Já antes de afirmar que chorava no ginásio — na letra “now I’m down bad crying at the gym”, da música Down Bad, do The Tortured Poets Department —, Taylor Swift tinha revelado ao mundo que, para poder oferecer aos fãs uma performance de mais de três horas, foi preciso uma grande preparação física, que começou muito antes da The Eras Tour arrancar. Fê-lo por si — para ser capaz de cantar e dançar ao som de 44 músicas, agora 46 — e pelos swifties. Em dezembro de 2023, quando foi distinguida como Personalidade do Ano, Taylor revelou à revista Time que queria “superservir os fãs” de forma a retribuir o esforço que fizeram para conseguirem adquirir os bilhetes para os seus concertos. Apesar de saber que esta seria a digressão mais difícil que alguma vez tinha feito — com a última, a Reputation Stadium Tour, a durar apenas meio ano — Swift queria surpreender os seguidores com um espetáculo mais longo do que aquilo que eles pudessem estar à espera. E assim foi. Há mais de um ano em tour, a artista norte-americana continua a correr o mundo e a esgotar estádios com um concerto que viaja pelos seus, agora, 11 álbuns. Pelo meio, vai treinando: “Finalmente, pela primeira vez, preparei-me fisicamente de forma correta.”
Mas, esta preparação não foi feita sozinha. Junto da cantora há uma década — surgiu na época do seu quinto álbum, 1989 —, Kirk Myers desenhou um plano de treino exclusivamente pensado para Taylor, que começou a pôr em prática seis meses antes da The Eras Tour subir ao palco do State Farm Stadium, em Glendale, no Arizona, em março de 2023. Com o objetivo de preparar a artista como se “fosse uma atleta profissional”, este treinador de celebridades tinha como foco a sua força, resistência e capacidade abdominal, fundamentais para cantar e dançar em palco, explicou em entrevista à Vogue, em abril.
Taylor Swift nomeada “Personalidade do Ano” de 2023 pela revista Time
“É muito difícil, algumas pessoas provavelmente vomitariam ou teriam de se deitar no chão se treinassem como ela”, revelou Kirk Myers à revista, acrescentando que Taylor, para além de ter uma ética de trabalho “incrível”, é a pessoa mais resiliente que alguma vez conheceu.
No entanto, se Taylor Swift consegue, conseguirá toda a gente? Que treino é este que lhe permite atuar por mais de três horas, durante dias seguidos, e deixa pessoas a vomitar, mas, mesmo assim, curiosas para experimentar?
A Maratona Taylor Swift
Na entrevista à Time, Taylor revelou que um dos seus treinos consistia em correr na passadeira enquanto cantava toda a set list da The Eras Tour. Não fossem os swifties os maiores cumpridores daquilo que Taylor faz, diz e pede para ser feito — exemplo disso são as famosas pulseiras da amizade —, rapidamente o seu treino foi introduzido nas rotinas dos fãs, que partilharam a experiência nas redes sociais. Cantar o repertório musical de Taylor Swift durante três horas? É bastante atrativo. No entanto, a execução não é tão fácil assim.
“Todos os dias corria na passadeira enquanto cantava toda a lista de músicas em voz alta”, revelou a cantora norte-americana, explicando, logo de seguida, o método: “Rápido para as músicas rápidas, e uma corrida ou caminhada rápida para as músicas lentas.”
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Segundo os especialistas, este método permite trabalhar os pulmões e o coração da mesma forma que correr mais depressa. Como explicou ao Washington Post Laura Richardson, fisiologista clínica do exercício da Escola de Cinesiologia da Universidade de Michigan, o atleta absorve mais oxigénio, trabalha os músculos a uma intensidade mais elevada e, por consequência, cansa-se mais rapidamente.
Por isso, quanto mais o atleta cantar enquanto corre, mais fácil o exercício se vai tornar. Desta forma, aos fãs que querem aderir ao treino de Taylor, Laura Richardson recomenda que comecem devagar — com uma corrida de 10 minutos — e, gradualmente, aumentem a resistência.
“Sempre que conseguimos motivar as pessoas para o exercício, isso é um benefício. Mas se corrermos três horas, isso equivale a uma maratona de tempo de corrida. Se os pulmões e o coração não estiverem treinados, pode levar a lesões”, explicou.
