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Future Publishing via Getty Imag

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Covid-19. A China volta a deixar o mundo em alerta. Porquê e o que pode acontecer no próximo ano?

A informação que chega da China é muito pouca, mas as previsões apontam para um pico de infeções já em janeiro. 13 perguntas e respostas sobre o surto que voltou a colocar o mundo em alerta.

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Os alertas relacionados com a pandemia de Covid-19 voltaram a soar. A China pôs fim às restrições e o número de infeções provocadas pelo vírus disparou nos últimos dias, os serviços de saúde estão a colapsar e o resto do mundo já começou a preparar novas medidas restritivas — com Itália, Reino Unido e Espanha a voltarem a impor a necessidade de um teste negativo para quem chega aos seus aeroportos proveniente da China.

A informação que chega da China é, no entanto, pouca. Os dados oficiais sobre a pandemia em território chinês deixaram de ser publicados, mas sabe-se que existe uma nova subvariante da Ómicron, a BF.7, que é mais transmissível e tem um período de incubação mais curto do que as subvariantes anteriores.

O que se sabe sobre os números da Covid-19 na China?

Sabe-se muito pouco sobre o número de infeções por Covid-19 na China, mas a situação não é, de todo, estável. A Comissão Nacional de Saúde chinesa deixou de atualizar o número de infeções diárias provocadas pela Covid-19 no último domingo, depois de ter abandonado a medida de testagem em massa. A contagem oficial aponta para cerca de cinco mil casos diários, mas a agência Bloomberg fala em 250 milhões de infeções só nas primeiras três semanas deste mês de dezembro.

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A Comissão Nacional de Saúde da China deixou de atualizar os dados sobre o número de infeções diárias provocadas pela Covid-19 no domingo passado, depois de ter abandonado a medida restritiva de testagem em massa. A contagem oficial aponta para cerca de cinco mil casos diários, mas a agência Bloomberg fala em 250 milhões de infeções só nas primeiras três semanas deste mês de dezembro.

E em relação às mortes, o cenário é semelhante. Os dados oficiais da China referem que morreram 13 pessoas por Covid-19 durante o mês de dezembro, mas os critérios utilizados pelas autoridades de saúde chinesas para contabilizar as mortes relacionadas com a Covid-19 não estão alinhados com a orientação da Organização Mundial da Saúde (OMS). A China só inclui nos seus registos as pessoas que morrem com doenças respiratórias causadas, exclusivamente, pelo vírus e, por isso, o número de mortes é muito inferior ao registado noutros países.

Por exemplo, a China tem cerca de 1,4 mil milhões de habitantes e os dados apontam apenas para 13 mortes. Basta olhar para os números em Portugal para perceber a diferença: num país com pouco mais de dez milhões de pessoas, o relatório da Direção-Geral de Saúde regista 250 mortes, entre o dia 1 e o dia 28 de dezembro.

O que está por trás da nova vaga?

Desde que foram confirmados os primeiros casos na China, no final de 2019, que este país adotou uma política conhecida como “covid zero”. Ou seja, foram implementadas todas as medidas restritivas possíveis para diminuir ao máximo a propagação do vírus — uso de máscara, sucessivos confinamentos, testagem em massaquarentena obrigatória para todas as pessoas que chegam do estrangeiro, que podia chegar a ser de três semanas.

Desde que foram confirmados os primeiros casos na China, no final de 2019, que este país adotou uma política conhecida como "covid zero", com o uso de máscara, sucessivos confinamentos, testagem em massa e quarentena obrigatória para todas as pessoas que chegam do estrangeiro, que podia chegar a ser de três semanas. Estas medidas, sobretudo aquelas que estão relacionadas com os confinamentos, impediram a criação de uma imunidade natural e foram agora eliminadas pelo governo chinês. 

Estas medidas, sobretudo aquelas que estão relacionadas com os confinamentos, impediram a criação de uma imunidade natural, que é adquirida pela exposição ao vírus. E isso está a verificar-se agora, num momento em que o número de casos positivos no país coincide precisamente com o alívio abrupto das restrições. A China acabou com a testagem em massa e, a partir do dia 8 de janeiro do próximo ano, deixará também de ser obrigatória a quarentena para os passageiros que aterrarem neste país. Além disso, até este mês, quem apresentasse sintomas de infeção, era encaminhado para os centros de quarentena. Agora, basta ficar em casa se apresentar sintomas ligeiros.

