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Foi braço-direito de André Silva durante a primeira legislatura do PAN no Parlamento, saiu em rutura e com fortes críticas à falta de democracia interna no partido. Cristina Rodrigues mantém-se como deputada não-inscrita e tem dúvidas que o líder demissionário do PAN esteja de saída por questões paternais, apontando divergências com a direção na origem da decisão.

Está disponível para negociar com o Governo o Orçamento para o próximo ano e avisa que terá como bandeiras de negociação os direitos das mulheres e igualdade de género.

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Este sábado arranca o congresso do PAN. Tem pena de não ir?
Começamos logo com uma pergunta tão difícil… Com as circunstâncias atuais, não tenho pena nenhuma. Se calhar noutra altura teria gostado de estar presente, sim.

Admite um dia voltar ao partido ou esse é um período completamente fechado? Quando André Silva anunciou a saída disse que “já ia tarde”. Com a saída do atual líder, reabrem-se as portas para o regresso?
Não se abrem as portas na medida em que não basta a saída do André Silva: é necessário saírem mais algumas pessoas. Neste momento vejo o PAN como um capítulo fechado porque também não tenho uma expectativa muito grande em que acabe por haver uma mudança na direção. Apesar da saída de André Silva, julgo que haverá uma continuidade. Verificando-se a saída de determinadas pessoas, não tenho qualquer problema com o PAN nem com a ideologia do PAN, pelo contrário, continuo a rever-me nos valores do partido.

Há também vários elementos do Volt a ‘piscarem-lhe o olho’ publicamente, nas redes sociais. Admite vir a integrar este novo partido?
Não, nunca pensei nisso. De facto aconteceu, até foi um pouco inesperado, numa rede em particular várias pessoas fizeram essa referência, mas noutras alturas já fizeram em relação a outros partidos. Nunca coloquei a possibilidade em relação ao Volt ou a qualquer outro, as redes não são propriamente o sítio ideal para essa reflexão.

É mais provável que vá para o Volt ou que volte ao PAN?
Das duas, não vejo grande probabilidade para nenhuma, sinceramente.

Já teve algum convite mais formal para algum partido?
Não. Já ouvi comentários, mas são comentários.

E em relação ao PAN, a que pessoas se refere especificamente quando diz que era preciso algumas saírem para poder voltar?
Não vou dizer nomes, mas acho que é evidente que quem compunha o grupo parlamentar de que eu faria parte… qualquer uma dessas pessoas teria de sair. O André Silva já fez o favor de anunciar a sua saída, mas as restantes [Inês Sousa Real e Bebiana Cunha] parecem-me estar de pedra e cal.

Como é que alguém que foi “braço direito” de um deputado único — é assim que André Silva se refere a si — durante quatro anos em poucos meses se incompatibiliza de forma a deixar o partido?
É de facto caricato, e confirmo que realmente eu e o André Silva tínhamos uma relação profissional muito próxima e acho normal que considere que eu era o seu braço direito. Não acho normal a ingratidão para com esse braço direito e a forma como as coisas foram geridas após a eleição de mais deputados no PAN, que acho que só veio demonstrar que o partido não tinha ainda maturidade suficiente para eleger quatro deputados.

Não foi a única pessoa a desvincular-se do partido. O partido fala em dores de crescimento, mas este já é o sétimo congresso e a segunda eleição para legislativas. São mesmo dores de crescimento ou o que existe é muita instabilidade e várias maneiras de ver o partido?
A instabilidade é factual, é evidente que existe e que ninguém acredita que o André Silva vai sair porque foi pai. Isso deixa absolutamente evidente essa instabilidade. Há também uma total falta de organização, há claramente dificuldade em fazer debate político interno e não há qualquer espaço a crítica e até notícias muito recentes mostram que se vai discutir neste Congresso que a própria Comissão Permanente, que não é um órgão partidário, possa suspender qualquer militante para salvaguardar o bom nome do partido. E se antes já havia aqui uma espécie de vigilância sobre o que os militantes diziam nas redes sociais, neste momento pode ser resolvida com a suspensão.

Mas já havia uma lei da rolha no PAN?
Não existia oficialmente, está a ser oficializada neste congresso. O que se via é que as pessoas que contrariavam determinadas pessoas ou tinham a coragem de contrariar a direção eram de alguma forma colocadas de lado, não eram vistas com bons olhos. O que me parece é que esta proposta pretende oficializar essa lei da rolha.

