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JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

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Coligómetro. Todas as "gerinponchas" que um número mágico (24) pode evitar

Os blocos de direita e esquerda estão bem definidos na Madeira, mas ameaça de demissão mexe com contas pós-eleitorais. 24 é o número de deputados que PSD e CDS têm de atingir para evitar cálculos.

Se as sondagens tiverem razão, Miguel Albuquerque não vai precisar de calculadora a seguir à noite de domingo. Mas, se na Madeira houver uma surpresa como nos Açores, a geometria partidária torna-se mais complexa do que aparenta. A promessa de Miguel Albuquerque de que se demite caso não consiga uma maioria absoluta arrasa uma parte dos cálculos de acordos pós-eleitorais, mas o efeito-Bolieiro noutra região prova que nenhum cenário deve ser excluído. É o próprio candidato do PSD a deixar o alerta: “Não liguem às sondagens. As sondagens não ganham eleições”. Há, porém, um número mágico que dispensa contas e arranjos partidários: 24.

A oposição, quase em uníssono, vai dizendo que há muita gente que diz que vota no PSD quando lhes ligam das empresas de sondagens, pois não acreditam no anonimato e têm medo de represálias. Miguel Albuquerque diz que isso é uma “baboseira” e um “atestado de menoridade à capacidade cívica dos madeirenses”. E garante: “Os madeirenses falam o que quiserem, votam em que quiserem e não têm medo”. Resta então saber em quem vão votar e que soluções de governação existem.

Cenário 1. PSD e CDS atingem maioria

De acordo com as duas últimas sondagens (Jornal da Madeira e RTP), a coligação “Somos Madeira” (PSD/CDS) consegue a maioria absoluta: a primeira aponta para 26 deputados, a segunda para um intervalo de 24 a 28. Miguel Albuquerque, que na margem mínima da sondagem da RTP fica no limite da maioria absoluta, já avisou que, se não conseguir esses 24 deputados, se demite.

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Há quatro anos, quando o PSD concorreu sozinho, Miguel Albuquerque elegeu apenas 21 deputados, mas conseguiu convencer um dos partidos que sempre havia sido da oposição, o CDS, a ir para o Governo. Agora, Albuquerque não admite engolir nenhum sapo: “Se não posso executar o programa eleitoral, vou-me embora. Jogar a meio-campo para cair a meio-campo e não marcar golos, não contem comigo”.

Miguel Albuquerque num comício em Machico

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Cenário 2. PSD e CDS minoritários, mas maioria de direita

Numa realidade em que o PSD e o CDS não têm uma maioria, há ainda uma hipótese que os sociais-democratas teriam para se manterem a liderar o governo regional: ou fazerem um acordo com o Chega ou com a Iniciativa Liberal.

No caso do Chega, André Ventura diz que se “for chamado a assumir responsabilidades” para assegurar a governação do arquipélago, dirá presente. Mas tem uma exigência: que Miguel Albuquerque vá mesmo embora. Neste caso, da saída do atual líder do PSD/M, haveria um caminho: o PSD tinha a hipótese de indicar um outro presidente do Governo que aceitasse o Chega e ficava resolvida a questão da governabilidade (que dependeria ainda, claro, da aceitação do CDS).

Outra hipótese seria, por exemplo, o PSD coligar-se com a Iniciativa Liberal — caso precisasse de um deputado e os liberais conseguissem ter assento no parlamento. Isso evitava o embaraço com o PSD nacional (a quem não dá jeito qualquer acordo com o Chega), mas tem outro problema prévio: Miguel Albuquerque também não o aceitaria.

No entanto, mais uma vez, o PSD podia indicar um outro presidente para o Governo regional que aceitasse um acordo com os liberais, numa moderação que seria feita pelo representante da República. Do lado da IL, tanto Rui Rocha como Nuno Morna disseram ao Observador que admitiriam negociar com o PSD e Albuquerque, mas sem acordo escrito: orçamento a orçamento.

