeiro, em feiras de Itália e Espanha. Mas não prescindiram da tradição nem da qualidade — a chave para “o êxito” do grupo, apontava Ramiro Rafael na mesma entrevista. “Foi graças à formação na antiga alfaiataria que nós pudemos dar um cunho de mais qualidade à confeção. Teria sido muito mais fácil não enveredar por esse caminho e fazer uma confeção de menor qualidade. Só que não teríamos tido o êxito que felizmente fomos tendo”, vincou.

No site, a empresa ainda se gaba de trabalhar com “os mais tradicionais processos de alfaiataria”, com muitas das operações a serem feitas manualmente. Aliás, os fatos azul escuro que a Seleção Nacional usou na viagem a Paris, que a sagrou campeã europeia em 2016, têm etiqueta da Dielmar e cada um demorou 85 horas a ser confecionado.

https://www.facebook.com/Dielmar/photos/a.663957386995605.1073741827.502071183184227/1155665561158116/?type=3&theater

A aposta da marca foi, desde cedo, o segmento médio-alto. “Começámos a vender para os principais estabelecimentos de confeção das grandes cidades, como o Pestana e Brito, o Lourenço e Santos ou o Rosa e Teixeira e a Casa Adão. (…) Ao fim do primeiro ano e na segunda estação, tivemos a sorte de ter já bons clientes, mas fomos nós, os sócios, que fomos vender a Lisboa, porque era preciso falar a linguagem desta arte para perceber o que os clientes queriam”, contou Ramiro Rafael.

“Era uma empresa em que tínhamos as regalias todas”

Antigamente é que era. Aos 52 anos, Justina Lopes diz sentir bem as diferenças na Dielmar, recordando com nostalgia as suas primeiras duas décadas de trabalho na empresa, onde prensa casacos desde 1990: “Guardo boas memórias dos primeiros anos. Trabalho lá há 31 anos e nos primeiros 20 até quando estava em casa andava desejosa de ir trabalhar na Dielmar. O ambiente de trabalho, das colegas, era bom. A gente recebia acima da média, andava contente, recebíamos 70 a 80 euros por mês de prémio. A gente tinha mesmo gosto, mas ultimamente não, andámos desmotivados”.

“No primeiro mês vinha toda contente, até batia com os calcanhares no cu, vinha toda contente, por ganhar mais dinheiro” do que no anterior trabalho, também no distrito de Castelo Branco. “Quando eu vim para a Dielmar ganhava acima da média. Em nenhuma fábrica se ganhava tão bem como aqui”, afirma a sindicalista.

Era uma empresa em que tínhamos as regalias todas”, lembra Justina Lopes. “Nós tínhamos um prémio de assiduidade — ganhávamos 150 euros de três em três meses, se não faltássemos”, ou um pouco menos se houvesse alguns dias de ausência. “Tínhamos ainda um prémio de produção. E tínhamos os lucros divididos pelos trabalhadores”.

"Ao fim do primeiro ano e na segunda estação, tivemos a sorte de ter já bons clientes, mas fomos nós, os sócios, que fomos vender a Lisboa, porque era preciso falar a linguagem desta arte para perceber o que os clientes queriam."
Ramiro Rafael, um dos fundadores da Dielmar

Só que tudo acabaria por mudar, “quando esta administração tomou posse”. Aos poucos, “foi tirando tudo: primeiro os lucros, depois o prémio de assiduidade, depois o prémio de produção, até que agora já não havia nada para tirar, porque era só o ordenado mínimo”.

Agora, Justina Lopes receia os impactos que o pedido de insolvência  possa ter nas famílias, sobretudo naquelas em que a Dielmar era o único sustento. “Há cá famílias inteiras”, diz. Para não falar das consequências para o comércio local e as dificuldades em encontrar um novo emprego. “Tenho 53 anos, já não é fácil arranjar trabalho”, afirma Justina Lopes, lamentando ser vista como “velha” para trabalhar. “O que interessa é trabalhar, mas claro que há mais dificuldade, porque em muitos lados querem pessoas novas e nós somos logo excluídas”. E mudar de setor, se for esse o caso, também não será fácil. “Eu trabalhei toda a vida na confeção, tenho experiência de confeção, mas de outras coisas não tenho”.

Justina Lopes não alimenta esperanças de continuar a trabalhar na Dielmar. “Se viesse alguém competente, acreditaria. A esperança é a última a morrer. Mas com esta administração não. Eu há muito tempo que estava preparada para isto”.

