As imagens são impressionantes: praias paradisíacas desertas cheias de lixo trazido pelo mar ou ilhas de plástico no meio do oceano que mais se assemelham a um iceberg — grandes à superfície da água, mas incrivelmente maiores por baixo. Não admira, por isso, que se incentivem ações de voluntariado para limpeza das praias e que vejamos com expectativa as inovações para aspirar o lixo do oceano. Mas é preciso muito mais e nem tudo está nas mãos do consumidor.
Com o lixo recolhido nas praias criam-se esculturas que alimentam as campanhas de sensibilização ou dão-se novas vidas aos plásticos sob a forma de roupa e calçado. Muitos respiram de alívio, como se estas iniciativas resolvessem o problema, mas não resolvem. São parte da solução, mas apenas uma pequena parte. O passo mais importante continua a ser impedir que os plásticos cheguem ao mar, como foi dito tantas vezes durante a Conferência dos Oceanos das Nações Unidas — que decorreu de 27 de junho a 1 de julho, em Lisboa.
“Se tivesse de aconselhar um investidor, dizia-lhe, neste momento, para gastar 95% do investimento numa forma de ‘fechar a torneia’ e 5% na limpeza dos lixos [dos ambientes marinhos ou costeiros]”, explica ao Observador Richard Thompson, diretor do Instituto Marinho da Universidade de Plymouth (Reino Unido). “À medida que formos desligando a torneira, então podemos investir mais na limpeza. Mas, neste momento, o lixo plástico está a ir para o oceano muito mais rápido do que alguma vez podemos esperar retirar.”
Desligar a torneira não significa deixar de usar plásticos, até porque os plásticos também têm benefícios ambientais e para a sociedade, diz o investigador. O que não precisamos é que os plásticos tenham o seu fim de vida nos oceanos ou no ambiente. “Temos de começar a usá-los de uma forma mais responsável e essas soluções estão em terra, não no mar.” A solução também não será encher os aterros com plásticos e, muito menos, incinerá-los. “Na Indonésia, por exemplo, o fim de vida dos plásticos é, com muita frequência, a queima a céu aberto. O impacto da emissão de gases com efeito de estufa desta queima é bastante devastador”, diz ao Observador Ellen Martin, diretora de Impacto na Circulate Capital — uma empresa gestora de financiamento para projetos que visam combater a poluição por plásticos e as alterações climáticas.
O lixo nas praias e oceanos é muito visível, por isso as imagens causam tanto impacto. “É como uma ferida aberta”, exemplifica Richard Thompson. Para o investigador, no entanto, o plástico nos ambientes marinhos e costeiros é o sintoma, não o verdadeiro problema. “Já enterrámos mais plástico nos aterros e já queimámos mais plástico do que aquele que está acumulado no oceano.” Para os especialistas ouvidos pelo Observador é preciso repensar todo o ciclo do plástico para permitir uma economia mais circular e evitar que seja desperdiçado no ambiente.
Novos R para reduzir a quantidade de plástico
Reduzir, reutilizar e reciclar. A ideia, repetida nas salas de aula e nas campanhas de sensibilização, remonta já à década de 1970, embora não tenha avançado à mesma velocidade em todos os países. Os objetivos do mote para diminuir a quantidade de desperdícios continuam a ser totalmente válidos, mas, especificamente no casos dos plásticos, Richard Thompson defende que precisamos de introduzir outros erres, como redesenhar ou repensar. Nomeadamente, criar um produto definindo à partida se, depois do seu uso, deve ser reutilizado ou reciclado ou se, pelo contrário, nunca deveria ter sido criado — como os sacos de plástico de uso único.
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“Quando falo com os criadores dos produtos, dizem-me que considerar o fim de vida de um produto plástico não faz parte das instruções [do cliente], não lhes pedem que pensem nisso. Pedem-lhes que pensem na função e atratividade”, diz o investigador de Plymounth. “Podíamos fazer muito mais se pensássemos no fim de vida durante a fase de design do produto.” Dessa forma, a responsabilidade passava a ser também (e fundamentalmente) do produtor e não exclusivamente do consumidor.
