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Mario Draghi in press conference
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Até à próxima quarta-feira, pelo menos, manter-se-á tudo em aberto no governo italiano

Mondadori Portfolio via Getty Im

Até à próxima quarta-feira, pelo menos, manter-se-á tudo em aberto no governo italiano

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Crise Política em Itália. Apoios a Draghi, ataques a Conte e, à direita, gritos de "eleições já" — mas, até quarta, fica tudo na mesma

Com o pedido de demissão de Mario Draghi, Itália deu mais um passo na direção da crise política — que só na quarta deverá consumar-se. Há quem apoie o PM e quem critique Conte. A direita quer eleições

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Menos de 16 meses depois de o ex-primeiro-ministro Matteo Renzi ter retirado o apoio do Itália Viva à coligação no governo e ter feito cair Giuseppe Conte, eis que Itália volta a conhecer o sabor da crise política — desta vez foi justamente Conte a puxar o tapete a Mario Draghi, que desde fevereiro do ano passado tem liderado o país, encarregado por Sergio Mattarella com a missão de encabeçar a recuperação pós-pandemia e de salvar o país da instabilidade.

Como se viu esta quinta-feira, dia em que o ex-primeiro-ministro Conte decidiu retirar o apoio do Movimento 5 Estrelas ao governo de unidade nacional — que (ainda) conta com a aprovação de Partido Democrático; Itália Viva; Livres e Iguais; Força Itália, de Silvio Berlusconi; e Liga, de Matteo Salvini —, o objetivo do economista e antigo Presidente do Banco Central Europeu está longe de ter sido alcançado.

Por muito que o Presidente Sergio Mattarella não tenha aceite o pedido de demissão entregue logo depois de o Movimento 5 Estrelas se ter abstido de votar na moção de confiança ao primeiro-ministro (que foi, ainda assim, aprovada), a crise está novamente instalada na política italiana.

“A coligação de unidade nacional que apoiou este governo já não existe”, disse Mario Draghi, através de uma nota divulgada pelo seu gabinete. “Desde a minha tomada de posse que sempre disse que este executivo só iria em frente se houvesse uma perspetiva clara de poder levar a cabo o programa de governo que as forças políticas aprovaram”, justificou.

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Italy New Government ceremony of the bell and first Minister's cabinet

A passagem de testemunho de Giuseppe Conte para Mario Draghi aconteceu há menos de um ano e meio, a 13 de fevereiro de 2021

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Agora, vai ser preciso esperar até à próxima quarta-feira, dia 20 de julho, para se conhecerem as cenas dos próximos capítulos — foi essa a data que Mattarella fixou para Draghi se apresentar no Parlamento. “O Presidente da República não aceitou a demissão e convidou o presidente do Governo a apresentar-se perante o parlamento para dar explicações e para que nessa sede se faça uma avaliação da situação que foi originada na sequência dos debates de hoje no Senado”, explicou a Presidência italiana em comunicado.

Só nessa altura se saberá se Sergio Mattarella vai aceitar ou não o pedido de demissão do PM e se poderão começar a esboçar os primeiros traços do futuro político do país. Até lá, explicamos-lhe o que está em causa nesta nova crise política italiana.

Por que é que o Movimento 5 Estrelas se distanciou de Draghi?

A recusa em apoiar esta quinta-feira a governação de Draghi não terá sido propriamente uma surpresa para o primeiro-ministro italiano. “Há um profundo mal-estar no Movimento 5 Estrelas acerca dos ataques preconceituosos contra nós. Continuamos no governo, mas é necessário um forte sinal de descontinuidade”, já tinha avisado Giuseppe Conte, no início deste mês, depois de uma reunião de uma hora no Palazzo Chigi.

Apesar de, nesse mesmo dia, o gabinete de Mario Draghi ter garantido que o que tinha acontecido entre ambos tinha sido uma “conversa positiva e colaborativa”, o ex-primeiro-ministro fez questão de voltar a falar, para deixar claro que “não tinha dado garantias” ao primeiro-ministro sobre a permanência no governo. “A comunidade está a clamar para que eu retire o M5S. O futuro da nossa colaboração reside nas respostas que teremos”, frisou.

Draghi, Macron, Scholz and Iohannis Visit Kyiv

Mario Draghi tem expressado o apoio de Itália ao Presidente Volodymyr Zelensky. O PM italiano esteve em Kiev, com Emmanuel Macron e Olaf Scholz, em junho

Getty Images

Ao todo, foram nove os pontos que o líder do movimento fundado em 2009 pelo comediante Beppe Grillo, denunciando um “profundo mal-estar político” no país, apresentou a Draghi nessa reunião, desde a introdução do salário mínimo à transição ecológica, passando pela implementação de medidas mais robustas de apoio a famílias e empresas.