Chineses revoltam-se contra política de tolerância zero à Covid. O “grande teste” de Xi Jinping agora é a rua

Este alívio das restrições foi anunciado depois dos protestos em várias cidades da China. A população revoltou-se contra os sucessivos confinamentos impostos pelo governo, cada vez que o número de casos positivos aumentava, fruto da testagem em massa. Por exemplo, em abril deste ano, os moradores de Xangai foram obrigados a ficar em casa durante dois meses — uma opção governamental que levou à falta de alimentos, já que as pessoas não podiam sair de casa para comprar comida.

Os serviços de saúde têm capacidade de resposta?

O impacto de um novo surto na China é bem visível nos serviços de saúde. Os hospitais estão sobrecarregados e, de acordo com os vídeos que são partilhados nas redes sociais, há doentes a receberem tratamentos nas ruas, sentados em bancos de plástico e outros deitados em macas, também na rua, junto aos hospitais. Olhando para os números, a China tem apenas uma cama em unidades de cuidados intensivos por cada 10 mil habitantes.

O caos nos serviços de saúde foi também captado pelo jornal The York Times, que publicou várias imagens da situação no Hospital de Tianjin. Além das dezenas de macas espalhadas pelos corredores desta unidade de saúde, também os profissionais de saúde estão, mais uma vez, a dar sinais de exaustão. Aliás, o mesmo jornal adianta que médicos e enfermeiros não estão a ser testados, desconhecendo se estão ou não infetados — e dá-se o exemplo de um médico de Wuhan que fez duas operações num dia, enquanto apresentava sintomas de infeção.

Como a necessidade de tratamento e internamento está a aumentar, os médicos e enfermeiros já reformados estão a ser chamados para voltar a trabalhar — tal como aconteceu em 2019 e 2020, depois da confirmação dos primeiros casos de Covid-19.

A situação pode piorar na China?

Sim. As previsões apontam para um aumento do número de infeções já no início de 2023, uma vez que está a aproximar-se a celebração do Ano Novo Chinês. Entre os dias 21 e 27 de janeiro, as autoridades de saúde da China esperam que milhões de pessoas se desloquem das grandes cidades para as zonas rurais, o que poderá aumentar o número de infeções.

De acordo com a Airfinity, empresa de bases de dados de saúde britânica, o pico de infeções na China deverá ser atingido a 13 de janeiro, com 3,7 milhões de casos positivos por dia. Os dados mais recentes da Airfinity, atualizados esta sexta-feira, apontam ainda para um pico no número de mortes dez dias depois, com cerca de 25 mil mortes diárias. “Prevemos 1,7 milhões de mortes em toda a China até ao final de abril de 2023”, acrescentam os especialistas.

A Airfinity, empresa de bases de dados de saúde britânica, prevê que o pico de infeções na China deverá ser atingido a 13 de janeiro, com 3,7 milhões de casos positivos por dia e que o pico do número de mortes será atingido dez dias depois, com cerca de 25 mil mortes diárias. "Prevemos 1,7 milhões de mortes em toda a China até ao final de abril de 2023", acrescentam os especialistas.

“O nosso modelo prevê que um segundo pico poderá ocorrer a 3 de março de 2023, com 4,2 milhões de casos por dia. Espera-se que as zonas rurais sejam mais afetadas nesta onda posterior.”

A propósito das deslocações para celebrar o Ano Novo Chinês, o governo aconselhou a população chinesa a fazer escalas durante as viagens, para evitar ajuntamentos em meios de transportes.

A cobertura vacinal na China é suficiente?

Não. Aliás, a fraca cobertura vacinal é outro dos motivos que levou ao aparecimento de um novo surto na China. Neste país, existem duas vacinas disponíveis: a Sinovac e a Sinopharm, que têm uma eficácia de menos de 80%, enquanto as vacinas administradas na Europa, por exemplo, ultrapassam os 90% de eficácia.

Além disso, a China usou um método de vacinação diferente daquele que foi utilizado nos países europeus. Quando começaram a ser administradas as vacinas, as pessoas que trabalhavam eram consideradas prioritárias, deixando para segundo plano quem tinha mais de 65 anos.

A percentagem de pessoas com mais de 60 anos que está vacinada com a dose de reforço não chega aos 70% e pouco mais de 40% dos idosos com mais de 80 anos tomaram a dose de reforço, segundo os dados da Comissão Nacional de Saúde da China. Por exemplo, comparando com Portugal, a diferença é clara: em setembro deste ano, 63% dos idosos com mais de 80 anos já tinham recebido a segunda dose de reforço da vacina.