Os produtores estão cientes de que é preciso mudar, mas será que estão realmente motivados para fazer mudanças nos seus negócios? “Não. Por que haveriam de estar?”, questiona Julie Andersen. Até podem mudar alguma coisa de acordo com a pressão pública, como reciclar garrafas para fazer roupa. Apresentam-se como sustentáveis, ficam bem na fotografia, mas o peso continua do lado dos consumidores, porque as empresas não mudam a forma de funcionar, afirma a gestora da Plastic Ocean. “O problema é que nunca falamos deste problema, porque não queremos estragar as relações com a indústria. Mas, no final de contas, também são parte do problema.”
Os primeiros plásticos (polímeros) foram criados no final do século XIX e, durante muito tempo — praticamente até à atualidade —, os plásticos foram encarados como algo descartável, algo que podíamos usar e deitar fora sem nos preocuparmos muito com isso. Uma mentalidade transversal a consumidores e produtores, que levou à acumulação de grandes quantidades de lixo e a um comportamento pouco adequado, considera o investigador britânico.
Quando tomámos consciência do problema, apelámos (ou forçámos) as pessoas a fazerem alguma coisa: serem voluntários na recolha de lixo nas praias e em outros locais, deixarem de usar sacos de plástico descartáveis nas compras, pagarem taxas de utilização e sujeitarem a proibições de uso. “Continuamos com soluções de ‘paga o poluidor’ [neste caso, o consumidor]. Apesar de acreditar que cada ação individual conta, isso não vai resolver o problema a uma escala global”, diz ao Observador Julie Andersen, fundadora e diretora executiva da Plastic Oceans International, uma organização sem fins lucrativos que tem como objetivo acabar com a poluição por plásticos.
A orientação da conversa tem de mudar, diz Julie Andersen, que não advoga que se deva acabar com os plásticos, mas sim com o lixo plástico no ambiente. É preciso olhar para montante no ciclo de vida dos plásticos e pressionar os fabricantes para reduzirem a produção ou para aumentarem a retoma e recolha, obrigando-os a redesenhar os produtos, a pensar numa economia circular.
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“Se considerarmos que a reciclagem é o melhor fim de vida para um determinado produto, então temos de redesenhá-lo para maximizar a possibilidade de ser reciclado”, diz Richard Thompson. “Provavelmente reciclamos menos de 10% dos plásticos que produzimos na Europa. Mas a verdade é que apenas uma pequena porção dos plásticos que produzimos foram criados com o objetivo de serem reciclados.”
Os bioplásticos não são necessariamente biodegradáveis
Vincent Doumeizel, especialista em algas marinhas, trazia um truque no bolso (literalmente): primeiro, mostrou algo que se assemelhava a um frágil saco de plástico feito a partir de algas; depois, para impressionar a audiência, agarrou numa pequena ampola de azeite, abriu-a e despejou o conteúdo, para finalmente a comer. Também esta ampola era feita com base nas algas. Esta era a solução levada pelo conselheiro para os oceanos da iniciativa Pacto Global das Nações Unidas: substituir plástico por algas — pelo menos num sentido figurativo.
In 5 seconds, Why #seaweed could replace #plastic !
A seaweed sachet to #endplasticpollution at #UNOC2022 with @PlasticOceansUS @OECD_ENV @IUCN_Plastics @LR_Foundation @Safe_Seaweed @globalcompact @notpla #UNOceanConference pic.twitter.com/XUw8lFZbPq— Vincent Doumeizel (@Doumeizel) June 27, 2022
Julie Andersen, que moderou a sessão onde Vincent Doumeizel fez a demonstração — “All hands on deck” (grito de emergência nas embarcações para chamar todos para o convés) —, também sonha em substituir o plástico por algas marinhas, mas entende que ainda não existem condições para isso. “Simplesmente, não é possível expandir [à escala global].” Sem falar que não ia gostar de ter azeite espalhado na pasta ou na roupa caso a embalagem tivesse uma rutura.
Este tipo (ou outros tipos) de bioplásticos podem ajudar a resolver o problema? “Depende do tipo de problema que estejamos a tentar resolver”, alerta Richard Thompson. Se a ideia é ter uma fonte renovável e sustentável de carbono para produzir os plásticos, faz sentido, diz. “Mas mudar a fonte de carbono não resolve o problema de acumulação de desperdícios plásticos, continua a não dizer como será o fim de vida.”
