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Maria Gralheiro / Observador

Maria Gralheiro / Observador

Como desmontar a retórica anti-vacinas em 8 passos

É preferível a criança ter uma doença do que ser vacinada contra essa doença? Muitas vacinas em pouco tempo fazem mal? A vacina do sarampo provoca autismo? Veja 8 mitos desmontados pela ciência.

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Os pais que escolhem não vacinar as crianças alegam ter a intenção de as proteger os seus filhos, mas os profissionais de saúde e cientistas não hesitam em classificar esta opção como arriscada: não só põe em risco os seus filhos como as outras pessoas.

Veja aqui os principais argumentos apresentados por quem tem medo das vacinas ou opta por não as fazer e a forma como são desmontados pelos profissionais que veem na vacinação uma das melhores formas de prevenir a mortalidade e a morbilidade de crianças e adultos.

É preferível que a criança tenha a doença do que levar uma vacina contra essa doença?

Alguns pais preferem que os filhos tenham as doenças do que sejam vacinados contra elas. Consideram que a infeção que ocorra naturalmente (por oposição à vacinação) fará com que o sistema imunitário apresente uma resposta melhor, mas sem os efeitos secundários que podem ser associados às vacinas.

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Um sistema imunitário estará tanto melhor preparado para combater infeções quanto mais equilibrada for a alimentação e quanto mais saudável for o estilo de vida do indivíduo. Contudo, isso não garante que o organismo consiga vencer a doença sem problemas.

Muitas das doenças que são preveníveis por vacinação podem desencadear doenças graves provocando incapacidades permanentes ou mesmo levando à morte. As vacinas não são melhores nem piores a desencadear a resposta do sistema imunitário. A vantagem é que, como são formas atenuadas das doenças, a resposta que provocam é menos intensa, logo tem menos sequelas.

Vacinar ou não vacinar as crianças? Vale a pena perguntar?

“O risco de uma criança ter uma reação adversa a uma vacina é muito, mas mesmo muito, inferior ao risco de uma complicação grave da doença que essa vacina previne”, escreveu o pediatra Mário Cordeiro no livro “A Verdade e a Mentira das Vacinas”, das Edições Desassossego. “Além disso, não é possível saber, antecipadamente, quais as crianças em que a doença poderá ser grave ou matar. O que faz adoecer e mata são as doenças.”

As reações adversas da vacinação, segundo a Direção-Geral da Saúde, não vão normalmente além do inchaço, comichão e vermelhidão na zona da picada ou de uma febre passageira. Mais raramente reportam-se casos de cefaleias, choro prolongado, mal-estar ou reações anafiláticas.

“O risco de uma criança ter uma reação adversa a uma vacina é muito, mas mesmo muito, inferior ao risco de uma complicação grave da doença que essa vacina previne."
Mário Cordeiro, pediatra

Levar muitas vacinas em pouco tempo é muito agressivo para o sistema imunitário das crianças?

As crianças começam a ser vacinadas logo a partir do primeiro dia de vida, o que para alguns pais é tido como um exagero. Preocupam-se que isso seja uma violência contra as crianças, que possa trazer mais problemas que benefícios para o sistema imunitário e consideram que são dadas muitas vacinas num curto espaço de tempo.

“As vacinas são dadas na altura mais conveniente para proteger as crianças”, explicou Mário Jorge Santos, médico de Saúde Pública. O Plano Nacional de Vacinação prevê que os bebés possam levar as vacinas tão cedo quanto possível para evitar que sejam expostos às doenças antes da vacinação.

As crianças que não possam ser vacinadas por terem estado doentes ou porque houve um atraso na vacinação devem fazê-lo assim que possível, recomendou Jorge Atouguia, especialista em doenças infecciosas. E para as crianças que venham de países com um plano de vacinação diferente do português deve ser criado um plano de vacinação adaptado para essas crianças de forma a garantir-se a melhor proteção possível.

A vantagem de vacinar bebés e crianças está relacionado com o facto de o sistema imunitário estar ainda em formação e de responderem mais rapidamente à estimulação feita pela vacina, disse Jorge Atouguia. A vacinação do adulto, para vacinas que deviam ter sido dadas na infância, pode não ser tão eficaz.