Ora, este método traduz-se nos seguintes números: a percentagem de pessoas com mais de 60 anos que está vacinada com a dose de reforço não chega aos 70% e apenas 42,4% dos idosos com mais de 80 anos tomaram a dose de reforço, segundo os dados da Comissão Nacional de Saúde da China. Por exemplo, comparando com Portugal, a diferença é clara: em setembro deste ano, 63% dos idosos com mais de 80 anos já tinham recebido a segunda dose de reforço da vacina.

Foi identificada uma nova subvariante da Ómicron, a BF.7. É mais perigosa do que aquelas que foram identificadas até agora?

Desde que o vírus começou a circular, e à medida que aumenta o número de infeções, aumenta também a probabilidade de aparecerem mutações. No caso da variante Ómicron, já foram registadas cerca de 500 subvariantes e, agora, a BF.7, uma subvariante da Ómicron foi identificada na China e está confirmado que é a responsável pelo aumento do número de casos em território chinês — devido à elevada transmissibilidade e curto período de incubação.

Esta nova variante é responsável pelo aumento do número de casos em território chinês -- devido à elevada transmissibilidade e curto período de incubação. O ECDC confirmou que esta variante se encontra a circular na Europa, mas não atribuiu um nível de gravidade mais elevado a esta subvariante da Ómicron do que às cerca de 500 já identificadas até agora.

O Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças (ECDC, na sigla em inglês) já confirmou que esta variante se encontra a circular na Europa, mas não atribuiu um nível de gravidade mais elevado a esta subvariante da Ómicron do que às cerca de 500 já identificadas até agora. Aliás, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), as subvariantes da Ómicron têm várias características em comum: elevada transmissibilidade e “tendem a causar problemas menos graves do que as variantes anteriores”.

“Isso significa que as subvariantes são semelhantes em relação ao impacto que têm na saúde pública e na resposta necessária para lidar com elas”, explicou a OMS.

Covid-19. Nova variante da Ómicron, mais contagiosa, detetada em Espanha

Também o ministério da Saúde espanhol produziu um relatório sobre a BF.7, atribuindo um risco “baixo” a esta subvariante. Já a Comissão Europeia disse que esta subvariante não alterou a curva epidemiológica na Europa, mas aconselhou os países europeus a sequenciarem as amostras para que possam ser detetadas novas variantes ou subvariantes.

As vacinas aprovadas na Europa são eficazes contra esta variante?

A eficácia do processo de vacinação na Europa, com a administração de vacinas como a da Pfizer e da Moderna, e a imunidade natural adquirida através do alívio gradual das restrições permitem agora um certo alívio, mesmo com o aumento do número de casos positivos na China. As vacinas aprovadas pela União Europeia já mostraram ter uma eficácia de mais de 90%, não existindo nenhuma vacina 100% eficaz contra nenhuma variante.

E as vacinas da China estão aprovadas na Europa?

Não, as vacinas que são administradas na China nunca foram aprovadas na generalidade dos países da Europa e têm menos eficácia do que aquelas que são administradas em território europeu.

Porque é que Itália decidiu regressar à obrigatoriedade de teste negativo para quem chega da China?

O aumento do número de casos positivos na China conjugado com as deslocações entre países traduz-se, obviamente, num aumento do número de casos a nível mundial. E Itália foi o primeiro país europeu a detetar esta realidade. Na passada segunda-feira, 26 de dezembro, aterraram 92 passageiros no aeroporto de Malpensa, em Milão, vindos de território chinês. Desses, 35 testaram positivo à Covid-19 — o equivalente a 38% dos passageiros. A seguir, no mesmo dia, aterrou outro avião com a mesma origem e, das 120 pessoas que chegaram, 62 estavam infetadas.

Itália foi o primeiro país europeu a regressar à obrigatoriedade de mostrar um teste negativo no aeroporto. Medida foi anunciada depois da identificação de dezenas de infeções no aeroporto de Malpensa, em Milão. 

O governo italiano avaliou a situação e decidiu tornar, novamente, obrigatória a realização de um teste negativo à Covid-19 na chegada a Itália, apenas para passageiros que viajam a partir da China. E, neste caso, os testes não são apenas obrigatórios para quem entra em território italiano, mas também para quem faz escala naquele país. “Ordenei, com despacho, testes antigénio de Covid-19 obrigatórios e a monitorização do vírus em todos os passageiros provenientes da China e em viagem por Itália”, disse Orazio Schillaci, ministro da Saúde italiano.