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O investigador reforça que ter uma fonte renovável de carbono não torna um plástico biodegradável. Podemos ter plásticos biodegradáveis quer a origem do carbono seja biológica ou quer tenham origem em combustíveis fósseis. O biológo marinho avisa, no entanto, que mesmo os plásticos que se dizem biodegradáveis só o são em condições muito específicas e controladas nos laboratórios e na indústria, mas não no ambiente.
Ainda assim, a equipa do Instituto Marinho da Universidade de Plymouth está a estudar os plásticos ditos biodegradáveis para ver se realmente se degradam e em que condições. Terá de ser a ciência a orientar as políticas implementadas e o desenho dos produtos, daí que também estejam a avaliar, por um lado, se os filtros das máquinas de lavar roupa conseguem reter as microfibras e, por outro, se o design das peças de vestuário pode influenciar a libertação dessas microfibras.
Queremos (ou conseguiremos) mesmo ter plásticos biodegradáveis? “Queremos um plástico que seja resistente, confiável e que dure tanto tempo quanto quisermos [como nas garrafas de refrigerante]. Como é que vai autodestruir-se por artes mágicas no minuto em que já não o quisermos mais?”, questiona Thompson. A biodegradabilidade não será a solução central para o problema: pode ter um papel, mas “limitado”, como nos casos em que é quase inevitável que os plásticos escapem para ambiente — plásticos usados durante pouco tempo nos campos agrícolas ou na pesca. Mas o investigador afirma: “Não vejo a descarga de lixo plástico no ambiente como inevitável.”
“Não acredito que devamos desenhar os plásticos com a ideia de que lançá-los nos ambientes naturais é o sistema apropriado. Precisamos é de melhor gestão”, diz Richard Thompson. “E se falarmos com as empresas de reciclagem, a última coisa que querem encontrar no meio do lixo são plásticos biodegradáveis, uma vez que pode comprometer os novos plásticos que estão a tentar produzir.”
Muitos resíduos, mas pouca capacidade para recolher e tratar o lixo
O rio Ganges, que atravessa o subcontinente indiano, é o rio mais sagrado para os hindus: onde se banham num grande festival religioso e onde depositam as cinzas dos mortos para que tenham passagem direta para o paraíso. Mas o Ganges é também um grande depósito de lixo a céu aberto: esgotos não tratados vindos das zonas densamente povoadas, escorrências dos produtos químicos usados na agricultura, resíduos industriais, corpos humanos dos rituais funerários, cadáveres de animais e, claro, milhares de toneladas de plásticos.
Na Índia, assim como em outros países de baixo rendimento, são escassos ou inexistentes os sistemas oficiais de recolha de resíduos urbanos sólidos e as estações de tratamento ou reciclagem. O resultado são toneladas de lixo no ambiente ou pilhas enormes de resíduos onde os coletores informais tentam encontrar produtos com valor para garantirem a sua própria sobrevivência.
O reconhecimento das lacunas no investimento e no acesso às ferramentas adequadas à gestão de resíduos e reciclagem de plásticos nos mercados emergentes levou à criação da organização The Circulate Initiative. A organização sem fins lucrativos foi fundada em 2019 com o financiamento da Circulate Capital e tem a missão de apoiar iniciativas em cinco países asiáticos. “A investigação tem demonstrado que é possível uma redução de 45% nas fugas de plástico, investindo em sistemas de gestão e reciclagem de resíduos em apenas cinco países da Ásia”, lê-se no site da organização.
“Até ao final de 2021, o portfólio de empresas apoiadas evitou que mais de 30.000 toneladas de plásticos fossem despejadas no ambiente e transformou-as em produtos de maior qualidade”, ilustra Ellen Martin. As empresas ainda não estão a trabalhar na plena capacidade, admite. Quando isso acontecer, a capacidade de recuperação de plásticos chegará a um milhão de toneladas por ano. “Isto é só o princípio.” Quando todo o dinheiro alocado a esta primeira fase da iniciativa estiver distribuído, está previsto que se evite o despejo de 15 milhões de toneladas de plástico em 10 anos. Até ao momento foram investidos 50 milhões de dólares, de um total de 112 milhões de dólares, em 11 empresas na Índia e Indonésia.