Fora de hipótese estaria, no entanto, uma coligação que envolvesse os três partidos (ou quatro, incluindo o CDS): mesmo que o PSD aceitasse o Chega (como ainda no final de agosto o próprio Miguel Albuquerque admitia), a IL já excluiu por completo qualquer acordo com o Chega.

Roberto Almada, candidato do Bloco de Esquerda, acompanhado pela coordenadora nacional, Mariana Mortágua, num almoço-comício no Funchal

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Cenário 3. Solução à Cafôfo: PS-JPP-BE-CDU-PAN e quem mais houver

Por razões eleitorais, e com as baixas perspetivas que o PS tem de ter um bom resultado, os partidos à esquerda do PS não admitem de forma taxativa que aceitariam integrar uma frente anti-PSD. No entanto, dificilmente haveria margem para todas essas forças recusarem formar uma coligação pós-eleitoral que pusesse fim a quase 50 anos dos sociais-democratas no poder. Há uma parte importante para que isso aconteça que, de acordo com as sondagens, não está reunida: ter votos para isso.

O PS é o que vai mais longe na defesa da solução e o líder do PS-M, Sérgio Gonçalves, diz claramente ao Observador que se “tiver oportunidade” de governar a região não vai desperdiçá-la. E diz mais: não só aceitaria estes partidos todos (JPP-BE-CDU-PAN), como até admite incluir a Iniciativa Liberal neste rol (no entanto, os liberais já se auto-excluíram dessa aventura). “Todos os cenários estão em aberto”, diz o líder do PS/Madeira.

Já o candidato dos JPP, que está bem posicionado para ser a maior força a seguir ao PS, exclui o PSD, mas não acordos pós-eleitorais com um bloco à esquerda: “O PSD já nos descartou. O outro grupo, logo se verá.” Apesar disso, mantém a máxima: “Se conseguirmos manjar uma côdea de pão em paz, do que um banquete em ansiedade”.

Edgar Silva, candidato da CDU, num almoço-comício no Curral das Freiras

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O PCP, por exemplo, é mais cauteloso e não se refere diretamente à questão. Ao Observador, Edgar Silva, vai dizendo que o essencial é “trabalhar para que a CDU consiga mais votos do que há quatro anos” para ter “mais eleitos”. E não se alonga porque, argumenta, em 2019 “prejudicou muito a CDU” a ideia de que o PS com Paulo Cafôfo era a mudança. Ainda assim, o candidato da CDU não se exclui taxativamente de uma frente de esquerda para tirar o PSD do governo regional, caso, claro, houvesse votos para isso.

O Bloco de Esquerda, que tem como grande objetivo voltar ao parlamento regional, também não excluiria uma solução de esquerda que afastasse o PSD do poder. Mariana Mortágua, na Madeira, defendeu que “derrotar a maioria absoluta do PSD, derrotar a governação dos 47 anos de autoritarismo do PSD nesta região é a resposta essencial para dar uma solução a quem cá vive [na Madeira]”.

A câmara do Funchal foi, aliás, conquistada pelo PS pela primeira vez através de uma coligação PS-BE-PND-MPT-PTP-PAN e, numa segunda vez, por PS-BE-JPP-PDR-NC. É um “saco de gatos”, como foi apelidado na Madeira, mas foi um meio necessário para um fim: afastar o PSD da câmara mais importante da região (entretanto reconquistada pelos sociais-democratas. Em ambas as ocasiões, o líder foi Paulo Cafôfo.

Na noite eleitoral de 2019, quando viu que Albuquerque não tinha maioria, Cafôfo ainda tentou fazer uma geringonça a nível regional que incluísse o CDS, mas os centristas optaram por se juntar ao PSD. Foi uma oportunidade de ouro que este bloco à esquerda sabe que é difícil repetir. Ainda assim, há sempre uma esperança e todos repetem: “Eleições são eleições. Tudo pode acontecer”.

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