Os três meses de aulas de dança
Se correr na passadeira a cantar a plenos pulmões parecia suficiente, não é. Durante a chamada “época baixa”, quando Swift não está em digressão, a artista treina no ginásio Dogpound, de Kirk Myers, “até seis dias por semana, duas vezes por dia”, contou o próprio. Na época alta, os treinos reduzem, para uma média de duas vezes por semana.
“O treino durante a época alta é para manutenção e, por isso, sobre estabilidade, mobilidade, biomecânica”, explicou o treinador. “Se viram o espetáculo, sabem como é intenso fisicamente. Imaginem fazer isso três ou quatro dias seguidos e depois, finalmente, terem alguns dias de folga e continuarem a ir ao ginásio. Taylor é assim”.
É tempo de dizer “omg, she’s insane”, como na I Bet You Think About Me, do Red (Taylor’s Version)? Porque há mais: antes da Tour, Taylor apostou na sua performance em palco e passou três meses intensivos a ter aulas de dança com a coreógrafa Mandy Moore, aconselhada pela atriz Emma Stone, com quem trabalhou para o filme La La Land.
“Aprender coreografia não é o meu forte”, explicou Swift à Time, acrescentando que trabalhar com Mandy “mudou completamente” a sua relação com a dança: “Eu queria que entrasse nos meus ossos. Queria estar tão bem ensaiada de forma a poder brincar com os fãs e não perder a linha de pensamento”.
“Eu queria que o espetáculo mostrasse às pessoas tantos tipos diferentes de dança e de atuação”, continuou, explicando que o seu objetivo era ter elementos da Broadway e evocar uma experiência cinematográfica. “A Em disse: ‘A Mandy é a tua miúda’.”
A sobriedade
A noite dos Grammys, na qual Taylor ganhou o Grammy de Melhor Vídeo de Música com a All Too Well: The Short Film, não é exemplo. A artista norte-americana deu uma folga a si própria, bebeu álcool e ofereceu aos fãs uns conjunto de memes baseados naquela noite de fevereiro de 2023: “Deixei de beber durante alguns meses antes do espetáculo, exceto na noite dos Grammy, que foi hilariante. Dei a mim própria uma noite divertida.”
Taylor Swift dances during Bad Bunny's #Grammys performance. https://t.co/yom28xGdvk pic.twitter.com/eL0gKfrLhf
— Variety (@Variety) February 6, 2023
Taylor Swift torna-se primeira artista a vencer Grammy de Álbum do Ano quatro vezes
Ao contrário das digressões anteriores, onde, afirma, se comportou como um “estudante universitário”, para a The Eras Tour a artista norte-americana deixou de beber álcool para se preparar mais rigorosamente. “Fui muito disciplinada em relação à bebida”, explicou, prática que continua a manter com a digressão europeia.
O dia de pausa entre concertos
No final da The Eras Tour nos EUA, em agosto, Taylor deu três concertos consecutivos, descansou um dia e voltou a mais três. No total, foram seis concertos em sete dias em Los Angeles. Pelo meio, aquele dia de descanso, a que chama de “dia morto”, serve para se recuperar e preparar para os espetáculos seguintes.
Neste dia, a artista norte-americana evita falar e não sai da cama, exceto para ir buscar comida e levá-la de volta para os lençóis. “É um cenário de sonho. Mal consigo falar porque estive a cantar durante três espetáculos seguidos. Cada vez que dou um passo, os meus pés fazem ‘crunch’, ‘crunch’, crunch’ de tanto dançar de saltos altos. Mas é o mais realizada que alguma vez me senti”, revela à Time.
“Sei que não estou a beber durante a digressão. Sei que estou a fazer exercício entre os espetáculos. Sei que estou a manter a minha força e resistência. Sei que vou subir ao palco mesmo que esteja doente, ferida, com o coração partido, desconfortável ou stressada”, disse, numa clara referência — feita ainda antes do álbum ser lançado — à música I Can Do It With a Broken Heart, do The Tortured Poets Department. “Isso agora faz parte da minha identidade como ser humano. Se alguém comprar um bilhete para o meu espetáculo, eu vou atuar, a menos que haja algum tipo de força maior”, afirmou.
Taylor Swift vem pela primeira vez a Portugal este ano. A The Eras Tour vai passar por Lisboa, com duas datas esgotadas no Estádio da Luz, nos dias 24 e 25 de maio. Segue depois para Espanha, França, Reino Unido, Irlanda, Países Baixos, Suíça, Itália, Alemanha, Polónia, Áustria e novamente os EUA, onde termina a digressão mundial em novembro.