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Como assinalava há pouco tempo o site Pass Blue, não há-de ser fácil ser o “saco de pancada” do mundo inteiro — mas Sergey Lavrov, que durante uma década, a partir do edifício sede das Nações Unidas, em Nova Iorque, até teve como missão primordial zelar pela “manutenção da paz e segurança internacionais”, não se tem mostrado descontente com a nova missão.
Depois de num primeiro momento ter aparentemente sido das vozes do Kremlin mais cautelosas e anti-guerra — entrou já para a História a forma enfiada como, na reunião do Conselho de Segurança Russo, uma semana antes da invasão da Ucrânia, disse a Vladimir Putin que ainda havia “possibilidades” na via diplomática e sugeriu que “continuassem a tentar” —, o ministro dos Negócios Estrangeiros russo assumiu-se como o principal defensor da “operação militar especial” na Ucrânia.
Ao longo dos últimos três meses, o diplomata, de 72 anos e há 18 no cargo, o mais longevo na pasta desde o fim da URSS, tem dito de tudo para justificar a guerra e os seus atropelos.
Aliás, tem dito tanto que até Vladimir Putin já se viu obrigado a pedir desculpas em seu nome, depois do episódio em que, em entrevista à televisão italiana Rete 4, invocou Adolf Hitler para defender que o facto de Volodymyr Zelensky ter origens judaicas não diz nada sobre a “nazificação” da Ucrânia, desde o início uma das justificações da Rússia para a invasão do país vizinho.
“Na minha opinião, Hitler também tinha origens judaicas, pelo que não significa absolutamente nada”, disse Sergey Lavrov, com a habitual cara de póquer. “Há já algum tempo que ouvimos do povo judeu que os maiores antissemitas eram judeus”, completou depois, para horror do homólogo israelita, que classificou a intervenção como “imperdoável e escandalosa e um horrível erro histórico”.
Com todos os seus bens no estrangeiro congelados desde o segundo dia de guerra na Ucrânia, tal como o Presidente Vladimir Putin, Sergey Lavrov tem-se mantido impassível e cumprido o plano — seguir a linha do Kremlin e defender os interesses e a glória da nação russa a todo o custo.
É o que tem feito desde que foi nomeado pelo atual Presidente (em 2004), como já tinha comentado em 2017 Rex Tillerson, o Secretário de Estado que Donald Trump demitiu ao fim de pouco mais de um ano no cargo: “Não se pode dançar o tango com Lavrov porque ele não tem autorização para dançar”.
O “baile” à ministra britânica, a comparação do Iraque a um restaurante de frango frito e a humilhação na ONU
Por muito que possa até não ter permissão para dançar, isso nunca impediu que Lavrov — diplomata experiente e descrito pelos pares como um negociador duro, implacável e de língua afiada — desse um certo “baile” aos seus interlocutores.
Aconteceu em fevereiro deste ano, duas semanas antes do início da guerra na Ucrânia, com Liz Truss, a sua homóloga britânica, numa reunião à porta fechada em Moscovo.
Questionada por Lavrov sobre se o Reino Unido reconhecia a soberania da Rússia em Voronej e Rostov-on-Don, Truss respondeu sem hesitar: “O Reino Unido nunca reconhecerá a soberania russa sobre essas regiões”.
“Foi um diálogo de um mudo com um surdo”, disse mais tarde, com o sarcasmo que o carateriza, o ministro russo sobre a reunião de duas horas com a ministra britânica, que acusou de ser “impreparada” e de não saber nada sobre a Rússia e as suas pretensões na Ucrânia. Nem sequer a localização de Voronej e de Rostov-on-Don, que são na verdade duas regiões russas, uma no centro do país, outra no sul, nas margens do Dom, e não territórios reclamados pelo Kremlin em solo ucraniano.
Anos antes, numa sessão fechada do Conselho de Segurança, Sergey Lavrov não fez uma rasteira ao funcionário norte-americano que lhe disse que abrandar as sanções contra o Iraque, como a Rússia pretendia, seria como “aprovar um restaurante com baratas na sopa”. Mas também lhe respondeu à letra, que é como quem diz, diplomaticamente falando, de forma pouco ortodoxa: “Não estamos a pedir-lhe que dê cinco estrelas ao Iraque. Só queremos que diga que é o Kentucky Fried Chicken”, citou a Reuters, em 2012.