A pandemia arrumou com a questão

No comunicado divulgado na segunda-feira, o Ministério da Economia explica que, no ano passado, o primeiro da pandemia, “foram consideradas esgotadas todas as possibilidade de reestruturar” a Dielmar ou de “assegurar a sua transição, total ou parcial”, após uma avaliação da administração da Dielmar feita pelo consultor dos fundos públicos. O Fundo Autónomo de Apoio à Concentração e Consolidação Empresarial (FACCE) acabou por exercer, em abril de 2020, a opção de venda tendente ao desinvestimento na Dielmar, por 3,280 milhões de euros.

Dielmar entra em insolvência. Estão 300 postos de trabalho em risco. Autarca de Castelo Branco quer reunir com o governo

A empresa “nunca apresentou” lucros desde a entrada do FACCE, em 2011. Ainda foi equacionada a entrada de um novo investidor privado na empresa para uma “reestruturação profunda” e a renegociação das dívidas — e, para isso, foram contactadas entidades de capital de risco especialistas em processos de reestruturação. Mas sem sucesso: a “grave situação financeira da empresa e o elevado montante de investimento que seria necessário afastaram esses investidores”.

A pandemia veio pesar mais no já frágil negócio da Dielmar, que ainda tentou virar-se para o fabrico de máscaras comunitárias e pijamas, de forma a evitar a insolvência. A estratégia não viria a ser bem sucedida, pelos baixos preços das máscaras e a necessidade de novos investimentos em maquinaria para a produção de pijamas, escreveu o Eco.

Em comunicado, a empresa revelou que os últimos 16 meses foram “longos e duros” e que fez “um esforço imenso e solitário” para conseguir sobreviver e manter os postos de trabalho. “Esta crise atacou, globalmente, o que de melhor sustentava a sua atividade: o convívio social, os eventos e casamentos, com a elegância, o glamour da alfaiataria por medida e a personalização em que nos especializamos, e o trabalho profissional no escritório, que eram a base fundamental do negócio da Dielmar”, escreveu a empresa.

Dielmar “não tem salvação”, mas Estado quer encontrar uma solução para os trabalhadores

Os problemas, porém, já vinham de trás. Segundo Justina Lopes, “a produção foi-se reduzindo nos últimos anos”, já antes da pandemia. Os trabalhadores ainda foram colocados em ações de formação, mas a sindicalista diz que eram vazias em novos conteúdos. “Não era formação nenhuma, a formação das pessoas era no posto de trabalho”. E sempre “para os mesmos trabalhadores”. Os restantes “não tinham escolha, já há ano e meio que estavam em casa”, em layoff. “Trabalhámos oito dias há coisa de dois meses, em junho, e nove dias no mês de julho”, conta ao Observador.

O Governo promete agora procurar “soluções para os ativos da empresa que possam assegurar a preservação dos postos de trabalho”, aproveitando a experiência acumulada das centenas de trabalhadores, num contexto de “escassez de mão de obra no setor têxtil e de vestuário”. Siza Vieira mostrou confiança de que, em conjunto com os credores, se possa “encontrar uma solução que salvaguarde aquilo que tem solução na empresa, que são os trabalhadores” e que assegure que estes possam estar ao serviço da economia.

Marisa Tavares, Presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Sector Têxtil da Beira Baixa, avisa, no entanto, que “no concelho de Castelo Branco não há assim tantas empresas deste setor e a maior parte destes trabalhadores trabalharam uma vida inteira nas confeções”.

A sindicalista considera que a insolvência teria um “impacto significativo” numa região em que o desemprego real tem “números assustadores”. E mais ainda em Alcains. “Têm de ser tomadas todas as medidas para que esta empresa continue a trabalhar”, afirma Marisa Tavares, para quem “é impossível e é inadmissível que esta empresa se perca”. Deixa ainda críticas ao Estado por ter deixado a situação chegar ao ponto que chegou, considerando que “deve haver uma fiscalização apertadíssima” dos apoios que são concedidos.

"Esta crise atacou, globalmente, o que de melhor sustentava a sua atividade: o convívio social, os eventos e casamentos, com a elegância, o glamour da alfaiataria por medida e a personalização em que nos especializamos, e o trabalho profissional no escritório, que eram a base fundamental do negócio da Dielmar."
Administração da Dielmar

Em comunicado, a presidente da empresa, Ana Paula Rafael, criticou as dificuldades que as empresas enfrentam no interior do país: “Talvez a insolvência da Dielmar seja o alerta e o farol para que possam repensar com carácter de urgência o interior e apoiar as indústrias que ainda aqui existem”. Garantiu ainda que, apesar do pedido de insolvência, não deixou de pagar os salários dos trabalhadores.