Mas a preocupação em relação ao possível aumento do número de casos positivos em território italiano resultou também numa série de recomendações das autoridades de saúde. Esta sexta-feira, segundo o jornal la Repubblica, o ministério da Saúde lançou uma circular que aconselha, caso o número infeções aumente nos próximos dias, ao uso de máscara em casa, ao trabalho à distância, à redução de reuniões e à quarta dose da vacina contra a Covid-19 para a população considerada de risco. O ministério alerta, aliás, para uma evolução “imprevisível” da pandemia.

Quais os países que seguiram as mesmas políticas?

Pela Europa, e uma vez que cada país tem autonomia para implementar medidas de restrição em contexto de pandemia, independentemente dos conselhos da União Europeia, Espanha e Reino Unido decidiram seguir os passos de Itália.

Esta sexta-feira de manhã, Carolina Darias, ministra da Saúde espanhola, avançou que os passageiros vindos da China terão de apresentar um teste negativo à Covid-19, ou um certificado de recuperação. No entanto, ainda não se sabe quando é que a medida entra em vigor, explica o El País. “Existe uma preocupação em relação à evolução dos contágios na China, assim como uma dificuldade em fazer uma avaliação correta da situação, uma vez que a informação de que dispomos neste momento é muito pouca”, disse a ministra.

"Existe uma preocupação em relação à evolução dos contágios na China, assim como uma dificuldade em fazer uma avaliação correta da situação, uma vez que a informação de que dispomos neste momento é muito pouca", disse esta sexta-feira de manhã, Carolina Darias, ministra da Saúde espanhola. 

Já no Reino Unido, a decisão foi tomada esta sexta-feira ao final da tarde. Os passageiros que partem da China e que têm como destino o Reino Unido terão de fazer um teste à Covid-19 antes da partida, avançou a BBC.

Além de Espanha e do Reino Unido, também os Estados Unidos decidiram implementar as mesmas medidas: a partir do dia 5 de janeiro, todos os passageiros que cheguem a território norte-americano, vindos da China, de Hong Kong e de Macau, terão de apresentar provas de que não estão infetados, ou que já recuperaram da doença. Esta obrigatoriedade, tal como acontece em Itália e Espanha, engloba também pessoas que passaram por outros países entre a China e os Estados Unidos e também aqueles que fazem escala em terreno norte-americano.

Japão e Taiwan decidiram também implementar as mesmas regras nos respetivos aeroportos.

E o que diz a União Europeia?

Como já foi indicado, os países têm autonomia para implementar as medidas que consideram necessárias. Depois de Itália anunciar a obrigatoriedade de um teste negativo nos aeroportos, Giorgia Meloni, primeira-ministra italiana, disse que esperava que a Europa seguisse na mesma direção — de implementar restrições.

UE ainda não vai seguir Itália e testar à covid-19 quem vem da China

No entanto, o Comité de Segurança de Saúde da Comissão Europeia esteve reunido esta quinta-feira para analisar a situação epidemiológica na Europa e decidiu rejeitar novas restrições. “Permanecemos vigilantes e estaremos prontos para usar o travão de emergência, caso seja necessário”, referiu o Comité de Segurança de Saúde europeu, citado pelo Financial Times, deixando a porta aberta a novas restrições, no futuro, se a situação epidemiológica se agravar.

Porque é que a Europa não implementa medidas em todos os países?

Para já, o Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças (ECDC, na sigla em inglês) entende que existem na Europa “níveis de imunização e vacinação relativamente elevados” e que, precisamente por este motivo, “não é esperado um impacto” nos países europeus.

Em comunicado, o ECDC explicou que, apesar de a subvariante estar já em circulação em terreno europeu, o surto que está a afetar a China não deverá afetar a Europa, dada a elevada imunidade. Além disso, as potenciais infeções são bastante reduzidas, quando comparadas com o número de infeções registadas pela Europa.

Portugal vai implementar novas medidas?

Para já, não serão implementadas novas restrições em Portugal, tal como aconteceu em Itália, em Espanha, ou nos Estados Unidos. O ministério da Saúde disse esta semana que está a acompanhar a situação “em articulação com os parceiros europeus e organismos internacionais, nomeadamente no âmbito da atividade do Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças”.

Covid-19. Portugal mantém medidas em vigor, mas está a acompanhar situação na China

“Neste momento, e de acordo com a informação disponível, não estão previstas alterações nos procedimentos ou medidas adicionais, mantendo-se em curso a vigilância genómica do SARS-CoV-2 através do Laboratório Nacional de Referência”, acrescentou o ministério liderado por Manuel Pizarro à Lusa.

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