Mário Cordeiro garante ainda que dar várias vacinas em simultâneo não traz problemas para a criança, porque “a imunidade que cada uma estimula é independente”. A quantidade de vírus e bactérias com que os bebés e crianças contactam diariamente, seja nos alimentos que ingerem, no ar que respiram ou nos beijos que recebem dos pais, é maior do que a carga dada por uma vacina.

Além de considerarem que não há desvantagens em termos de saúde na toma de várias vacinas em simultâneo, os médicos apresentam uma vantagem: a criança vai menos vezes ao centro de saúde. O plano de vacinação é cumprido mais rapidamente, com menos idas ao centro de saúde e diminuindo o risco de ficar doente só porque se esteve em contacto com pessoas doentes naquele espaço.

Mitos e verdades sobre as vacinas

As vacinas têm mercúrio e outras moléculas tóxicas na sua composição?

A presença de um composto derivado do mercúrio nas vacinas preocupa os pais, porque se sabe que o mercúrio é tóxico e se acumula no organismo. A lista de excipientes é vasta e é muitas vezes disponibilizada online como argumento para não se vacinar as crianças.

As vacinas são compostas, normalmente, por formas mortas ou atenuadas do micróbio, pelas suas toxinas ou por proteínas que façam parte do seu revestimento. Além disso, as vacinas têm ainda outros ingredientes (excipientes) que têm como função melhorar a ação da vacina (adjuvantes), estabilizar e prolongar o tempo em que a vacina se mantém útil (estabilizadores) e preservar os componentes da vacina (conservantes).

Na lista de excipientes de algumas vacinas pode encontrar-se o conservante timerosal (ou tiomersal). Este conservante à base de mercúrio, usado desde 1930, é dos conservantes mais comuns, sobretudo nos frascos que têm mais do que uma dose daquela vacina. O timerosal usa-se para evitar o desenvolvimento de fungos e bactérias que possam contaminar a vacina — particularmente depois de o frasco multidose ter sido aberto. É considerado seguro e nenhum estudo demonstrou que causasse problemas à saúde humana, refere a Organização Mundial de Saúde (OMS).

“As vacinas são dadas na altura mais conveniente para proteger as crianças.”
Mário Jorge Santos, médico de Saúde Pública

A presença de um composto à base de mercúrio e o facto de as crianças poderem estar a ser expostas a uma quantidade de mercúrio acima do limite, levantou algumas preocupações e contestação. A OMS esclareceu, no entanto, que o timerosal contém etil-mercúrio e não metil-mercúrio. Esta distinção é importante porque o metil-mercúrio acumula-se no organismo, mas o etil-mercúrio não. O etil-mercúrio é facilmente eliminado pelos intestinos e ao fim de um mês já não são encontrados vestígios nas fezes das crianças.

O Comité Consultivo Global para a Segurança das Vacinas da OMS concluiu assim que não existia evidência da toxicidade de mercúrio em lactentes, crianças e adultos exposto ao timerosal das vacinas. Logo, que não existiam razões para modificar as práticas de segurança relativas às vacinas com este composto. Apesar disso, a Europa, Reino Unido e Estados Unidos deixaram de usar timerosal nas vacinas por precaução. A única vacina que tem timerosal é a vacina da gripe e, mesmo para esta vacina, existem formas sem este conservante.

Existem pelo menos outros dois compostos presentes nas vacinas que têm levantado preocupações: o formaldeído e o alumínio. Também para estes, a quantidade presente nas vacinas foi considerada segura.

O formaldeído é usado para inativar o vírus ou para eliminar toxinas das bactérias. O formaldeído é formado naturalmente pelo organismo como parte do processo metabólico, mas a exposição ao formaldeído por fontes externas é considerada carcinogénica. A concentração de formaldeído nas vacinas é cerca de 50 vezes menor do que a que existe naturalmente num bebé recém-nascido.

O alumínio é usado como adjuvante, ou seja, para potenciar a resposta do sistema imunitário. A exposição a elevadas concentrações de alumínio ou uma exposição prolongada pode conduzir a problemas no cérebro e nos ossos. O alumínio ocorre naturalmente na água e plantas, por exemplo, e cada recém-nascido alimentado por leite materno ingere sete miligramas de alumínio em seis meses — 38 miligramas nos leites em pó e 117 nas fórmulas de soja, no mesmo período. A quantidade presente nas vacinas é muito menor: 4,4 miligramas nas vacinas dadas durante os seis primeiros meses de vida.