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É inegável que estas iniciativas, sobretudo em países de baixo rendimento, precisam de investimento, mas podem tornar-se financeiramente sustentáveis ao longo do tempo. E também podem ser replicadas em outros pontos do planeta com este tipo de mecanismo de investimento ou com estratégias inovadoras de financiamento, defende a gestora.
“Parte do investimento terá de ser em inovação, especialmente para os plásticos mais difíceis de recuperar e reciclar, mas parte está relacionado com infraestruturas: sistemas de recolha, estações de seleção e processamento, mecanismos para transformar em granulados [pellets] que possam ser usados por outras indústrias como matéria-prima [incluindo na Europa]”, diz Ellen Martin, dando dois exemplos de empresas financiadas. Uma das empresas faz a reciclagem dos resíduos urbanos recolhidos pelos municípios de várias cidades indianas. A outra trabalha em áreas onde não existe gestão de resíduos: têm centros para a recolha de lixo das casas ou dos coletores informais (a quem pagam pelo serviço), faz todo o processo da seleção à reciclagem e fabrica novos produtos com o plástico reciclado, completando o ciclo.
O problema dos resíduos nos países de baixo rendimento é maior do que as fracas estruturas de recolha e tratamento: se estão pouco preparados para os resíduos produzidos no país, estão ainda menos adaptados ao que chega do exterior, seja pela mão dos turistas, sejam os bens importados. “O setor privado pode enviar materiais plásticos para qualquer parte do mundo e quando chega a outro país torna-se uma questão de gestão local do problema”, diz Julie Andersen. Mas estas empresas estrangeiras não recolhem nada de volta, ninguém as obriga a isso, destaca. “Têm de ser os países [que recebem estes novos resíduos] a investir para fazer a gestão do lixo.”
Não precisamos de estar constantemente a criar formas inovadoras de fazer as coisas, é provável que alguém, em alguma parte do mundo já tenha encontrado uma solução, só precisamos procurar, defendeu Zac Goldsmith, membro da câmara alta do Parlamento britânico e ministro do Ambiente do Reino Unido, durante a sessão “All hands on deck”. Mas também é preciso ter em consideração em que país serão implementadas: “Não vale a pena pensar em ter garrafas de água reutilizáveis e estações de reabastecimento num local onde ainda nem sequer existe água potável”, remata Julie Anderen.
Palhinha a palhinha não vamos conseguir salvar o oceano
Cientistas, investidores e ativistas concordam que para combater a poluição por plásticos é preciso financiar a investigação, a inovação, as empresas, os trabalhadores informais e prestar apoio aos países e decisores políticos. Com este objetivo, o Banco Mundial está disponível para entregar quatro mil milhões de dólares, disse Mari Pangestu, diretora-geral das Políticas de Desenvolvimento e Parcerias da instituição, na sessão “All hands on deck”. Além disso, o Banco Mundial publicou um relatório — “Where Is the Value in the Chain? – Pathways out of Plastic Pollution” — que “analisa as implicações económicas e financeiras da gestão dos plásticos, fornece recomendações-chave para criar uma abordagem abrangente e ajuda os decisores políticos a tomarem decisões informadas para a gestão da poluição pelo plástico”.
Implementar políticas abrangentes é uma das condições para conseguir um verdadeiro impacto. E até as organizações não-governamentais (ONG) e instituições sem fins lucrativos terão de mudar a forma de pensar, defende Julie Andersen. “Não podemos estar focados num produto de cada vez: uma palhinha ou uma garrafa de plástico. Claramente que o problema é bem maior que isso”, reforça. A ativista sentiu falta, durante a Conferência dos Oceanos, que se falasse sobre a “verdadeira economia das coisas”, quem paga o quê. “Precisamos de falar abertamente sobre o assunto, em vez de ter as ONG a falarem sobre ‘sentir-se bem’ e a pensarem que o dinheiro aparecerá por magia.”