Ou seja, olhando de fora, considera que este estado da arte do PAN será para continuar, com ou sem André Silva.
Do que tenho lido, e admito que não tenho lido muitas entrevistas mas é o que me dizem, houve a indicação de que este congresso iria dar resposta às saídas que se verificaram dos deputados (também dos municipais), eurodeputado… O que me parece é que não houve uma reflexão interna sobre o que levou estas pessoas a sair. Estas pessoas saíram dizendo que havia silenciamentos, não havia possibilidade de debate nem pluralismo. E qual é a resposta da nova líder? Condicionar ainda mais a possibilidade de as pessoas falarem e emitirem a sua opinião. Portanto, claramente não houve reflexão e não houve um entendimento do que aconteceu.

Diz que não tem lido muitas entrevistas, mas André Silva esta semana voltou a acusá-la de ter usado o partido para interesses pessoais, ficando com um mandato que no entender dele pertence ao PAN. Considera que os eleitores de Setúbal estavam a escolhê-la a si, pessoalmente?
O André Silva, que anunciou que iria sair, esta semana não fez outra coisa que não dar entrevistas, e tem toda a liberdade para o fazer, mas não me parece nada característico de alguém que pretende efetivamente deixar a vida política. Sobre as coisas que ele tem dito: o André Silva pode achar que o mandato é do PAN, mas há aquilo que ele acha e aquilo que a lei assegura, no caso a nossa lei constitucional. O legislador fez questão de que fosse assegurada aos deputados a possibilidade de manterem o seu mandato, que é pessoal, não é do partido, precisamente para assegurar algum equilíbrio entre os muitos poderes dos partidos e os dos eleitos. A opinião do André Silva parece-me irrelevante.

Isso quer dizer que André Silva vai continuar a ser uma espécie de líder sombra no PAN e a exercer influência?
Eu acho que ele vai sair e por incompatibilidade com outras pessoas na direção do partido — o facto de hoje sair uma entrevista do André Silva em que referia que acha a colagem ao PS um erro…

Desaconselhava o PAN a ir para o Governo.
Exatamente, quando há duas semanas a suposta nova líder partidária dizia precisamente que quer fazer Governo. Parece-me que ainda não saiu e já está a fazer algum tipo de oposição interna.

Quando saiu do PAN acusou o partido de não a deixar apresentar iniciativas e de a ter encostado a um canto, são essas as iniciativas que lhe foram vedadas e que agora está a recuperar para apresentar na condição de deputada não inscrita?
Sim, algumas sim. As que apresentei inicialmente sem dúvida nenhuma, nomeadamente a do Rendimento Básico Incondicional. Também algumas na área da cultura e depois foi seguir um caminho e o programa eleitoral que sempre assumi que teria como prioridade cumprir.

Nomeadamente nas questões relacionadas com as mulheres, tem apresentado várias iniciativas. No PAN não havia espaço para isso?
No PAN não era prioridade.

E o que é que no PAN era prioridade? Isto porque esta semana acusou o partido de estar mais preocupado em agradar o Governo do que com as suas causas. Que causas é que o PAN deixou para trás?
Uma das coisas que notei e acho que continua a acontecer, sendo certo que não posso neste momento afirmar que isso acontecerá, é que o PAN durante o ano em que estive como deputada teve muita dificuldade em delinear uma estratégia política, em estabelecer prioridades e parece-me que continua igual porque o PAN não está a conseguir marcar a agenda política. Relativamente às iniciativas que tenho colocado, algumas já constavam do programa do PAN, outras não. O PAN algumas não teve coragem de as colocar, nomeadamente a que diz respeito à secção de tauromaquia no Conselho Nacional de Cultura. É algo que já consta do programa do PAN há muito tempo e nunca houve essa coragem, eu tive. Como essa há outros exemplos.

Em 2018, o seu nome esteve associado ao IRA, investigado por suspeita de crimes violentos. Ainda mantém alguma ligação ao grupo?
A minha ligação ao grupo era enquanto advogada, a título de voluntariado. Desde essa altura também deixei de ter essa ligação. Relativamente a isso, importa dizer, porque na reportagem que houve diziam que eu própria estava a ser investigada, e daquilo que eu tive conhecimento nunca estive envolvida em qualquer investigação. Questionei diretamente o Ministério Público que me referiu que não havia nada a dizer sobre o assunto em relação a mim. Julgo que o próprio IRA também não teve qualquer processo judicial, posteriormente a ERC veio dizer que efetivamente a reportagem foi baseada em sensacionalismo e, portanto, julgo que está mais que provado.