As vacinas fazem-nos ficar doentes?

De cada vez que uma criança vai levar uma vacina os pais são (ou devem ser) avisados das reações que a criança pode apresentar. Os pais consideram que não querem sujeitar as crianças a estes efeitos e temem que a vacinação possa ter consequências graves sobre a criança.

Todos os medicamentos, sem excepção, podem ter efeitos secundários. Como em todos os medicamentos, as vacinas podem originar reações ligeiras que são mais ou menos comuns, já as reações muito graves são muito raras. Se os efeitos secundários graves fossem mais comuns, esses medicamentos (e vacinas) não seriam considerados seguros e não seriam comercializados.

As vacinas são sujeitas a um escrutínio tão ao mais apertado que os restantes medicamentos. Estão constantemente a serem monitorizadas e qualquer efeito adverso que seja detetado deve ser imediatamente reportado, refere a OMS.

Para as vacinas, os efeitos secundários mais comuns são dor e inchaço no local da injeção ou febre ligeira. Já as consequências das doenças que podem ser prevenidas por vacinas podem ser muito mais graves: paralisia causada pela poliomielite ou cegueira e encefalite (inflamação e infeção do cérebro) causadas pelo sarampo. No limite, estas doenças preveníveis por vacinas podem provocar a morte.

Uma pessoa que adoeça mesmo estando vacinada, vai apresentar sintomas muito mais atenuados da doença. Da mesma forma, o risco das consequências mais graves da doença é muito menor numa pessoa vacina. De notar, no entanto, que o organismo demora alguns dias a criar anticorpos contra a doença. Se a infeção acontecer poucos dias depois da vacinação, a pessoa pode ainda não estar protegida.

A vacina do sarampo provoca autismo?

Um dos argumentos que continua a ser usado pelos pais que escolhem não vacinar os filhos é a possibilidade de as vacinas causarem lesões cerebrais, nomeadamente de a vacina tríplice (vacina antissarampo, parotidite e rubéola, VASPR) causar autismo.

A ligação entre o autismo e a vacina tríplice, que inclui a vacina contra o sarampo, foi feita em 1998 por Andrew Wakefield num estudo publicado na conceituada revista médica The Lancet. O trabalho levantava algumas dúvidas por terem sido analisadas apenas 12 crianças e por nenhuma outra equipa ter conseguido replicar os resultados, mas ainda assim a taxa de vacinação no Reino Unido caiu em flecha.

Brian Deer: entrevista ao jornalista que desmascarou o médico anti-vacinas

O trabalho de investigação do jornalista Brian Deer, que começou a ser publicado em fevereiro de 2004 no jornal The Sunday Times, mostrou que o trabalho de Andrew Wakefield era fraudulento. O médico tinha sido pago por uma firma de advogados que representava famílias de crianças com autismo para provar que a causa da doença era o sarampo. O objetivo era usar estes resultados para processar os fabricantes da vacina.

Aos poucos, o jornalista foi descobrindo que as crianças que foram incluídas no estudo não foram seleccionadas ao acaso e que os dados publicados no estudo tinham sido manipulados. Mais tarde, foi revelado também que Wakefield estava a tentar criar empresas que beneficiavam das suas alegações: quer a produção de vacinas individuais contra o sarampo, quer produtos para tratar o autismo. Perante as revelações que foram surgindo, a revista The Lancet acabou por retirar o artigo (retratar) e Andrew Wakefield perdeu a licença para exercer medicina no Reino Unido.

O artigo científico foi considerado fraudulento e o autor completamente descredibilizado, mas Andrew Wakefield continua a propagar os seus argumentos nos Estados Unidos onde é apoiado por algumas figuras públicas.

“Não vacinar é um ato de negligência.”
Mário Jorge Santos, médico de Saúde Pública

Há pessoas que não podem ser vacinadas?

O receio que os pais têm em relação aos componentes das vacinas, às reações adversas que possam surgir ou às consequências a longo prazo, fazem com que alguns pais decidam não vacinar os seus filhos.

Existem, de facto, pessoas que não podem levar determinadas vacinas. Não porque estas causem lesões cerebrais ou outro tipo de complicações, mas porque são alérgicas a algum dos componentes ou porque são imunocomprometidas (quando o sistema imunitário não funciona eficazmente).