This morning in the UN Human Rights Council more than 140 diplomats refused to listen to Russian Foreign Minister Lavrov’s futile attempt to justify unacceptable military aggression. Watch them leave the Council Chamber. pic.twitter.com/Syox5sTvaD
— Elisabeth Tichy-Fisslberger (@tichy_e) March 1, 2022
Após tantos anos nas Nações Unidas, não terá sido fácil para o chefe da diplomacia russa ter sido ostensivamente deixado a falar sozinho, como aconteceu a 1 de março deste ano, cinco dias depois da invasão da Ucrânia, quando cerca de 140 diplomatas abandonaram a sala assim que lhe deram a palavra, no Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, em Genebra. Mas Sergey Lavrov, em videoconferência a partir de Moscovo, porque as proibições de voos da Rússia impostas pelos países europeus não lhe permitiram viajar para a Suíça, continuou a falar. Apesar dos rumores sobre a eventual reforma que desde então se tornaram mais audíveis — e que pelo menos desde 2013 são recorrentes —, continua (aparentemente) firme no posto.
Dois Sergey Lavrov e o acidente em cingalês: do MGIMO para o mundo
Sergey Viktorovich Lavrov nasceu no primeiro dia da primavera de 1950, em Moscovo, praticamente três anos antes da morte de Josef Stalin.
Filho de um arménio nascido na Geórgia e de uma russa, era muito bom a Física mas acabou por inscrever-se no conceituado Instituto Estatal de Relações Internacionais de Moscovo, o MGIMO, a escola por onde passaram praticamente todos os diplomatas russos de topo da atualidade — e não só: os atuais Presidentes do Azerbaijão e do Cazaquistão andaram lá, pelo menos três ex-chefes de Estado búlgaros também e Irina Bokova, desde 2009 presidente da UNESCO, idem.
Ao longo dos anos em que lá estudou, Sergey Lavrov deu nas vistas, tendo inclusivamente sido eleito secretário do Komsomol, a organização juvenil do Partido Comunista da União Soviética, para o seu ano. Andrei Kozyrev, o primeiro ministro das Relações Exteriores da Rússia após a queda da União Soviética, um ano mais novo, lembra-se dele como uma espécie de alma da festa. “Foi sempre um tipo que socializava, sempre muito amigável”, recordou há já 9 anos à americana Foreign Policy. Nas Nações Unidas, onde chegou em 1981, com apenas 31 anos, destacado como representante da URSS, não foi muito diferente — já lá iremos.
Uma década antes, quando saiu do MGIMO, em 1972, já casado com Maria Lavrova, ainda hoje sua mulher e mãe da sua filha, Ekaterina Sergeyevna Lavrova, de 40 anos, Sergey Lavrov, então com 22, foi colocado no Sri Lanka, onde durante quatro anos prestou apoio ao embaixador russo.
Um dos quatro idiomas que domina, para lá do russo, é precisamente o que se fala nesse país. Os outros são inglês, francês e diveí, a língua mais falada nas Maldivas, que tem origens comuns ao cingalês. Não foi por vontade própria que os aprendeu, explicou em 2019, numa entrevista para comemorar o 75.º aniversário do MGIMO.
Em 1967, quando entrou na escola, escolheu árabe e francês como línguas estrangeiras e depois, como os demais alunos, esperou que as turmas fossem anunciadas em pauta. “Havia 11 grupos. O primeiro era ‘Inglês e Francês’, que era considerado o mais prestigiado. Cheguei lá e o primeiro nome da lista era Lavrov S. V. Fui para casa ou ter com amigos e no dia 1 de setembro voltei e dirigi-me à sala onde o grupo 1 tinha o primeiro seminário. O professor fez a chamada e quando disse ‘Lavrov’ houve dois alunos que se levantaram”, começou por recordar o ministro, para depois encerrar com a punch line: o aluno colocado em primeiro lugar do curso era afinal Sergey Vladimirovtch Lavrov, Sergey Viktorovich Lavrov, o “Ministro Nyet”, tinha ficado no último grupo — e acabaria assim a aprender cingalês como primeiro língua estrangeira e inglês como segunda.
Apesar de quem o conhece assegurar que o seu inglês é irrepreensível — já na altura do MGIMO era, garantiu na mesma entrevista —, em público Lavrov faz questão de falar sempre em russo, mais uma forma de contrariar a hegemonia do Ocidente e dos Estados Unidos.
De Senhor Nyet a Ministro Nyet
Quando saiu de Colombo, na volta a Moscovo, o jovem diplomata foi colocado no Departamento de Organizações Económicas Internacionais do Ministério dos Negócios Estrangeiros. Cinco anos mais tarde, foi de lá que saiu diretamente para uma das mais prestigiadas posições da carreira: as Nações Unidas, em Nova Iorque.