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A legislação e políticas implementadas por vários países, no entanto, continuam sem incluir medidas para as empresas e deixam a responsabilidade sobre os ombros dos cidadãos. As taxas para determinados produtos plásticos e as proibições de uso de plásticos descartáveis são os exemplos mais frequentes. Sobre o que resulta ou não ainda há pouca informação, destaca John Virdin, diretor do Programa de Políticas Costeiras e para o Oceano na Universidade Duke (Estados Unidos).
Na verdade, conta o investigador ao Observador, quando a equipa do Instituto Nicholas para as Soluções de Política Ambiental pensou em avaliar o impacto das medidas deparou-se logo com um problema: não havia uma base de dados com as políticas implementadas pelos vários países. “À medida que íamos recolhendo informação pensámos: ‘Isto é tanto trabalho que não queremos que mais ninguém tenha de passar por isto outra vez’”, conta. Foram milhares de documentos analisados sobre as políticas implementadas desde o ano 2000. “E ainda não está completo, de maneira nenhuma.”
“Com esta base de dados, um governo que queira desenvolver uma nova política, pode procurar que outros governos têm políticas do mesmo género”, diz John Virdin. Por agora só dá para consultar os exemplos, mas, no futuro, serão incluídos os estudos sobre o impacto dessas medidas. “Porque isto são só palavras no papel, não é o verdadeiro impacto.”
Muitas das políticas analisadas e da investigação científica realizada visavam os sacos de plástico, outras as garrafas de plástico e muito poucas tinham uma abordagem mais abrangente ou mesmo a análise do impacto de medidas combinadas, como educação e proibição de uso ou taxas. Mais, diz o investigador, muitas vezes o local onde decorria a investigação não era o mesmo onde as políticas foram implementadas.
Sobre os sacos de plástico, onde existem resultados mais robustos, parece ser claro que as medidas (taxas ou proibições) levaram a uma redução significativa do uso destes produtos. No entanto, muitas dessas políticas não tiveram em consideração que os plásticos podem desaparecer, mas a necessidade das pessoas não: existe alguma evidência do aumento do consumo de sacos de papel e de sacos do lixo para transportar as compras. “Implementar uma nova política implica que também se pensem nas alternativas”, defende John Virdin.
Richard Thompson, por sua vez, considera que não devíamos usar plásticos descartáveis de todo, sobretudo para ir às compras. Podemos habituar-nos a levar um saco de casa, assim como levamos um chapéu em dias de chuva. O biólogo marinho reconhece, no entanto, que há um número muito limitado de bens que podemos banir, especialmente nas aplicações onde o plástico é o melhor material para cumprir a função.
O que precisamos, diz o cientista, é de juntar as várias áreas de investigação científica e criar conhecimento para que os decisores políticos possam tomar decisões informadas, porque “não podemos pensar que a indústria se vai autorregular”, a pressão sobre as empresas vem dos acionistas e da necessidade de obtenção de lucros. Mais, acrescenta Julie Andersen, precisamos de ter esse conhecimento disponível em tempo real, à medida que vão sendo recolhidos os dados, para que seja possível atuar imediatamente.
John Virdin concorda que é preciso uma comunicação mais rápida. “Uma coisa que me impressionou, no relatório de 2020, foi que o intervalo de tempo entre a entrada em vigor da política investigada e a publicação dos resultados da investigação era, em média, de seis anos e meio.”
Todas as medidas precisam de avaliação e monitorização em tempo real, concorda Richard Thompson, que aproveita para lançar mais algumas ideias: usar o dinheiro das taxas dos plásticos para financiar a investigação científica na área e obrigar que todos os novos produtos de plástico tenham uma certa percentagem de material reciclado, para que não haja uma distinção nos preços entre o que é ou não reciclado.
O diretor do Instituto Marinho da Universidade de Plymouth reforça que estas e outras medidas são necessárias e que não nos podemos limitar a recolher os lixos na praia. “Se limpar for a única coisa que podemos fazer, então estamos realmente a condenar o futuro dos nossos filhos e netos e levá-los a comportar-se da mesma forma que nós — o que nos fez contaminar o ambiente”, lamenta. “A melhor resposta que temos dado ao assunto é recolher os resíduos que deixamos chegar ao ambiente, o que realmente não faz qualquer sentido. A solução tem de passar por fechar a torneira, parar o problema na fonte.”