As pessoas que sejam alérgicas ao ovo não devem fazer a vacina contra a febre amarela ou contra o sarampo, porque a vacina pode conter vestígios de ovo. Mas as alergias devem ser analisadas caso a caso. Por um lado, podem existir alternativas para a vacina à qual a pessoa faz alergia. Por outro lado, não é porque se faz alergia a uma outra vacina que se deve deixar de fazer todas as vacinas.

Outra possibilidade é perceber qual o componente ao qual a criança pode fazer uma reação e decidir fazer a vacinação no hospital, onde o ambiente é controlado e onde se pode tratar imediatamente uma criança que apresente uma reação à vacinação.

“A Verdade e a Mentira das Vacinas”, o livro que Mário Cordeiro gostaria de não ter escrito

Não vacinar não coloca outras pessoas em risco?

Muitos pais alegam que não querem jogar à roleta russa com a saúde e vida dos filhos e na dúvida sobre as consequências que podem esperar das vacinas preferem não vacinar. Esta opção deixa-os tranquilos porque enquanto houver imunidade de grupo, as suas crianças estão protegidas.

Nenhuma vacina é 100% eficaz e a taxa de vacinação nunca será de 100% — porque há pessoas que por questões de saúde não podem ser vacinadas (por exemplo, quem tenha alergia ou seja imunocomprometido). Mas enquanto a taxa de vacinação contra uma determinada doença for mais de 95% dentro de um determinado grupo (como crianças numa escola ou profissionais de saúde um hospital) podemos contar com a imunidade de grupo.

Num grupo de pessoas não vacinadas (azul), se houver pessoas doentes (vermelho), a probabilidade de adoecerem todos é enorme. Mas se a grande maioria estiver vacinada (amarelo) — imunidade de grupo — é pouco provável que alguém adoeça — Tkarcher/Wikimedia Commons

Ou seja, as pessoas que não podem ser vacinadas contam com a imunidade das pessoas com quem convivem e que foram vacinadas. Num grupo onde a grande maioria das pessoas está vacinada, o vírus ou bactéria tem mais dificuldade em vingar e a probabilidade de atacar as poucas pessoas que não estão vacinadas é mínima.

O médico de Saúde Pública, Mário Jorge Santos, considera que “não vacinar é um ato de negligência”. Os pais que optam por não vacinar não só colocam os seus filhos em risco, como também as crianças que não podem ser vacinadas. Porque quanto mais pessoas sem vacina houver num grupo, mais facilidade tem um vírus ou bactéria de se espalhar nesse grupo. Perde-se o efeito da imunidade de grupo.

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Muitas das doenças para as quais somos vacinados já não existem na Europa?

Porque é que havemos de ser vacinados contra doenças que de já ninguém houve falar ou que não existem na Europa? Esta é uma das questões que levantam os pais que têm dúvidas quanto à vacinação.

As vacinas são vítimas do seu próprio sucesso, repetem médicos, profissionais de saúde e cientistas. A geração atual já não tem memória do que acontecia a quem adoecia com poliomielite ou com sarampo. Mas os grandes surtos em Portugal não aconteceram assim há tanto tempo — a vacinação contra o sarampo, por exemplo, só começou no início dos anos 1970. Ainda assim, o esforço de vacinação foi tão bem sucedido que em 2015 a doença foi considerada erradicada do país.

Estar erradicada de um país não significa estar erradicada do mundo. Na verdade, a varíola é a única doença que foi erradica. E isso graças à vacinação. Mais, as pessoas não estão fechadas no seu próprio país e as doenças não veem fronteiras — como se demonstrou com o atual surto de sarampo em Portugal, em que o primeiro caso é de um indivíduo que veio de França. Se a taxa de vacinação diminuir, fica comprometida a imunidade de grupo e ficam em risco todas as pessoas que não podem fazer as vacinas.

França, assim como Alemanha e Holanda, está entre os países europeus onde os movimentos anti-vacinação têm ganho expressão. Quando se olha para o mapa de casos de sarampo declarados nos vários países da Europa percebemos que ainda há um longo caminho a percorrer para se conseguir erradicar esta doença até 2020 como se propôs a Organização Mundial de Saúde.

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