Entre 1981 e 1988, pode ler-se no site do governo russo, foi Primeiro Secretário, Conselheiro e Conselheiro Senior da Missão Soviética junto da ONU. Em 1994, depois da dissolução da União Soviética e após ter desempenhado vários cargos no Ministério dos Negócios Estrangeiros, incluindo o de ministro adjunto, Sergey Lavrov regressou a Nova Iorque com o mais alto cargo e ao longo de uma década foi embaixador extraordinário e plenipotenciário e representante permanente da Federação Russa junto das Nações Unidas.
Foi durante essa segunda estada que ganhou o epíteto de “Mr. Nyet”, “Senhor Não” — como o histórico embaixador e ministro dos Negócios Estrangeiros soviético Andrei Gromyko, que nas Nações Unidas deu início a uma nova tradição do Kremlin, a de dizer “não”, e se notabilizou pelo uso do veto.
Depois, em março de 2004, doze dias antes de completar 54 anos, Lavrov sofreu um upgrade com a sua nomeação para a pasta dos Negócios Estrangeiros e o regresso a Moscovo — e a partir de então passou a ser o “Ministro Nyet”. “Não acredito na ideologia nas relações internacionais”, disse em 2013 em entrevista. “Comecei a trabalhar como diplomata durante os tempos da União Soviética e, apesar de a ideologia estar muito no topo da agenda do Partido Comunista, posso assegurar-vos que, em termos práticos, sempre tentámos ser pragmáticos.”
Independentemente de todas as declarações de intenções, mudou o cargo, mantiveram-se os vetos, os confrontos com os homólogos americanos e as negociações difíceis: Kosovo e Iraque ficaram para trás, nos anos seguintes rebentaria a guerra civil na Síria e, a seguir, cairia o presidente pró-russo da Ucrânia.
“Os seus dois objetivos eram sempre os mesmos: vetar coisas pela glória da Rússia e derrubar os americanos sempre que possível”, recordou em 2013 John Negroponte, antigo embaixador dos EUA na ONU e membro, tal como Sergey Lavrov, do Conselho de Segurança. “Como os russos em geral, ele quer respeito, por isso procura formas de exercer o veto”, assinalou na mesma altura a antiga Secretária de Estado Condoleezza Rice.
Machista ou cavalheiro? A relação com Hillary Clinton e Condoleezza Rice
De acordo com vários relatos na imprensa americana, de todos os Secretários de Estado dos EUA com quem teve de lidar ao longo dos anos, foi com Rice e com Hillary Clinton (que em 2009 até lhe ofereceu um botão vermelho, para fazer uma espécie de reset nas relações diplomáticas entre os dois países e as tornar mais amigáveis) que Lavrov mais se travou de razões.
Por um lado, escreveu a Foreign Policy, citando fontes anónimas, não parecia ser sequer do “seu agrado” ter de lidar com homólogas mulheres — o machismo de que os detratores o acusam (e a que os partidários preferem chamar cavalheirismo à moda antiga, assinalou há quase uma década o New York Times) será motivo de entropia nos relacionamentos.
Por outro, Condoleeza Rice e Hillary Clinton também não teriam propriamente propensão para alinhar no mesmo estilo de descompressão — à la “Mad Men” — de Lavrov, adepto de caça, whisky escocês e cigarros, descreve a revista americana
Com John Kerry, que sucedeu à democrata, que viria a entrar na corrida à Casa Branca em 2016, a relação já foi muito mais descontraída, cimentada em passeios no jardim, jantares tardios e bebidas à lareira, com o diplomata russo, também conhecido pela altura (tem 1,88m) e porte atlético, fã de esqui no inverno e de rafting no verão, sempre impecavelmente vestido com os fatos italianos que faz questão de mandar fazer à medida.
O que também não significa que no campo diplomático tenha corrido tudo bem — foi a propósito da incapacidade de ambos chegarem a acordo em 2014, na altura em que a Rússia invadiu a Crimeia, que o Washington Post se referiu a Lavrov — um homem “firme, teimoso, de inteligência imensa e experiência formidável” — como “o ministro dos Negócios Estrangeiros que os Estados Unidos adoram odiar”.
“Sergey, o Secretário de Estado dos EUA não tem uma conversa com o MNE russo sobre fazer cair um presidente”
Foi já nessa qualidade que Sergey Lavrov — que sabia “provocar” Condoleeza Rice como ninguém, chegou a dizer Glenn Kessler, jornalista do Washington Post e ex-correspondente diplomático do diário americano — e a Secretária de Estado de George W. Bush tiveram a maior altercação.