As sucessivas visitas do poder (com elogios)

Esses desabafos estão longe de serem novos e foram presença comum quando, ao longo dos anos, a Dielmar foi visitada (e densamente elogiada) por Presidentes da República e governantes. António Costa até aproveitou uma visita, em 2017, para anunciar mais medidas de apoio a empresas como a Dielmar, de mão de obra intensiva, depois de ouvir, publicamente, reclamações de Ana Paula Rafael.

A CEO da Dielmar tinha-se queixado de não conseguir aceder a incentivos para ultrapassar a crise financeira, uma vez que a empresa tinha mão-de-obra intensiva e empregava mais de 250 trabalhadores. Costa rapidamente lhe respondeu com a criação de uma medida destinada especificamente às empresas com esse tipo de mão-de-obra, que as diferenciasse das pequenas e médias empresas e lhes permitisse aceder a ajudas financeiras para a sua reestruturação e capitalização.

“Quanto mais crescerem, mais emprego geram (…) e mais emprego cria crescimento. Este é um esforço que temos que continuar a fazer”, defendeu António Costa. Antes, Ana Paula Rafael tinha partilhado as dificuldades em trabalhar no interior do país: “O setor financeiro também não facilita. Temos alguns constrangimentos para ultrapassar a crise mais rapidamente. No interior temos custos acrescidos e o ambiente financeiro ainda não é o desejável”. A CEO apelou mesmo a que o Governo desse “atenção” às empresas como a Dielmar e um “empurrão” quando surgem “problemas”. “Até agora temos sido só nós“, frisou.

Já em 2016, o esquecimento do interior tinha sido mencionado por Ana Paula Rafael durante uma visita de Marcelo Rebelo de Sousa à fábrica, durante uma homenagem a Hélder Rafael, falecido meses antes. No estilo próprio, o Presidente da República cumprimentou cada uma das trabalhadoras que lhe acenavam e aplaudiu o “espírito de família”, quase composta apenas por mulheres, algumas com 45 anos de casa.

Marcelo Rebelo de Sousa visitou a fábrica da Dielmar, em 2016

LUSA

Marcelo não poupou nas palavras de elogio à empresa — que “representa o génio dos portugueses”. “Estamos aqui a dizer que não nos esquecemos. O país precisa de muitos exemplos destes e, felizmente, está a ter muitos exemplos destes. Porque é que, apesar de todos os problemas que encontramos no mundo e na Europa, nós acreditamos no país? Porque há portugueses e portuguesas que fazem obras excecionais como esta“, defendeu. Marcelo estava acompanhado pelo então ministro da Economia, Manuel Caldeira Cabral, que também deixou vincados elogios à Dielmar, uma marca que usa “com orgulho” e que faz “muito pelo desenvolvimento do interior”.

Aníbal Cavaco Silva também tinha visitado as instalações, no final de 2015 — o ano em que a marca celebrou 50 anos de vida e em que o então Chefe de Estado condecorou Ana Paula Rafael como comendadora da Ordem do Mérito Empresarial, Classe do Mérito Industrial. Na visita, Cavaco destacou os 62% das vendas destinadas à exportação como uma “quota notável para um produto como este”. “É uma empresa de sucesso que enfrenta clientes muito exigentes e que decide continuar no interior“, frisou. E, também aqui, Ana Paula Rafael não perdeu oportunidade de criticar os “fortes constrangimentos” enfrentados pela empresa por se localizar no interior do país.

Em 2015, nos 50 anos da Dielmar, Aníbal Cavaco Silva, então Presidente da República, elogiou a "empresa de sucesso que enfrenta clientes muito exigentes e que decide continuar no interior"

LUSA

Nesse mesmo ano, o então ministro da Economia do governo PSD/CDS, António Pires de Lima, elogiara, numa outra visita a “marca que significa tradição e qualidade” e que “fez um caminho muito bem-sucedido de afirmação”. Na altura, disse Pires de Lima, a empresa recuperava a produção do pré-crise, com 500 fatos a ser fabricados por dia. “Esta ambição só é possível numa empresa que reconhece, de uma forma muito especial, e valoriza a dedicação daqueles que fazem da sua vida a vida da Dielmar, ou seja, os seus 400 colaboradores”, salientou.

Artigo atualizado a 4 de agosto, às 14h50, com declarações de Marisa Tavares

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