Considera o trabalho do IRA meritório e importante?
Não tenho acompanhado particularmente o trabalho do IRA. Do que noto, eles trabalham cada vez mais com entidades oficiais, nomeadamente com os órgãos de polícia criminal e mesmo com algumas câmaras municipais, mas não tenho acompanhado suficientemente o trabalho para poder opinar muito sobre ele.

É uma das deputadas não inscritas, há outra que é Joacine Katar Moreira, já as vimos com máscaras iguais, em protesto. Costumam concertar de alguma forma opiniões ou tentar concertar uma estratégia quando são as duas envolvidas?
Sim. Em algumas circunstâncias sim. Há situações em que fazemos requerimentos ao Presidente da Assembleia da República juntas, falamos sobre determinado assunto. No caso do 25 de Abril foi um dos momentos, tivemos outros em relação ao Orçamento do Estado, fizemos recentemente um pedido para que a Conferência de Líderes nos deixasse fazer agendamentos. Nessas situações fazemos essa atuação conjunta, mas de resto temos uma excelente relação e, estando as duas na mesma situação, apoiamo-nos mutuamente.

Foi uma das deputadas que contribuiu para a validação do Orçamento do Estado, nos outros partidos ficou relativamente claro o que é que cada um tinha conseguido, no seu caso o que é que o Governo lhe deu em troca?
A minha negociação não foi propriamente uma negociação. O que fiz foi apresentar ao Governo certas propostas que achei que eram importantes para os eleitores que votaram em mim. Nunca negociámos no ponto de vista de eu lhes dar este voto e eles determinadas medidas. A verdade é que o Governo acabou por aceitar algumas das minhas propostas, que achei que foram importantes.

Portanto, conversou com Duarte Cordeiro, como foi o modus operandi?
Simplesmente mandei-lhe uma lista das propostas que queria que fossem aprovadas.

Já fez a lista também para um Orçamento para 2022? Não propriamente uma lista de compras, mas que artigos haverá nessa lista que para a Cristina Rodrigues são essenciais para a viabilização de um Orçamento?
Ainda é cedo para dizer, já tenho algumas propostas que serão importantes para mim, mas não queria para já partilhá-las.

Não consegue apontar áreas de interesse?
Direitos das mulheres e igualdade de género.

Direitos das mulheres e igualdade de género são duas bandeiras para a negociação deste orçamento?
Sim, certamente.

Já se cruzou com o secretário de estado dos Assuntos Parlamentares para lhe dizer que está disposta para se sentar novamente à mesa?
Ainda não. Soube através de notícias que já estão a acontecer algumas reuniões com os grupos parlamentares, mas ainda não tive qualquer iniciativa nesse sentido e o Governo também não. Ainda não falei com Duarte Cordeiro, mas falarei certamente.

Tem algum plano para quando deixar o Parlamento? Parece não ter hipóteses depois de 2023 de voltar.
Não tenho grande plano. Sou advogada, suspendi a minha cédula quando fui eleita para poder exercer o mandato em exclusividade e, portanto, o meu plano será sempre voltar à minha profissão. A minha prioridade neste momento é cumprir o programa eleitoral e respeitar os eleitores que votaram, é esse o meu compromisso para já. O amanhã logo se vê.

Passamos agora para a fase do Carne ou Peixe em que tem de escolher uma de duas opções:

Preferia almoçar um bife com ovo a cavalo com Inês Sousa Real ou ir a uma tourada com André Silva?
Nem uma coisa nem outra, venha o diabo e escolha.

Se tirássemos o bife e a tourada, qual dos dois escolhia?
Mantinha.

Preferia ser ministra de um governo de António Costa ou deputada numa bancada liderada por Bebiana Cunha?
António Costa, sem dúvida.

Ir a um espetáculo de Fernando Rocha ou decorar o programa do PAN de uma ponta à outra?
Decorar o programa do PAN de uma ponta à outra.

Ser companheira de bancada de Francisco Guerreiro no Volt ou voltar a estar na bancada do PAN com Inês Sousa Real?
Francisco Guerreiro, sem dúvida também, independentemente de onde fosse, tudo menos Inês Real.