Foi a própria quem descreveu o que aconteceu em “No Higher Honor”, a autobiografia que publicou em 2011, sobre os anos passados em Washington.
Apenas três anos antes, em agosto, a Rússia e a Geórgia tinham entrado em guerra, conflito que os Estados Unidos estavam a tentar mediar. Ao telefone, Lavrov mostrou-se disponível para cessar as hostilidades — mas apenas se as três exigências que o Kremlin tinha a fazer fossem cumpridas.
Com as duas primeiras, recordou Rice, não havia problema: a Geórgia tinha de assinar um documento em que se comprometia a não recorrer à força e a ordenar o regresso de todos os soldados aos quartéis. “Mas depois o Sergey disse: ‘A outra exigência fica apenas entre nós. Misha Saakashvili [o presidente da Geórgia] tem de sair’”, começou por escrever a política americana.
“Não pude acreditar no que estava a ouvir e reagi por instinto, sem pensar. ‘Sergey, o Secretário de Estado dos Estados Unidos não tem uma conversa com o Ministro dos Negócios Estrangeiros russo sobre fazer cair um presidente democraticamente eleito’, disse eu. ‘A terceira condição acabou de se tornar pública porque vou ligar a todos os que puder e dizer-lhes que a Rússia está a exigir que o presidente da Geórgia seja derrubado”. ‘Eu disse que era só entre nós’, repetiu ele. ‘Não, não é entre nós. Toda a gente vai saber'”, continuou Rice, que diz que, ato contínuo, desligou aquela chamada e se lançou numa série de outras, a começar no então conselheiro de segurança nacional e a acabar no Conselho de Segurança das Nações Unidas, com passagem pelos homólogos britânicos e franceses. No final, a guerra só durou 12 dias. Já o Presidente da Geórgia manteve-se durante mais cinco anos no cargo.
Álcool, cigarros, fatos italianos e o desafio a Kofi Annan
Tudo menos consensual — para o mesmo artigo, a Foreign Policy ouviu coisas tão díspares como “Lavrov é um completo idiota” e “Ele tem certamente de estar entre os ministros dos negócios estrangeiros mais eficazes do mundo” —, Sergey Lavrov é, ainda assim, descrito por quem privou com ele em Nova Iorque como um ser verdadeiramente social, tal como era nos tempos do MGIMO.
Nas reuniões nas Nações Unidas passava o tempo a fazer desenhos e rabiscos em papéis mas quando intervinha era assertivo. Fora delas, nas pausas do Conselho, tanto podia passar o tempo no corredor, em conversas à boca pequena com o grupo de jornalistas que privilegiava (nunca gostou de perguntas incómodas e nunca teve qualquer problema em mostrá-lo a quem estava na outra ponta do gravador), como enfiado no gabinete da agência de notícias russa onde, escreveu o site Pass Blue, fosse a que horas fosse, havia sempre uma garrafa de vodca guardada num armário, para si e para os outros diplomatas e jornalistas russos.
Não era o típico diplomata cinzento — até escrevia poesia, que chegou a publicar. “Veste as melhores roupas italianas e adora bom vinho. O Médio Oriente deixou-o louco. Quando estivemos no Kuwait, queixava-se da falta de álcool. Fuma como uma chaminé. Faz-nos lembrar os diplomatas do século XIX”, recordou à Foreign Policy um antigo alto funcionário norte-americano que privou com ele. “Bebia como um peixe. Definitivamente, bebia muito antes do meio-dia”, contou um embaixador que coincidiu com o russo no Conselho de Segurança.
Talvez imbuído do espírito desses tempos, em que beber e fumar eram sinais de prestígio e virilidade, quando, em 2003, Kofi Annan, então Secretário-Geral das Nações Unidas, proibiu o tabaco no interior das instalações da ONU, Sergey Lavrov continuou a fumar. E a quem o questionava dizia, sem pejo, que Annan não era “dono do edifício”. Para o afrontar, terão sido várias as vezes em que apagou as beatas nas carpetes.
Em 2017, contou à Esquire russa, em vez de um maço e meio já conseguia fumar apenas quatro cigarros por dia. Como? À conta de muita “disciplina diplomática”, explicou, citado pelo Moscow Times. Quando o jornalista lhe perguntou como conseguia manter uma tão admirável forma física, na altura aos 67 anos, Lavrov respondeu: “Para ser honesto, é genético. Agradeço ao meu pai e à minha mãe. E a pequenas coisas: faço alongamentos e faço exercício na bicicleta de manhã. Aos domingos jogo futebol sempre que possível”.