Esta quarta-feira, véspera da votação no Senado do chamado “Decreto de Ajuda”, que prevê a disponibilização de 26 mil milhões de euros para o auxílio a famílias e empresas, numa altura em que a inflação não para de escalar (esta sexta-feira o país alcançou maior valor dos últimos 36 anos), Giuseppe Conte avisou logo que o M5S ia abster-se.

"Nos últimos dias tem havido, da minha parte, o maior empenho em continuar a trilhar um caminho comum, tentando também satisfazer as necessidades que me têm sido apresentadas pelas forças políticas. Como ficou evidente no debate e votação de hoje no Parlamento, este esforço não foi suficiente"
Mario Draghi, primeiro-ministro de Itália

As medidas previstas “são insuficientes”, explicou, apontando para a entrada “numa fase completamente nova de Governo”, mas garantindo que o M5S não só não tencionava abandonar o Executivo como estava “absolutamente disponível para ajudar o primeiro-ministro”.

Mario Draghi, que já antes tinha avisado que sem o M5S, o maior grupo da coligação, não governava — e que no passado muito recente foi várias vezes criticado por Conte, não apenas graças à inclusão no “Decreto de Ajuda” do financiamento de um incinerador de resíduos para a cidade de Roma, mas também pelo apoio e fornecimento de armas à Ucrânia —, é que pensa de forma diferente.

“Nos últimos dias tem havido, da minha parte, o maior empenho em continuar a trilhar um caminho comum, tentando também satisfazer as necessidades que me têm sido apresentadas pelas forças políticas”, disse o primeiro-ministro italiano na reunião de Conselho de Ministros desta quinta-feira, imediatamente antes de anunciar a intenção de se demitir. “Como ficou evidente no debate e votação de hoje no Parlamento, este esforço não foi suficiente.”

Porque é que o Presidente Mattarella não aceitou o pedido de demissão do PM?

No início do ano passado, quando Giuseppe Conte apresentou a demissão, o Presidente Sergio Mattarella aceitou de imediato o pedido, “convidou o Governo para continuar a trabalhar de forma interina” e reservou para si próprio o direito de decidir o que fazer no futuro — voltar a convidar o primeiro-ministro demissionário para formar novo governo; nomear outra figura para o cargo ou convocar eleições antecipadas.

Agora, que o mesmo pedido lhe foi endereçado por Draghi, Matarella optou por não aceitar — o que não significa que não o faça na próxima quarta-feira, depois de o ainda primeiro-ministro ser ouvido no Parlamento.

Para já, o Presidente italiano quer certificar-se de que, se quiser fazê-lo, Mario Draghi pode continuar a governar — apesar de o M5S ser o grupo mais numeroso da coligação, o governo sobreviveu à votação no Senado, com a moção de confiança a ser aprovada com 172 votos a favor, 39 contra e uma abstenção.

Os próximos dias, diz a imprensa italiana, serão de reuniões e jogadas de bastidores, com data marcada para acabar: na quarta-feira, 20, todos os partidos vão ser chamados a revelar se apoiam, ou não, a permanência de Mario Draghi no cargo.

Ao Corriere della Sera, fontes próximas do PM garantem que, mesmo que isso aconteça, o ex-presidente do BCE está “totalmente resolvido” a sair. Ele próprio o disse publicamente: “Não vou liderar um Draghi bis”.

De um lado, está uma maioria que quer um “Draghi bis”, do outro, os que exigem eleições o mais rapidamente possível — a próxima ida às urnas dos italianos, para escolher o Governo, está prevista para março de 2023. O M5S está em parte incerta: Giuseppe Conte, que na verdade nunca disse que saía da coligação, ainda não comentou o pedido de demissão apresentado pelo primeiro-ministro.

Que reações obteve o anúncio do primeiro-ministro italiano?

Entre os partidários do bis do PM estão Partido Democrático e Itália Viva, ambos de centro-esquerda, e Juntos pelo Futuro, o grupo parlamentar formado nas últimas semanas por Luigi Di Maio, atual ministro dos Negócios Estrangeiros e um dos principais rostos do M5S, que saiu em discordância com Conte.

Em declarações aos jornalistas esta sexta-feira, Di Maio atacou o M5S, a quem pediu “maturidade”, e elogiou Mario Draghi, um “homem de palavra”. “Não é fácil recompor esta maioria e seria necessário um ato de maturidade. Seria necessário um ato de responsabilidade por parte dos M5S, que já não existe, agora é o partido de Conte. É um partido que decidiu colocar a sua própria bandeira à frente da segurança e da unidade nacional”, acusou, para, ato contínuo, alertar para as consequências da iminente crise política.