“Ele é carismático, muito engraçado, mundano, e desonestamente brilhante”, diria, em 2017, ao Politico, David Wade, ex-chefe de gabinete de John Kerry, em mais um exercício de recolha de opiniões contraditórias sobre o ainda chefe da diplomacia russa.
A adjetivação escolhida pode conduzir a outra faceta de Lavrov, do domínio privado, mas que tem sido amplamente escrutinada pela opinião pública — sobretudo desde que, no ano passado, a Fundação Anti-Corrupção de Alexei Navalny revelou que, desde 2014, o ministro dos Negócios Estrangeiros russo tinha levado a amante mais de 60 vezes ao estrangeiro, no avião de serviço e a expensas do governo, em pretensas “missões diplomáticas”. França, Itália, Suíça, Japão, Singapura, Grécia e Portugal terão sido apenas alguns dos países por onde passaram.
O casamento de 51 anos e o escândalo da amante — descoberta em plena igreja
Casado há 51 anos com Maria Lavrova, com quem há anos não é visto em público, Sergey Lavrov manterá pelo menos desde 2014 uma relação com Svetlana Polyakova, 20 anos mais nova. Quando foi revelada pela equipa de Navalny, num artigo intitulado “Iates, subornos e uma amante. O que está o Ministro Lavrov a esconder”, soube-se também que Polyakova tinha em seu nome um património de 12,7 mil milhões de euros.
Funcionária do Ministério dos Negócios Estrangeiros e proprietária de alguns restaurantes pouco lucrativos, Svetlana Polyakova seria até próxima de Putin, com quem já teria sido fotografada em eventos. Mais: para muitos funcionários do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, era considerada a mulher de facto do ministro — alguns chegavam a ter o seu contacto guardado como Svetlana Lavrova, detalhou na altura o Daily Mail.
Lavrov has had the ‘official’ wife for the past 50 years. No one has heard of her or seen them together in public in ages, though. As opposed to this lady, Svetlana Polyakova. She is the actual wife, they have been together since the early 2000s. pic.twitter.com/d4RzC9CUul
— Maria Pevchikh (@pevchikh) March 10, 2022
Svetlana Alexandrovna Polyakova é mãe da instagramer Polina Kovaleva — que aos 21 anos comprou um apartamento de 5,2 milhões de euros, a pronto, no exclusivo bairro londrino de Kensington, e que, agora, tem 26 — e foi uma das personalidades a que o Reino Unido impôs sanções após a invasão da Ucrânia. Deu nas vistas pela primeira vez a 8 de dezembro de 2014, recordou em setembro de 2021 o russo OCCRP, um projeto de jornalismo de investigação sobre corrupção e crime organizado no país.
Nesse dia, Sergey Lavrov, Vladimir Putin e o Patriarca Kirill, líder da Igreja Ortodoxa russa, juntaram-se perto de Tsárskoie Selô, a antiga residência imperial dos Romanov, a cerca de 25 quilómetros de São Petersburgo, para inaugurar a igreja de São Sérgio de Radonej, finalmente reconstruída depois de nos anos da União Soviética ter sido reduzida a escombros.
O primeiro sinal de alerta: Lavrov, habitualmente sério e lacónico, revelou-se emocionado por ter sido convidado a liderar a gestão do monumento. “Vossa Santidade! Caros amigos! Estou mais entusiasmado do que nunca para falar hoje. Porque não se trata de trabalho, mas de um chamamento do coração”, disse.
O segundo: do vídeo entretanto colocado no YouTube para documentar a inauguração fazem parte várias imagens do trio num périplo pela renovada igreja, sempre lado a lado com uma misteriosa mulher, de manto e preto e xaile branco, que acabou por ser galardoada na cerimónia que se seguiu.
“Svetlana Alexandrovna Polyakova, funcionária do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Federação Russa, é galardoada com a Ordem da Igreja Ortodoxa Russa de Santo Euphrosyne, Grã-Duquesa de Moscovo, III grau”, ouve-se um religioso a entoar a dada altura, dando a conhecer ao mundo o nome da misteriosa mulher que parecia acompanhar o “Ministro Não”.
Contactado diversas vezes por jornalistas, na tentativa de confirmar a história, que entretanto se revelou a partir deste fio, por que bastou puxar, Sergey Lavrov nunca fez qualquer comentário.
Nada de novo: sempre foi conhecido por reagir com raiva e se remeter ao silêncio quando as perguntas não são do seu agrado. Ou por fingir estar a falar ao telemóvel, quando no edifício das Nações Unidas ou no do Ministério dos Negócios Estrangeiros, se cruzava com os repórteres de quem não gostava.