“Se a partir de quarta-feira entrarmos na administração ordinária não poderemos fazer quase nada que seja necessário para ultrapassar a crise económica. Refiro-me ao decreto de 15 mil milhões para acabar com o preço elevado da gasolina e as faturas elevadas. Não temos poderes para fazer a lei do orçamento e entraremos em administração provisória. O spread está a subir. Já não temos poder de negociação em mesas internacionais para limitar os preços do gás. É irresponsável não compreender isto”, disse o ministro, que ao abandonar o M5S levou consigo pelo menos 60 dos 220 membros do movimento no Parlamento.

“Não é fácil recompor esta maioria e seria necessário um ato de maturidade. Seria necessário um ato de responsabilidade por parte dos M5S, que já não existe, agora é o partido de Conte. É um partido que decidiu colocar a sua própria bandeira à frente da segurança e da unidade nacional”
Luigi di Maio, ministro dos Negócios Estrangeiros de Itália, ex-membro do M5S

Enrico Letta, líder do Partido Democrático, defendeu que “o governo de Draghi está a governar bem e é útil que continue”. Já Antonio Tajani, coordenador nacional do Força Itália, de centro-direita, também atacou o movimento encabeçado por Giuseppe Conte, que acusa de ter espoletado um processo com “consequências imprevisíveis, provocadas por escolhas irresponsáveis de um partido político que está a prejudicar o povo italiano” mas não rejeitou a solução eleições antecipadas.

“Nós não temos medo das eleições. Mas, somos responsáveis e vamos perceber se é possível ter de novo Mario Draghi na presidência do Conselho [de Ministros], com uma maioria diferente, para enfrentar os problemas dos italianos. Se não conseguirmos, vamos ao voto. Mas não pode continuar a fazer-se chantagem, a dizer que só existe governo se o M5S estiver incluído — um novo governo vai conseguir viver sob chantagem durante mais nove meses?”, questionou.

Quem quer eleições o mais rapidamente possível são os partidos mais à direita, como a Liga, de Salvini, e, sobretudo, o Irmãos de Itália, também de extrema-direita, cuja líder, Giorgia Meloni, encabeça neste momento as sondagens no país, com 20% a 23% das intenções de voto. “Numa situação em que temos uma guerra, pandemia, elevados custos energéticos, falta de matérias-primas, pobreza em crescimento e corremos o risco de ter uma crise alimentar, não podemos ter um governo que não faz nada”, atacou a antiga jornalista e presidente do Partido Conservador e Reformista Europeu.

Protest Against Italian Government Taxi Drivers Participate In Nationwide Union Strike

Nos últimos meses, várias cidades italianas têm acolhido manifestações anti-governo. A taxa de inflação no país alcançou esta sexta-feira o valor mais elevado em 36 anos

Corbis via Getty Images

Fora de Itália, o anúncio de Draghi, que desde o início da guerra tem sido um dos mais ativos políticos europeus na defesa da Ucrânia, também não passou despercebido. No seu canal de Telegram, o ex-Presidente russo Dmitry Medvedev publicou uma mensagem provocatória, com as fotografias de Boris Johnson, também ele um acérrimo aliado de Kiev, que se demitiu na passada semana do cargo de PM do Reino Unido, e de Mario Draghi, ao lado de uma silhueta negra, com um ponto de interrogação: “Quem será o próximo a sair?”.

Desta vez, o antigo ocupante do Kremlin não se alongou, mas assim que foi conhecida a demissão do britânico, Medvedev escreveu no Telegram que “os melhores amigos da Ucrânia estavam a partir”. “A vitória está em perigo e o primeiro já se foi. Este é o resultado lógico da arrogância britânica e da sua política medíocre, especialmente no cenário internacional.”

O que pode acontecer agora?

Como aconteceu no ano passado, quando Giuseppe Conte se demitiu, há três caminhos possíveis de seguir a partir da próxima quarta-feira: Mario Draghi volta atrás e prossegue como chefe do Governo — a hipótese mais improvável, acreditam os analistas —; Sérgio Mattarella aceita o pedido de demissão do primeiro-ministro e pede ao Parlamento que forme nova coligação; ou Sergio Mattarella aceita o pedido de demissão do primeiro-ministro, dissolve as Câmaras do Parlamento e pede-lhe que se mantenha em funções administrativas até que se realizem eleições — sem autonomia, por exemplo, para fazer um Orçamento para 2023 ou para dar luz verde às reformas previstas pelo Plano de Recuperação e Resiliência.

Caso o caminho seguido seja o número três, a data para a nova ida às urnas terá de ser marcada no prazo mínimo de 60 dias e máximo de 70 a partir da dissolução do Senado e da Câmara dos Deputados. Significa que entre a última semana de setembro e a primeira de outubro poderá haver eleições em Itália.

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